quinta-feira, maio 30, 2013

SPAM, BOATOS, PIG, TUKANOS & OUTROS BICHOS...

Vídeo que mostra como o PSDB vem usando SPAM e perfis falsos para alterar o ranking de vídeos críticos a Aécio Neves em ferramentas de busca".

sábado, maio 25, 2013

O que o rumor revela

O prédio da ESALQ-USP que muitos acharam que era a fazenda do filho do Lula

artigo de 
Renato Janine Ribeiro

No dia 11, multidões foram às lotéricas, apavoradas com a ideia de que ia acabar o Bolsa Família – ou apressadas em receber um extra de Dia das Mães que seria pago apenas naquele dia. Não adiantaram desmentidos das lotéricas. Como isso ocorreu em quase metade dos Estados, fica a pergunta: quanto pode um rumor falso? Como tantas pessoas acreditam numa bobagem dessas, que felizmente não feriu nem matou ninguém?

No Barbeiro de Sevilha, de Rossini, dois velhos tentam impedir o amor dos jovens. Para isso, usam a calúnia. Como ela atua? Ela é uma mentira. Começa baixinho, para apagar suas origens; cresce; forma uma rede, garantindo anonimato; torna-se irrefreável; e elimina “o infeliz caluniado”. Nos boatos do fim de semana, estiveram presentes o anonimato, a torrente e a maldade.

Quem inventou e difundiu o rumor foi antiético. A mentira perturbou vidas. É preciso apurar os fatos. Aparentemente, foi um rumor de ouvir dizer. Não creio que tenha saído pelas redes sociais; se assim fosse, alguém já teria descoberto onde, quando e por quem.

Mas a grande questão é: como circulam ideias, opiniões e mentiras? Foi tudo orquestrado por ligações de celular, para várias cidades, de modo a espalhar o medo? Essa interpretação está perto da teoria da conspiração – o que não significa que esteja errada, porque também paranoicos são perseguidos. Ou o rumor se terá alastrado, espontaneamente, em horas, por dezenas de cidades? A hipótese da conspiração é mais plausível que a da geração espontânea. O caso merece um estudo interdisciplinar. A curto prazo, a polícia precisa intervir, com o objetivo principal, mas não único, de punir. A médio, a academia deve interpretar, com o objetivo de compreender a comunicação informal em nossos dias.

Há uma diferença. A polícia vai apurar como criminosos enganaram suas vítimas. Só que a grande pergunta, que cabe à academia, é: como pode alguém ser vítima de um conto tão mal contado? Como se dá crédito a rumores absurdos? Alguém em sã consciência pode crer que, sem aviso pelos meios de comunicação, sem nada nos jornais ou blogs, o governo cortaria um benefício social para – esse é o lado cômico da coisa – pagar a recepção ao papa Francisco? O crédulo precisa ignorar totalmente como funcionam a sociedade, o Estado, para cair nessa.

Temos uma democracia, um Estado de Direito. Se a Presidência pudesse suspender o Bolsa Família de repente, ou desse poucas horas para sacar o bônus de Dia das Mães, nosso regime seria despótico, não democrático. Acreditar nesse tipo de rumor é não saber o que é a democracia. E crer nessas bobagens não é distintivo de pessoas incultas. Quanta gente não reproduz notas dos sites de humor levando-as a sério?

Um ex-candidato a presidente, antigo e culto comunista, assim acreditou na nota do G17 segundo o qual Dilma teria mandado escrever “Lula seja louvado” nas cédulas de real. Ele não percebeu que a presidente não pode fazer isso legalmente, nem que ela jamais o faria. Possuído pela paixão, acreditou. Ou vejam, na internet, a imagem do fazendão do filho de Lula – fazendão esse que, na verdade, é a sede da Esalq, a escola de agronomia que é um dos orgulhos da USP e do Brasil. Um conhecido postou a denúncia da tal fazenda no Facebook; alertei-o de seu erro. Respondeu-me: quero uma certidão negativa. Queria ele que o diretor da escola de agricultura o desse? O episódio só ilustra a ignorância convertida em sem-vergonhice: a pessoa descobre que errou, mas, em vez de se desculpar ou retratar, ou de se envergonhar, reitera. Transforma o erro em mentira. Há até quem diga: com tudo o que acontece no Brasil, seria possível.

Por que, então, a recepção do absurdo? À primeira vista, ela se explicaria pela ignorância dos desinformados. Quem sabe, por serem carentes, os beneficiários do Bolsa Família seriam mais crédulos, só conhecendo do Estado a dimensão assistencial? Mas pessoas supostamente educadas também veiculam absurdos. Será essa uma fragilidade de nossa democracia? Um ponto fraco de nossa educação política?

Tenho insistido em que nossa democracia é mais forte no plano das instituições que no da crença nela depositada. Temos eleições limpas como nunca antes. As campanhas são razoáveis, embora não perfeitas. Mas candidatos e mesmo eleitores demonizam o adversário, o que lhes dá nota zero em sociabilidade democrática, porque o bê-á-bá da democracia é que disputamos com adversários, não com inimigos. Inimigos, na guerra, nós matamos. Com adversários, na paz, disputamos. É diferente. Mas não é assim que a democracia tem sido vivida, aqui, pelos seres de carne e osso que elegem e são eleitos. Se usarmos conceitos de Montesquieu, eu diria que a natureza da democracia, seu conceito, sua descrição, sua instituição, vão bem, obrigado, no Brasil; mas o princípio dela, a paixão que os cidadãos sentem por ela, o movimento que lhe confere vida, isso é bem fraco entre nós. Dar fé a rumores estúpidos faz parte dessa fragilidade democrática. Podemos extrair daí uma lição: é preciso educação política em democracia. Na política, a razão funciona melhor que esse mau pensamento mágico, que acredita que decisões de governo são atos de prestidigitação, em que por um passe de magia se dá sumiço a uma bolsa ou se cria um bônus dela, como se numa sociedade complexa as instituições funcionassem baseadas no pó de pirlimpimpim.

sexta-feira, maio 24, 2013

A imprensa adversativa e o governo sitiado

Um governo sitiado






Enviado por  on 23/05/2013 – 5:34 am8 comentários
Wanderley Guilherme denuncia a proliferação de organizações sem autenticidade democrática ou popular, que juntamente com uma imprensa adversativa e adversária, tem conseguido bloquear obras e ações do governo.  Os sindicatos estão dormentes e os parlamentares que teriam obrigação de defender o projeto do partido no governo tem se caracterizado por uma ação pouco mais que medíocre.

