quinta-feira, setembro 27, 2012

Estamos com Lula para o que der e vier!

Fausto Ishiai
O PSDB transformou-se num partido barriga de aluguel do PIG e que já não dá mais cria. O STF é agora a nova barriga de aluguel! O PSDB há muito perdeu sua independência e contenta-se ao papel de linha auxiliar do PIG, sem sua blindagem não resiste a uma capa de Veja ou denúncia no Jornal Nacional. Os tucanos são reféns da mídia golpista, ao dar o golpe não serão eles os comandantes e sim os barões do PIG.
Dez milhões de matérias referindo a Lula e o “mensalão”, que homem na face da Terra resistiria a esse tsunami midiático tão devastador? Lula desafiando a lógica dos golpistas, resiste! Os pitbulls covardes do PIG aproveitam-se da saúde fragilizada de Lula e da sua limitação na voz, sua arma maior, para aniquilá-lo de vez. Mas não conseguirão, serão derrotados mais uma vez. Estamos com Lula para o que der e vier!
Finalmente os artistas e intelectuais de esquerda começam a se manifestar em defesa de Lula e contra as arbitrariedades que ameaçam o Estado de Direito no julgamento do “Mensalão”. Mas cadê o PT? O senador Requião na ausência dos petistas supre-os com um discurso imperdível.
Por favor, assistam ao vídeo: http://bit.ly/SlQZcW


terça-feira, setembro 25, 2012

O preconceito contra a universalização do direito à participação política, que é recente no Brasil



"Me preocupa quando juízes do STF pensam como taxistas"
Em entrevista à Carta Maior, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos alerta o país sobre o perigo do julgamento do “mensalão” se transformar em um julgamento de exceção, a partir de uma reinterpretação da lei para atender a conveniência de condenar pessoas específicas. “Me chama a atenção o preconceito de alguns juízes contra a atividade política de partidos populares. Minha preocupação é quando a opinião dos magistrados coincide com a dos motoristas de táxi, que têm opiniões péssimas sobre todos os políticos".
Najla Passos
São Paulo - Nenhum preconceito contra os taxistas e nenhum problema quanto ao fato deles manifestarem suas opiniões. A comparação só se faz pertinente porque estudos sociológicos sérios demonstram que a categoria, mais do que outras, é muito suscetível a opiniões extremadas, eivadas de preconceitos, como a defesa da pena de morte e a propagação do lugar-comum de que todo político é corrupto. “A minha preocupação é quando a opinião dos juízes coincide com a dos motoristas de táxi”, afirma o analista político Wanderley Guilherme Santos, que alerta para o perigo do julgamento do “mensalão” se tornar um julgamento de exceção.

Embora considere bem justificados os votos apresentados até agora pelos ministros do Supremo, o decano das Ciências Sociais no Brasil se insurge contra o “discurso paralelo” em construção na corte, tão eivado de preconceitos quanto o cientificamente observado entre os taxistas, que poderá servir a conveniência de condenar pessoas específicas. “Me chama a atenção o preconceito contra a atividade política de partidos populares. O que, obviamente, reflete o preconceito contra a universalização do direito à participação política, que é recente no Brasil”, afirma.

Confira a entrevista:

- Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, o senhor disse que o julgamento do “mensalão” poderá vir a se transformar em um julgamento de exceção. Por quê?

Ele pode vir a se transformar em um julgamento de exceção, na medida em que viole as leis vigentes no país, especificamente para atender ao que eu já chamei de “condenatório ad hominem”, ou seja, que permita uma interpretação da lei para atender a conveniência de condenar pessoas específicas. Se isso ocorrer, a implicação que eu imagino que aconteça é que esses argumentos não venham a ser utilizados em relação a mais ninguém.

- Nesta mesma entrevista, o senhor disse também que, até agora, o julgamento tem apresentado um caráter técnico. Como o senhor avalia essas inovações de jurisprudências, essas mudanças de procedimentos poucos habituais que têm ocorrido?

Eu não sou especialista em direito. Eu não estudo os códigos penais. Como analista político, estou me guiando pelo que é apresentado na televisão. Mas a lógica é um patrimônio genético. Em qualquer área de conhecimento, a lógica tem que ser obedecida. E, até agora, embora pareça que nunca houve tanta reinterpretação em um julgamento só, quando os ministros votam, para mim que não sou especialista, mas estou dotado de alguma lógica, parece que eles buscam fundamentar bem, apontar bem os pontos dos códigos vigentes, do Código Penal em particular, que dão sustentação aos juízos, de condenação ou absolvição, que têm proferido.

Essa fundamentação, essa justificativa com base em códigos, em artigos, em incisos, parágrafos, dá a impressão de que eles estão utilizando a legislação vigente no país, ainda que, em alguns pontos, a estejam reinterpretando de forma inédita. Por este motivo, a minha capacidade lógica não foi agredida até agora pelas justificativas dos votos dos ministros. Mesmo quando eles interpretam contrariamente, divergem em interpretações de fatos, me parecem que todos tem tido cuidado em compatibilizar os votos com as regras e normas vigentes nos códigos do país.

- Então, por que falar em julgamento de exceção?

O me chama a atenção é uma diferença muito grande entre a argumentação que justifica o voto e um “discurso paralelo” que nada tem a ver com o que tem sido usado para fundamentá-lo. É como se fossem dois julgamentos: um invisível, que faz parte de um discurso, de uma retórica paralela à discussão oficial, e outro fundado nos autos, ainda que com discrepâncias de interpretações. A minha preocupação é com este “discurso paralelo” que vai se materializar em algum momento do processo.

