terça-feira, outubro 30, 2007

A LEI DO PIG: SÃO PAULO DOMINADA




Kassab e a lei Folha e Estadão
- por Renato Rovai, editor da revista Fórum (http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/blog/)

O candidato da conservadora mídia paulista já tem nome e sobrenome, Gilberto Kassab. Quando o atual prefeito proibiu outodoors, placas de fachada e distribuição de panfletos jogou no colo dos meios comerciais alguns milhões de reais, principalmente do mercado imobiliário.
Façam um teste dando uma olhada na Folha e no Estadão de hoje ou de qualquer outro dia da semana. Mas agora ele deu a cartada final.
Ao assinar lei que proíbe jornais com menos do que 80% de editorial, ou seja, com no máximo 20% de publicidade, sejam distribuídos nos faróis da cidade tornou-se o queridinho dos donos da comunicação impressa.
Na prática ele decretou o fim das publicações gratuitas que começavam a roubar leitores dos jornais pagos.
Um jornal tablóide de 12 páginas não poderá ter duas de anúncios ou terá rompido essa barreira. Isso é impraticável.
Se a regra valesse para os veículos distribuídos em bancas, Fórum provavelmente reinaria sozinha.
Talvez tivesse a companhia de Caros Amigos.
E até da finada Primeira Leitura, que só por ser política, mesmo sendo tucana e direitosa, também vivia à mingua sem publicidades.
Mas com essa jogada, Kassab ganha a Folha e o Estadão (que aliás não publicam nada crítico ao ex-prefeito há um bom tempo) e a ainda leva de troco o grupo Globo, do qual faz parte O Diário de São Paulo, que mais estava perdendo leitores por conta dos fenômenos Destak e Metro.
Agora, Geraldo Alckmin vai ver como é dura a vida para um candidato sem microfones e holofotes. Eu acho que ele não agüenta o tranco e desiste da empreitada.

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SERRA E KASSAB CENSURAM A IMPRENSA

por Paulo Henrique Amorim (http://conversa-afiada.ig.com.br/)


Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil..


O prefeito de São Paulo (também conhecido como presidente eleito) José Serra, através de seu subordinado Gilberto Kassab, prefeito da cidade de São Paulo, resolveu re-escrever a lei de imprensa.

. Tudo para proteger a Folha e o Estadão, já que o presidente eleito não perde tempo em curvar-se diante do PIG, o Partido da Imprensa Golpista.

. Serra/Kassab baixaram uma lei que diz:

. Os jornais gratuitos só podem existir se:

- tiverem 80% de material jornalístico (e, portanto, apenas 20% de publicidade);- não podem ser distribuídos nos semáforos (?) – que é como os paulistanos se referem aos sinais luminosos de trânsito;

- sua circulação depende – mesmo se respeitada a relação 80%-20% - do desígnio pessoal e arbitrário de Serra/Kassab.

. Para começo de conversa, vamos ao ponto: grana.

. Os três jornais diários gratuitos distribuídos em São Paulo – Destak, Metronews e Metro têm uma circulação de 400 mil exemplares/dia.

. Isso é maior do que a circulação diária da Folha e do Estadão, por dia, na cidade de São Paulo.. Como em Paris, Londres, Madrid, Nova York, os jornais gratuitos se tornaram um concorrente importante dos jornalões impressos diários.

Agora, uma pergunta inútil: por que Serra/Kassab não incluem na PPP (a “lei” Serra/Kassab sobre jornais gratuitos é o 26º. Artigo, parágrafo 2, de uma “lei” sobre as PPPs) um dispositivo que exija da Folha e do Estadão essa mesma relação: 80% matéria jornalística, 20% publicidade ?

. Será que eles quebrariam ?

. O presidente eleito Serra/Kassab já parou para contar como ficaria essa relação hoje em dia, com o boom imobiliário do Governo Lula, que engordou (de publicidade) a Folha e o Estadão ?

. E quem disse que Serra/Kassab substituem a Lei de Imprensa ?

. E por que 80% ? Por que não 83,77% ? Ou 75,999999999999 % ?

. Que ciência fixou esse critério ?

. E quem disse que publicidade não é informação ?

. E se o presidente eleito quiser vender o “Aero Serra” ? - vai anunciar onde ?

. Por que não num jornal gratuito ?

. Quando é que a Folha e o Estadão vão escrever um editorial em defesa da liberdade de imprensa dos jornais gratuitos ?
. Serra, o último autoritário (clique aqui para ler), já foi editorialista da Folha: poderia fazer esse como free-lancer ...

O Conversa Afiada encaminhou esse artigo ao governador José Serra e ao prefeito Gilberto Kassab para saber se eles têm algum comentário a fazer a respeito desse assunto. Aguardamos resposta.


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segunda-feira, outubro 29, 2007

TUCANOS PERDEM VOTOS E A GLOBO PERDE AUDIÊNCIA


Pergunta que o Jornal Nacional não vai fazer: onde foi parar o dinheiro de São Paulo???




Os baixos preços de pedágios obtidos na concessão feita pelo governo Lula no último dia 9 de outrubro de sete trechos de rodovias federais realçou o absurdo dos valores dos pedágios paulistas.
"O Estado de São Paulo ao onerar as tarifas de pedágio está aumentado o custo Brasil e custo de vida para todos os brasileiros a maioria das cargas passa pelo Brasil", apontou o líder do PT Simão Pedro, que protocolou no dia 11/10, no Tribunal de Contas do Estado, pedido de uma auditoria especial e a repactuação dos contratos firmados e a anulação de aditamentos ocorridos no final do ano passado.
No período 1995-2006 os pedágios das rodovias federais tiveram aumento de 45% em média acima da inflação, segundo o Ipea tomando como comparativo o IPC-Fipe. No período de julho de 1994 a julho de 2006 em São Paulo os pedágios tiveram reajuste de 204% acima da inflação. A diferença resulta do indexador utilizado para reajuste das tarifas, enquanto em São Paulo, a tarifa indexada ao IGP-M, que sofre grande impacto da variação do dólar, nos primeiros pedágios federais, como na Dutra, o reajuste é feito em função de uma cesta de bens rodoviários. O modelo de São Paulo é o de outorga onerosa, em que a concessionária paga para gerir a rodovia. No modelo federal atual não há cobrança pela concessão, a concorrência é realizada em função de quem apresentar a menor tarifa.
Os recursos arrecadados pelo Estado não foram aplicados nas vicinais, como consta no jornal O Estado de São Paulo, publicado no dia 11/10. As vicinais de São Paulo tiveram investimento pífio nos últimos anos.
Para fazer o trecho São Paulo - Guarujá em rodovia estadual será pago 842,55% a mais pelo usuário por quilômetro do que quando se começar a cobrar o pedágio entre São Paulo e Belo Horizonte, em rodovia federal.


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sábado, outubro 27, 2007

PARABÉNS PRESIDENTE LULA





Luiz Inácio Lula da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945, na cidade de Garanhuns, interior de Pernambuco. Casado com Marisa Letícia, desde 1974, tem cinco filhos. Lula, por sua vez, é o sétimo dos oito filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Mello. Em dezembro de 1952, a família de Lula migrou para o litoral paulista, viajando 13 dias num caminhão "pau de arara". Foi morar em Vicente de Carvalho, bairro pobre do Guarujá.

Foi alfabetizado no Grupo Escolar Marcílio Dias. Em 1956, a família mudou-se para São Paulo, passando a morar num único cômodo, nos fundos de um bar, no bairro de Ipiranga. Aos 12 anos de idade, Lula conseguiu seu primeiro emprego numa tinturaria. Também foi engraxate e office-boy.

Com 14 anos, começou a trabalhar nos Armazéns Gerais Columbia, onde teve a Carteira de Trabalho assinada pela primeira vez. Lula transferiu-se depois para a Fábrica de Parafusos Marte e obteve uma vaga no curso de torneiro mecânico do Senai - Serviço Nacional de Aprendizagem Indústrial. O curso durou 3 anos e Lula tornou-se metalúrgico.

A crise após o golpe militar de 1964 levou Lula a mudar de emprego, passando por várias fábricas, até ingressar nas Indústrias Villares, uma das principais metalúrgicas do país, localizada em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Trabalhando na Villares, Lula começou a ter contato com o movimento sindical, por intermédio de seu irmão José Ferreira da Silva, mais conhecido por Frei Chico.

Em 1969, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema fez eleição para escolher uma nova diretoria e Lula foi eleito suplente. Na eleição seguinte, em 1972, tornou-se primeiro-secretário. Em 1975, foi eleito presidente do sindicato com 92 por cento dos votos, passando a representar 100 mil trabalhadores.

Lula deu então uma nova direção ao movimento sindical brasileiro. Em 78, Lula foi reeleito presidente do sindicato e, após 10 anos sem greves operárias, ocorreram no país as primeiras paralisações. Em março de 79, 170 mil metalúrgicos pararam o ABC paulista. A repressão policial ao movimento grevista e a quase inexistência de políticos que representassem os interesses dos trabalhadores no Congresso Nacional fez com que Lula pensasse pela primeira vez em criar um Partido dos Trabalhadores.

O Brasil atravessava, então, um processo de abertura política lenta e gradual comandada pelos militares ainda no poder. Em 10 de fevereiro de 1980, Lula fundou o PT, juntamente com outros sindicalistas, intelectuais, políticos e representantes de movimentos sociais, como lideranças rurais e religiosas. Em 1980, nova greve dos metalúrgicos provocou a intervenção do Governo Federal no sindicato e a prisão de Lula e outros dirigentes sindicais, com base na Lei de Segurança Nacional. Foram 31 dias de prisão.

Em 1982 o PT já estava implantado em quase todo o território nacional. Lula liderou a organização do partido e disputou naquele ano o Governo de São Paulo. Em agosto de 83, participou da fundação da CUT - Central Única dos Trabalhadores. Em 84 participou, como uma das principais lideranças, da campanha das "diretas-já" para a Presidência da República. Em 1986, foi eleito o deputado federal mais votado do país, para a Assembléia Constituinte.

O PT lançou Lula para disputar a Presidência da República em 1989, após 29 anos sem eleição direta para o cargo. Perdeu a disputa, no segundo turno, por pequena diferença de votos, mas dois anos depois liderou uma mobilização nacional contra a corrupção que acabou no "impeachment" do presidente Fernando Collor de Mello. Em 1994 e 1998, Lula voltou a se candidatar a presidente da República e foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso.

Desde 1992, Lula atua como conselheiro do Instituto Cidadania, uma organização não-governamental criada após a experiência do Governo Paralelo, voltado para estudos, pesquisas, debates, publicações e principalmente formulação de propostas de políticas públicas nacionais, bem como de campanhas de mobilização da sociedade civil rumo à conquista dos direitos de cidadania para todo o povo brasileiro.

Na última semana de junho de 2002, a Convenção Nacional do PT aprovou uma ampla aliança política (PT, PL, PCdoB, PCB e PMN) que teve por base um programa de governo para resgatar as dívidas sociais fundamentais que o país tem com a grande maioria do povo brasileiro. O candidato a vice-presidente na chapa era o senador José Alencar, do PL de Minas Gerais.

Em 27 de outubro de 2002, aos 57 anos de idade, com quase 53 milhões de votos, Luiz Inácio Lula da Silva é eleito Presidente da República Federativa do Brasil.

Em 29 de outubro de 2006, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, se reelege Presidente da República com mais de 58 milhões de votos (60, 83% dos votos válidos) vencendo em segundo turno o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Geraldo Alckmin.




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sexta-feira, outubro 26, 2007

Minha opinião é que a Internet NÃO É ESPAÇO para jornalismo


A Internet É o espaço no qual fala a multidão: quanto mais cada um escreva sua opinião PERSONALIZADA, com lado, com paixão, melhor pra todos.