A imprensa adversativa e o governo sitiado
Por Wanderley Guilherme dos Santos, cientista político.
Com a adesão nada discreta do diário Valor Econômico, o jornalismo de perfil adversativo alcançou a unanimidade. Nenhuma notícia positiva é impressa sem um embargo – mas, porém, todavia, contudo – seguido de uma desapontadora lembrança má. Algo no seguinte estilo: “a inflação está cadente, mas as contas externas entraram no vermelho”. Esse é o moto universal da imprensa brasileira atual.
O sindicalismo anda entorpecido. Em épocas de emprego farto e ganhos salariais sucessivos, cabe à liderança manter permanente sinal amarelo junto às bases, precisamente para que quase nada mude, isto é, que continue a bonança na oferta de empregos e apropriado aumento na renda. São constantes os alarmes conservadores denunciando pleno emprego e aumento da renda dos trabalhadores como responsáveis por recrudescimentos inflacionários. Estão acontecendo agora, sem que as lideranças sindicais contraponham diagnóstico e terapia alternativas.
Inflação daninha grassa na criação de siglas de organizações sem correspondente mobilização social efetiva. Não são grupos, mas siglas de interesse. Na biografia delas encontra-se a eleição de uma diretoria e a incorporação de meia dúzia de “especialistas”, freqüentes em bombásticas declarações à imprensa. Não possuem legitimidade social nem mobilizam ninguém. São, antes, mobilizadas pela imprensa adversativa nas declarações que antepõem especulações pessimistas aos fatos materiais satisfatórios. Atuam em todos os segmentos da vida econômica e social, com representatividade restrita à diretoria e aos membros fundadores.
Há dez anos, ousado programa de subversão na estratificação social, na inovação econômica e na modernização institucional tem sido responsável por substanciais transformações na infra e na superestrutura do país. A cada ano, aumenta a resistência dos tradicionais setores beneficiados pelos projetos de poder das oligarquias às mudanças na agenda de prioridades dos projetos de governos populares. Hoje, sitiado por uma imprensa adversativa e adversária, por um sindicalismo dormente e por um carrossel de siglas de chantagem, um punhado de figuras no Executivo tem garantido a continuidade, projeto a projeto, conquista a conquista, sem contar senão com uma representação parlamentar de seu partido principal – o PT – disciplinada, mas de qualificação pouco acima de medíocre. Sindicatos, grupos sociais efetivamente vulneráveis e aliados políticos usufruem preguiçosamente das conseqüências de bons governos sem retribuir em defesa e mobilização de apoio. São caronas do sucesso. Ou os interessados mudam ou podem ser obrigados a se mudar.

Cafezinho com Wanderley Guilherme é uma coluna semanal escrita pelo cientista político W. G. dos Santos, atualizada às quintas-feiras. 

Dificilmente os comitês gestores do Fome Zero serão ressuscitados. Mas a meta original de dar voz e espaço na condução do programa aos seus principais interessados pode e deve ser recuperada.

O alerta do Bolsa Família: quem sabe faz a hora


Uma dimensão negligenciada do boato sobre a extinção do Bolsa Família foi a mobilização instantânea de 900 mil pessoas, detentoras do benefício em 13 estados.

O alarme falso, de natureza e origem ainda indefinidas, foi orquestrado, sobretudo, no Norte e Nordeste do país.

Mais de R$ 150 milhões em benefícios seriam sacados nessas regiões.

Tudo em 48 horas; num fim de semana.

O valor significativo mereceu destaque.

As suspeitas quanto à origem da mentira produziram vapor.

Mas o potencial político da mobilização de dezenas de milhares de pessoas tocadas pela ameaça a um direito adquirido, persistiu na sombra.

Não deveria.

Essa foi a primeira manifestação conjunta, não eleitoral, de um universo de brasileiros considerado uma esfinge política à direita e à esquerda.

Se foi um ensaio de coisa pior, certamente a octanagem da amostra está sendo analisada com cuidado por quem de direito.

Ainda que as investigações desqualifiquem tal suspeita, o governo não deveria menosprezar a preciosa informação que lhe chegou por vias tortas.

Criado há dez anos sob o guarda-chuva da política brasileira de segurança alimentar , apelidada de Fome Zero, o Bolsa Família tem poder inflamável 14 vezes superior à escala das mobilizações registradas no Norte e no Nordeste.

Quase 14 milhões de famílias em todo o país (leia a análise de Eric Nepomuceno; nesta pág) tem direito às transferências do programa, de US$ 35, em média, por mês. 

As mulheres detém a titularidade de 94% dos cartões de acesso aos saques.

Gerem, portanto, um benefício que contempla uma fatia da população equivalente a 52 milhões de brasileiros: 25% do país.

Quem são essas mulheres? O que pensam? O que pretendem do desenvolvimento do país? Que papel podem ter na democracia brasileira?

O governo, com razão, substituiu o ‘clientelismo’ potencial em qualquer programa social por um cartão magnético do Bolsa Família.

A tecnologia estabeleceu uma relação direta sanitária entre o detentor do benefício e a política pública de Estado. 

O cuidado louvável encerra, no entanto, uma contrapartida de rebaixamento político, que o episódio do falso boato talvez a ajude a corrigir.

Quando foi criado em janeiro de 2003, o Fome Zero, repita-se, nome fantasia da política de segurança alimentar brasileira, que envolve agricultura familiar, merenda escolar, transferência de renda etc , incluía uma dimensão participativa.

Rapidamente ela seria demonizada pelo conservadorismo.

Os Comitês Gestores do Fome Zero formavam a contrapartida de engajamento social do programa. 

Eram compostos majoritariamente por representantes das famílias beneficiadas, aglutinadas em núcleos municipais.

A emergência de um duplo poder local despertou virulenta oposição de prefeitos e coronéis políticos.

O cerco ao programa --que apresentava falhas na largada-- era insuflado por uma mídia que transformaria a principal bandeira do novo governo em uma espécie de terceiro turno contra o PT.

Os comitês que deveriam cogerir e aperfeiçoar o FZ em parceria com a sociedade local, a prefeitura e o governo federal foram extintos.

O recuo jogou para um futuro incerto a retomada do engajamento indispensável em ações sociais de recorte emancipador.

Esse futuro pode ter chegado na forma de um alerta, travestido em boato explosivo.

Se a escala atingida pelo Bolsa Família deu razão ao recuo pragmático feito há dez anos, hoje a ausência de um fórum participativo para as 14 milhões de famílias soa como uma aberração democrática.

O destino dessas famílias está no centro das escolhas do desenvolvimento brasileiro.

E vice versa.

Esse entrelaçamento sócio-econômico é uma pedra no sapato da agenda conservadora nos dias que correm.(Leia mais sobre esse tema no artigo do economista Amir Khair; nesta pág)

Em 2002, cerca de 75 milhões de brasileiros subsistiam com menos de meio salário mínimo per capita.

Mais da metade dispunha de apenas 25% do mínimo. 

Formavam por assim dizer o rosto anônimo da fome brasileira, palavra então repelida até na academia.

Isso para não falar de sua rejeição em editoriais e colunas, inflexíveis na recusa à evidência biológica da desigualdade produzida pelos livres mercados.

