quarta-feira, outubro 28, 2015

PARABÉNS LULA!


Transcrevo um texto bem interessante!!!
Julian Rodrigues disse:


E QUE NINGUÉM NUNCA MAIS DUVIDE
Lula não é Lula. Lula é produto da inteligência, da generosidade, e da luta de milhões de brasileiros e brasileiras desse país em todo o século 20. Lula é cada comunista, cada feminista, todos socialistas, cada sindicalista, cada um dos trabalhistas, cada líder estudantil, cada um dos camponeses e camponesas que tombam, tombarão e tombarão lutando por um pedaço de chão para plantar. Lula é cada engraxate, cada operário, cada nordestino, cada retirante, cada uma das empregas domésticas, das negras aviltadas, das mulheres estupradas, das crianças abusadas desse país. Lula é Astrogildo Pereira, Pagu, Prestes, João Amazonas. Lula é Marighella, é Drummond, é Olga Benário, é Minervino de Oiveira. Lula é Stuart Angel, é Henfil, é Osvaldão, é Lamarca, é Herzog, é Pedro Pomar, é Brizola. Lula é Arraes, é Pernambuco, é nordeste, é Ariano Suassuna, é Chico Mendes é é floresta. Lula é peão, é líder, é coração, é carisma, é contradição, é liderança, é compromisso, é solidariedade. Lula é Zumbi, é quilombo, é África, é José do Patrocínio, é Lima Barreto, é Abdias do Nascimento. Lula é Iara Iavelberg, é Heleieth Saffioti, é Nísia Floresta. Lula é Leila Diniz. Lula é João Antonio Mascarenhas, Herbert Daniel, Cazuza, Renato Russo. Lula é Caio Prado, Celso Furtado, Sérgio Buarque, Darcy Ribeiro. Lula é Florestan Fernandes. E é CUT e é sindicato e é luta, e conflito, e negociação, e conciliação. Lula é política social, é universidade pública, é cota, é participação popular. Lula é do tamanho do Brasil e do mundo.
Lula é o que melhor o movimento das massas trabalhadoras em luta por justiça e igualdade forjou na história do Brasil.
E que ninguém – nunca mais – duvide da capacidade de luta da classe trabalhadora.
#Lula70

quinta-feira, outubro 22, 2015

A MICROFÍSICA DO PODER... com quantos quilos de medo se faz uma tradição?




QUI, 22/10/2015 - 10:20

Manda quem pode, obedece quem tem juízo. O axioma da brasilidade se aplica fora da condicionante do macho branco no comando?
No Brasil, manda quem pode. Lula podia?, por Sérgio Saraiva