NINGUÉM precisa de jornalismo na Internet -- se o tal de jornalismo continuar a investir nas ficções liberais das quais o jornalismo nasceu e das quais se alimenta até hoje.

O FATO é sempre ficção. A FICÇÃO é sempre fato.

O que há de 'não-fato', por exemplo, numa fala de Shakespeare? Num parágrafo de Guimarães Rosa?!

Por outro lado, o que há de 'fato' numa coluna da D. Eliane Cantanhede, do Jabor ou da D. Danuza?! (Da D. Danuza?! [risos, risos]) Os fatos e a D. Danuza são TOTALMENTE incompatíveis e incomensuráveis! D. Danuza é um breve contra o fato! [risos, risos].

O que há de 'fato' num comentário 'econômico' de D. Mirian Leitão?! D. Mirian Leitão é agente ativa do DES-fato!

Por outro lado, há EXCELENTE jornalismo, por exemplo, no Blog do Noblat. Contudo... CADÊ O FATO, no Blog do Noblat?! O Noblat é o melhor jornalista-blogueiro do Brasil, especialista em pára-fato, que é uma das caras do ANTI-fato. Se o Noblat fosse péssimo jornalista, a democracia brasileira ganharia MUITO!

O jornalismo liberal é o túmulo do samba. O jornalismo liberal que há hoje visa, EXCLUSIVAMENTE a uniformizar, a pautar, a discussão social -- nessa medida, o jornalismo liberal é instrumento fascista e fascistizante. Eu odeio o jornalismo liberal.

A única salvação do jornalismo é o jornalismo liberal ser obrigado a trabalhar pela democratização radical da sociedade: cada empresa jornalística deve ser obrigada, por lei, a publicar, também, o seu próprio 'contra-jornal'.

Por exemplo: o Estadão (que é a voz da UDR e da UDN, há quase 200 anos) deve ser obrigado, por lei, a publicar, também, com o mesmo luxo técnico e a mesma distribuição eficaz, propaganda, divulgação, marketação e tudo, o jornal dos SEM-TERRA e o jornal editado, hoje, na favela de Heliópolis (pra dar um exemplinho).

Por exemplo: o Estadão deve ser OBRIGADO, por lei, a pagar a publicidade do jornal do MST: "Brasil de fato: o jornal que faz grrrrrrrr contra o latifúndio".
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TODOS (e cada um) têm direito à palavra PESSOAL e à tribuna PLANETÁRIA: a internet é essa tribuna da multidão.

Os blogs NÃO SÃO a parte mais importante da internet: a parte mais importante da internet são AS LISTAS DE DISCUSSÃO.

Nos blogs TUDO, ainda, está submetido às tais "leis da imprensa", que são regidas pela lei da grana-nua-e-crua. Nas listas de discussão escrevem-se CARTAS. As CARTAS são (e devem ser) protegidas por leis que preservam a CONFIDENCIALIDADE da comunicação interpessoal: nas CARTAS (não nos blogs) todos podemos escrever TOTALMENTE o que dê na telha de cada um. ISSO -- não algum 'jornalismo' -- é a voz polifônica da multidão. LONGA VIDA AO MONSTRO!

PS. MUITO DIFERENTE do que abaixo se lê, não veja qquer proveito para a democracia por o Estadão "estar onde sempre esteve". QUE DROGA DE ARGUMENTO É ESSE?!

(em: Jornalismo para blogueiros 1: O que é e para que serve jornalismo, http://pedrodoria.com.br/ )

Como diria o Magalhães Pinto, Minas Gerais também está onde sempre esteve e, aliás, há lá um governador-neto, quer dizer, em Minas, que está onde sempre esteve, há hoje, praticamente, um herdeiro monárquico. E daí?! Melhor seria se Minas Gerais não estivesse onde sempre esteve. O mesmo se deve dizer de O Estadão.

Que proveito há, para a democracia, por D. Dora Kramer estar onde sempre esteve (e em ela espinafrar TODOS OS DIAS o MEU VOTO DEMOCRÁTICO)?!

O problema não é que o Estadão e D. Dora Kramer estejam seja onde for. O problema é que EU-EUZINHO nuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuunca falei pelas páginas do Estadão, nem ganhei colunão no Estadão, por mais que eu-euzinha escreva pro Estadão e por mais que eu-euzinha ATÉ PAGUE PRA AJUDAR A SUSTENTAR O ESTADÃO.

Mas... é cada idéia que aparece, quando algum empregado resolve defender mais o patrão e o próprio emprego do que a democracia, né-não?! (Aliás... quem escondeu o fato, em "O que é e para que serve jornalismo?", abaixo?! E quem fiscaliza o jornalista, pra saber se ele está sendo "responsável e tranqüilo" coisa-que-preste?! E se o cara precisa de psicanalista e está faltando às sessões de psicanálise?! E se a colunista é casada com marketeiro da tucanaria pefelista?! E se a colunista é tucana de carteirinha?! E quem fiscaliza o cara que paga o jornalista pra escrever, todos os dias?! Mêo! Pra que, diabos, alguém ainda lê os DES-jornalões brasileiros e seus colunistas alugados?! Que diferença faz se o cara publica impresso ou se publica em blog?! )

Caia Fittipaldi

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segunda-feira, outubro 22, 2007


Grande Mauro Santayana, que, hoje, põe a coisa em termos bem claros: se o mandato pertence ao partido... COMÉ QUE A BANCADA RURALISTA manda tanto, no Congresso?!

Leiam aí, da Sinopse da Secom, de hoje: Mauro Santayana, no JB, demonstra, por a+b, que os mandatos pertencem, mesmo, ao agronegócio, à bancada da saúde privada, à bancada da educação privada e coisa e tal.

O PARTIDO MAJORITÁRIO
Mauro Santayana na coluna Coisas da Política do JB diz que a senadora Kátia Abreu, que se opõe, como relatora, à prorrogação da CPMF, identificou, em entrevista publicada ontem, o partido majoritário no Congresso. É o partido dos ruralistas - composto de 120 parlamentares - que está impedindo a aprovação de lei que desapropria glebas que usam trabalho escravo. Disse a senadora, proprietária rural, que a bancada a que pertence (e, como se vê, representa no Senado) está unida nesse objetivo.
Isso desmente a tese do egrégio TSE, de que o mandato pertence ao partido a que esteja filiado o eleito. O mandato da senadora não pertence ao Tocantins, que a elegeu majoritariamente, nem ao velho PFL (antes Arena e hoje DEM), a que está filiada - e que, pelo que se lê em seu programa, não defende o trabalho escravo. Seu mandato, assim como o dos e o dos 119 outros, são do agronegócio, porque sua fidelidade é aos interesses dessa atividade econômica. Ninguém pode legislar contra a realidade, disse grande filósofo alemão. As estatísticas mostram que centenas de cortadores de cana morrem no eito ou, mais tarde, em conseqüência das brutais condições a que são submetidos nas plantações de São Paulo e de várias outras regiões do Brasil.

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quinta-feira, outubro 18, 2007

Será que a "The Economist" tem coragem de fazer a pergunta que ninguém faz?


Yeah, man. Cooooooooooooool. Yeah, Mr. Viomundo! Great! Good! Good!
Why don't they fucking ever fucking ask the fucking ex-sociologist the fucking question?!

No pasarán!
Vila Vudu - Cumunity, São Paulo, SP, Brazil

Aguardamos a entrevista com o Sr. Fernando Henrique Cardoso e se possível com a jornalista Miriam Dutra (http://viomundo.globo.com/site.php?nome=PorBaixoPano&edicao=1401)


Diante da notícia divulgada pela colunista Mônica Bergamo, na "Folha de S. Paulo", segundo a qual a repórter que supostamente teve um filho com Fernando Henrique Cardoso supostamente foi transferida para o escritório da TV Globo em Londres, resolvi escrever e endereçar uma carta à revista "The Economist", que vive entrevistando o FHC:


Bethesda, Maryland, 18 de outubro de 2007Editor da The Economist25 St James's Street, Londres, SW1A 1HGfax 020 7839 2968mailto:2968letters@economist.com


Caro leitor de cartas,

Sou um leitor voraz de sua revista. Eu a levo para a cama todas as semanas, com a melhor das intenções. Espero ansiosamente pela próxima edição. Quando a revista brilha na banca, sei que vocês entrevistaram o melhor líder desde a rainha Vitória: Fernando Henrique Cardoso.

Dado que sua tarefa na The Economist é ler as cartas, talvez você não tenha tido tempo de ler sobre acontecimentos recentes no Brasil. Um importante aliado político do presidente Lula, Renan Calheiros, foi alvo de acusações múltiplas. A mídia fez seu trabalho. Expôs a vida pessoal e política de Renan. Embora ele negue autenticidade às acusações, deixou de ser o presidente do Congresso. O escândalo começou quando Renan foi acusado de ter uma repórter como ex-amante, e de ter tido uma filha com a jornalista, e de ter usado formas "pouco ortodoxas" para sustentá-las.

De acordo com a edição de abril de 2000 de uma revista brasileira chamada "Caros Amigos", um caso similar aconteceu com o então presidente Fernando Henrique Cardoso. Quando ele era senador, de acordo com a revista, FHC teve um filho com uma jornalista, uma repórter da TV Globo que eventualmente foi transferida para Barcelona, na Espanha. A reportagem nunca foi desmentida. Mas a mídia brasileira nunca perseguiu o caso, como fez recentemente com o senador Calheiros e "sua" repórter.

Por isso, nós brasileiros estamos confusos: o senador Fernando Henrique se tornou ministro da Fazenda, foi eleito duas vezes presidente da República mas a mídia brasileira nunca fez a ele uma pergunta simples: quem providenciou a transferência da repórter e do filho deles para a Europa? Quem pagou as contas? Considerando que a The Economist tem livre acesso ao nosso querido ex-presidente, conto com a revista para fazer a ele uma pergunta dura. Pelo menos uma vez.


Saudações,


Publicado em 18 de outubro de 2007


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quarta-feira, outubro 17, 2007


Quem não quer democracia?
Um olhar ligeiro sobre a conjuntura política mostra a impostura de afirmações que não encontram o mais leve respaldo empírico na história recente. Mas uma perguntinha inconveniente surge no cipoal da insensatez. Quem detém o monopólio da produção simbólica do desprestígio?
Gilson Caroni Filho