- Este discurso paralelo se desvela na própria dinâmica do julgamento ou é uma construção mais reverberada pela mídia?

Sem dúvida, esse discurso está sendo reverberado pela imprensa, pela corrente política de oposição e, também, pelas opiniões de certas camadas populares. É normal que casos de grande repercussão, de grande mobilização da opinião pública ou da opinião publicada, afetem a opinião das pessoas. Isso ocorre não apenas neste julgamento, mais em qualquer tipo de crime desses mais escandalosos. As pessoas têm sua opinião, o que é absolutamente normal, embora nem sempre seja opinião mais correta. Nós temos grandes exemplos de julgamentos, feitos não pela justiça, mas pelos jornais, revistas e grupos de opinião, que, na verdade, se revelaram como grandes erros de avaliação.

- O senhor pode citar um exemplo?

Eu citaria o exemplo da Escola de Base, em São Paulo. Já tem muito tempo, mas o que houve foi um julgamento fora do Judiciário, na verdade um linchamento da reputação de um grupo de educadores, com acusações de pedofilia e abusos, e a justiça posteriormente registrou que nada disso existia. Só que, até lá, essas pessoas foram destruídas moralmente, profissionalmente. Mas isso acontece não só no Brasil. Essa divergência de entendimento ocorre no mundo inteiro. E é por isso que é fundamental um judiciário isento, que não aja de acordo com a emoção.

- Então o problema central não é a imprensa ou a opinião manifesta de determinados grupos sociais, mas o próprio Judiciário?

Que exista este juízo diferente na sociedade, nos órgãos de imprensa, é natural. É bom que exista esta liberdade de pensar, ainda que com base em um conjunto de informações às vezes não muito precisa. É assim que o mundo anda, no Brasil e nos outros países. Não vejo nisto nada de patológico. A forma com que essas opiniões se manifestam em atores políticos como a imprensa, a televisão – que são atores políticos, devido à capacidade de liderança – às vezes não é algo positivo, devido à intensidade e à precipitação. Mas não atribuo a essas agências à responsabilidade pelo andamento do caso específico da ação penal 470.

Atribuo a uma coisa, a meu ver, muito menos defensável, que é um sistema de valores e preconceitos dos próprios juízes, que são seres humanos, que às vezes concordam muito mais com valores emitidos pela imprensa, ou por motoristas de táxi, que são sabidamente pessoas que reagem com posições sempre muito extremadas. E isso não é preconceito contra os taxistas, é uma informação de sociologia. Há estudos que apontam que essa categoria é muito vulnerável às posições extremadas. Em pesquisas sobre pena de morte, por exemplo, os taxistas são os mais extremados, tem um percentual altíssimo favorável a pena de morte. Eles têm opiniões péssimas sobre todos os políticos, sobre os que estão aí e os que estão por vir. Pois bem, a minha preocupação é quando a opinião dos magistrados coincide com a dos motoristas de táxi.

- E isso está acontecendo? Os ministros do STF estão pensando como os motoristas de táxis?

Isso aparece precisamente no discurso paralelo: o preconceito contra a atividade política profissional, o preconceito contra os políticos populares, o preconceito contra atividades cotidianas ou generalizadas da política, que eles preferem considerar como sendo gerada por uma conspiração maligna de certos tipos de pessoas, e não, muitas vezes, pelos posicionamentos legais que fazem com que as pessoas ajam de certa maneira.

- O senhor se refere, mais especificamente, ao caixa dois de campanha?

Sim, e eu tenho chamado a atenção para isso, para a origem do caixa dois que todos os partidos fazem. A justiça eleitoral brasileira faz uma sucessão de normas que, embora todas elas de boa fé, criaram uma confusão, um sistema que condiciona à prática do caixa dois, que é simplesmente um fluxo clandestino de financiamento de campanha. Mas, exatamente porque é clandestino, favorece o cometimento de vários crimes, como subornos, apropriações indébitas, desvios de dinheiro, que nada tem a ver com o ilícito inicial, que é o processo de financiamento ilegal de campanhas. E quando a gente diz financiamento ilegal, as pessoas já ficam muito indispostas quanto a isso, por conta da palavra ilegal. Mas só é ilegal porque existe uma norma contrária. Se acabar a ilegalidade, tudo isso passa a ser do bem.

É o que acontecerá quando se legalizar o uso de maconha, que é algo defendido, por exemplo, elo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Hoje, pessoas que compram, que estão envolvidas com drogas, são chamadas de quadrilheiros, de criminosos, uma série de adjetivos muito pesados, porque a lei impõe isso. Como era até recentemente com quem praticava o aborto de anencéfalos. Porque até este próprio STF decidir que não era crime, as grávidas que se submetiam ao aborto em virtude desta tragédia eram consideradas assassinas, com agravantes. Os médicos que procediam a defesa da saúde dessas mulheres eram outros assassinos, porque é esta a terminologia jurídica.

Bastou uma decisão do mesmo STF que falava em assassinos para que eles passarem a ser protegidos e defendidos, por exemplo, da opinião religiosa que proíbe isso. Veja como o preconceito transforma pessoas normais em assassinos e, de repente, as retransforma e as tornas pessoas normais outra vez. Então, no caso do caixa dois, meu medo é em relação a este discurso paralelo, que tem embasamento em preconceitos pré-democráticos contra a atividade política, sem examinar a origem de certos processos ilícitos, que não está na atividade política porque ela seja maligna, mas sim condicionados por legislação que pode mudar de uma hora para outra.