O jornalista Luís Nassif, em seu artigo ”Porque não houve uma Lava Jato para FHC”, constata ou lamenta:
 “... não se tenha dúvida que, em um ponto, ele [FHC] foi nitidamente superior a Lula: na capacidade de entender o jogo dos demais poderes de Estado - Polícia Federal, Ministério Público, Justiça - e saber conservá-los sob rédea curta”.
Igual modo, o professor André Araújo, várias vezes, já colocou que o poder do presidente da República de indicar os ministros do Supremo Tribunal Federal, do Procurador Geral da República e do Diretor Geral da Polícia Federal deve ser exercido de sorte a, no mínimo, não “criar corvos” e preferencialmente de ter, nesses cargos, aliados políticos. Isso como prática da real politique necessária à governabilidade. Cita, como exemplo, o presidente dos EEUU que não se constrange em usar seu poder discricionário quando isso for conveniente para a manutenção do seu governo. Tal faria parte do jogo de poder das democracias consolidadas.
Ambos, Nassif e Araújo consideram o “republicanismo” de Lula como um erro. Concordo com eles. Há, no entanto, no meu ver, outra questão a ser posta: quanto Lula podia mandar? E podendo, quanto saberia mandar?
Já perguntava Tom Zé: com quantos quilos de medo se faz uma tradição? O mando se aprende e se legitima como obra de gerações. O quartinho da empregada, o elevador de serviço, o banheiro e o refeitório da diretoria sempre foram instrumentos didáticos para a conformação dos nossos estamentos sociais.
Uma vez, em 2003, em Angola, perguntei a um colega se ele, um homem negro e africano, considerava Lula, o presidente brasileiro recém-empossado, como um homem branco. Lula era festejado, na África. Após alguns momentos de natural hesitação, ele respondeu: não.
Quando o poder nas Américas não foi branco, católico e europeu ou protestante e anglo-saxão? E quando essa não foi a caracterização das classes dominantes?
Pois bem, FHC pertence à classe social que manda no Brasil desde Tomé de Souza. Tem o mando e o reconhecimento do "direito" ao mando inscrito no nosso DNA social.
Lembremos que nossa alta burocracia é filha dessa mesma classe social. E é ciosa das suas prerrogativas de poder simbólico. FHC é reconhecido por ela como um dos seus. Um dos bons entre os bons. Prescindia do poder democrático, pode exercer o poder aristocrático desde a academia.
Lula, em relação a FHC, é o bom selvagem. Seria útil como um símbolo da nossa "cordialidade" e como símbolo deveria servir à burguesia esclarecida. Ousou governar e obteve sucesso. Mas não saberia ainda mandar, nem teve seu direito ao mando reconhecido como válido. Lula levou o brasileiro cordial a uma crise de identidade.
De que círculos recrutaria os escudeiros dos quais britanicamente trata o professor André Araújo?
Lula foi engolido, com o perdão do duplo sentido. E está entalado na garganta da burguesia para ser cuspido.
O poder de Lula é o democrático, mas, no Brasil, ainda vale o mando por direito divino e hereditário. Ainda não somos um país democrático, na essência do termo - do povo, para o povo e pelo povo. De certo modo, Dom Pedro II jamais deixou o Palácio Imperial do nosso imaginário e estamos permanentemente à espera de sua volta travestido do salvador da pátria - somos monarquistas e sebastianista. Não somos um país republicano.
Sua majestade, Dom Fernando Henrique – o príncipe dos sociólogos. Soa adequado aos nossos ouvidos. Vá, agora, formar a mesma frase com Lula.
Ocorre que na democracia, inclusive em nossa jovem democracia, um homem vale um voto e essa é, por enquanto, a melhor condição de igualdade que conseguimos construir. Do instante em que nascemos ao que morremos e por toda a vida, imperam as diferenças sociais, exceto no momento do voto secreto e universal. Diante da urna, todos estamos nus. E o povo escolheu Lula, se identificou com Lula, elegeu Lula e o reelegeu mais três vezes. Independente do poder da burguesia, mas sem sua aquiescência ou colaboração.
A Folha de São Paulo caracterizou essa burguesia quando caracterizou os que pediam o impeachment de uma presidente democraticamente eleita: homem (61%), tem 51 anos ou mais (40%), cursou o ensino superior (76%), se declara branca (75%) e tem renda familiar mensal entre R$ 7.881 e R$ 15.760 (25,17%).
Eram esses os que Lula deveria manter sob rédea curta. Mas esses são os que mandam e sempre mandaram no Brasil. E Lula não é um deles.
Lula é um sem juízo.

PS1: parte da esquerda, e uma parte não pequena, necessariamente, tampouco escapou da ideia de Lula como o bom selvagem útil, mas a ser tutelado. Os rancores de Helios Bicudos e Ferreiras Gullares teriam que motivação? Veem Lula com um líder a ser seguido?
PS2.: para entregas em domicílio, consulte a Oficina de Concertos Geais e Poesia.


quarta-feira, outubro 14, 2015

O Brasil e a República de Salém

14/10/2015, Mauro Santayana

O Ministro Teori Zavascki retirou da Operação Lava-Jato a investigação de questões relativas à Eletronuclear.