Associada ao ganho real da ordem de 65% no poder de compra do salário mínimo, a política social dos últimos 11 anos tirou 30 milhões de brasileiros da miséria.

Quase 40 milhões ascenderam na pirâmide de renda no mesmo período.

O novo perímetro do consumo de massa redefiniu a geografia da produção e da demanda brasileira.

Na crise internacional de 2008, a novidade desdenhada até então pelo ‘jornalismo especializado’ provou a sua relevância estratégica.

O mercado interno sustentou e ainda sustenta a engrenagem econômica, diante da contração do comércio internacional.

O novo dínamo tem um custo permanentemente demonizado pelo conservadorismo. Inicialmente, de forma desabrida, condensado em expressão de sonoridade tão preconceituosa que dispensa explicações: ‘a gastança’.

Ela sumiu do vocabulário dos centuriões da ortodoxia depois que a política social provou sua pertinência contracíclica diante da desordem neoliberal.

A motivação demolidora embutida no termo migrou para versões cifradas mais palatáveis.

‘Fazer mais e melhor’ é uma delas.

‘Reduzir o custo Brasil’, outra.

Uma que contagia inclusive alas contorcionistas do governo é a sebosa dissimulação do arrocho inscrita no bordão’ fazer mais com menos’

O alvo é o de sempre.

A rubrica do orçamento federal denominada ‘transferências de renda às famílias’.

Ela ocupa espaço importante no centro da mira conservadora.

Incluem-se aí benefícios previdenciários, abono, seguro desemprego, benefícios assistenciais (da Lei Orgânica de Assistência Social e da Renda Mensal Vitalícia) e o programa Bolsa Família. 

O conjunto demandou recursos da ordem de 9% do PIB em 2012.Mas seu raio de açaõ atinge direta ou indiretamente cerca de 100 milhões de pessoas; 52% do país.

O que o conservadorismo carimba como ‘gastança’ faz parte de uma mutação inconclusa do desenvolvimento do país.

Uma sociedade que já viveu diferentes ciclos de expansão –da colônia à ditadura-- chegou ao século 21 como uma das 15 piores distribuições de renda do planeta.

A lição é límpida.

Sem crescer é ilusório, mas o mero crescimento pode ter efeito irrelevante na construção da justiça social. 

Além de engordar o PIB, a sociedade precisa fixar estacas de regulação que revertam os ganhos (indispensáveis) de produtividade ao bem comum.

Essa é uma tarefa da democracia, não dos mercados.Ao contrário do que apregoam os arautos do choque de ‘abertura externa e de corte de gastos’ (leia-se, laissez-faire com arrocho na previdência e corrosão do salário mínimo).

Estados fragilizados, descarnados por privatizações, sucateamento de quadros, obsolescência de gestão e atrofia fiscal que asfixia o investimento público são incapazes de catalisar as aspirações da sociedade na direção de um desenvolvimento convergente.

A reconstrução do Estado Social é uma ferramenta decisiva à reordenação da agenda do desenvolvimento em nosso tempo.

Mas isso não se faz sem sujeito histórico correspondente, dotado de organização mínima que institucionalize seus interesses.

Obama, por exemplo, não conseguiria ser o Roosevelt da crise atual.

Nem que quisesse. 

Faltam-lhe as bases organizadas, necessárias à condução de um Estado social e keynesiano. 

Algo que o sindicalismo combativo dos anos 30/40 propiciou ao democrata que comandou os EUA entre 1933 e 1945.

O Estado social brasileiro é uma arquitetura política em construção. Com progressos, recuos e contradições sabidos. 

Não avançará muito mais se menosprezar as forças catalisadas pelas políticas sociais dos últimos dez anos.

A assustada reação dos beneficiários do Bolsa Família no Norte e Nordeste, com o boato do fim do programa, enseja variadas reflexões.

Mas uma delas é promissora.

A ninguém ocorre fazer de 14 milhões de famílias uma correia de transmissão de conveniências de governos. Sejam eles quais forem.

Negar canais de expressão às demandas e aspirações específicas desse contingente, no entanto, é entregá-lo a toda sorte de manipulações.

O boato de maio pode ter sido obra de meros irresponsáveis.

Mas serve de alerta.

Um governo atento não negligencia o potencial revelado pelos alertas da história.

Em 29 de junho de 1973, um ‘tancaço’ de militares rebelados emitiu um alerta incorretamente interpretado pelo presidente socialista de um Chile até então considerado 'fronteira inexpugnável da democracia regional'.

Em lugar de promover um salto na autodefesa popular, ele promoveu um general ‘profissional’ a ministro da Defesa, por supostamente ter debelado o levante dos blindados.

Todos sabem como o agraciado Augusto Pinochet utilizou seu profissionalismo contra Salvador Allende, quarenta e dois dias depois.

Dificilmente os comitês gestores do Fome Zero serão ressuscitados. 

Mas a meta original de dar voz e espaço na condução do programa aos seus principais interessados pode e deve ser recuperada.

Uma Conferência Nacional das mulheres que fizeram do Bolsa Família uma referência mundial na luta contra a fome e a miséria, por certo adicionaria avanços ao programa.

E musculatura à cidadania brasileira.

Mais que isso.

Responderia aos alertas da história com um contrafogo democrático de amplo espectro. Em defesa não apenas do Bolsa Família. Mas do Estado social que o Brasil precisa fortalecer para acelerar a mutação do seu desenvolvimento.
Postado por Saul Leblon às 20:13

quinta-feira, maio 23, 2013

LULA: 'NINGUÉM VAI PENSAR A AL POR NÓS'

**Abril tem a menor taxa de desemprego dos últimos 11 anos: 5,8%
*Aécio Neves na 3ª feira: "os preços dos alimentos não param de subir"
**IBGE, na 4ª feira: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 desacelerou em maio mais do que o esperado, refletindo um avanço menor dos preços de alimentos, com alta de 0,47, ante 1% em abril'
LULA: 'NINGUÉM VAI PENSAR A AL POR NÓS'
"Na crise de 2008, chamei o presidente do Banco Central e o
ministro da Fazenda e disse que destinassem dinheiro para o Uruguai e para a Argentina. Não o fizeram. A China fez. Mas o Brasil não necessita 400 bilhões de dólares de reservas. Hoje poderíamos usar esse dinheiro para financiar a integração aqui e no continente africano. Pensemos, imaginemos. Às vezes me dá a impressão de que os intelectuais da América Latina deixaram de pensar depois da queda do Muro de Berlim. Há menos canções, menos livros... Me lembro de uma conversa com Fidel. Um dia ele me disse que tinha ensinado ao seu povo a história equivocada. Era a história russa, com seus bons que de repente se convertiam em maus, e seus maus que de um dia para o outro se transformavam em bons. ‘Sabe, Lula', me disse Fidel. ‘Estou arrependido de não ter ensinado ao meu povo a história da América Latina'. Eu digo: façamos isso. Tentarei ser o animador e o provocador para que pensemos de novo em nós."(Lula, em debate com intelectuais na Argentina; leia nesta página o relato do encontro na reportagem de Martín Granovsky.)
(Carta Maior;5ª feira,23/05/2013)
Investimentos como motor do PIB: uma falsa saída

quarta-feira, maio 22, 2013

O maranhense e o mameluco - Walter Rodrigues conta uma historinha edificante do jornalista e empresário Ruy Mesquita


O maranhense e o mameluco

Certa vez um maranhense de Bacabal, residente em Paris, acompanhou numa visita à capital francesa o jornalista e empresário Ruy Mesquita, um dos donos d’O Estado de S.Paulo. Ouviu o seguinte sobre os nordestinos de São Paulo:

“Não se iluda, vocês são os argelinos do Brasil!”.