- O senhor falou em preconceitos pré-democráticos contra a atividade política. Mas me parece que, neste julgamento, há outros fatores. No caso do “mensalão” do PSDB, por exemplo, os deputados que receberam dinheiro do “valerioduto” não foram sequer denunciados pelo MPF, que entendeu que se tratava de mero caixa dois de campanha. No mensalão do PT, os deputados que sacaram dinheiro do mesmo “valerioduto” não só foram denunciados como, ao que tudo indica, serão também condenados. Não haveria também um preconceito de classe?

Esse preconceito de classe contra a atividade política de partidos de origens populares existe, sem dúvida. Então, há atividades que são piores consideradas para determinados partidos que têm origem popular, até porque isso é uma novidade na história do Brasil e fere a sensibilidade de quem ainda não digeriu isso bem. E leva tempo mesmo para digerir a participação de grandes massas na vida política. Eu acho que existe um descompasso grande entre o comportamento do Supremo em causas sociais em geral, nas quais ele tem se mostrado modernizador, e em relação a um caso como este, em que alguns juízes manifestam um preconceito contra a atividade política de partidos populares. Sem dúvida.

E, certamente, isso pode ajudar a entender a diferença de comportamento entre a ação penal 470, contra partidos populares, e fundamentalmente o principal deles, o PT, e as que envolvem os demais. Eu não sou militante de partido nenhum, mas é óbvio que a política brasileira mudou com o surgimento do PT, dentro de um contexto em que mesmo os partidos mais de esquerda, os mais avançados, representavam a classe média ilustrada, como o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e até o Partido Democrático Trabalhista (PDT). O ponto fundamental é que preconceito de classe pode haver. Mas é algo para ser investigado com um pouco mais de cuidado. O que tem me chamado a atenção é o preconceito contra a atividade política de partidos populares. O que, obviamente, reflete o preconceito contra a universalização do direito à participação política, que é recente no Brasil.

Dilma e a repetição da história


Por Luis Nassif, em seu blog:

São significativas as semelhanças entre os tempos atuais e o período pré-64, que levou à queda de Jango e ao início do regime militar e mesmo o período 1954, que levou ao suicídio de Getúlio Vargas.

Os tempos são outros, é verdade, e há pelo menos duas diferenças fundamentais descartando a possibilidade de um mesmo desfecho: uma economia sob controle e uma presidência exercida na sua plenitude, sem vácuo de poder.

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Tirando essas diferenças, a dança é a mesma.

A falta de perspectivas da oposição em assumir o poder, ou em desenvolver um discurso propositivo, leva-a a explorar caminhos não-eleitorais.

Parte-se, então, para duas estratégias de desestabilização – ambas em pacto com a chamada grande mídia.

Uma, a demonização dos personagens políticos. Antes do seu suicídio, Vargas foi submetido a uma campanha implacável, inclusive com ataques à sua honra pessoal – que, depois, revelaram-se falsos.

No quadro atual, sem espaço para criticar a presidente Dilma Rousseff, a mídia – especialmente a revista Veja – move uma campanha implacável contra Lula. Chegou ao cúmulo de ameaçar com uma entrevista supostamente gravada (e não divulgada) de Marcos Valério, como se Valério tivesse qualquer credibilidade.

Surpreendente foi a participação de FHC, em artigo no Estadão, sustentando que o julgamento do “mensalão” marca uma nova era na política. Até agora, o único caso documentado de compra de votos foi no episódio da votação da emenda da reeleição – que beneficiou o próprio FHC.

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A segunda estratégia tem sido a de levantar o fantasma da guerra fria. Mesmo sabendo que Jango jamais foi comunista (aliás, o personagem que mais admirava era o presidente norte-americano John Kennedy) durante meses e meses levantou-se o “perigo vermelho” como ameaça.

Grande intelectual, oposicionista, membro da banda de música da UDN, em 1963 Afonso Arino escreveu um artigo descrevendo o momento. Nele, mencionava o anacronismo de (em 1963!) se falar de guerra fria, logo depois de Kennedy e Kruschev terem apertado as mãos. E dizia que, mesmo sendo anacronismo, esse tipo de campanha acabaria levando à queda do governo pelo meio militar, devido à falta de pulso de Jango, na condução do governo.

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O modelo de atuação da velha mídia é o mesmo de 1964, com a diferença de que hoje em dia não há vácuo de poder, como com Jango.

Primeiro, buscam-se personalidades, pessoas que detenham algum ativo público (como jornalistas, intelectuais, artistas etc.). Depois, abre-se a demanda por comentaristas ferozes. Para se habilitar à visibilidade ofertada, os candidatos precisam se superar na ferocidade dos ataques.

Poetas esquecidos, críticos de música, acadêmicos atrás de visibilidade, jornalistas, empenham-se em uma batalha similar às arenas romanas, onde a vitória não será do mais analítico, ponderado, sábio, mas do que souber melhor agredir o inimigo. É a grande noite do cachorro louco, uma selvageria sem paralelo nas últimas duas décadas.

Com sua postura de não se restringir ao julgamento do “mensalão” em si, mas permitir provocações à presidente da República e a partidos, o STF não cumpre seu papel.