O fez porque o caso envolve o senador Edson Lobão, que tem foro privilegiado.

Mas poderia tê-lo feito também devido a outros motivos. A Eletronuclear não possui instalações no Paraná, nem vínculos com a Petrobras, e não se sustenta a tese, que quer dar a entender o Juiz Sérgio Moro, de que tudo, das investigações sobre o Ministério do Planejamento, relacionadas com a Ministra Gleise Hoffman, à Eletronuclear, Petrobras, hidrelétricas em construção na Amazônia, projetos da área de defesa, da indústria naval, e qualquer coisa que envolva a participação das maiores empresas do país em projetos e programas estratégicos para o desenvolvimento nacional, "é a mesma coisa" e culpa de uma "mesma organização criminosa", estabelecida, há alguns anos, com o deliberado intuito de tomar de assalto o país.

Pode-se tentar impingir esse tipo de fantasia conspiratória, reduzindo a oitava maior economia do mundo - que em 2002 não passava da décima-quarta posição - a um mero bordel de esquina invadido por uma maquiavélica e nefasta quadrilha de assaltantes, quando esse discurso se dirige para a minoria conservadora, golpista, manipulada e desinformada que pulula nos portais mais conservadores da internet brasileira e dá um trocado para a faxineira bater panela na varanda do apartamento, quando começa a doer-lhe a mão.

Mas essa tese não "cola" para qualquer pessoa que tenha um mínimo de informação de como funciona, infelizmente, o país, e sobre o que ocorreu com esta Nação nos últimos 20 anos.

Operação caracteristicamente midiática, alimentada a golpe de factoides, da pressão sobre empresas e empresários - até mesmo por meio de prisões desnecessárias, e, eventualmente, arbitrárias - e de duvidosas delações premiadas, a Lava-Jato, se não for rigorosamente enquadrada pelos limites da lei, se estabelecerá como uma nova República do Galeão, de Curitiba, ou de Salém.

Uma espécie de Quinto Poder, acima e além dos poderes basilares da República, com jurisdição sobre todos os segmentos da política, da economia e da sociedade brasileira, com um braço doutrinário voltado para obter a alteração da legislação, mormente no que diz respeito ao enfraquecimento das prerrogativas  constitucionais, entre elas a da prisão legal, da presunção de inocência,  da apresentação de provas, que precisa produzir, para uma parcela da mídia claramente seletiva e partidária, sempre uma nova "fase" - já lá se vão 19 - uma nova acusação, uma nova delação, para que continue a se manter em evidência e em funcionamento.

Tudo isso, para que não se perceba com clareza sua fragilidade jurídico-institucional, exposta na contradição entre a suposta existência de um escândalo gigantesco de centenas de bilhões de reais, como alardeado, na imprensa e na internet, aos quatro ventos, que se estenderia por todos os meandros do estado brasileiro, em contraposição da franca indigência de provas robustas e incontestáveis, reunidas até agora, e do dinheiro efetivamente recuperado, que não chega a três bilhões de reais - pouco mais do que o exigido, em devolução pela justiça, apenas no caso do metrô e dos trens da CPTM, de São Paulo.

Uma coisa é provar que dinheiro foi roubado,  nas estratosféricas proporções cochichadas  a jornalistas - ou aventadas em declarações do tipo "pode chegar" a tantos bilhões - dizendo em que contrato houve desvio, localizando os recursos  em determinada conta ou residência, mostrando com imagens de câmeras, ou registros de hotel, e listas de passageiros, que houve tal encontro entre corruptor e corrompido.