No último dia 13, muitos anos depois, o “Estadão” manifesta seu ódio a Hugo Chávez chamando-o de “mameluco”.

Leia mais sobre essa história edificante, aqui.

WALTER RODRIGUES — BLOGUE DO COLUNÃO — 14/11/2007
www.walter-rodrigues.jor.br
wr.walter@uol.com.br

O maranhense e o mameluco
Certa vez um maranhense de Bacabal, residente em Paris, acompanhou numa visita à capital francesa o jornalista e empresário Ruy Mesquita, um dos donos d’O Estado de S.Paulo.
No jantar, lá pela segunda garrafa de vinho, Mesquita pôs-se a lamentar que a imigração nordestinha tenha “acabado com São Paulo”.
O maranhense, também jornalista e empregado do visitante, exibiu um sorriso amarelo no frontispício de polinésio, mas o patrão continuou, impiedoso:
“Não se iluda, vocês são os argelinos do Brasil!”.
Depois aliviou um pouco:
“Você escapou porque mora em Paris e casou com uma francesa...”.
Conto pela segunda vez essa história — uma das mais representativas que conheço do elitismo reacionário paulistano — porque combina com o editorial que o “Estadão” publicou sobre Chávez e sua briga com os espanhóis na cúpula ibero-americana;
Mameluco
O diário dos Mesquita, a pretexto de solidarizar-se com o ex-primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar, parceiro de Bush no fracassado golpe militar contra Chávez em 2002, e com o rei Juan Carlos de Bourbon, escolhido, educado e entronizado pelo regime fascista de Francisco Franco, chama o presidente da Venezuela de “Mussolini mameluco”.
Chávez, de fato, exibe o fenótipo dos mestiços de branco com índio, certamente com uma participação de sangue negro também, que o jornal não menciona para evitar o justo patrulhamento dos “afrodescendentes”.
Mas por que se refere a Chávez assim? Se Chávez tivesse “cara de judeu” — como alguns atribuem aos Mesquita —, porventura seria citado como “Mussolini semita”? Alguma vez o “Estadão” referiu-se ao ex-primeiro ministro israelense Ariel Sharon, o genocida de Sabra e Shatila, como “Hitler judeu”?
Está claro que o vetusto jornalão paulista, um dos promotores civis do gorilazo de 1964, que nunca foi contra Franco ou Salazar, o fascismo espanhol e o português, tampouco tem nada contra Mussolini. O italiano entrou na conversa para dissimular a referência preconceituosa à “raça” de Chávez.
Os Mesquita consideram uma aberração e quase um insulto pessoal que “mestiços” como Evo Morales e Chávez, e até como Lula, tenham a ousadia de desafiar os conselhos quatrocentões de gente que vem se misturando há tanto tempo, talvez desde os primórdios da colonização forçada, que até parece ter chegado ontem da Europa.


http://www.walter-rodrigues.jor.br/detalhe.php?ART_ID=689

O dinheiro do Bolsa Família está garantido e nunca houve a menor possibilidade dele ser suspenso ou alterado o calendário de pagamento do benefício


O dinheiro do Bolsa Família está garantido e nunca houve possibilidade de suspensão, afirma ministra

No Bom Dia, Ministra, Tereza Campello rebate boatos sobre o Bolsa Família. Valter Campanato/ABr
No Bom Dia, Ministra, Tereza Campello rebate boatos sobre o Bolsa Família. Foto: Valter Campanato/ABr
bom dia, MinistroA ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, disse nesta nesta terça-feira (21), durante o programa Bom dia, Ministra, que o governo federal jamais cogitou extinguir o programa Bolsa Família. Segundo ela, os recursos para o Bolsa Família estão garantidos e nunca houve a menor possibilidade de suspensão do programa.
“O dinheiro do Bolsa Família está garantido e nunca houve a menor possibilidade dele ser suspenso ou alterado o calendário de pagamento do benefício”, afirmou. “A população tem que se tranquilizar, seguir o calendário. Garantimos que os pagamentos continuam acontecendo normalmente”, completou.
Segundo a ministra, a origem do boato de que o governo federal extinguiria o programa está sendo investigado pela Polícia Federal. Em razão do grande movimento nas agências no último fim de semana e do tumulto decorrente do boato, a Caixa chegou a antecipar o pagamento da parcela de maio, que hoje voltou a seguir o calendário normal do programa. A ministra disse que o calendário de pagamento do benefício não será alterado.
“Todo beneficiário sabe o dia que deve ir ao banco ou lotérica sacar o Bolsa Família (…) O calendário continua. Não será alterado e, havendo dúvidas, elas podem ser esclarecidas pelo telefone 0800 726 0101 e pelos sites www.mds.gov.br e www.caixa.gov.br”, disse.

sábado, maio 18, 2013

Walter Rodrigues. Três anos. Três textos.


Hoje faz 3 anos da morte do Walter, abaixo 3 textos do inesquecível Colunão...


24.01.08



Ex-primeiro-ministro e ex-presidente da República Italiana, o senador vitalício Francesco Cossiga é tido e havido em seu país como homem sério, responsável e de uma sinceridade desconcertante. Tão coerente que não poupou nem mesmo a confissão de seus próprios pecados.

No seu sétimo ano como presidente, em 1992, causou um grande alvoroço ao revelar ao país sua participação numa certa “Operação Gládio”, tão sinistra ou ainda mais que a Operação Condor montada pelas ditaduras sul-americanas nos anos 1980.

A Gládio foi operada pela Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos) durante mais de 20 anos, nos anos 60, 70 e 80. Consistiu em realizar atentados a bomba contra civis, que eram então atribuídos à extrema-esquerda italiana ou aos serviços secretos de países comunistas.

No jargão dos órgãos de segurança, esse tipo de farsa é conhecido como false flag operations (operação com falsa bandeira) e sua ocorrência na Itália foi confirmada em depoimento a uma comissão parlamentar de inquérito por Vincenzo Vinceguerra, agente da Gládio, que descreveu assim suas atividades:

- “Você tem de atacar civis, pessoas, mulheres, crianças, pessoas inocentes, gente anônima afastada da política. O motivo é muito simples: forçar ... o povo a voltar-se para o Estado a pedir mais segurança.”