Aliás, o STF do pós-golpe foi muito mais democrático do que o atual Supremo.

sexta-feira, setembro 21, 2012

PARTIDOS DA DEMOCRACIA DEFENDEM LULA


NOTA CONJUNTA 
PCdoB, PDT, PMDB, PRB, PSB e PT

Partidos da maioria repudiam "práticas golpistas” e
“tentativas de transformar em verdade um amontoado de tolices" dos partidos da minoria

O PCdoB, PDT, PMDB, PRB, PSB e PT, representados pelos seus presidentes nacionais, repudiam de forma veemente a ação de dirigentes dos partidos da minoria PSDB, DEM e PPS que, em nota, tentaram comprometer a honra e a dignidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Valendo-se de fantasiosa matéria veiculada pela Revista Veja, pretendem transformar em verdade o amontoado de invencionices colecionado a partir de fontes sem identificação.

As forças conservadoras revelam-se dispostas a qualquer aventura.

Não hesitam em recorrer a práticas golpistas, à calúnia e à difamação, à denúncia sem prova.

O gesto é fruto do desespero diante das derrotas seguidamente infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro.

Impotentes, tentam fazer política à margem do processo eleitoral, base e fundamento da democracia representativa, que não hesitam em golpear sempre que seus interesses são contrariados.

Assim foi em 1954, quando inventaram um “mar de lama” para afastar Getúlio Vargas. Assim foi em 1964, quando derrubaram Jango para levar o País a 21 anos de ditadura.

O que querem agora é barrar e reverter o processo de mudanças iniciado por Lula, que colocou o Brasil na rota do desenvolvimento com distribuição de renda, incorporando à cidadania milhões de brasileiros marginalizados, e buscou inserção soberana na cena global, após anos de submissão a interesses externos.

Os partidos da minoria tentam apenas confundir a opinião pública.

Quando pressionam a mais alta Corte do País, o STF, estão preocupados em fazer da ação penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula .

A mesquinharia será, mais uma vez, rejeitada pelo povo.

Renato Rabelo, PCdoB
Carlos Lupi, PDT
Valdir Raupp, PMDB
Marcos Pereira, PRB
Eduardo Campos, PSB
Rui Falcão, PT

quarta-feira, setembro 19, 2012

Essa festa não era para nós



Em 1984, durante a campanha das Diretas já, estava no Ginásio do SESC em Belém e diante da empolgação de alguns setores estudantis, que falavam em colocar um milhão de pessoas nas ruas, ouvi da boca de Tancredo Neves: calma gente, o povo só vai com a gente até um determinado ponto.
Depois da Ditadura Civil/Militar, quando a elite brasileira teve que colocar o serviço sujo nas mãos dos militares, era preciso voltar ao antigo esquema, refazer o pacto por cima.
Toda aquela conversa mole de Diretas Já, volta da democracia, já estava bem costurada e com os seus limites bem demarcados.
A festa não era para nós. Não era para o PT, a CUT, o MST e outros penetras. Definitivamente, não era para LULA ser presidente, para o PT ser governo.
Tudo o que estamos vivendo hoje, é a indigestão para as elites desse prato que desandou. A raiva que eles têm do PT, do LULA, do Zé Dirceu, do MST, da CUT, dos sindicatos... É a raiva da derrota, é a vontade de vingança.
O que todos nós precisamos compreender é que nada está ganho, nada está resolvido. A Guerra nunca acabou. Vencemos muitas batalhas, batalhas importantes, mas a Guerra continua. O mundo do dinheiro, da grana fácil, está cercado no mundo inteiro. Milhões de pessoas em todos os países começam a entender que a miséria não é um dado da natureza.
Não é um dado que determina quem vai ficar no lado dos 1% que têm tudo e quem vai ficar do lado dos 99% que vivem na precariedade cada dia mais humilhante.
O PT, a CUT, o MST, têm sido bons navios de guerra, mas as seguidas batalhas que vencemos colocaram o Brasil e o seu povo num outro patamar histórico. É esse o dilema que vivemos, será que nossa armada está atualizada para as novas batalhas?
O poder econômico e material das elites é infinitamente maior que o nosso, felizmente somos muitos e temos alguns grandes companheiros do nosso lado. Temos também a criatividade e a inteligência que sempre fazem a diferença nas lutas dos pobres. LULA é o melhor exemplo.
Mas agora o avanço está exigindo novos tipos de armamento, novas estratégias, alianças mais dinâmicas e firmes. As moléculas precisam de mais calor entre elas, mais agitação e entrosamento. O caldo tem que ferver, mas não pode entornar pra cima da gente.
O nosso governo, o PT, a CUT, o MST, Sindicatos, movimentos sociais, redes sociais, militantes, listeiros, blogueiros... Precisam compreender a necessidade de novas e mais firmes alianças, precisam articular e conversar mais. A Luta é de todos.
Que nenhum desses agentes imagine ou se iluda que pode ganhar essa guerra fazendo tréguas ou concessões para as elites. Nós só temos uma alternativa: é continuar avançando.
A responsabilidade do PT e do nosso governo é enorme nesse processo. A máquina eleitoral do PT é importante e necessária, mas o partido não pode achar que isso é tudo. O PT não pode esquecer de onde veio, o PT e o governo não podem continuar fingindo que a questão da comunicação é um problema jornalístico e/ou dos jornalistas.
Todos os nossos navios precisam ter uma fala clara e orgânica para o povo. Precisamos urgente de um aparato de comunicação que comunique nos dois sentidos e seja capilar. Precisamos de rádios, jornais de bairros, jornais de ônibus, TV pública e de bairros, internet com banda larga e barata, escolas e pontos de cultura interligados, jornais nas feiras, uma grande agencia de noticias de esquerda produzindo a nossa agenda e o nosso conteúdo.
Mão na massa gente, o resto é chororô.
Adauto Melo