Outra, muito diferente, é, para justificar a ausência de corrupção nas proporções anunciadas todo o tempo, estabelecer aleatoriamente prejuízos "morais" de bilhões e bilhões de reais e nessa mesma proporção, multas punitivas, para dar satisfação à sociedade, enquanto, nesse processo, que se arrasta há meses, caminhando para o segundo  aniversário, se arrebenta com vastos setores da economia, interrompendo, destruindo, inviabilizando e transformando, aí, sim, em indiscutível prejuízo, centenas de bilhões de reais em programas e projetos estratégicos para o desenvolvimento e a própria  defesa nacional. 

Insustentável, juridicamente, a longo prazo, e superestimada em sua importância e resultados, a Operação Lava-Jato é perversa, para a Nação, porque se baseia em certas premissas que não possuem nenhuma sustentação na realidade.

A primeira, e a mais grave delas, é a que estabelece e defende, indiretamente, como sagrado pressuposto, que todo delator estaria falando a verdade.

Alega-se que os réus "premiados", depois de assinados os acordos, não se arriscariam a quebrar sua palavra com a  Justiça.

Ora, está aí o caso do Sr. Alberto Youssef, já praticamente indultado pelo mesmo juiz Moro no Caso do Banestado, da ordem de 60 bilhões de reais, para provar que o delator premiado não apenas pode falar o que convêm, acusando uns e livrando a cara de outros, como continuar delinquindo descaradamente - por não ter sido impedido de seguir nos mesmos crimes e atividades pela Justiça - até o ponto de, estranhamente, fazer jus a nova "delação premiada" mesmo tendo feito de palhaços a maioria dos brasileiros.

A segunda é a de se tentar induzir a sociedade - como faz o TCU no caso das "pedaladas fiscais", que vêm desde os tempos da conta única do Banco do Brasil - a acreditar que toda doação de campanha, quando se trata do PT, seria automaticamente oriunda de pagamento de propina de corrupção ao partido, e que, quando se trata de legendas de oposição - mesmo que ocupem governos que possuem contratos e obras com as mesmíssimas empresas da Lava-Jato - tratar-se-ia de doações  honestas, impolutas e desinteressadas.

Corrupção é corrupção. E doação de campanha é doação de campanha. Até porque as maiores empresas e bancos do país, que financiam gregos e troianos, o fazem por um motivo simples: como ainda não possuem tecnologia para construir uma máquina do tempo, nem para ler bolas de cristal,  elas não têm como adivinhar, antes da contagem dos votos, quem serão os partidos vitoriosos ou os candidatos eleitos em cada pleito.

Se existe suspeição de relação de causa e efeito entre financiamento de campanha e conquista de contratos, simples.

Em um extremo, regulamente-se o "lobby", com fiscalização, como existe nos Estados Unidos, ou, no outro, proíba-se definitivamente o financiamento empresarial de campanha por empresas privadas, como está defendendo o governo, e não querem aceitar os seus adversários.

O que não podem esperar, aqueles que escolheram, como tática, a criminalização da política, é que a abertura da Caixa de Pandora, ao menos institucionalmente, viesse a atingir apenas algumas legendas, ou determinados personagens, em suas consequências, como é o caso do financiamento privado de campanha.

Vendida, por outro lado,  como sendo, supostamente, uma ação emblemática, um divisor de águas no sentido da impunidade e de se mandar um recado à sociedade de que o crime não compensa, a justiça produzida no âmbito da Operação Lava-Jato está, em seus resultados, fazendo exatamente o contrário.

Quem for analisar a última batelada de condenações, verá que, enquanto os delatores "premiados", descobertos com contas de dezenas de milhões de dólares no exterior, com as quais se locupletavam nababescamente, gastando à tripa forra,  são liberados até mesmo de  prisão domiciliar e vão ficar soltos, nos próximos anos, sem dormir nem um dia na cadeia, funcionários de partido que "receberam", em função de ocupar o cargo de tesoureiro,  doações absolutamente legais do ponto de vista jurídico, terão de passar bem mais que uma década presos  em regime fechado, mesmo que nunca tenham apresentado nenhum sinal de enriquecimento ilícito.