Onze de setembro

Cossiga teve que renunciar ao cargo, porém continua como senador vitalício (como todo ex-presidente italiano) e mantém a rara fama de político sincero.

Pois agora ele volta à cena com uma denúncia muito semelhante, porém de maior calibre. Em entrevista ao respeitado diário italianoCorriere de la Sera, afirma que os ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington foram perpetrados não pela organização terrorista de Osama Bin Laden, como consta das versões oficiais, mas sim pelos serviços secretos dos EUA e Israel, a CIA e o Mossad.

Vai além: diz que esse fato — a responsabilidade da CIA e do Mossad — é amplamente conhecido por outros serviços de inteligência, e que o objetivo, como na Operação Gládio, foi fazer o povo norte-americano exigir “mais segurança”. Criou-se assim o ambiente propício à invasão e ocupação do Afeganistão e depois do Iraque, manobras coerentes com a estratégia de controle das reservas de gás e petróleo das ex-repúblicas soviéticas da Ásia e dos grandes produtores do Oriente Médio.

Tão chocante quanto as declarações de Cossiga é o silêncio com que foram recebidas pelos governos da Otan, a começar por Washington, e pela mídia transnacional e seus satélites. No Brasil, por exemplo, nenhum grande jornal, revista ou emissora de TV destacou a acusação contra a CIA e o Mossad.

Cossiga pode estar errado. Numa hipótese mais rude, pode até estar inventando. Mas não é o que sugere a biografia do ex-presidente italiano. Um homem que fala a verdade quando denuncia seu próprio passado de “terrorista oficial” dificilmente iria mentir num assunto dessa gravidade, ainda por cima sem nenhum proveito que se possa imaginar.

Terror de Estado

Esta não é a primeira vez que alguém sugere a hipótese de “terrorismo de Estado” e “terrorismo interno” nos episódios do 11 de setembro. Tampouco seria novidade na História um governo imperialista organizar uma farsa desse tipo para justificar agressões a outros países.

Mas até hoje ninguém com as qualificações de Cossiga tinha ido tão longe, o que deveria bastar para uma ampla e profunda investigação internacional a respeito. Ou pelo menos para que a grande mídia encarasse a discussão do tema.

Leia mais sobre o assunto em http://grupobeatrice.blogspot.com/.

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04.10.07



Che no enterro de "Veja". Mas qual enterro?

A reportagem especial anti-Guevara que Veja pôs nas bancas no último sábado, é tão falsa e preconceituosa que contraria o próprio estilo da revista.

Ao mencionar a famosa foto de Ernesto Che Guevara feita pelo cubano Alberto Korda em 5/3/1960, a metralhadora dos Civita diz apenas que o guerrilheiro foi fotografado “num enterro”.

Não num enterro qualquer: o enterro das vítimas da explosão do cargueiro belga La Coubre, sabotado por terroristas no porto de Havana, apenas 15 meses após a vitória da revolução de janeiro de 1959. Cem mortos e 300 feridos.

Terror da CIA
Impossível não suspeitar que Veja — uma publicação famosa pelo detalhismo nas informações que lhe interessam — escondeu as circunstâncias do enterro para não atrapalhar sua “tese” antiguevarista ou desagradar seus patrocinadores.

É que sempre houve fortes suspeitas de que o atentado, como tantos outros no período, e posteriores, foi engendrado ou auxiliado pela CIA, a central de espionagem e operações especiais dos Estados Unidos.

Cerca de um ano depois da explosão do Le Coubre, 1.500 exilados cubanos, na maioria ex-policiais e ex-militares, desembarcaram na baía dos Porcos para tentar a derrubada do governo revolucionário. Lanchas e aviões dos EUA apoiaram a intentona.

Fracasso total e humilhante: 1.200 dos invasores foram capturados.

Nesse episódio ninguém duvida, pois a evidência histórica e documental é incontestável: foi obra da CIA mesmo. 
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O governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), contratou e assinou artigo no qual declara que sua provável cassação pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) equivaleria a um “golpe contra a democracia” e à redução do estado a uma espécie de “Galápagos”, o arquipélago equatoriano onde Charles Darwin achou a tartaruga gigante, o iguana marinho e outras espécies extintas no resto do mundo. Pois sem ele no governo do estado estaria “revogada a alternância no poder”.

Publicado originalmente no Consultor Jurídico de 9/12/08 e republicado como matéria paga ou graciosa em vários outros sítios, a alegoria publicitária contrasta com o parecer objetivo e denso do vice-procurador geral eleitoral, Francisco Xavier Pinheiro, favorável ao provimento do recurso interposto pela coligação de Roseana Sarney (PMDB) contra a diplomação de Jackson. Parecer que o governador não enfrenta.

De um lado, as frases feitas do ghost writer, alegações quase sempre infundadas e distorção de situações e fatos recentes e próximos passados. Do outro, a exposição sistemática da “captação ilícita de sufrágio” e de um abuso de poder político e econômico como poucas vezes se terá praticado em qualquer parte do mundo.

Uma das poucas verdades na declaração marqueteira é a identificação do ex-presidente José Sarney e sua filha Roseana com esse modo de mandar e usufruir que se chama oligarquia, o poder de poucos em proveito de poucos. Acrescido, no caso maranhense, de características provincianas ou paroquiais. O resto é quase tudo inverdade e fingimento pveara iludir os incautos.

Jackson não tem nada a ver com democratização, transparência ou bons costumes administrativos. Não é o avesso da oligarquia, muito pelo contrário. Lidera e representa uma facção oligárquica que, boas almas à parte, que sempre as há, no conjunto apenasexacerba os maus costumes tradicionais no estado, inclusive a pilhagem do patrimônio público.

Oligarquia e nepotismo

Basta pôr os olhos em São Luís na Ponte Governador Sarney, no Palácio Roseana Sarney Murad (do Tribunal de Contas) e no ex-Fórum Presidente Sarney (do Tribunal Regional do Trabalho) para ter a nítida impressão do culto à personalidade do ex-presidente. Ao longo de 40 anos, o jovem e criativo governador dos anos 60, adversário da oligarquia de Vitorino Freire, converteu-se pouco a pouco no sumo sacerdote de si mesmo, com a natural colaboração de indigentes e oportunistas. Criou até uma fundação para adorá-lo em vida, a pretexto de estudar a “instituição da presidência da República”.

De tanto creditar-se a paternidade de todo o bem que porventura exista no Maranhão, com a possível exceção das palmeiras onde canta o sabiá, Sarney acabou construindo em torno de si uma religião de dupla face. Uns o adoram como deus, outros como diabo, estes últimos atribuindo-lhe poderes maléficos praticamente infinitos. Resulta daí o maniqueísmo que não só viceja no estado como serve à exportação midiática.