terça-feira, setembro 18, 2012

O governo financia a direita



Berna (Suiça) - Daqui de longe, vendo o tumulto provocado com o processo Mensalão e a grande imprensa assanhada, me parece assistir a um show de hospício, no qual os réus e suspeitos financiam seus acusadores. O Brasil padece de sadomasoquismo, mas quem bate sempre é a direita e quem chora e geme é a esquerda.
Não vou sequer falar do Mensalão, em si mesmo, porque aqui na Suíça, país considerado dos mais honestos politicamente, ninguém entende o que se passa no Brasil. Pela simples razão de que os suíços têm seu Mensalão, perfeitamente legal e integrado na estrutura política do país.
Cada deputado ou senador eleito é imediatamente contatado por bancos, laboratórios farmacêuticos, seguradoras, investidores e outros grupos para fazer parte do conselho de administração, mediante um régio pagamento mensal. Um antigo presidente da Câmara dos deputados, Peter Hess, era vice-presidente de 42 conselhos de administração de empresas suíças e faturava cerca de meio-milhão de dólares mensais.
Com tal generosidade, na verdade uma versão helvética do Mensalão, os grupos econômicos que governam a Suíça têm assegurada a vitória dos seus projetos de lei e a derrota das propostas indesejáveis. E nunca houve uma grita geral da imprensa suíça contra esse tipo de controle e colonização do parlamento suíço.
Por que me parece masoca a esquerda brasileira e nisso incluo a presidente Dilma Rousseff e o PT ? Porque parecem gozar com as chicotadas desmoralizantes desferidas pelos rebotalhos da grande imprensa. Pelo menos é essa minha impressão ao ler a prodigalidade com que o governo Dilma premia os grupos econômicos seus detratores.
Batam, batam que eu gosto, parece dizer o governo ao distribuir 70% da verba federal para a publicidade aos dez maiores veículos de informação (jornais, rádios e tevês), justamente os mais conservadores e direitistas do país, contrários ao PT, ao ex-presidente Lula e à atual presidenta Dilma.
Quando soube dessa postura masoquista do governo, fui logo querer saber quem é o responsável por essa distribuição absurda que exclui e marginaliza a sempre moribunda mídia da esquerda e ignora os blogueiros, responsáveis pela correta informação em circulação no país.
Trata-se de uma colega de O Globo, Helena Chagas, para quem a partilha é justa – recebe mais quem tem mais audiência! diz ela.
Mas isso é um raciocínio minimalista! Então, o povo elege um governo de centro-esquerda e quando esse governo tem o poder decide alimentar seus inimigos em lugar de aproveitar o momento para desenvolver a imprensa nanica de esquerda ?
Brasil de Fato, a revista Caros Amigos, o Correio do Brasil fazem das tripas coração para sobreviver, seus articulistas trabalham por nada ou quase nada, assim como centenas de blogueiros, defendendo a política social do governo e a senhora Helena Chagas com o aval da Dilma Rousseff nem dá bola, entrega tudo para a Veja, Globo, Folha, SBT, Record, Estadão e outros do mesmo time ?
Assim, realmente, não dá para se entender a política de comunicação do governo. Será que todos nós jornalistas de esquerda que votamos na Dilma somos paspalhos ?
Aqui na Europa, onde acabei ficando depois da ditadura militar, existe um equilíbrio na mídia. A França tem Le Figaro, mas existe também o Libération e o Nouvel Observateur. Em todos os países existem opções de direita e de esquerda na mídia. E os jornais de esquerda têm também publicidade pública e privada que lhes permitem manter uma boa qualidade e pagar bons salários aos jornalistas.
Comunicação é uma peça chave num governo, por que a presidenta Dilma não premiou um de seus antigos colegas e colocou na sucessão de Franklin Martins um competente jornalista de esquerda, capaz de permitir o surgimento no país de uma mídia de esquerda financeiramente forte ?
Exemplo não falta. Getúlio Vargas, quando eleito, sabia ser necessário um órgão de apoio popular para um governo que afrontava interesses internacionais ao criar a Petrobras e a siderurgia nacional. E incumbiu Samuel Wainer dessa missão com a Última Hora. O jornal conseguiu encontrar a boa receita e logo se transformou num sucesso.
O governo tem a faca e o queijo nas mãos – vai continuar dando o filet mignon aos inimigos ou se decide a dar condições de desenvolvimento para uma imprensa de esquerda no Brasil ?

Rui Martins – Berna
Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, membro eleito do Conselho Provisório e do atual Conselho de emigrantes (CRBE) junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreveu o livro Dinheiro Sujo da Corrupção sobre as contas suíças secretas de Maluf. Colabora com o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress.

segunda-feira, setembro 17, 2012

Hildegard Angel enterra José Dirceu


De onde alguém pode(ria) tirar a ideia de que um Joaquim Barbosa teria poder para matar Dirceu?

Se Dirceu for condenado sem provas, o STF do Brasil pode fechar e ir todo mundo prô mato, que a palhaçada será, afinal, completa.

De tanto se curvar ante os poderosos, os 'éticos' já estão, há teeeeeeeeeeeempos, mostrando a bunda aos oprimidos, sim... Mas tem limite, né?!

DETESTÁVEL essa ideia de pressupor Dirceu já morto. Como assim?

De solidariedades broxas, como essa, se pavimenta o caminho da 'democracia' à moda do 'jornalismo' brasileiro, que é quem ensina política aos brasileiros. Prefiro o Hizbollah.

Bom. E falta, nesse papim fraco aí, a ABISSAL FÚRIA que Marlon Brando pôs nas mesmas palavras.