Sábado, 15 de setembro de 2007. Uma data para ficar registrada. O embrião de um grande salto. Uma manifestação que ocupou a frente principal do jornal Folha de S.Paulo, no centro da capital paulista, marcou a criação do Movimento dos Sem Mídia (MSM). Faixas usadas na manifestação continham dizeres como: "Quero que a mídia fale, mas não me cale"; e "Imprensa plural, país igual". Algo impensável para o consenso estabelecido no campo jornalístico alguns anos antes. Um breve interregno em que editores se confraternizavam pelo "bom jornalismo" que julgavam praticar. E não lhes faltavam aplausos de conhecidos "observadores da imprensa". Como vimos, esse clima não demoraria muito, mas enquanto perdurou foi intenso.
Que toda unanimidade é burra já sabíamos desde Nélson Rodrigues. Que sua arquitetura requer a rápida desconstrução do passado e mergulho açodado em um jogo tolo de aparências continuamos a aprender no curso de uma campanha eleitoral que, para a grande imprensa, nunca terminará até que os tucanos voltem ao poder.
Nos dois primeiros anos do século, a festejada “isenção” da TV Globo no processo político, com direito a elogios à "admirável redefinição editorial da emissora", mostrou-se um sonho de outono que mal adentrou a primavera. É o caso de, mais uma vez, lembrarmos aos analistas de mídia que o pressuposto de seu exercício é o distanciamento do objeto analisado. Comemorações precipitadas obrigam a reavaliações amargas. Ou, em casos agudos de cinismo, a uma aposta no esquecimento do que foi dito e/ou escrito.
Bastaram a eleição de Lula, em 2002, e as derrotas subseqüentes das velhas oligarquias na Venezuela, Bolívia, Equador para a reluzente "carruagem democrática” regredir ao seu estágio de abóbora das forças mais reacionárias do continente. E o que era deslocamento sutil dentro dos marcos do bloco histórico se fez ataque sem tréguas contra o governo eleito, sem qualquer refinamento de edição. O noticiário editorializado, os conhecidos direcionamentos de títulos, e as coberturas viciadas mostraram à cidadania a urgência de resgatar a política do espetáculo editado. E era isso que pulsava na calçada da Alameda Barão de Limeira.
Ao contrário dos apologistas da imprensa nativa, que adotavam a própria crença como metro, alertamos que a redefinição estratégica na cobertura, em um curto espaço de tempo, não correspondia a uma efetiva postura democrática. Confundir ajuste tático com redefinição ética era de um primarismo tão gritante que chegava a ser suspeito. De pouco valeu nossa modesta contribuição. Nada havia a fazer quando o jornalismo, em discurso auto-referido, celebrava a si próprio como legado vivo de Plutarco.
De sustentáculo da ditadura, a TV Globo se transformou, como que por encanto, em fiadora da lisura do processo democrático. Bombas que sumiram de uma edição para a outra (Riocentro, 1981), censura ao movimento por eleições diretas para a Presidência da República (1985), edição de debates eleitorais para favorecer o candidato da direita (1989), expurgo de notícias que pudessem comprometer a candidatura à reeleição de FHC (1998) eram fatos que deveriam ser relevados. O momento, para jornalistas experientes, só comportava elogios. Todos exultavam a própria fantasia transformada em axioma: a mídia era, até 2006, a vencedora de qualquer pleito. E a democracia definida como festa cíclica, com dia e hora para acabar. Uma ironia histórica que insistia em eternizar o baile da ilha fiscal. As eternas bodas entre a classe dominante e sua imprensa confiável.
O editor e apresentador do Jornal Nacional, jornalista William Bonner, mais que mediador de debates era incensado como amestrador de fatos e atos. Aquele que, encarnando a face rousseauniana do campo midiático, não deixaria a “vontade geral” à mercê das manobras tergiversadoras dos políticos. O noticiário editorializado e os conhecidos direcionamentos de títulos e coberturas viciadas tiveram efeito paradoxal. Trouxeram a mídia para a agenda pública e o espaço contra-hegemônico não tem cessado de crescer.
A grande imprensa é, como afirmamos, em nossos últimos artigos para Carta Maior um campo dominado por forças que só compreendem o jogo político quando restrito a pactos oligárquicos ou transições por alto. Algo a ser combatido quando ameaça se ampliar. Para o êxito do empreendimento é necessário, paradoxalmente, despolitizar o texto, em procedimento registrado por Bourdieu: "Todos esses mecanismos concorrem para produzir um efeito global de despolitização ou, mais exatamente, de desencanto com a política (...) A ausência de interesse pelas mudanças insensíveis, isto é, por todos os processos que, à maneira da deriva dos continentes, permanecem despercebidos e imperceptíveis no instante, e apenas revelam plenamente seus efeitos com o tempo, vem redobrar os efeitos da amnésia estrutural favorecida pela lógica do pensamento no dia-a-dia pela concorrência que impõe a identificação do importante e do novo". (Sobre a televisão, pág.139)
Trata-se de, à custa do sacrifício de uma análise diacrônica, registrar o fazer político em termos pontuais e sem qualquer conexão com a historicidade do local em que ocorre ou com aspectos caros à vida do leitor/telespectador. Teríamos o primeiro passo para o que, à falta de melhor termo, chamaremos aqui de o "eterno sincrônico". Um presente que se autodefine, positivado e decantado de qualquer promessa utópica. Uma farsa vendida como bem informar em nome do "interesse público".
É daí que vem o campo fértil para ilações vazias. Como as do sociólogo Simon Schwartzman, ao analisar a manutenção da popularidade de Lula, apesar do desprestígio de instituições junto à população, segundo pesquisa do Instituto Fernando Henrique Cardoso. Para Simon, “é essa combinação, exatamente, que dá margem ao surgimento de governos unipessoais e autoritários, que passam por cima das instituições em nome de seu prestígio junto às massas”. Concluindo, o pesquisador afirma que “um Congresso fraco, desprestigiado é uma presa fácil de políticos que possam propor seu fechamento, ou sua substituição por uma assembléia constituinte, por exemplo, que possa criar as bases para um regime centralizado e autoritário".
Nada mais sem fundamentação teórica que as palavras acima. Um olhar ligeiro sobre a conjuntura política mostra a impostura de afirmações que não encontram o mais leve respaldo empírico na história recente. Mas uma perguntinha inconveniente surge no cipoal da insensatez. Quem, através de cobertura negativa, tem desgastado a imagem do parlamento? Quem detém o monopólio da produção simbólica do desprestígio? Quem, em suma, quer libertar a besta fera? Respostas para as redações. E, em se tratando do eixo Rio-São Paulo, nunca esquecendo a RBS, no sul do país, qualquer uma será excelente destinatária.


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.



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segunda-feira, outubro 15, 2007


O Império enxerga seu declínio

As divergências no interior do stablishment norte-americano tornam-se agudas, num sinal de que a guerra contra o Iraque pode ter revelado as debilidades do exército e, ainda mais grave, devastado a "legitimidade mundial da América"