Com isso, bandidos contumazes, já beneficiados, no passado, pelo mesmo juiz, com acordos de delação premiada, que quebraram, ao voltar a delinquir, seus acordos feitos anteriormente com a Justiça,   ou que extorquiram empresas e roubaram a Petrobras, vão para o regime aberto ou semi-aberto durante dois ou três anos, para salvar as aparências, enquanto milhares de trabalhadores estão indo para o olho da rua, também porque essas mesmas empresas - no lugar de ter apenas seus eventuais culpados condenados - estão, como negócio, sendo perseguidas e ameaçadas com multas bilionárias, que extrapolam em muitas vezes os supostos prejuízos efetivamente comprovados até agora.

A mera ameaça dessas multas, com base nos mais variáveis pretextos, pairando, no contexto midiático, como uma Espada de Dámocles,  antes da conclusão das investigações, tem bastado para que a situação creditícia e institucional dessas companhias seja arrebentada nos mercados, e projetos sejam interrompidos, em um efeito cascata que se espalha por centenas de médios e pequenos fornecedores, promovendo um quase que definitivo, e cada vez mais irrecuperável desmonte da engenharia nacional, nas áreas de petróleo e gás, infraestrutura, indústria naval, indústria bélica, e de energia.

O Juiz Moro anda reclamando publicamente, assim como o Procurador Dallagnol - até mesmo no exterior - do "fatiamento" da Operação Lava-Jato.

Ora, não se pode criar uma fatia a partir de algo que não pertence ao bolo.

Inquéritos não podem ser abertos por determinada autoridade, se não pertencem à jurisdição dessa autoridade.

Continuar produzindo-os, sabendo-se que eventualmente serão requeridos ou redistribuídos pelo Supremo, faz com que pareçam estar sendo criados apenas com o intuito de servirem, ao serem eventualmente retirados do escopo da Lava-Jato, de "prova" da existência de uma suposta campanha, por parte do STF, destinada a dar fim ou a sabotar, aos olhos da opinião pública, o "trabalho" do Juiz Sérgio Moro e o de uma "operação" que se quer  cada vez mais onipresente e permanente nas manchetes e na vida nacional.     
Ao reclamar do suposto "fatiamento" da  Operação Lava-Jato, com a desculpa de eventual prejuízo das investigações, o Juiz Sérgio Moro parece estar tentando, da condição de "pop star" a que foi alçado por parte da mídia,  constranger e pressionar, temerariamente, o Supremo Tribunal Federal - já existe provocador falando, na internet, em resolver o "problema" do STF "a bala" - valendo-se da torcida e do apoio da parcela menos informada e mais manipulada da opinião pública brasileira.

Com a agravante de colocar em dúvida, aos olhos da população em geral, o caráter, imparcialidade e competência de seus pares de outras  esferas e regiões, como se ele, Sérgio Fernando Moro, tivesse surgido ontem nesta dimensão, de um puro raio de luz vindo do espaço,  sem nenhuma  ligação anterior com a realidade brasileira, para ser o líder inconteste de uma  Cruzada Moral e Reformadora Nacional - o único magistrado supostamente honesto, incorruptível  e comprometido com o combate ao crime desta República.


domingo, outubro 11, 2015

A sofreguidão avança de faca na boca. Um colunista de Veja é transferido para O Globo; estreia numa hora em que o golpismo se enlameia; a ‘república de Curitiba’ vaza para ele denúncia exclusiva do delator Fernando Baiano... contra filho de Lula. Já serviu para deslocar a manchete de Cunha para o segundo plano na primeira página do isento veículo carioca.

O golpe e o poder das ideias

À medida que apodrece a reputação dos centuriões do golpe (Cunha, Nardes, Agripino, Aéreo Neves), os golpistas jogam um jogo de vida ou morte nos próximos dias

por: Saul Leblon

reprodução
O país vive horas cruciais. O assalto conservador ao poder joga uma cartada de vida ou morte contra o relógio político nos próximos dias.
 