Jornalistas e outros observadores capazes das mais cerebrinas distinções em São Paulo e Brasília acreditam piamente que no Maranhão só há Sarney e anti-Sarney, o Mal e o Bem, ou vice-versa. Sem falar — mas como não falar? — das opiniões estimulados ou francamente alugadas por quem tira proveito dessas crendices políticas.

Uns e outros não querem ver que se o ex-presidente fosse capaz de obrigar a Justiça Federal a um adversário sem motivo, certamente teria podido impedir que o empresário Fernando Sarney fosse grampeado, despojado do sigilo bancário e fiscal e quase preso por conta de movimentações financeiras suspeitas que ainda luta para justificar.

Se é ridículo fantasiar Sarney de Mefistófeles, não menos tola é a identificação de Jackson com o Justo e o Belo. Pois que Bem absoluto será esse que enfiou mais de 30 Lago e Moreira Lima (da família da “primeira-dama” Clay Moreira Lima Lago) na folha de salários do estado, desde 1o de janeiro de 2007, quando a aliança PDT-PSDB e seus rabichos, inclusive uma ala do PT, pôs os dentes no poder? Que avanço é esse, que mudança?

Jackson elegeu-se prometendo que o Maranhão deixaria de ser “de uma só família, para ser de todas as famílias”. As dele. Nesse, como noutros lances, o atual governador piora o que sempre foi ruim. Aderson Lago (Casa Civil) é primo. Wagner Lago (Assuntos Institucionais), irmão. Clay Lago (nomeada secretária oficial), esposa. Antônio Carlos Lago (Porto do Itaqui), irmão. A secretária adjunta de Wagner, Lívia Lago, é prima deles. A adjunta de Clay, Cristina Moreira Lima, cunhada do governador.

Primus inter pares

A farra estende-se aos colaterais, afins, afilhados e xerimbabos e ainda invade os outros poderes. Aderson Lago é o primus inter pares do nepotismo e da fisiologia. Tem 16 “secretários adjuntos”, dos quais o mais assíduo e prestativo é Augusto Lago, espécie de sobrinho adotivo. O pai de Augusto, Ubiratan, estava à morte numa UTI quando Aderson mandou nomeá-lo (o Executivo manda no Legislativo) assessor parlamentar da Assembléia.

Ele e mais três. Pois mal começava o governo quando o Diário da Assembléia de 12/4/07 publicou de uma só pedrada a nomeação de Ubiratan Lago e mais Aderson Lago Neto e Carolina Lago, filhos de Aderson, e Maria Cristina Salomão Lago, mãe do secretário. Dona Maria tem 80 anos, quase não sai de casa e já recebe do Estado uma pensão de mais de R$ 20 mil como viúva de procurador. Provavelmente sabia tanto da jogada do filho quanto o moribundo Ubiratan.

Escândalo denunciado, a Assembléia cancelou as nomeações, mas ainda restaram na casa a esposa e uma afilhada de Aderson, dupla nomeada em 2006 e mais fácil de encontrar rezando segunda-feira numa igreja que trabalhando na “assessoria parlamentar” em qualquer dia da semana.

De Aderson Lago Neto voltou-se a falar há cerca de seis meses, com a comprovação de que dinheiro desviado da Saúde estadual estacionara numa conta comercial dele no Rio de Janeiro. Foi o escândalo Opera Prima, nome da firma dele. Pai e filho silenciaram a respeito da denúncia. Apesar disso — oligarquia é assim — não há inquérito policial, nem investigação do Ministério Público estadual. Assim como nunca se apurou o escândalo da falsa “campanha publicitária emergencial” contra dengue e febre aftosa, forjada em palácio no final de março do ano passado, para justificar mais uma facada de R$ 3 milhões no erário. (Leia mais, abaixo, sobre os dois casos).

Navalha na carne

Anote-se que dois sobrinhos de Jackson estão fora do nepotismo salarial acima descrito. Nem por isso o erário economiza. Segundo a Procuradoria Geral da República, Alexandre Lago e Paulo Lago recebiam por fora como intermediários de propinas destinadas ao próprio governador pela construtora Gautama, da Bahia, âncora de uma quadrilha de peculatários cuja atuação alcançava nove estados e o Distrito Federal.

A denúncia da PGR enquadra, entre os maranhenses, o próprio Jackson, o ex-governador José Reinaldo (PSB), o ex-secretário de Obras nas duas gestões, os dois sobrinhos indigitados, o secretário de Relações Institucionais, o secretário de Planejamento, o ex-procurador geral do Estado e vários outros funcionários.

Alguns, como Zé Reinaldo e os sobrinhos Lago, foram algemados e recolhidos à carceragem da PF em Brasília. Jackson escapou do constrangimento porque a ministra Eliana Calmon, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), invocou para excluí-lo das algemas um dispositivo inexistente na Constituição do Maranhão. Acontece.

Ao contrário dos parceiros, Jackson não está sendo processado no STJ. A Assembléia, dominada pela ampla maioria governista que também nunca faltou a Roseana e aos demais antecessores — é sempre assim na oligarquia — recusou a licença requerida pelo tribunal. Recusou-a baseada nalguma espécie de intuição ou clarividência, porque nem perante essa platéia inclinada à indulgência o governador articulou defesa ou argumento dignos desses nomes. Limitou-se a declarar que negava “peremptoriamente” as acusações. Peremptório é aquilo que encerra a conversa, que não admite discussão. Quero, posso e faço.

Chefe dos chefes

Os deputados acataram o ditado porque quiseram. Se olhassem nos próprios autos parlamentares encontrariam vários discursos em que o governador é adulado pelos correligionários como “nosso Chefe Maior”. Coincidência: a contabilidade paralela de Zuleido Veras, chefe do bando Gautama, destina o maior percentual das propinas no Maranhão a um cavalheiro cognominado “Chefe Maior”. Abaixo dele vem um certo AZ, que talvez não seja o poderoso secretário Aziz Santos, espécie de manda-chuva da administração. Veja.

É interessante notar que Jackson não nega inteiramente os fatos apurados pela PF, nem morre fardado por nenhum dos demais suspeitos. Nunca balbuciou uma palavra nem em defesa de Zé Reinaldo, autor da sua eleição. Em depoimento no STJ, reconheceu tranquilamente a voz de um parente numa gravação incriminatória e chegou a dizer ao jornalista Luiz Nassif que seus “sobrinhos queridos” eram “culpados”. Prometeu também “investigação rigorosa” e “punição dos responsáveis”, mas não há inquérito policial ou ação do Ministério Público do Maranhão referente a esses fatos. Só no STJ.

Inimigo de ocasião

Volte-se ao artigo “Galápagos”. Pouca coisa ali fica de pé sem as muletas do estelionato. Diz que dedicou “40 anos de lutas” contra a “máquina de desinformação” da família Sarney. Como?