No centro da elite do poder norte-americano, as conseqüências desastrosas da invasão e ocupação do Iraque provocaram uma crise ainda mais profunda do que a desencadeada pela derrota no Vietnã, há 30 anos. Para cúmulo da ironia, essa crise afeta a coalizão de ultra-nacionalistas e neoconservadores que se formou nos anos 70, exatamente para tentar pôr fim à "síndrome do Vietnã", restaurar o poder norte-americano e fazer reviver o "anseio de vitória" dos Estados Unidos.
Se ainda não houve protestos em massa populares e organizados, como durante a guerra do Vietnã, é, sem dúvida, em razão de o exército ser composto principalmente de voluntários egressos dos meios sociais mais pobres; bem como pelo fato de essa guerra ser financiada "mal-e-mal" pelos capitais estrangeiros (por quanto tempo mais?). Mas, entre a "elite", a crise rompeu o establishment de segurança nacional que governa o país desde a Segunda Guerra Mundial.
O desacordo expresso publicamente, por meia dúzia de generais da reserva, acerca da condução da guerra [ 1] — um fato sem precedentes —, veio se juntar à manifestação recorrente de dissenso entre as agências de informação e o Departamento de Estado, desde 2003. Isso denota uma tendência mais profunda, que atinge importantes setores da elite e as principais instituições do Estado. Mas poucos criticos da guerra são tão diretos quanto o general da reserva William Odom. Ele repete incansavelmente que a invasão do Iraque representa o "mais importante desastre estratégico da história dos Estados Unidos" [ 2]. Ou quanto o coronel Larry Wilkerson, ex-chefe do estado-maior de Colin Powell, que denuncia um "erro de dimensão histórica" e pede a destituição do chefe de Estado [ 3]. Ou ainda o ex-diretor do Conselho Nacional de Segurança, Zbigniew Brzezinski, que qualificou a Guerra no Iraque e a ocupação do país de "calamidade histórica, estratégica e moral" [ 4].
"Bando incompetente, arrogante e corrupto" (um oficial de alta patente, sobre o governo Bush)
Em sua maioria, as críticas da elite feitas publicamente não vão tão longe. Em geral, dirigem-se ao modo como a guerra e a ocupação tiveram início, mais do que à questão fundamental da invasão em si. Mas isso não muda o fato de que a discórdia é profunda e generalizada, com diferentes secretários [ministros] do governo rejeitando o erro e se acusando mutuamente de serem os responsáveis pela "perda do Iraque" [ 5]. Em privado, antigos dirigentes de alto escalão entregam-se a acessos de raiva impotente, denunciam "cabalas" sombrias e vituperam contra a Casa Branca. Sem a menor ironia, um ex-oficial do Conselho de Segurança Nacional compara os atuais ocupantes da instituição com "a família Corleone", imortalizada no filme O Poderoso Chefão. "Por conta de um bando incompetente, arrogante e corrupto", diz outro oficial de alta patente, "estamos perdendo nossa posição dominante no Oriente Médio". Veterano do Vietnã, um senador republicano afirma: "A Casa Branca quebrou o exército e ultrajou sua honra".
Nenhum desses críticos institucionais poderia ser de algum modo considerado "santo": sejam quais forem suas afiliações políticas ou opiniões pessoais, eles foram, ou ainda são, guardiães do poder, gestores do Estado de segurança nacional. Foram, por vezes, atores de intervenções imperialistas abertas ou clandestinas, empreendidas no "Terceiro Mundo" durante e depois da guerra Fria. Foram (ou ainda são) "gestores de sistema" do aparelho burocrático de segurança nacional, que o sociólogo C. Wright Mills foi o primeiro a dissecar e cuja função é produzir e reproduzir o poder.
Conseqüentemente, não podemos distinguir tais "realistas", enquanto grupo social, do objeto de suas críticas, no que diz respeito à disposição em empregar a força ou ao caráter implacável com que, a história está de prova, perseguiram os objetivos do Estado. A causa de seu descontentamento não pode ser atribuída a convicções divergentes em matéria de ética, normas e valores (ainda que tais diferenças possam motivar alguns indivíduos). A discordância é resultado de uma constatação fria, racional, de que a guerra no Iraque deixou "o exército norte-americano quase arruinado" [ 6] e comprometeu seriamente, até mesmo de maneira irreparável, "a legitimidade mundial da América" [ 7] — isto é, sua capacidade de moldar as preferências mundiais e de definir a ordem do dia no planeta. Em suas expressões mais sofisticadas, como no caso de Brzezinski, essa divergência traduz a compreensão do fato de que o poderio não se limita ao poder de coerção e que a legitimidade hegemônica, uma vez perdida, é difícil de ser restabelecida.
Américas, Ásia, Europa, Oriente Médio... Em toda parte, sinais de uma hegemonia em crise
Os sinais de queda da hegemonia norte-americana são visíveis em todos os lugares: na América Latina, onde a influência dos Estados Unidos é a mais baixa em décadas; no leste asiático, onde Washington, de má vontade, teve de negociar com a Coréia do Norte e reconhecer na China um ator indispensável à segurança regional; na Europa, onde o projeto de instalar baterias antimísseis é contestado pela Alemanha e outros países da União Européia; no Golfo Pérsico, onde os aliados de longa data, como a Arábia Saudita, perseguem objetivos regionais autônomos que, somente em parte, coincidem com os dos Estados Unidos; no seio das instituições internacionais, seja a ONU, seja o Banco Mundial (cujo presidente, o norte-americano Paul Wolfowitz, envolvido em um esquema de nepotismo, teve de entregar o cargo, em 30 de junho), onde Washington não tem mais condições de determinar a ordem do dia.
Ao mesmo tempo, as pesquisas de opinião internacionais, realizadas regularmente pelo PEW Research Center de Washington [ 8], apontam uma atitude sistemática de desafio à política externa norte-americana em nível quase mundial e um desgaste do "soft power", o fascínio exercido pelos Estados Unidos no mundo. O "sonho norte-americano" afundou, diante da imagem de um leviatã militar que exibe apenas desprezo pela opinião pública internacional e viola as regras que os próprios Estados Unidos instituíram [ 9]. A opinião mundial pode não pôr fim às guerras, mas pesa de forma mais sutil nas relações internacionais.
Limitar, em parte, esse desgaste seria talvez possível sob a condução de outros dirigentes e em circunstâncias totalmente novas. É, no entanto, difícil imaginar como um novo consenso interno poderia ser restabelecido no curto prazo. Foram necessários muitos anos para reconstruir o exército, após submetê-lo a duras provas na Guerra do Vietnã, bem como repensar as doutrinas e definir um novo consenso das elites, quando não popular, sobre o uso da força. Depois do Iraque, não será fácil mobilizar o sentimento nacionalista para empreender novas aventuras no exterior. Da mesma forma, não se pode esperar um retorno ao status quo anterior da política mundial.
Em xeque, idéias sobre o papel internacional dos EUA que animaram o país desde os anos 1940
A invasão e a ocupação do Iraque não são as únicas causas das tendências mundiais evocadas acima. A guerra somente acentuou um momento em que forças centrífugas maiores já estavam em ação: o desgaste e o posterior desmoronamento do "Consenso de Washington" e o aumento da influência de novos centros gravitacionais econômicos — sobretudo na Ásia —, já bem estabelecidos quando George W. Bush tomou a decisão calamitosa de invadir o Iraque. A história avança, enquanto os Estados Unidos permanecem atolados em um conflito que absorve todas as energias do país.
Aos olhos das elites no poder, essa configuração é profundamente preocupante. Desde a metade do século 20, os dirigentes norte-americanos passaram a achar que tinham a responsabilidade histórica singular de dirigir e governar o sistema internacional. Ocupando o topo do mundo desde a década de 1940, eles partiam do princípio que, a exemplo da Grã-Bretanha no século 19, os Estados Unidos estavam destinados a agir como hegemon — Estado dominante detentor da vontade e dos meios de estabelecer e manter a ordem internacional, bem como de assegurar a paz e uma economia mundial liberal aberta e em expansão. Na interpretação seletiva que fizeram da história, foi a incapacidade da Grã-Bretanha de manter esse papel, e a reticência simultânea dos Estados Unidos em assumir sua responsabilidade (o "isolacionismo"), que propiciaram o ciclo guerra mundial-depressão-guerra mundial, durante a primeira metade do século 20.
Essa hipótese, profundamente arraigada nas mentes, tem por corolário um argumento circular: uma vez que a ordem requer um centro dominante, manter tal ordem (ou evitar o caos) requer perpetuar a hegemonia. Esse sistema de pensamento, que os pesquisadores norte-americanos na década de 70 definiram como "teoria da estabilidade hegemônica", pauta a política externa dos Estados Unidos desde que o país emergiu da Segunda Guerra Mundial como centro ocidental do sistema mundial.
As elites política e econômica norte-americanas entreviam, desde 1940, uma "grande revolução no equilíbrio do poder". Washington iria se "tornar o herdeiro universal e administrador do patrimônio econômico e político do Império britânico. O cetro [passaria] para as mãos dos Estados Unidos" [ 10]. Um ano mais tarde, Henry R. Luce anunciava a chegada do famoso "século norte-americano". "Esse primeiro século em que a América será uma potência dominante no mundo", escrevia ele, significava que o povo norte-americano deveria "aceitar sem reserva [seu] dever e [sua] perspectiva de futuro como a nação mais poderosa e vital, e exercer sobre o mundo o pleno impacto de [sua] influência pelos meios que [lhe] parecessem apropriados" [ 11]. Em meados dos anos 40, os contornos do "século norte-americano" já se desenhavam claramente: predomínio econômico reforçado por uma supremacia estratégica baseada em uma rede planetária de bases militares estendendo-se do Ártico à Cidade do Cabo; do Atlântico ao Pacífico.
Presidindo a construção do Estado de segurança nacional, os dirigentes do pós-guerra estavam tomados — para retomar a expressão do historiador William Appleman Williams — de "visões de onipotência" [ 12]. Os Estados Unidos beneficiavam-se de enormes vantagens econômicas e de um avanço tecnológico considerável e detiveram por um curto período o monopólio atômico. O impasse coreano (1953) e os programas soviéticos de armas e mísseis nucleares certamente abalaram a confiança dos EUA, mas foram a derrota no Vietnã, e as turbulências sociais que acompanharam a guerra no plano interno, que revelaram os limites do poderio.
Inevitável paralelo com o início do declínio britânico, também marcado por uma guerra desastrosa
O "realismo em uma era de declínio" preconizado por Henry Kissinger e Richard Nixon, era somente uma forma de admitir, a contragosto, que o tipo de hegemonia global exercido havia mais de 20 anos não poderia durar para sempre. Mas o Vietnã e a era Nixon marcaram uma virada mais paradoxal. Eles prepararam a reação dos anos 80: a "revolução conservadora" e os esforços conjuntos para restabelecer e renovar o Estado de segurança nacional e o poderio mundial norte-americano. Quando a União Soviética desmoronou, alguns anos mais tarde, as ilusões de onipotência ressurgiram. Os triunfalistas conservadores voltaram a sonhar com uma "primazia" internacional de longa duração. O Iraque era uma experiência estratégica, destinada a inaugurar o "segundo século norte-americano". A experiência deu errado, assim como a política externa estadunidense.
As analogias históricas nunca são perfeitas, mas o exemplo da Grã-Bretanha e da prolongada derrocada do império pode lançar uma luz sobre o momento histórico atual. No crepúsculo do século 19, raros eram os dirigentes britânicos que podiam imaginar seu fim. Quando foi celebrado o Diamond Jubilee da rainha Vitória, em 1897, a Grã-Bretanha estava à frente de um império transoceânico formal, que englobava um quarto dos territórios do mundo e 300 milhões de súditos — ou mais do dobro, se incluirmos a China, colônia virtual de 430 milhões de habitantes. A City londrina era o centro de um império comercial e financeiro ainda mais vasto, cuja teia abarcava o mundo inteiro. Portanto, não é nada surpreendente que uma importante parte da elite britânica pensasse, apesar do receio suscitado pela concorrência manufatureira norte-americana e alemã, que a Grã-Bretanha recebera "como presente do todo-poderoso um arrendamento do universo por toda a eternidade".
O Jubilee devia ser "o último raio de sol de uma confiança total na capacidade britânica de governar" [ 13]. A segunda Guerra dos Bôeres (1899-1902) [ 14], empreendida na África do Sul para preservar a rota das Índias e reforçar o "elo mais fraco da corrente imperial", foi um enorme desperdício humano e financeiro. Além disso, ela revelou as atrocidades da política da terra arrasada, a uma opinião pública inglesa cada vez menos dócil. "A guerra sul-africana foi, para a potência imperial britânica, a provação mais importante desde a Rebelião Indiana, e a guerra mais vasta e mais onerosa empreendida pela Grã-Bretanha entre a derrota de Napoleão e a Primeira Guerra Mundial" [ 15].
Apenas doze anos depois, teve início a Primeira Guerra Mundial, levando os seus protagonistas europeus à derrocada e ao esgotamento. O longo fim da era britânica havia começado. Mas o Império não somente resistiu à crise imediata como perdurou por décadas, ultrapassando a Segunda Guerra Mundial, antes de ver um fim sem glória, pela mão dos norte-americanos, em Suez, em 1956. No entanto, um século mais tarde, a nostalgia da grandeza persiste, como vemos nas desventuras mesopotâmicas do primeiro-ministro Tony Blair. Os últimos resquícios imperiais ainda não foram extintos.
Para a elite no poder dos Estados Unidos, manter-se no topo do mundo há mais de meio século é considerado um fato natural. A hegemonia, como o ar que respiramos, tornou-se um modo de ser, um estilo de vida, um estado de espírito. Os críticos institucionais "realistas" são, certamente, mais prudentes do que aqueles a quem criticam. Mas eles não dispõem, ainda, de um quadro conceitual onde as relações internacionais sejam baseadas em outra coisa que não a força, o confronto ou a predominância estratégica.
A crise atual e o impacto crescente dos problemas mundiais, sem solução no âmbito nacional, originarão, talvez, novos impulsos em matéria de cooperação e interdependência. Em todo caso, é preciso esperar. Mas é provável que a política norte-americana permaneça imprevisível: como mostram todas as experiências pós-coloniais, desfazer um império pode ser uma processo longo e traumático.


[1] Ver "Retired Generals Speak Out to Oppose Rumsfeld", The Wall Street Journal, 14 abr. 2006.
[2] Associated Press, 5 out. 2005. O general Odom estava à frente da National Security Agency (NSA) na gestão de Ronald Reagan.
[3] Citado em "Breaking Ranks", The Washington Post, 19 jan. 2006.
[4] Declaração diante da Comissão de Relações Exteriores do Senado, 1 fev. 2007.
[5] O ex-diretor da CIA George Tenet, em seu livro At the Center of the Storm, responsabiliza a Casa Branca pelos erros estratégicos cometidos no Iraque e afirma que nunca houve um "debate sério" sobre a questão de saber se esse país representava uma ameaça iminente ou se não seria melhor simplesmente reforçar as sanções e descartar a guerra. Trata-se do último desentendimento público opondo a CIA à Casa Branca desde, pelo menos, 2003.
[6] Para citar o ex-secretário de Estado Colin Powell durante o programa televisivo "Face the Nation", na CBS, em 17 dez. 2006.
[7] Zbigniew Brzezinski, declaração diante da Comissão de Relações Exteriores do Senado, 1º de fevereiro 2007.
[8] Ver: The Pew Research Center for the People and the Press.
[9] Ver: PEW Global Attitudes Project
[10] Discurso do presidente do conselho da National Industrial Conference no congresso anual da Investment Bankers Association, 10 dez. 1940. Citado em James J. Martin, Revisionist Viewpoints, Ralph Myles Publisher, Colorado Springs, 1971.
[11] Henry R. Luce, "The American Century", Life Magazine, 1941, artigo reeditado no Diplomatic History, primavera 1999, vol. 23, n. 2.
[12] William Appleman Williams, The Tragedy of American Diplomacy. Nova York: Delta Books, 1962.
[13] Citado em Elisabeth Monroe, Britain's Moment in the Middle East, 1914-1956. Londres: Chatto & Windus, 1963.
[14] Tanto o segundo quanto o primeiro conflito (1880-1881) opunham os britânicos e os colonos de origem neozelandesa (bôeres).
[15] C. Saunders e I. R. Smith, "Southern Africa, 1795-1901", in The Oxford History of the British Empire, vol. , The Nineteenth Century.




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sexta-feira, outubro 12, 2007



TROPA DE ELITE:

A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA!

Ivan Pinheiro

"Homem de preto.
Qual é sua missão?
É invadir favela.
E deixar corpo no chão"

(refrão do BOPE)


Não dá cair no papo furado de que "Tropa de Elite" é "arte pura" ou "obra aberta". Um filme sobre questões sociais não podia ser neutro. Trata-se de uma obra de arte objetivamente ideológica, de caráter fascista, que serve à criminalização e ao extermínio da pobreza. É possível até que os diretores subjetivamente não quisessem este resultado, mas apenas ganhar dinheiro, prestígio e, quem sabe, um Oscar. Vão jurar o resto da vida que não são de direita. Aliás, você conhece alguém no Brasil, ainda mais na área cultural, que se diga de direita? Como acredito mais em conspirações do que no acaso, não descarto a hipótese de o filme ter sido encomendado por setores conservadores. Estou curioso para saber quais foram os mecenas desta caríssima produção, que certamente foi financiada por incentivos fiscais.

