quarta-feira, maio 22, 2013

O maranhense e o mameluco - Walter Rodrigues conta uma historinha edificante do jornalista e empresário Ruy Mesquita


O maranhense e o mameluco

Certa vez um maranhense de Bacabal, residente em Paris, acompanhou numa visita à capital francesa o jornalista e empresário Ruy Mesquita, um dos donos d’O Estado de S.Paulo. Ouviu o seguinte sobre os nordestinos de São Paulo:

“Não se iluda, vocês são os argelinos do Brasil!”.

No último dia 13, muitos anos depois, o “Estadão” manifesta seu ódio a Hugo Chávez chamando-o de “mameluco”.

Leia mais sobre essa história edificante, aqui.

WALTER RODRIGUES — BLOGUE DO COLUNÃO — 14/11/2007
www.walter-rodrigues.jor.br
wr.walter@uol.com.br

O maranhense e o mameluco
Certa vez um maranhense de Bacabal, residente em Paris, acompanhou numa visita à capital francesa o jornalista e empresário Ruy Mesquita, um dos donos d’O Estado de S.Paulo.
No jantar, lá pela segunda garrafa de vinho, Mesquita pôs-se a lamentar que a imigração nordestinha tenha “acabado com São Paulo”.
O maranhense, também jornalista e empregado do visitante, exibiu um sorriso amarelo no frontispício de polinésio, mas o patrão continuou, impiedoso:
“Não se iluda, vocês são os argelinos do Brasil!”.
Depois aliviou um pouco:
“Você escapou porque mora em Paris e casou com uma francesa...”.
Conto pela segunda vez essa história — uma das mais representativas que conheço do elitismo reacionário paulistano — porque combina com o editorial que o “Estadão” publicou sobre Chávez e sua briga com os espanhóis na cúpula ibero-americana;
Mameluco
O diário dos Mesquita, a pretexto de solidarizar-se com o ex-primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar, parceiro de Bush no fracassado golpe militar contra Chávez em 2002, e com o rei Juan Carlos de Bourbon, escolhido, educado e entronizado pelo regime fascista de Francisco Franco, chama o presidente da Venezuela de “Mussolini mameluco”.
Chávez, de fato, exibe o fenótipo dos mestiços de branco com índio, certamente com uma participação de sangue negro também, que o jornal não menciona para evitar o justo patrulhamento dos “afrodescendentes”.
Mas por que se refere a Chávez assim? Se Chávez tivesse “cara de judeu” — como alguns atribuem aos Mesquita —, porventura seria citado como “Mussolini semita”? Alguma vez o “Estadão” referiu-se ao ex-primeiro ministro israelense Ariel Sharon, o genocida de Sabra e Shatila, como “Hitler judeu”?
Está claro que o vetusto jornalão paulista, um dos promotores civis do gorilazo de 1964, que nunca foi contra Franco ou Salazar, o fascismo espanhol e o português, tampouco tem nada contra Mussolini. O italiano entrou na conversa para dissimular a referência preconceituosa à “raça” de Chávez.
Os Mesquita consideram uma aberração e quase um insulto pessoal que “mestiços” como Evo Morales e Chávez, e até como Lula, tenham a ousadia de desafiar os conselhos quatrocentões de gente que vem se misturando há tanto tempo, talvez desde os primórdios da colonização forçada, que até parece ter chegado ontem da Europa.


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