À medida que apodrece a reputação de seus centuriões, e os savorolas da ética entram em combustão explosiva  --caso dos homens-tocha Cunha, Agripino, Nardes, Aéreo Neves etc, resta-lhes apostar tudo no estreito espaço de tempo entre a desmoralização absoluta e a capacidade residual de articular o golpe.
 
Arqueado sob R$ 31 milhões em depósitos suíços, segundo a Folha, Cunha negociou com a hesitação golpista: em troca do pescoço, articulou uma operação casada com o PSDB.
 
Tucanos salvam a aparência pedindo seu afastamento –‘para que possa exercer seu direito constitucional à ampla defesa’. Em troca, o personagem que não tem mais nada a perder acelera a operação do impeachment, como última estaca de sobrevivência antes do abismo.
 
A sofreguidão avança de faca na boca.
 
Um colunista de Veja é  transferido para O Globo; estreia numa hora em que o golpismo se enlameia;  a ‘república de Curitiba’ vaza para ele denúncia exclusiva do delator Fernando Baiano... contra filho de Lula.
 
Já serviu para deslocar a manchete de Cunha para o segundo plano na primeira página do isento veículo carioca. 
 
Vai por aí a coisa.
 
Seja qual for o seu desfecho, a encruzilhada em que o golpismo trata a democracia como um estorvo exige respostas contundentes.
 
Passa da hora de o campo progressista superar sectarismos e prioridades corporativas para enxergar a floresta além da clareira particular do seu conforto.
 
O que se desenha são as provas cruciais da nação brasileira no século XXI.
 
É imperioso manter o país a salvo de forças incontroláveis que atrelaram seu destino a uma disjuntiva em que, para vencerem, a sociedade terá que perder o rumo, o futuro e a esperança.
 
Se pensar pequeno, o Brasil corre o risco de ser sequestrado pelo moedor sem termo.
 
A sorte de sua gente, o destino do seu desenvolvimento enfrentam uma sobreposição de crises cujo desfecho terá repercussões profundas e duradouras.
 
Um ciclo de expansão se esgotou, um outro pede para nascer.
 
Pendências novas e antigas se misturam em meio a um cenário mundial adverso.
 
A velocidade imprevista da transição chinesa torna a neblina ainda mais densa.
 
É como se a viga-mestra que escorava uma época tombasse.
 
O motor asiático investia, em média, 45% do PIB; importava outros 10% em matérias-primas para saciar sua fornalha.
 
O velocímetro dessa máquina baixou abruptamente, de 11%, para perto de 6% ao ano.
 
A freada tempestiva sugere que poderá recuar ainda mais.
 
O tranco espremeu as cotações das commodities, rebatendo na hesitante recuperação europeia e, por tabela, enfraquecendo a norte-americana. 
 
Fragilidades antecedentes, semeadas em décadas de desregulação neoliberal das finanças  e do mundo do trabalho, condensaram-se nesse ambiente pantanoso. 
 
Falta demanda porque falta salário, que inexiste porque o emprego é precário, e os sindicatos foram desossados porque o guarda-chuva partidário e ideológico dos assalariados rendeu-se ao veredito neoliberal de miss Thatcher -- 'there is no alternative'.
 
Vive-se a mais longa, incerta e frágil convalescença de uma crise capitalista desde 1929. E não é por acaso.
 
Tudo o que foi subtraído do Estado e do trabalho nesse período mostra agora a sua falta.
 
Sobram paradoxos.
 
O da superprodução de capital fictício, em metástase reprodutiva, o mais evidente deles.
 
Seu contraponto histórico é a anemia do investimento e do emprego.
 
Ficções de livre comércio rondam esse cenário.
 
Livre comércio em condições de contração sistêmica?
 
Esse é um jogo de soma zero em que apenas transfere demanda de um ponto a outro: o emprego gerado numa economia é a vaga subtraída na outra.
 