O filme tem objetivos diferentes, para públicos diferentes. Para os proletários das comunidades carentes, o objetivo é botar mais medo ainda na "caveira" (o BOPE, os "homens de preto"). O vazamento escancarado das cópias piratas talvez seja, além de uma estratégia de marketing, parte de uma campanha ideológica. A pirataria é a única maneira de o filme ser visto pelos que não podem pagar os caros ingressos dos cinemas. Aliás, que cinemas? Não existe mais um cinema nos subúrbios, a não ser em shopping, que não é lugar de pobre freqüentar, até porque se sente excluído e discriminado.
No filme, os "caveiras" são invencíveis e imortais. O único que morre é porque "deu mole". Cometeu o erro de ir ao morro à paisana, para levar óculos para um menino pobre, em nome de um colega de tropa que estava identificado na área como policial. Resumo: foi fazer uma boa ação e acabou assassinado pelos bandidos.

Para as classes médias e altas, o objetivo do filme é conquistar mais simpatia para o BOPE, na luta dos "de cima", que moram embaixo, contra os "de baixo", que moram em cima. Os "homens de preto" são glamourizados, como abnegados e incorruptíveis. Apesar de bem intencionados e preocupados socialmente, são obrigados a torturar e assassinar a sangue frio, em "nosso nome". Para servir à "nossa sociedade", sacrificam a família, a saúde e os estudos. Nós lhes devemos tudo isso! Portanto, precisam ser impunes. Você já viu algum "caveira" ser processado e julgado por tortura ou assassinato? "Caveira" não tem nome, a não ser no filme. A "Caveira" é uma instituição, impessoal, quase secreta.

Há várias cenas para justificar a tortura como "um mal necessário". Em ambas, o resultado é positivo para os torturadores, ou seja, os torturados não resistem e "cagüetam" os procurados, que são pegos e mortos, com requintes de crueldade. Fica outra mensagem: sem aquelas torturas, o resultado era impossível.

Tudo é feito para nos sentirmos numa verdadeira guerra, do bem contra o mal. É impossível não nos remetermos ao Iraque ou à Palestina: na guerra, quase tudo é permitido. À certa altura, afirma o narrador, orgulhoso : "nem no exército de Israel há soldados iguais aos do BOPE".

Para quem mora no Rio, é ridículo levar a sério as cenas em que os "rangers" sobem os morros, saindo do nada, se esgueirando pelas encostas e ruelas, sem que sejam percebidos pelos olheiros e fogueteiros das gangues do varejo de drogas! Esta manipulação cumpre o papel de torná-los ainda mais invencíveis e, ao mesmo tempo, de esconder o estigmatizado "Caveirão", dentro do qual, na vida real, eles sobem o morro, blindados. O "Caveirão", a maior marca do BOPE, não aparece no filme: os heróis não podem parecer covardes!

O filme procura desqualificar a polêmica ideológica com a esquerda, que responsabiliza as injustiças sociais como causa principal da violência e marginalidade. Para ridicularizar a defesa dos direitos humanos e escamotear a denúncia do capitalismo, os antagonistas da truculência policial são estudantes da PUC, "despojados de boutique", que se dão a alguns luxos, por não terem ainda chegado à maioridade burguesa.

Os protestos contra a violência retratados no filme são performances no estilo "viva rico", em que a burguesia e a pequena-burguesia vão para a orla pedir paz, como se fosse possível acabar com a violência com velas e roupas brancas, ou seja, como se tratasse de um problema moral ou cultural e não social.

A burguesia passa incólume pelo filme, a não ser pela caricatura de seus filhos que, na Faculdade, fumam um baseado e discutem Foucault. Um personagem chamado "Baiano" (sutil preconceito) é a personificação do tráfico de drogas e de armas, como se não passasse de um desses meninos pobres, apenas mais espertos que os outros, que se fazem "Chefe do Morro" e que não chegam aos trinta anos de idade, simples varejistas de drogas e armas, produtos dos mais rentáveis do capitalismo contemporâneo. Nenhuma menção a como as drogas e armas chegam às comunidades, distribuídas pelos grandes traficantes capitalistas, sempre impunes, longe das balas achadas e perdidas. E ainda responsabilizam os consumidores pela existência do tráfico de drogas, como se o sistema não tivesse nada a ver com isso!

O Estado burguês também passa incólume pelo filme. Nenhuma alusão à ausência do Estado nas comunidades carentes, principal causa do domínio do banditismo. Nenhuma denúncia de que lá falta tudo que sobra nos bairros ricos. No filme, corrupção é um soldado da PM tomar um chope de graça, para dar segurança a um bar. Aliás, o filme arrasa impiedosamente os policiais "não caveiras", generalizando-os como corruptos e covardes, principalmente os que ficam multando nossos carros e tolhendo nossas pequenas transgressões, ao invés de subirem o morro para matar bandido.

A grande sacada do filme é que o personagem ideológico principal não é o artista principal. Este, branco, é o que mais mata. Ironicamente, chama-se Nascimento. É um tipo patológico, messiânico, sanguinário, que manda um colega matar enquanto fala ao celular com a mulher sobre o nascimento do filho.

Mas para fazer a cabeça de todos os públicos, tanto os "de cima" como os "de baixo", o grande e verdadeiro herói da trama surge no final: Thiago, um jovem negro, pacato, criado numa comunidade pobre, que foi trabalhar na PM para custear seus estudos de Direito, louco para largar aquela vida e ser advogado. Como PM, foi um peixe fora d'água: incorruptível, respeitava as leis e os cidadãos. Generoso, foi ele quem comprou os óculos para dar para o menino míope. Sua entrada no BOPE não foi por vocação, mas por acaso.

Para ficar claro que não há solução fora da repressão e do extermínio e que não adianta criticar nem fazer passeata, pois "guerra é guerra", nosso novo herói se transforma no mais cruel dos "caveiras" da tropa da elite, a ponto de dar o tiro de misericórdia no varejista "Baiano", depois que este foi torturado, dominado e imobilizado. Para não parecer uma guerra de brancos ricos contra negros pobres, mas do bem contra o mal, o nosso herói é um "caveira" negro, que mata um bandido "baiano", de sua própria classe, num ritual macabro para sinalizar uma possibilidade de "mobilidade social", para usar uma expressão cretina dos entusiastas das "políticas compensatórias".

A fascistização é um fenômeno que vem sendo impulsionado pelo imperialismo em escala mundial. A pretexto da luta contra o terrorismo, criminalizam-se governos, líderes, povos, países, religiões, raças, culturas, ideologias, camadas sociais.

Em qualquer país em que "Tropa de Elite" passar, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, o filme estará contribuindo para que a sociedade se torne mais fascista e mais intolerante com os negros, os imigrantes de países periféricos e delinqüentes de baixa renda.

No Brasil, a mídia burguesa há muito tempo trabalha a idéia de que estamos numa verdadeira guerra, fazendo sutilmente a apologia da repressão. Sentimos isso de perto. Quantas vezes já vimos pessoas nas ruas querendo linchar um ladrão amador, pego roubando alguma coisa de alguém? Quantas vezes ouvimos, até de trabalhadores, que "bandido tem que morrer"?

Se não reagirmos, daqui a pouco a classe média vai para as ruas pedir mais BOPE e menos direitos humanos e, de novo, fazer o jogo da burguesia, que quer exterminar os pobres, que só criam problemas e ainda por cima não contam na sociedade de consumo. Daqui a pouco, as milícias particulares vão se espalhar pelo país, inspiradas nos heróicos "homens de preto", num perigoso processo de privatização da segurança pública e da justiça. Não nos esqueçamos do modelo da "matriz": hoje, os mais sanguinários soldados americanos no Iraque são mercenários recrutados por empresas particulares de segurança, não sujeitos a regulamentos e códigos militares.

Parafraseando Bertolt Brecht, depois vai sobrar para nós, que teimamos em lutar contra o fascismo e a barbárie, sonhando com um mundo justo e fraterno.


A trilha sonora do filme já avisou:


"Tropa de Elite,

Osso duro de roer,

Pega um, pega geral.

Também vai pegar você!"

http://blogdobourdoukan.blogspot.com/


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quarta-feira, outubro 10, 2007

Longa vida ao monstro-multidão!




Longa vida ao monstro-multidão! Viva a blogosfera democrática! Ou: "Eu ando TOTALMENTE FARTA de ler os DES-jornais brasileiros"

Agora, deixei DEFINITIVAMENTE de pagar para ler os DES-jornais brasileiros; não sou otária e meu dinheiro não existe pra ser torrado em DES-jornalismo de DES-colunagem. E NÃO ASSISTO à televisão brasileira (porque não tenho saco).

Tenho observado que, enquanto o presidente Lula governa, viaja e caminha -- e o Brasil cresce e a Lusitana roda e la nave va e vai tudo bem -- os DES-jornalões brasileiros, presos na arapuca moralista tosca que eles mesmos inventaram, vão-se tornando mais insuportavelmente ilegíveis a cada dia.

Então, não leio jornais, não assisto à rede Globo, nem sei quem é Aguinaldo Silva e não me interessa o que ele pense sobre seja lá o que for. Ah! E não leio NENHUM blog de jornalista-empregado-de-jornalão, no Brasil.

Meu Gato me disse, hoje cedo, sem que eu perguntasse: "Você não perdeu nada, na novela de ontem: o cara ficou coa cara igualzinha À que ele tinha antes." Não entendi nada e não perguntei nem duvidei: o Gato ACERTA sempre.

Freqüento RELIGIOSAMENTE todos os dias, pra começar o dia, o "Conversa Afiada", do Paulo Henrique Amorim; o "Blog do Azenha", do Azenha; o "Blog do Rovai", o "Blog do Dirceu" e o "Blog do Bourdoukan". Todos esses são blogs COM LADO.

Vivo na blogosfera democrática, onde escrevem CIDADÃOS, gente como a gente. Todos escrevem com paixão e, na disputa democrática, todos construímos melhores discursos.

A blogosfera democrática sabe MUITO MAIS sobre o Brasil do que toooooooooooooooooooodos os DES-jornalistas dos DES-jornalões que desgraçam o Brasil-2007.

Em matéria de jornal e jornalismo, o único jornalismo brasileiro que me interessa é o jornalismo COM LADO.

Tá na cara: jornalismo sem-lado é ficção liberal pirada (quando não é golpe); e (2) só me interessa o jornalismo COM LADO DEMOCRÁTICO -- que, no mínimo, não ataque, todos os dias, O MEU VOTO LULISTA DEMOCRÁTICO.

O Bourdoukan, por exemplo, é jornalista militantemente empenhado a favor da causa dos palestinos forçados a sobreviver sob ocupação, em guerra desigual contra os exércitos israelenses e, sim, OS PALESTINOS TÊM DE SER DEFENDIDOS TODOS OS DIAS. Então, eu leio o Bourdoukan, ajudo a defender os palestinos e, ao mesmo tempo, vou aprendendo a defender os palestinos.

Tudo isso pra dizer que o que me interessa, em matéria de jornalismo é, sempre, sobretudo, O LADO que o jornalismo tenha assumidamente adotado.

Se é o lado do meu voto democrático e do meu partido, e se é o lado que reivindica liberdade e igualdade para todos, para os muitos, eu leio; se não é jornalismo que lute pelos valores pelos quais eu luto, então eu não leio; e malho, malho, malho, xchingo e espinafro, o mais que eu possa, todos os dias.

Não dou a mínima nem para a tal de "credibilidade" -- que é palavra oca, cujo significado jamais se esclareceu, mas todo mundo repete sem saber o que significa o substantivo.

"Credibilidade" é substantivo abstrato que designa "o traço abstrato que têm todas as narrativas que sejam "críveis". Bela droga! Bem contada, qualquer mentira é crível. Portanto, bem contada, qquer narrativa tem "credibilidade". E daí?! E que vantagem maria leva com ouvir mentiras críveis?!