Lembro mais uma vez, pros que, de tão emocionados com o discurso pré-fúnebre de morto ainda vivo: Dirceu está bem vivo.

E, antes de que os petistas frouxos começarem a chorar de emoção ante algum pré-cadáver pré-chorado, aproveitem e vejam Marlon Brando, na mesma cena, em
http://www.youtube.com/watch?v=RJHDZc45xow (talvez haja melhores. Foi o primeiro vídeo q apareceu) pra verem o que é bom prá tosse.
da Vila Vudu




Publicado em 17/09/2012 por BlogHildeAngel
Obra de ficção, interpretada pela jornalista e atriz Hildegard Angel, em adaptação livre, feita por ela, do célebre discurso de Marco Antonio, na peça "Julio Cesar", de Shakespeare, inspirada em personagens e fatos da atualidade brasileira. Obs:
Este vídeo foi veiculado antes do julgamento do personagem aqui enfocado, não se sabendo se ele seria inocentado ou condenado, deixando-se assim bem evidente que se trata de uma obra de ficção, não se fazendo qualquer juízo de valor a respeito das ações que venham a ser tomadas pelas autoridades mencionadas nesta obra aberta.
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Grande Zé Dirceu!!!


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“A CHANCE DE EU FUGIR DO BRASIL É NENHUMA. ZERO”
Em entrevista, José Dirceu diz que o PT pode ter muitos defeitos, mas não conhece a palavra covardia. Ele se diz pronto para qualquer resultado
17 DE SETEMBRO DE 2012 ÀS 06:49
247 – José Dirceu, principal réu da Ação Penal 470, chamado de “chefe da quadrilha” pelo procurador-geral Roberto Gurgel, concedeu sua primeira entrevista desde o início do processo. Falou à jornalista Mônica Bergamo e garantiu que não irá fugir do Brasil. Leia:
'Eu não vou fugir do Brasil'
Ele diz que não conhece a palavra covardia e que está preparado para qualquer resultado no STF
"A burguesia acorda tarde. Eu saí da cama faz tempo e estou morrendo de fome", diz José Dirceu ao abrir a porta de seu apartamento, em SP, às 9h de sexta-feira.
Réu no processo do mensalão, ele saiu de circulação desde o início do julgamento e há meses recusa todos os pedidos da imprensa brasileira para uma entrevista. Na semana passada, recebeu a coluna para um café. À mesa, suco de laranja, abacaxi, café com leite, pão e frios.
"Eu não estou deprimido. Eu não tenho razão para estar deprimido. Eu tenho objetivos, metas, sonhos. Eu acordo às seis da manhã todos os dias. Recebo o resumo das notícias que a equipe do meu blog envia. Eles já sabem o que me interessa. Estão comigo há cinco anos. Funcionamos por telepatia."
"Eu gasto duas ou três horas lendo toda a imprensa brasileira, no iPad e no meu laptop. Depois, escrevo artigos para o blog."
Dirceu veste camiseta marrom e calça jeans cinza que estão largas em seu corpo. Está mais magro e com os cabelos mais longos do que o habitual. Perdeu 6 kg. Mas afirma que isso não tem nada a ver com o mensalão. "Eu faço muita ginástica. Desde 1998, tenho um instrutor."
Recentemente, passou a se exercitar todos os dias. Faz esteira, musculação e alongamento na academia do próprio prédio. "Me sinto bem."
A coluna diz que é difícil acreditar que a vida siga tão normal. " Muita gente me visita. Não tem um dia em que não venham duas, três pessoas me ver, aqui ou na minha casa em Vinhedo."
O escritor Fernando Morais, o produtor Luiz Carlos Barreto e o líder do MST, João Pedro Stédile, estão entre as visitas. O ex-presidente Lula liga um dia sim, um dia não, para saber como ele está. "Não me falta companhia."
O julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) entra na reta final. A condenação de Dirceu parece certa. Até seus interlocutores próximos admitem a possibilidade. As penas máximas para os crimes de que é acusado chegam a 15 anos. A Folha revelou que ele já conversou com o presidente Lula sobre a hipótese de ser preso.
"Que nada, isso não aconteceu", diz. "Não é que não tem prova no processo contra mim. Eu fiz a contraprova. Eu sou inocente. Eu confio na Justiça." Ele diz saber que, mesmo absolvido, "isso não vai acabar. Em sete anos [desde que estourou o escândalo], eu não tive a presunção da inocência. Por que vou ter a ilusão de que isso vai ocorrer, mesmo que eu seja considerado inocente pelo Supremo?"
A coluna pergunta de novo se, ainda que insista em dizer que confia na Justiça, ele nunca pensa na hipótese de ser condenado e preso.
"Isso daí [resultado do julgamento] vai demorar dois meses para acontecer. Vou ser julgado por corrupção ativa no fim do mês ou no começo de outubro. Em mais quatro semanas, serei julgado por quadrilha. Por que vou sofrer por antecipação? Na hora em que acontecer, vou ver o que fazer."
"A expectativa que eu tenho? Eu fui cassado pela Câmara dos Deputados [em 2005] sem provas. De lá para cá, eu sofri um linchamento como corrupto e quadrilheiro. Eu estou preparado para qualquer resultado."
"E não vou deixar de fazer o que sempre fiz, que é lutar. É ilusão achar que eu vou... não faz parte da minha personalidade eu me abater. Se alguém tem a ilusão de que, me condenando, cometendo essa violência contra mim, vai me derrubar, pode tirar o cavalinho da chuva."
Dirceu diz que só dará entrevista sobre o mérito do caso depois do julgamento.
Não quer também comentar a hipótese de o publicitário Marcos Valério, já condenado à prisão por vários crimes, "explodir" no caso de ser preso. "O advogado desmentiu [declarações que Valério teria dado a terceiros acusando o ex-presidente Lula de participar do esquema]. Não tenho o que comentar."
Diz que a sua principal intenção, na conversa, é afirmar que está bem e que não vai fugir do país para não ser preso caso seja condenado.
"Essa história que inventam de que vou sair do Brasil não combina comigo", afirma o ex-ministro.
Saí [na década de 60] porque fui expulso do país. Cassaram a minha nacionalidade. Eu era um apátrida, não podia viajar. Quem me impedia de voltar era a ditadura militar. E mesmo assim eu voltei para o Brasil, duas vezes, colocando a minha própria vida em risco. Eu iria embora agora?"
"O PT tem defeitos. Mas se tem algo que não conhecemos no PT é a palavra covardia. A chance de eu fugir do Brasil é nenhuma. Zero."