Igual circularidade se observa no deslocamento dos passivos do setor privado para o Estado, após um longo ciclo de farra financeira.
 
O setor privado ‘ajustou-se’, diz o colunismo abestalhado de toxina neoliberal.
 
Sim, o ônus foi transferido aos governos. O caso mais ilustrativo é o do sistema financeiro norte-americano, que recompôs sua lucratividade repassando créditos podres ao Fed.
 
A relação dívida pública/PIB nas economias mais ricas saltou de 78% para 105% desde 2008. Inglaterra, EUA, França, entre outros,  acumulam déficits fiscais de deixar o do Brasil no chinelo. 
 
Em contrapartida, a participação dos salários no PIB global é declinante:  10% inferior à média dos anos 80.
 
Esse torniquete estreitou sobremaneira a margem de manobra de políticas associadas a projetos de desenvolvimento com repartição de renda, como as implementadas na América Latina.
 
O Brasil é o caso mais exposto porque justamente foi quem chegou mais longe nesse processo. 
 
Como atesta o Banco Mundial, a pobreza extrema no Brasil caiu 64% entre 2001 e 2013, passando de 13,6% para 4,9% da população. Nada igual ocorreu na AL.
 
Atingido pela queda nos preços e no volume dos embarques de minérios e grãos, o país sofre também com a retração nos embarques de manufaturados, antes vendidos a parceiros latino-americanos, em idêntico apuro.
 
É nessa moldura que a direita brasileira opera o golpe nas próximas horas.
 
Chegou até aqui, entre outras razões, porque conseguiu impor o seu diagnóstico e sua pauta como referência dominante do debate sobre a crise vivida aqui e no resto do sistema capitalista. 
 
Não é propriamente uma surpresa que as ideias dominantes de uma época sejam as ideias das classes dominantes. 
 
Desde 1846, quando Marx e Engels assentaram seu vigamento filosófico nas páginas de ‘A ideologia alemã’, o peso material das ideias ganhou o devido destaque na luta de classes.
 
Mas o poder impositivo da agenda conservadora hoje no Brasil está sendo exercido de forma asfixiante.
 
Nessa esfera tudo se passa como se o golpe já fosse um fato consumado;  a sua etapa ideológica já tivesse sido concluída.
 
Pesquisas que aferem a eficácia do martelete midiático no imaginário social sancionam essa sensação.
 
As sondagens tem gerado reações de desalento e prostração no ambiente progressista.
 
Que a Presidenta Dilma tenha apenas cerca de 9% de aprovação depois de eleita há menos de um ano com 54 milhões de votos é um sinal eloquente do divisor em curso.
 
Para um conservadorismo derrotado quatro vezes consecutivas na disputa à Presidência da República, a hegemonia massacrante na luta ideológica equivale a um recadastramento histórico.
 
Ainda que fracasse –ou recue—no intento golpista nos próximos dias, um sucesso tão esférico nesse plano deixa-o, permanentemente, a meio caminho andado do bote final.
 
Esse é o problema de fundo cuja superação convoca o desassombro e a convergência progressista. 
 
Se hesitar, o cadafalso repelido hoje repetir-se-á amanhã e depois, até o desfecho cobiçado pelas elites.
 
À medida que a política econômica adotada no segundo mandato da Presidenta Dilma sanciona o diagnóstico e legitima, ainda que de forma mitigada, a terapêutica, ela reforça essa recorrência.
 
É como se apontasse uma arma contra o próprio peito.
 
O julgamento das ditas pedaladas no TCU, na semana passada,  evidenciou essa dificuldade de se defender do algoz, sem romper o círculo de giz que ele traçou no chão.
 
Por que o governo não foi explicar, em rede nacional, o que a dita 'pedalada' representava de fato?
 