Virei, portanto, adepta da INCREDIBILIDADE TOTAL. Criarei minha igreja incrível, incredibilíssima: "Não creia feito besta. Apaixone-se. Na dúvida, mergulhe de boca. Caia na vida. Vá a luta. Só a luta ensina, como Mao Tse Tung sempre ensinou."

Sou TOTALMENTE des-ética, se se entende por "ética" o que quer que haja dentro da cabeça da D. Eliane Cantanhêde, da D. Hebe, daquela Bispa&Bispo que estão na cadeia, do Senador Mercadante e da D. Danusa ou do Jabor (pra dar só alguns exemplos; há zilhões de exemplos e em nenhum desses casos aproveita-se sequer um átomo do que haja, chamado 'ética', na cabeça desses carinhas).

A mim, só me interessa a ÉTICA DA POLÍTICA DEMOCRÁTICA. O que me interessariam as 'éticas' de salão de cabelereiro & balangandãs, da D. Hebe? O que me interessaria a DES-ética do Clóvis Rossi e a NADA-ética de jornalistas de bordel, feito aquela Mônica e demais jornalistas desfrutáveis de Brasília?! Se Agripino Maia diz que é ética... é porque é DES-ética. E eu não leio, não ouço e espinafro o mais que eu possa.

Estou convencida de que o jornalismo brasileiro (de fato, aqui, já, um total DES-jornalismo) já deu totalmente côs burros n'água e foi atropelado pelo tal de "fato". Nem sei se o fato existe ou não existe. Não sei tampouco se algum "fato" é apreensível ou poderá jamais ser noticiado, com ou sem a tal de "credibilidade". Essa é questão de alta metafísica, de que não me ocupo aqui.

O que sei é que, pelo menos na América Latina -- mas, aqui, com certeza absoluta --, o "fato" construído nos-pelos DES-jornalões, foi TOTALMENTE atropelado pelo MEU VOTO DEMOCRÁTICO.

No frigir dos ovos, o meu problema com os DES-jornalões brasileiros, perdoem-me, é que TODOS os DES-jornalões brasileiros são, hoje, insuportavelmente chatos. A disputa político-discursiva mais interessante que está em andamento hoje, no Brasil, está acontecendo na blogosfera democrática, na multidão. E com ela que eu vou.

Nenhum DES-jornalão deu destaque, por exemplo, a uma frase do deputado Aldo Rebelo, em discurso na Câmara dos Deputados, e que foi a melhor frase que se ouviu no Brasil, em muito tempo. Vejam aí, o que disse o deputado Aldo Rebelo, anteontem:

“Esse sentimento de eugenia partidária ou de calvinismo político (de que os DES-jornalões e a DES-universidade brasileiros são hoje porta-vozes, acrescento eu-euzinha) não nos apresentará uma solução profunda, duradoura e adequada a nossas necessidades”.

É isso. Nenhum DES-jornalão sequer anotou a frase. Mas consumiram-se hectares de papel impresso com opiniãozinha de Demóstenes Torres, de Tasso Gereissati. Pra quê pagar pra ler opiniãozinha tucana... se se tem boa opinião democrática na blogosfera e TOTALMENTE gratuita?!

Os que não queiram ouvir essa BOA E CLARA voz do deputado Aldo Rebelo, que é comunista, e prefiram ouvir George Soros, por exemplo, TUDO BEM! Há bom artigo na New York Review of Books (5/10/2006), em http://www.georgesoros.com/files/nyreview_ageoffalibility.pdf.

Ninguém precisa virar nem comunista nem Georges-Sorosista, é claro. Mas, pelo menos, aprende-se melhor, na blogosfera, tanto sobre a brilhante capacidade que os comunistas SEMPRE TIVERAM para analisar panoramas históricos complexos, quanto se aprende, querendo, sobre o liberalismo do George Soros.

Pra que ler o DES-jornalismo e a DES-colunagem de opiniãozinha dos DES-jornalões brasileiros? Pra que ouvir opiniõezinhas e piração de... quem?! De Jarbas Passarinho?! Do Nêumane?! Da D. Eliane?! Da D. Danuza?! Do Jabor?! Do ex-FHC?! Do Tarso Jereissati?! Da patroa do William Bonner? Do Ali Kamel?! Mêo! Só rindo, né?! Ou do... Josias de Souza?! Mêo! Mêo! Mas aí... só rolando de rir, né-não?!

Longa vida ao monstro-multidão! Viva a blogosfera democrática!


Caia Fittipaldi


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terça-feira, outubro 09, 2007

TUCANOS: O NEGÓCIO DELES É VENDER







CUT e PT se mobilizam contra nova onda de privatização tucana em SP

A CUT-SP, sindicatos cutistas e parlamentares de São Paulo realizaram na segunda-feira (8), aquela que promete ser a primeira de uma série de manifestações contra a venda de um lote de empresas públicas paulistas. Um “pacotão” de 18 empresas, divididas em três grupos (leia abaixo) passarão por definição de valores.

Na próxima semana, o governo José Serra (PSDB) deve anunciar as empresas vencedoras do processo. Entre as candidatas estão JP Morgan, Banco Fator e Ernest Young. No grupo de modelagem de vendas, disputam Morgan Stanley, Citi Bank e Ernest Young.

O presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique, lembrou que no início do Programa Estadual de Desestatização (PED), em 1995, assim como acontece agora, o governo Mário Covas (1995-2001) dizia que a venda das companhias iria diminuir as dívidas do Estado e melhorar os serviço. “Após 12 anos vemos que os serviços pioraram e as tarifas aumentaram. Já naquela época falávamos sobre a suspeita de usar as empresas como caixa de campanha e moeda de troca política. Por aqui, PSDB significa patrimônio sendo doado em troca de banana”, criticou.

Também na segunda-feira (8) a Bancada do Partido dos Trabalhadores na Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp) protocolou um recurso de reconsideração à Ação Popular e o pedido de liminar na 1.ª Vara da Fazenda Pública do Estado de São Paulo. Porém, a juíza Luciana Almeida Bresciani considerou que não há riscos de venda imediata das estatais.

Contudo, o grupo da oposição alega que não há razão para o Estado pagar R$ 20 milhões para que as empresas sejam avaliadas, se não há intenção de vendê-las.

“Somos solidários à luta contra o sucateamento público e apoiamos aqueles que desejam preservar o patrimônio público construído com muita luta e muito suor”, afirmou o deputado do PT-SP, Marcos Martins.

Na próxima quarta-feira (10), uma reunião na Assembléia Legislativa, às 10h, definirá os próximos passos da Frente em Defesa das Empresas Públicas.

Leia abaixo o conteúdo do material que a CUT-SP distribuiu diante da Secretária da Fazenda de São Paulo:

Frente em Defesa das Empresas Públicas Estatais

Nessa segunda-feira (08) o governo José Serra (PSDB) promoveu o primeiro passo para vender o que resta do patrimônio da população de São Paulo. Sabesp, Nossa Caixa, Metrô, CDHU, Cetesb, EMTU, são sete das 18 empresas (leia a lista completa abaixo) que serão avaliadas e poderão passar para as mãos do poder privado. Caberia ao poder público controlar e administrar o fornecimento de água, saneamento básico e ambiental, transporte, habitação, educação, obras e serviços.

Para refrescar sua memória, lembramos que em 12 anos de governo tucano no Estado de São Paulo, Mário Covas e Geraldo Alckmin, antecessores de Serra, se livraram de grupos estratégicos como Comgás, Eletropaulo e Banespa, responsáveis por incentivar o desenvolvimento social. Um exemplo do tamanho do prejuízo para a população: quem empresta dinheiro para o pequeno agricultor ou financia a compra de casas pelo público de baixa renda são os bancos públicos, como a Nossa Caixa, com juros menores e o compromisso de aumentar o número de pessoas com moradia.

Sem o controle social que as empresas públicas permitem, veremos o aumento do custo dos serviços e queda da qualidade, além de prejuízos como a tragédia da Linha 4-Amarela do Metrô, recente exemplo da falta de compromisso do poder público paulista com o cidadão.

Precisamos de sua ajuda para impedir a privatização. Defenda nosso Estado, participe da mobilização. As companhias são da população e não podemos permitir que Serra e seus aliados as vendam para fazer caixa!

Vende-se
Grupo 1: Cesp (energia elétrica), Sabesp (saneamento básico - abastecimento de água), Nossa Caixa (crédito imobiliário - crédito rural - acesso ao sistema financeiro);
Grupo 2: Metrô (transporte), CDHU (habitação), CPTM (transporte - trem), Dersa (construção, fiscalização e administração de estradas), Emae (energia), Cosesp (seguros);
Grupo 3: CPP (educação), Cetesb (saneamento ambiental), Prodesp (processamento de dados do Estado), Imprensa Oficial, EMTU (transporte - ônibus), CPOS (obras públicas), IPT (pesquisa tecnológica), Codasp (desenvolvimento agrário), Emplasa (planejamento urbano).

Portal do Mundo do Trabalho (http://www.cut.org.br/)

segunda-feira, outubro 08, 2007


Dilma: Choque de gestão tucano só serve para peça de propaganda

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, classificou de “propagandista” o termo “choque de gestão”, bastante usado pelos governantes do PSDB para seus métodos de administração, e completou que tal atitude não resolve os problemas da administração pública. A afirmação foi feita nesta quinta-feira (4), durante entrevista a repórteres do jornal Folha de S.Paulo.
A ministra respondeu a perguntas de quatro entrevistadores e também da platéia das 11h às 13h. Dilma foi entrevistada por Fernando de Barros Silva, Renata Lo Prete, Valdo Cruz e Eliane Cantanhêde.
Segundo Dilma, não é possível resolver todos os problemas da administração pública com um choque. “Não se muda uma gestão com um choque. Só se maquia”, afirmou. Para ela, uma verdadeira mudança na gestão deve ser estrutural e demora muito mais do que um ano para ser implementada.
“Não se faz modificação estrutural sem criar centros de excelência de gestão, sem impedir o mau gasto corrente”, disse. “Caso contrário, faz-se um choque, economiza-se algum dinheiro e gasta-se tudo no quarto ano”.
Sobre o aumento do número de cargos comissionados no governo atual, a ministra afirmou que o que ocorre é o aumento dos cargos de função gratificada – cargos comissionados que só podem ser ocupados por funcionários concursados.
“Assim cria-se uma meritocracia”, afirmou Dilma. “Se não fizermos isso, perde nossos melhores quadros”.
Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a criação de secretarias no governo federal não representa um inchaço da máquina pública e que o verdadeiro choque de gestão está na contratação de funcionários.

Imprensa

Durante a entrevista, a ministra lamentou que a mídia não encontre nenhum ponto bom no governo Lula.
“O governo Lula e eu achamos que há um valor fundamental na liberdade da imprensa, mas há, de fato, às vezes, uma posição acrítica, generalizada, difícil de achar um ponto bom. Mas isso não leva a nenhuma desconsideração, já que somos pessoas públicas e devemos satisfação”.

PMDB

Sobre a participação do PMDB do governo, Dilma afirmou que o partido terá cargos desde que os indicados tenham competência nos setores em que trabalharão.
“Acredito que, no ponto de vista do governo, a Petrobras e os portos, por exemplo, terão gestão profissional. Se a indicação tiver este perfil, tudo bem”.
Para Dilma, é fundamental para a governabilidade a existência de coalizões. “Para um país do tamanho do Brasil, é fundamental”. Mas a ministra disse que é necessário regular a que termos é feito isso. Para ela, esta regulação viria por meio da reforma política.
“Nossa relação com o PMDB é programática. Mas isso não quer dizer que o partido não possa assumir cargos”.