domingo, setembro 16, 2012

A nova classe e o lulismo além da esquerda


Bruno Cava, Blog Quadrado dos loucos, http://www.quadradodosloucos.com.br/3211/a-nova-classe-e-o-lulismo-alem-da-esquerda/


No Brasil, de uns tempos pra cá, pessoas de uma raça diferente começaram a se fazer frequentes em certos espaços. Começaram a frequentar espaços outrora inacessíveis: aeroportos, universidades, restaurantes, shoppings, boates, pet shops. Começaram a fazer turismo, a comer iogurte, beber vinho, fazer escova progressiva ou cirurgia plástica, a comprar carro, computador, tablet, tudo o que agora podem e têm direito. Essa raça não se comporta como os antigos frequentadores gostariam que se comportasse. Essa raça rude que se agita do fundo da história não quer, simplesmente, ser como seus antigos senhores. Um escândalo. Os senhores jamais lhe perdoarão o fato de não reconhecer a eles, a velha e autointitulada “classe média”, o lugar privilegiado que teriam conquistado com mérito e esforço individual. Pouco importa aos novos bárbaros, no entanto, o que pensam deles. Eles vieram para ficar e nada será como antes.
A nova classe média virou um Dasein sociológico. Uma monstruosidade teórica e prática. As tentativas mais recentes da velha sociologia alternam uma matemática primária com palpitaria generalizada. Por um lado, sociólogos orgânicos quantificam e tabelam, para reforçar a numerologia oficial, tão facilmente convertida em publicidade e campanha nas eleições. Por outro, tem sempre um “porteiro” que pensa assim, uma “empregada” que faz assado, os pobres genéricos que o humanismo burguês se propõe a conhecer de perto, e de onde se elaboram as ilações mais imbecis, decalcadas nos seus livrinhos de cátedra. À direita, a reedição do argumento das plebes ignaras. O povão se guia essencialmente por estômago e sexo e, portanto, precisa de autoridade e moral. Deve ser conduzido no caminho da ordem e do progresso. Ele mesmo não pensaria de outra forma, se pensasse por si só. Platonismo de madame. À esquerda, o argumento de que agora é hora de qualificar a nova classe. É preciso que a raça emergente se eduque para a política séria, que aprenda os velhos truques e modos, que se conscientize de seu papel. Está muito cru, muito propensa a ceder aos cantos da sereia. Uma pedagogia de esquerda, igualmente elitista. Não é por acaso que o jargão que divide esquerda e direita tenha surgido no âmbito das revoluções burguesas.
Por que a velha classe média não se sente comprada, quando seus estudos são pagos com dinheiro público, mas é a primeira a acusar os pobres de se venderem aos governos, pelo primeiro miserê que conquistaram? Por que bolsas de doutorado não são assistencialismo? Consideram-se racionalmente desinteressados e inspirados por altos ideais, mas se tornam histéricos, vitimizam-se, escrevem colunas raivosas nos jornais, quando ameaçados, em qualquer dimensão, nos privilégios de seu lugar intermediário. Passaram a história do Brasil pleiteando melhores salários e condições, e agora não hesitam em tachar os pobres de vendidos, quando estes podem finalmente votar em que os contempla com renda e acesso. Acusam os pobres de não saber consumir, mas estão cobertos, da sola dos pés à ponta dos cabelos, de marcas e produtos. É só vê-los desfilando nos aeroportos, o lugar onde desde criança aprenderam a exibir os selos de sua casta. Sua parafernália de roupas, eletrônicos, cosméticos, tratamentos, sessões de análise — nada disso seria consumismo. Consumista é sempre o outro, que não pode controlar os apetites. É sempre o outro, o descerebrado que o império capitalista submete com pão e circo, alienado, estupidificado, mediocritizado.
Quanta falta de generosidade, de crença nas pessoas, quanto preconceito disfarçado de humanismo e esquerdismo!
O lulismo não criou uma nova classe. Essa nova classe, — essa classe selvagem sem nome, suas mil raças consideradas “inferiores” que agora se afirmam, — é que conferiu as bases materiais para que algo como o evento Lula ou o lulismo, — o que de mais democrático e democratizante já aconteceu no Brasil, — pudesse existir. O governo Lula é uma peça de uma engrenagem maior, um processo mais amplo e profundo, político e antropológico, e cujo índice mais visível se situa na franja dos anos 1980, no contexto da fundação do Partido dos Trabalhadores. O ressentimento coagulado como antipetismo perde de vista que o evento Lula, com todas as limitações, contradições e paradoxos, foi exatamente o que não traiu a configuração de forças nas bases originais do PT. Traíram a composição de forças que mudou o Brasil nos últimos tempos aqueles que acreditam que a nova classe deva se filiar à moral deles mesmos, seguir suas referências, ouvir a sua ciência credenciada. Como se os pobres tivessem alguma dívida com a Esquerda, o Socialismo ou, suprema piada, o Planeta!
Não adianta tentar convencer com pedagogias. Muito menos tentar pilotar o monstro. Se o governo Lula pôde sobreviver aos piores ataques moralistas, e das piores crises do capitalismo de todos os tempos, foi porque governou junto com o monstro. A reaparição do mensalão e a crítica moralista sobre a “classe C” tentam a todo custo desacreditar essa memória de lutas e conquistas. Se tem algo a aprender hoje com o lulismo, é construir junto com o monstro, sem julgá-lo, sem tentar enquadrá-lo a velhos esquemas, construir por dentro, de seu estômago, de seu sexo, de sua rudeza pagã. O governo Lula aprendeu com o monstro. Agasalhou-o, amou e deixou-se amar por ele.