Ou seja, que a Caixa quitou o Bolsa Família em dia, sendo ressarcida em seguida pelo Ministério do Desenvolvimento Social. 
 
Esse, o copo d’água a partir do qual o golpismo sustentou a tempestade durante dias e noites seguidos, até os 19 minutos da apoteose do senhor Augusto Nardes –ele próprio uma tocha em combustão na fogueira ética que representa.
 
Por que o governo não escancarou o golpismo intrínseco à ‘escandalização’ de uma operação contábil corriqueira? E na qual o governo é superavitário:  entre 2012/14, o saldo do Bolsa Família na CEF rendeu juros de R$ 89,5 mi e gastos de R$ 13,6 mi pelos dias deficitários.
 
Ou seja, deixou um saldo líquido de R$ 76 milhões na ‘conta-corrente’ do programa que, em 757 dias úteis, até o final de 2014, só ficou negativo em 72 dias.
 
Em debate promovido pelo Instituto Lula, na mesma semana em que o TCU se inscrevia na Liga dos Golpistas e o governo retrucava de forma burocrática, aceitando as regras do ardil, o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, fazia uma advertência oportuna em um debate promovido pelo Instituto Lula.
 
‘Governo é metade realizações, metade ideia. Por muito que fizer, um governo que não trava a luta das ideias, sempre figurará aos olhos da sociedade com quem fez muito pouco’. 
 
O governo da Presidenta Dilma não é, infelizmente, uma nota dissonante nesse padrão.
 
Na verdade, a negligência com a luta das ideias foi a tônica nos últimos 12 anos de avanços notáveis no plano social que, todavia, não se traduziram em engajamento político correspondente de seus beneficiários.
 
O economista Márcio Pochmann que pioneiramente enxergou essa assimetria voltou a lembra-la na semana passada, em debate em Porto Alegre, promovido pelo Fórum 21. 
 
‘Cerca de 22 milhões de trabalhadores ascenderam socialmente, desde 2003,’ lembrou o economista que dirige a Fundação Perseu Abramo,  ‘mas não houve mudança na taxa de sindicalização no país: de cada dez destes trabalhadores, só dois se filiaram a algum sindicato. O mesmo aconteceu com os estudantes beneficiados pelos programas do governo federal e com os beneficiários do Minha Casa, Minha Vida’,  espeta Pochmann.
 
Os dois grandes instrumentos de dominação conservadora em qualquer tempo é a estrutura repressiva do Estado e a ideologia.
 
Marilena Chauí, que abrilhanta aulas públicas na contracorrente da rendição ideológica dos últimos anos, ensina que ‘a ideologia é o processo pelo qual as ideias da classe dominante se tornam ideias de todas as classes sociais (...) esse fenômeno’, prossegue Marilena,  ‘de manutenção (adoção) das ideias dominantes mesmo quando se está lutando contra a classe dominante é o aspecto fundamental daquilo que Gramsci denomina de hegemonia, ou o poder espiritual da classe dominante’.
 
Por isso ele dizia –sublinha a professora-- que, se num determinado momento, os trabalhadores de um país precisam lutar usando a bandeira do nacionalismo, a primeira coisa a fazer é redefinir toda a ideia de nação (...) e elaborar uma ideia do nacional que seja idêntica à de popular. 
 
‘Precisam, portanto, contrapor, à ideia dominante de nação, uma outra, popular, que negue a primeira’, sintetiza Chauí.
 
Se quiser resistir à resiliência golpista, a Presidenta Dilma  – com apoio das forças progressistas--  terá que falar à Nação. Agora e com frequência crescente. E se desfazer em alguma medida, do redil de ideias e conceitos que faz seu governo agir – à beira do abismo--   como protagonista passivo, e mesmo ativo, de um enredo que não é o seu. E que os impele ao buraco do qual precisa se afastar.
 
A ver

http://cartamaior.com.br/?%2FEditorial%2FO-golpe-e-o-poder-das-ideias%2F34698