2010

Questionada, a ministra descartou uma possível candidatura sua à Presidência em 2010. “Não sou candidata. Acredito que o PT pode ter candidato próprio, e tem o direito de pleitear isso, ou pode haver uma composição”, afirmou.
Segundo ela, ainda é cedo para discutir a sucessão presidencial. “Temos seis meses, dez meses de governo. Não interessa ainda a sucessão de 2010. Mesmo porque isso pode parecer uma tentativa de encurtar o mandato do presidente Lula”, afirmou.

http://www.pt.org.br/sitept/index_files/noticias_int.php?codigo=3616

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sexta-feira, outubro 05, 2007

DIA NACIONAL DE REPÚDIO À REDE GLOBO



Globo vive crise histórica de público, poder e credibilidade

Por André Cintra
A TV Globo amarga um desgaste histórico. Nenhum executivo da emissora chega a temer pela não-renovação das cinco concessões que expiram nesta sexta-feira (5). Mas nem essa convicção atenua a crise de uma Globo que: 1) perde audiência sem parar; 2) é cada vez mais contestada por movimentos da sociedade civil; e 3) já não ostenta tanto poder e credibilidade diante da opinião pública.
Não dá para dizer que, em curto prazo, a hegemonia da família Marinho na televisão brasileira esteja sob risco. Até a Record - que desbancou o SBT do posto de principal concorrente da Globo - assume que precisa de pelo menos cinco anos para alcançar a liderança de audiência. Ainda assim, dia após dia, estatística a estatística, a Globo decai.

Essa constatação fica explícita na Grande São Paulo - área mais disputada pelas emissoras, onde cada ponto abrange 55 mil domicílios. A TV Globo encerrou o mês de setembro com vantagem de 11 pontos sobre a Record (18 x sete). Em relação a setembro de 2006, esses números revelam que audiência global despencou 11,8%, enquanto a Record ganhou 50,2%.

A guerra entre os dois canais se acirrou com a inauguração da Record News, na última semana, em cerimônia realizada em São Paulo. Visivelmente preocupada, a Globo apelou para o governo federal na tentativa de impedir a estréia da emissora de notícias. Evandro Guimarães, vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo, teve audiência com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e com outras autoridades ligadas ao Palácio do Planalto. Sua missão era impedir que a Record News entrasse no ar devido a "ilegalidades". Fracassou.

O vexame maior se deu no dia da cerimônia da inauguração. Segundo informou Paulo Henrique Amorim no site Conversa Afiada, "a Globo fez uma pressão violentíssima, de última hora, sobre o Palácio do Planalto, para impedir que o Presidente Lula fosse à festa de lançamento da Record". As armas da Globo: "detalhes técnicos minuciosos, que continha o argumento de que a lei impede uma rede de ter dois canais na mesma área".

Como se viu horas depois, o ataque final foi infrutífero, e o presidente da República inaugurou a emissora. As "pressões de bastidores" perderam o peso que tinham nos tempos em que a Globo era capaz de arquitetar resultados eleitorais e guiar ações do Congresso.

Programas em baixa

São visíveis os sinais de que o público depende menos da Globo para se informar e se distrair. A debandada atinge novelas (carro-chefe da audiência global), futebol (sobretudo seleção brasileira), seriados, atrações semanais (como Linha Direta, Fantástico e Esporte Espetacular) e a programação da manhã.

Do primeiro ao último capítulo, Paraíso Tropical - que foi ao ar até sábado (29/9) - teve média geral de 42,8 pontos. Entre as "novelas da 8" que a emissora exibiu nesta década, trata-se do segundo pior desempenho - o típico "fiasco de público". Não atingiu a meta mínima de 45 pontos, estipulada pela Globo. Mais inferior ainda foi a sucessora, Duas Caras, que teve a pior estréia da década, com 40,3 pontos no primeiro capítulo - e caiu mais quatro pontos no capítulo seguinte.

"A comparação das audiências regionais da Globo evidencia que a novela da oito, líder na média nacional e nas principais capitais, não é uma unanimidade", explicou Daniel Castro na Folha de S.Paulo. Segundo o jornalista, Paraíso Tropical teve "rejeição nas cidades do interior" - situação com que poucas vezes a Globo teve de lidar.

Malhação é outro exemplo de programa global em queda livre. Na média, foram 32 pontos em 2004, 31 em 2005, 29 em 2006 e apenas 25 em 2007 (janeiro a setembro). O despencar da atração levou a Globo a antecipar o final da temporada de janeiro para novembro.

Também o Fantástico, líder de audiência aos domingos, decresce programa a programa - já caiu cinco pontos de agosto a setembro. O cenário mudou. Reportagens "especiais" foram feitas na reta final da novela das 8. Nada resolveu. "Deve haver uma soma de fatores influenciando esse relativo desinteresse do público", escreveu a crítica de TV Bia Abramo. "Mas será que para isso também não concorre simplesmente um envelhecimento fatal da fórmula?"

E aí está o segredo da TV Record. A emissora do bispo Edir Macedo chupa o "padrão Globo de qualidade", seja no jornalismo, seja na teledramaturgia. Mas tempera isso com ousadia e ritmo próprios, aproximando-se do interesse dos jovens espectadores.

A reação

Uma verdade: a Globo, no cômputo geral, ainda tem mais público que a soma de Record e SBT. A diferença, no entanto, vai diminuindo. Em 2000, metade dos espectadores sintonizava a Globo. Atualmente, sua audiência não passa de 43% - e a emissora já começa a correr para reverter o declínio.

No começo de setembro, mandou a anunciantes um documento de 14 páginas exclamando uma "destacada liderança em todo o Brasil". Segundo Daniel Castro, a iniciativa foi interpretada no mercado "como uma demonstração da Globo de preocupação com o marketing e com o crescimento de audiência e comercial da Record".

Uma semana depois, o 7º Encontro Globo de Criação não se restringiu a seu tema habitual - o estudo de programas novos para especiais de fim de ano. O principal ponto em debate foi justamente a audiência perdida para outras emissoras, outras mídias e até para a apatia do espectador.

A disputa pelo público matutino é a prova maior do desprestígio da Globo, ameaçada pelos desenhos do SBT e pelo interessante programa Hoje em Dia, da Record. A emissora carioca já patinou várias vezes num terceiro lugar no período da manhã, expondo a decadência de estrelas como Ana Maria Braga e Xuxa.

Quem dera fosse só de manhã. Na noite de 12 de junho deste ano, a Globo estreou a esperada microssérie A Pedra do Reino - uma das apostas da emissora, e um sucesso de crítica. Ficou novamente atrás da Record (22 pontos com O Aprendiz) e do SBT (16 com o filme Lara Croft - A Origem da Vida). A microssérie registrou 14 pontos.

Sob ataques

O desgaste da maior emissora do país se reflete no Congresso Nacional e nos movimentos sociais. Lá como cá, as manifestações e os discursos anti-Globo se multiplicam. Em defesa do canal, pode-se dizer que houve protestos contra outros veículos, como o ato do Movimento Sem-Mídia à frente da Folha de S.Paulo e da UJS (União da Juventude Socialista) diante da Editora Abril. A Globo, ainda, assim, "lidera" o ranking da indignação.

Em 19 de setembro, o deputado federal Fernando Ferro (PT-PE) foi à tribuna da Câmara e, de forma irônica, propôs a criação do Partido da Imprensa - com Arnaldo Jabor de presidente, Miriam Leitão como secretária-geral e Diogo Mainardi na tesouraria. O mesmo parlamentar voltou ao plenário neste mês de outubro e acusou o diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, de "falsificador" de informações.

As queixas generalizadas contra a emissora da família Marinho culminam, nesta sexta-feira, em manifestações lideradas pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) - A Jornada Nacional de Lutas pela Democratização dos Meios de Comunicação. Com eventos marcados em 15 capitais, entidades como CUT, UNE e MST exigirão mais rigor e controle público na renovação de concessões de rádio e TV.

São as grandes redes - Globo à frente - que estão no centro da contestação. Uma manifestação cultural chamada Globo Mente tomará o Rio de Janeiro. No Recôncavo Baiano e no Recife, comunidades quilombolas sairão às ruas para denunciar as difamações promovidas pela emissora. Os quilombolas da Bahia incentivarão o povo a não ver a programação da Globo durante o dia.

É difícil que as cinco afiliadas globais percam sua licença. Um decreto de 1963 permite a renovação automática das concessões enquanto o Congresso não aprecia a questão. Mesmo que o caso chegue lá, dois quintos do Congresso Nacional precisam aprovar a não-renovação em votação nominal. Mas, legislação à parte, a confiabilidade da TV Globo nunca esteve tão à prova.
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quinta-feira, outubro 04, 2007

"partido do capital"...



A ditadura da mídia no Brasil


"Não se preocupem. Não queremos controlar o mundo. Só queremos um pedaço dele".


Rupert Murdoch, dono do império midiático News Corporation, presente em 133 países.

"Sim, eu uso o poder [da Rede Globo], mas eu sempre faço isso patrioticamente".

Roberto Marinho, ex-proprietário do maior conglomerado midiático do Brasil.