Sarney só teve “máquina de desinformação” a partir de meados dos anos 80, quando começa a instalar-se o Sistema Mirante de Comunicação. São pouco mais de 20 anos. Nesse período, começando, para simplificar, em 1986, houve seis eleições de governador e seis de prefeito de capital. Em metade das primeiras, Jackson tinha o mesmo candidato de Sarney, seja no turno único (Cafeteira, 1986), seja no segundo (Lobão, 1990, e Roseana, 1994). Quase são aliados em 2002 também. Em 1990 e 94 o apoio foi dissimulado, mas eficaz, como nunca deixaram de reconhecer os candidatos derrotados, Castelo (90) e Cafeteira (94).

Das seis eleições na capital, Jackson teve o apoio da ex-governadora em pelo menos duas. Por baixo dos panos, no 2o turno de 1996. Em aberta coligação PDT-PFL (veja os doiscomemorando.), no ano 2000.

Ficou combinado que em 2002 ele seria o candidato dela a governador e ela o dele à Presidência da República. O episódio Lunus (apreensão pela PF de dinheiro de origem ignorada num cofre da firma dirigida por Jorge Murad, marido e sócio da governadora) impediu a execução do combinado. Roseana viu-se forçada a promover a candidatura do vice Zé Reinaldo, que não tinha voto nem se dava bem com ela. Jackson foi devolvido à oposição.

Abuso de poder

Quem sabe de política sabe que candidatos freqüentemente abusam do poder que tenham, no governo ou na oposição. Admite-se até que seja “normal” um certo nível de ilegalidade. Há situações, entretanto, que nenhum “realismo” seria capaz de justificar.

No Maranhão dos últimos 25 anos, há três episódios célebres de abuso. O mais ostensivo ocorreu na eleição municipal de 1985, quando o esquema do presidente Sarney mobilizou o Governo do Estado e a Prefeitura da capital, além das grandes empreiteiras nacionais, para tentar eleger na marra o candidato Jaime Santana (PFL), comprando voto no varejo e no atacado. Sem sucesso.

A arbitrariedade repetiu-se no governo Ribamar Fiquene (1994), patrono da primeira eleição de Roseana. Uma avalanche de cestas básicas e sacos de leite, propaganda ilegal, a compra de prefeitos e deputados e a captura pirata de partidos desvirtuaram nitidamente o processo eleitoral. Sem falar das persistentes suspeitas de fraude na apuração do TRE.

Mas nem isso tudo de 94 — que de Jackson jamais mereceu a mínima censura — supera os abusos cometidos por Zé Reinaldo em 2006 para forçar a eleição do atual governador, a quem favoreceu, embora por conveniência ele negue, desde o primeiro turno. O próprio marqueteiro oficial gabou-se numa entrevista da luminosa idéia de lançar três candidatos, um para vencer, Jackson, outro para “tirar voto de Roseana”, Edson Vidigal (PSB), e um terceiro, o tucano Aderson, como laranja destruidor.

Consta também dos autos do Recurso contra Expedição de Diploma n. 671 a declaração gravada e filmada do então governador, com Jackson a seu lado, de que os maranhenses haveriam de escolher entre “dois homens honestos”, Jackson e Vidigal. Depois disso assina mais um convênio de R$ 1 milhão com o prefeito da cidade de Codó e ouve o discurso de Jackson elogiando a política de convênios, cuja ausência no governo Roseana, segundo eles, seria a causa da pobreza do Maranhão...

Desequilibrando

Calcula-se sem exagero que Zé Reinado torrou R$ 1 bilhão do erário na campanha, cumprindo a promessa de que usaria sem hesitar “a estrutura de governo”. Só em convênios com prefeitos mais frequentemente ladravazes que benfeitores, e também com “entidades sociais” não raro fantasmas ou corrompidas, foram mais de R$ 600 mil, dos quais quase metade liberados quando a lei não permitia mais. Ouça-se o Ministério Público Eleitoral:

“A candidata Roseana, vencedora do primeiro escrutínio, terminou perdendo a eleição devido ao volume imenso de convênios e transferências implementadas no período vedado.... Os próprios recorridos reconhecem.... transferências no montante de R$ 280.045.128,81. Também afirmam que os convênios foram celebrados com 156 municípios do Estado.... Pelo montante de transferência de recursos financeiros e o número elevado de convênios, pode-se afirmar com segurança que houve também abuso de poder econômico e de autoridade, sendo certos a quebra da legitimidade da eleição e o desequilíbrio da disputa”.

Jackson faz cara de espanto perante a acusação de abuso do poder de mídia. Mas como, se o grupo Sarney controlaria “90% de toda a mídia do estado”? Não. O grupo Sarney tem jornal, televisões e rádios, usa-os muitas vezes sem nenhum escrúpulo, mas fora do Governo está longe do monopólio sugerido nas alegações do governador. Dos onze jornais de São Luís, oito fizeram a campanha de Jackson em 2006, repetindo-se mais ou menos a proporção entre as emissoras de rádio.

A TV principal dos Sarney, Mirante, limitada pelos controles da Globo, — que ademais não via razão nenhuma para simpatizar com a candidata de Lula no Maranhão — nem pôde empatar com a propaganda desenfreada da TV São Luís (Rede TV), duas ou três horas de campanha governista todo santo dia. Nem com os pagamentos abertos ou dissimulados com que o Governo conquistou espaço em outras duas. Até a TV Difusora (SBT), pertencente à família de um tradicional aliado de Sarney, o senador Edison Lobão, atual ministro das Minas e Energia, por pouco não arrenda seu departamento de jornalismo ao esquema governista.

Ordens de cima

Nunca se subornou tanto jornal e jornalista como a partir de 2005 no Maranhão. Ao ponto de a assessora de Comunicação, Flávia Regina, determinar ao matutino mais antigo de São Luís, O Imparcial, quantas páginas e seções devia ter, e o que devia e não devia ser manchete, sob pena de retaliação publicitária. Por escrito.

Verbis: “O Imparcial precisa honrar a tradição de seu nome e fazer por merecer a verba publicitária do Governo do Maranhão que, para seu conhecimento, é a segunda maior destinada aos veículos de Comunicação de todo o Estado – embora há [sic] quem, no próprio Governo, considere ser um recurso investido com pouco retorno.”

A carta integra uma série de arquivos digitais subtraídos clandestinamente ao computador de Flávia Regina e divulgados sem contestação oficial logo após a eleição de 2006. Acredite: oImparcial ignorou o assunto. Também faz parte dos arquivos secretos da assessora a seguinte circular à imprensa governista:

“Vamos produzir uma matéria com os fortes indícios de que uma “onda crescente” ameaça os domínios do Grupo Sarney no Maranhão. É fundamental documentar com imagens paredes com pichações, adesivos, camisetas que trazem alusão à indignação popular neste momento de “Agora ou Nunca”.... Alguns locais de São Luís precisam ser fotografados....” E aí indicava os locais (previamente pichados pelas equipes governistas), as barracas governistas, e até os intelectuais que deveriam ser entrevistados sobre a “onda”.