A mídia hegemônica vive um paradoxo. Ela nunca foi tão poderosa no mundo e no Brasil, em decorrência dos avanços tecnológicos nos ramos das comunicações e das telecomunicações, do intenso processo de concentração e monopolização do setor nas últimas décadas e da criminosa desregulamentação do mercado que a deixou livre de qualquer controle público. Atualmente, ela exerce uma brutal ditadura midiática, manipulando informações e deturpando comportamentos. Na crise de hegemonia dos partidos burgueses, a mídia hegemônica confirma uma velha tese do revolucionário italiano Antonio Gramsci e transforma-se num verdadeiro "partido do capital".
Por outro lado, ela nunca esteve tão vulnerável e sofreu tantos questionamentos da sociedade. No mundo todo, cresce a resistência ao enorme poder manipulador da mídia, expresso nas mentiras ditadas pela CNN e Fox para justificar a invasão dos EUA no Iraque, ou na sua ação golpista na Venezuela ou na cobertura imparcial dos processos eleitorais. Alguns governantes, respaldados pelas urnas, decidem enfrentar, com formas e ritmos diferentes, esse poder que se coloca acima do Estado de Direito. Outro fator que hoje fragiliza os "donos da mídia" é a guerra travada entre empresas de radiodifusão e multinacionais das telecomunicações devido à convergência digital.
Este quadro, com seus paradoxos, coloca em novo patamar a luta pela democratização da mídia e pelo fortalecimento de meios alternativos, contra-hegemônicos, de comunicação. Este desafio se tornou estratégico. Sem enfrentar a ditadura midiática, não haverá avanços na democracia, nas lutas dos trabalhadores por uma vida mais digna, na batalha histórica pela superação da barbárie capitalista e, nem mesmo, na construção do socialismo. Aos poucos, os partidos de esquerda e os movimentos sociais se dão conta de que esta luta estratégica exige reforço dos meios alternativos de comunicação, a denúncia da mídia privada e uma plataforma por sua efetiva democratização.
Concentração e poder mundial
O monopólio da mídia na atualidade é assustador, sem precedentes na história. Segundo estudos de Robert McChesney, "o mercado global é dominado por uma primeira camada de cerca de dez imensos conglomerados... Eles têm ações em diversos setores da mídia e operam em todos os lugares do mundo. Existe uma segunda camada onde estão cerca de quarenta empresas de mídia que giram em torno do sistema global. A maioria dessas firmas provém da Europa Ocidental ou da América do Norte, mas algumas são da Ásia e da América Latina". A humanidade fica refém destes monopólios, com receitas entre US$ 8 bilhões e US$ 40 bilhões, que defendem, de forma escancarada ou enrustida, os interesses das corporações capitalistas e das potências imperialistas.
Relatório recente de uma Comissão Especial da ONU adverte que 85% das notícias que circulam no planeta são geradas nos EUA. "Pensemos na CNN, que distribui, por satélites e cabos, a partir da matriz em Atlanta, notícias 24 horas por dias para 240 milhões de lares em 200 países e mais 86 milhões nos Estados Unidos, além de 890 mil quartos de hotéis conveniados. O mundo em tempo real exibido para 1 bilhão de telespectadores. A CNN não apenas criou e universalizou uma linguagem e um formato para a informação televisiva, como, várias vezes, alinha a sua orientação editorial com interesses estratégicos norte-americanos. Lembremo-nos da cobertura favorável ao governo Bush na invasão do Iraque", alerta o professor Dênis de Moraes.
A interferência política e ideológica da mídia é brutal, conforme reconhece David Rothkopf, ex-consultor do governo ianque: "O objetivo central da política externa na era da informação deve ser o de ganhar a batalha dos fluxos de informação mundial, dominando as suas ondas, da mesma forma como a Grã-Bretanha reinava antigamente sobre os mares". Tanto que os EUA aplicam no setor de 3,5% a 5,2% do PIB. Além disto, a mídia hoje influi na própria reprodução e mobilidade do capital. A agência Reuters, com escritórios em 94 países, envia informações atualizadas oito mil vezes por segundo para os seus 511 mil usuários. Seu acervo digital inclui três bilhões de dados sobre mais de 40 mil empresas do mundo, 244 bolsas de valores e 960 mil ações, títulos e papéis.
Com a desregulamentação neoliberal e os avanços tecnológicos, este processo de monopolização se acelerou vertiginosamente nos últimos anos. Dênis de Moraes cita alguns casos perturbadores. "As gigantes estão engolindo as grandes empresas. A News Corporation abocanhou por US$ 6,6 bilhões 34% das ações da DirecTV e se transformou no única czar da televisão digital via satélite mundial, pois já controlava a concorrente Sky. A General Eletric, que já possuía a rede NBC, absolveu a Universal, proprietária da maior gravadora de discos do mundo, do segundo maior estúdio de cinema, de cinco parques temáticos e emissoras de televisão. A Interpublic, número 1 da publicidade global, incorporou a True North, até então a oitava no ranking". E por aí vai...
O latifúndio midiático no Brasil
No Brasil, por vias transversas, o processo de monopolização também é uma dura realidade. Na década passada, nove grupos familiares controlavam o grosso da mídia nativa: Marinho (Globo), Abravanel (SBT), Saad (Bandeirantes), Bloch (Manchete), Civita (Abril), Mesquita (Estado), Frias (Folha), Levy (Gazeta), Nascimento e Silva (Jornal do Brasil). Hoje são apenas cinco, com a débâcle das famílias Mesquita, Bloch, Levy e Nascimento, que já não exercem mais o controle sobre os seus antigos veículos. Por outro lado, surgiram alguns grupos regionais, associados aos impérios nacionais, como a RBS, que atua no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
No caso brasileiro, a concentração da mídia vem de longa data e foi impulsionada pela ausência na legislação de qualquer norma proibindo a propriedade cruzada - a posse de inúmeros veículos em diferentes setores (jornais, rádio, televisão). Nos EUA, país citado pelos radiodifusores como exemplo de "liberdade de expressão", desde 1943 existem regras para limitar a concentração. No Brasil, nunca existiram. Desde as normas que iniciaram a regulação da radiodifusão nos anos 30 (decretos 20.047/31 e 21.111/32), passando pelo Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº. 4.137, de 1962), nunca houve a preocupação com a monopolização. A Constituição de 1988, no seu Capítulo 5, até fixou normas para evitar a concentração, mas nunca foram regulamentadas.
O resultado foi uma histórica concentração neste setor estratégico, impedindo a pluralidade e a diversidade de opinião. O grupo Diários Associados, que começou com a compra de um pequeno jornal no Rio de Janeiro, em 1924, rapidamente se expandiu. Em 1959, já era o maior império da mídia na América Latina, com 40 jornais e revistas, mais de 20 estações de rádio, uma dezena de emissoras de televisão, uma agência de notícias e uma empresa de propaganda - "além de um castelo na Normandia, nove fazendas espalhadas por quatro estados, indústrias químicas e laboratórios farmacêuticos", segundo descrição do Atlas da Fundação Getúlio Vargas.
Ele foi desbancado pela Globo, que também começou com um jornal em 1925, consolidou-se na ditadura militar e hoje é hegemônica na mídia. Levantamento do Instituto de Pesquisas e Estudos em Comunicação, concluído em 2002, revelou que a TV Globo possui 223 emissoras próprias ou filiadas e controla o maior número de veículos em todas as áreas: 61,5% das emissoras de TV em UHF, 40,7% dos jornais, 31,8% das TVs VHF, 30,1% das rádios AM e 28% das FM. Em 2003, as TVs abocanharam 60,4% do total da verba publicitária do país (R$ 6,53 bilhões). Destas, 78% foram para a Rede Globo. Em 2005, a Rede Globo, sem incluir as filiadas, teve um faturamento líquido de R$ 4,3 bilhões - cerca de três vezes o faturamento da Record e SBT juntos.
Além da concentração, a mídia brasileira passa por um perigoso processo de internacionalização. Desde a aprovação da Emenda Constitucional 36/2002 e de sua regulamentação pela Lei 10.610, de dezembro de 2002, no final do reinado de FHC, o capital estrangeiro foi autorizado a adquirir até 30% das ações das empresas jornalísticas e de radiodifusão. Já a Lei da TV a Cabo permite o ingresso do capital externo em até 49% e as normas que regem a telefonia fixa e celular e a TV paga em MMDS (via microondas) e em DTH (via satélite) não estabelecem nenhuma restrição ao capital estrangeiro. Nesse sentido, o próprio discurso nacionalista das emissoras de televisão, em disputa com as teles pelo controle da digitalização, parece meio hipócrita e oportunista.
Como denuncia Gustavo Gindre, no artigo "Globo: discurso nacionalista, negócios nem tanto", os interesses nacionais foram, há muito, abandonados por esta empresa. "A Globo negociou a venda da Net Serviços (a operadora do grupo) à Telmex, de propriedade do homem mais rico da América, o mexicano Carlos Slim Helu. Helu é dono, no Brasil, da empresa de telefonia celular Claro, da Embratel e da antiga AT&T Latin América... A Telmex passa a controlar diretamente 37,5% das ações da Net Serviços e, indiretamente, através da GB, mais 24,99%. Ou seja, ainda que não tenha formalmente o controle da Net Serviços, a Telmex fica com 62,49% das ações ordinárias (com direito a voto) da Net Serviços. E a Globo apenas com 24,99%".
O mesmo ocorre em outras empresas do setor. Em julho de 2004, a Abril anunciou a venda de 13,8% de suas ações para a Capital International, gestora de fundos dos EUA. Já em maio de 2006, emitiu comunicado informando "a sociedade com o grupo de mídia sul-africano Naspers, que passa a ter 30% de capital do grupo". Em junho último, ela vendeu a TVA à multinacional Telefónica. Com o agravante da internacionalização, o professor Venício Lima resume o quadro da mídia: "O sistema brasileiro de mídia, além de historicamente concentrado, é controlado por poucos grupos familiares; é vinculado às elites políticas locais e regionais, revela um avanço sem precedentes de igrejas e é hegemonizado por um único grupo, as Organizações Globo".
Hegemonia e poder manipulador
Com base neste poder descomunal, a mídia hegemônica sempre procurou manipular a sociedade brasileira. O bombardeio recente contra o presidente Lula, em função das suas origens nas lutas operárias e de algumas de suas políticas contrárias aos interesses da elite burguesa não é um fato novo no país. No passado, usando o denuncismo do "mar de lama", ela levou Getúlio Vargas ao suicídio em 1954. Contra o governo João Goulart, fez campanha por sua derrubada, alardeando o "perigo do comunismo". Durante a ditadura militar, a Folha de São Paulo, que ainda engana muita gente com o seu falso ecletismo, emprestou suas peruas para o transporte de presos políticos. Até o final, a Rede Globo procurou esconder a campanha das Diretas-Já, que contagiava a sociedade.
Já na redemocratização do país, a mídia tentou criar obstáculos para o avanço das lutas operárias. Com a retomada das greves no final dos anos 70, ela tratou os grevistas como arruaceiros. Já na Constituinte de 1988, ela defendeu a principais teses neoliberais, contra as medidas de defesa da economia nacional e contra os direitos trabalhistas - conforme comprova um excelente estudo de Francisco Fonseca. Diante do risco da vitória de um candidato oriundo das lutas operárias, em 1989, ela criou a imagem do "caçador de marajás", garantindo a vitória de Collor sobre Lula. Nos anos 90, a mídia foi a vanguardeira da implantação do neoliberalismo no país. Ela blindou a figura de FHC, pregando a privatização do Estado, a desnacionalização e a desregulamentação.
A tsunami neoliberal, somada às mutações tecnológicas, reforçou ainda mais este monopólio. A vitória de Lula em 2002 foi encarada como um grave risco pelos "donos da mídia"; ela poderia reverter esse processo de concentração e manipulação. Exatamente por isso, a ditadura midiática sempre exerceu forte pressão sobre o novo governo. Como observa Venício Lima, "antes mesmo da revelação pública das cenas de corrupção nos Correios, em maio de 2005, o `enquadramento´ da cobertura que a grande mídia fez, tanto do governo Lula como do PT e de seus membros, expressava uma `presunção de culpa´, que, ao longo dos meses seguintes, foi se consolidando por meio de uma narrativa própria e pela omissão e/ou pela saliência de fatos importantes".
A revista Veja foi ao ápice da manipulação. "Entre maio de 2005 e janeiro de 2006, foram pelo menos 20 capas sobre a crise, denúncias não comprovadas sobre o comportamento ilegal de familiares do presidente (filho e irmão), sobre dinheiro ilegal proveniente da Colômbia e de Cuba para as campanhas eleitorais do PT", lembra Venício. Já o colunista Clóvis Rossi, da Folha, encontrou "as digitais do PT" no assassinato do brasileiro Jean Charles em Londres, em setembro de 2005. No caso da Rede Globo, que estava dependente dos empréstimos do governo, ela deu sua cartada fatal na reta final da eleição de 2006, forçando o segundo turno - conforme comprovou a histórica reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira.
Outra mídia é possível e urgente
As eleições no Brasil, assim como a derrota do "golpe midiático" na Venezuela ou a vitória de Evo Morales na Bolívia (contra 83% das notícias opostas a sua candidatura), revelam que esta infernal máquina de manipulação de "corações e mentes" não é imbatível. Estes resultados têm, inclusive, levado partidos de esquerda, movimentos sociais e novos governantes, alvos da fúria midiática, a refletirem sobre o papel estratégico a mídia na atualidade. Alguns governantes, mais ousados e refletindo a correlação de forças internas, adotam posturas para coibir a "liberdade de empresa", que não se confunde com "liberdade de imprensa", como caso da RCTV venezuelana.
No Brasil, o segundo mandato do governo Lula dá sinais de que acordou diante do poder destes monopólios. No primeiro mandato, ele só fez ceder à ditadura midiática, com a ilusão de que poderia atraí-la ou neutralizá-la, como ficou patente na adoção do padrão japonês de TV digital, bem ao gosto da Rede Globo. Agora, o governo manifesta a intenção de construir uma forte rede pública de televisão, como contraponto à manipulação reinante, e insinua que poderá realizar uma conferência nacional para discutir a democratização dos meios de comunicação. A pressão da ditadura militar, porém, é violenta; já o governo continua sem nitidez de projeto, preso à lógica pragmática e conciliadora. Daí a importância da pressão da sociedade e da elaboração de plataformas visando construir, com urgência, uma nova mídia, democrática e pluralista.

Altamiro Borges é jornalista, secretário nacional de comunicação do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi).

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