Plantio de idéias

Tudo isso obedecia à orientação da Pública, uma agência de marquetagem sem limite ligada ao PSDB paulista, sobretudo eficiente na criação de movimentos artificiais e no plantio de notícias, comentários e editoriais na mídia de qualquer estado, inclusive S.Paulo. Uma de suas campanhas, “Maranhão Urgente”, antecipou o título e os argumentos de um editorial de O Estado de S.Paulo. Em 2007 reapareceu montando campanhas e induzindo comentários pró-Jackson contra a Operação Navalha, incluindo matéria de um repórter de Valor Econômico enviado a São Luís. Foi novamente acionada agora, para criar um “movimento” de hostilidade à hipótese de cassação.

Há gente inocente nessa onda, como o centenário arquiteto Oscar Niemeyer. Ou como a Secretaria de Cultura do PT, que navegou distraidamente na própria ignorância dos fatos do Maranhão. Pensam que Jackson é um “esquerdista” em confronto com a “oligarquia”.

O Maranhão, é um estado de oligarquias, sim, das quais a mais poderosa é sempre a chefiada pelo governador. O oligarca-mor, atualmente, é Jackson. Invoca Brizola e Darcy, mas pratica muito longe disso.

Em vez de algum “Darcy”, o secretário da Educação é Lourenço Vieira da Silva, ex-presidente do Incra da ditadura nos tempos de maior expansão da grilagem na Amazônia Legal. Foi secretário do governador Sarney nos 60 e nos 70 um militante do grupo direitista do general Sylvio Frota, o ex-ministro do Exército que se opunha à abertura “lenta e gradual” do presidente Geisel. Agora ruge como a besta negra do magistério público estadual, que a muito custo resistiu a suas ameaças e derrotou por 10 a 1, no Supremo, uma “lei do Cão” que lhe subtraía direitos.

Lixo generoso

Ao Lourenço da Educação e ao tucano Aderson, de perfil inconfundível, somam-se o AZ do Planejamento e a tucana Telma Pinheiro (ex-PFL), esta na mal falada Secretaria de Obras. O secretário da Juventude e dos Esportes, Weverton Rocha, famoso por aliviar o cofre da Umes (União Municipal dos Estudantes Secundaristas), escapou da condenação ao obter a suspensão condicional do processo, num acordo “réu primário” com a promotoria. Mas não se emenda: fez convênio com uma jovem fundação cuja presidente é a própria mãe do bacana.

Delinqüências semelhantes ocorreram nas duas últimas passagens de Jackson pela Prefeitura de São Luís. A companhia de limpeza pública Coliseu converteu-se em casa da moeda, com diretores descontando na boca do caixa os cheques emitidos pela Fazenda Municipal para pagar salários e outras despesas de custeio.

Documentos de caixa 2 exibem remessas injustificáveis para secretários e para o PDT. Veja.

Outros papéis entregues à Polícia por um trânsfuga do esquema — papéis cuja autenticidade o próprio Jackson confirmou em depoimento — surpreendem mais ainda pela vulgaridade. Num bilhete rabiscado e assinado pelo prefeito, o presidente da Coliseu recebe ordem de pagar pequenas quantias a militantes do Partido Verde recém-cooptados. Para que não fique dúvida do que se trata, Jackson assinala: “Conversará com Clodomir” (o secretário de Assuntos Políticos).Veja.

Diante disso não surpreende que o correligionário sucessor de Jackson na Prefeitura tenha imediatamente decretado “estado de emergência na limpeza pública”.

Violência é inédita

De esquerda mesmo o atual governo maranhense tem apenas uns “companheiros de viagem” no segundo time, a recepção tão calorosa quanto inútil a Hugo Chávez em São Luís e um convênio com o MST para suposta alfabetização “cubana” nos assentamentos do interior, enquanto os professores e sem-teto da capital são contidos pela polícia. Estranho MST, que mal dialoga com o governo Lula, mas encontra afinidades misteriosas com um governo controlado por políticos tucanos e assemelhados, oriundos das facções mais direitistas do sarneísmo tradicional.

Falta ainda dizer que a pistolagem e os grupos de extermínio, mais ou menos contidos ou diminuídos no governo Roseana (apesar das incoerências, politicagens e ambigüidades que a comprometeram) recrudescem desde 2007. A tortura permanece ou piora. PMs mataram a pancada um compositor popular e o caso só não foi abafado porque era justamente o animador dos comícios tucano-pedetistas.

Uma professora apareceu morta numa praia durante a greve contra a “lei do cão” e até hoje a Polícia não sabe se foi suicídio ou homicídio, inobstante o bilhete que ela deixou culpando o governador pelo gesto. Dois prefeitos e um famoso ex-presidiário tombaram assassinados de emboscada e ficou por isso mesmo. “Justiceiros” atuam livremente.

Novidade mesmo é a violência contra adversários políticos do Governo. Os oligarcas sarneístas nunca festejaram a vitória agredindo os derrotados, mas a casa de Roseana foi apedrejada pelos oligarcas jackistas em 2006. Inédito também o ataque ao ex-senador Chiquinho Escórcio (DEM), que não é flor que se cheire mas é gente e cidadão. Agarrado à luz do dia no hall de um hotel, foi derrubado, chutado e enfiado em camburão por policiais acionados pelo primo Aderson. Motivo: momentos antes houvera dito uns desaforos a Lourival Bogéa, diretor do diário chapa-branca Jornal Pequeno e usuário do incrível pseudônimo deDoutor Peta (Doutor Mentira!).

Pretender que semelhantes desmandos equivalem à “libertação do Maranhão” é uma piada sinistra. Nem alternância é. A caríssima eleição de Jackson por 51,82 % a 48,18 %, no 2o turno, apenas repetiu a velha tradição maranhense de que o Governo ganha todas. Até onde a vista alcança, até hoje a única exceção foi Sarney em 1965, mas assim mesmo numa situação excepcional (o golpe militar de 1964) e com a ajuda psicológica das tropas federais que intimidaram caciques e índios no interior.

“Nas últimas eleições (municipais), o estado confirmou o ocaso oligárquico, elegendo 70% dos prefeitos dos partidos da frente de libertação”, alardeia o governador. Conversa. Esquece que nenhum governador costuma ter menos do que isso nas eleições municipais do Maranhão. Roseana fazia até mais. É típico da oligarquia.

Não há um deputado pedetista na Assembléia que já não tenha militado no grupo Sarney. Até o líder do Governo, Edivaldo Holanda (PTC), elegeu-se na coligação de Roseana. A origem das espécies tucano-pedetistas que hoje mandam no Maranhão é a mesma dos sarneístas.

Jackson tinha tudo para ser igual a seus rivais de ocasião. Por seus próprios méritos, consegue ser pior. Alega que sua cassação indicaria que não há juízes em Brasília. Falta justiça talvez é no Maranhão, e não é de hoje.

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