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Devo boa parte do conteúdo deste artigo às conversas com Hugo Albuquerque, Giuseppe Cocco e Homero Santiago.

sábado, setembro 15, 2012

Grande Dilma!!! Grande LULA!!! Tá na hora do porrete!!!



Dilma cancela ida e Mantega se retira de evento da Editora Abril
PRESIDENTE CANCELA, À ÚLTIMA HORA, ALMOÇO COM ROBERTO CIVITA; MINISTRO DA FAZENDA SE RETIRA, SEM PRÉVIO AVISO, DE MESA DE DEBATES COM O DONO DO GRUPO ABRIL: REPRESÁLIAS CONTRA CAPA DA REVISTA VEJA "OS SEGREDOS DE VALÉRIO"
15 de Setembro de 2012 às 11:14
Marco Damiani _247 - O constrangimento foi geral, a ponto de o presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, no melhor estilo dos jogadores de futebol que reprovam o técnico ao serem preteridos, sair do salão de eventos do hotel Unique, em São Paulo, na sexta-feira 15, meneando a cabeça. Pela manhã, por volta das 10h00, sob a elegante justificativa de não ter um membro de sua família para acompanhá-la, a presidente Dilma Rousseff cancelou compromisso pré-agendado com Civita para o almoço. Pouco mais tarde, durante o evento Maiores e Melhores, da revista Exame do mesmo Civita, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, levatou-se sem prévio aviso da mesa de debates da qual participava, ao lado do prêmio Nobel de Economia Paul Krugman e, outra vez, do próprio Civita, para se retirar em definitivo do recinto, diante de dezenas de empresários.
Os dois gestos foram imediatamente compreendidos como um protesto do governo pela matéria de capa da revista Veja Os Segredos de Valério, que iria circular no dia seguinte (este sábado 15). A informação do conteúdo em tudo agressivo contra o ex-presidente Lula e o PT circulou para o governo, que, com a batida em retirada, deu o tom de como serão, doravante, as relações institucionais com o Grupo Abril de Civita.
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/80600/Dilma-cancela-ida-e-Mantega-se-retira-de-evento-da-Editora-Abril.htm

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Advogado de Valerio nega entrevista à Veja

Por Filipe Rodrigues
Advogado de Marcos Valério diz que seu cliente não deu entrevista à Veja
Terra
O advogado do publicitário Marcos Valério negou que seu cliente tenha dado entrevista à revista Veja, em edição que circula neste fim de semana. Marcelo Leonardo, que defende Valério no julgamento do mensalão em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou ainda que seu cliente "não confirma" as informações divulgadas pela revista. "O Marcos Valério não dá entrevistas desde 2005 e confirmou para mim hoje que não deu entrevista para a Veja e também não confirma o conteúdo da matéria", disse o advogado. A revista alega que fez matéria baseada em depoimentos de amigos e familiares de Valério. O publicitário teria feito confissões às pessoas entrevistadas pela Veja. Segundo a publicação, Valério teria dito a familiares que teria medo de ser assassinado por saber tanto sobre o esquema. "Não sei de onde tiraram isso. Tem que perguntar para o jornalista que escreveu a matéria. O Marcos Valério não confirma essas informações", disse o advogado Marcelo Leonardo, que afirmou, ainda, não considerar necessário tomar providências contra a revista. "O próprio perfil da revista torna desnecessário tomar qualquer atitude. O STF, por seus ministros, tem dito que eles julgam de acordo com a prova existente nos autos e não decidem com base em matérias que saem na imprensa. Entendo que essa matéria, que não tem conteúdo relativo a entrevista porque ele não deu nenhuma entrevista, não vai repercutir em nada no julgamento", argumentou. De acordo com a matéria publicada pela Veja neste fim de semana, o publicitário deve revelar histórias que envolvem o ex-presidente Lula.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/advogado-de-valerio-nega-entrevista-a-veja

sexta-feira, setembro 14, 2012

Dez mil microconexões no nível do comportamento, da percepção, do desejo, da sensibilidade. A alucinação agora está molecularizada pela realidade. Indissociavelmente.


Cosmópolis, a servidão maquínica
Crítica de Cosmópolis (David Cronenberg, 2012). 

A limusine de Eric Packer não corre pelas ruas. Ela flui, sem pressa, acompanhada por seguranças e assessores. As conversas também fluem, quase maquinais, sem afeto. Nas telas no interior do carro, fluem tabelas, gráficos, curvas, estatísticas, correntes de cifras e índices desapaixonados. Sua limusine é microcosmo, para onde convergem os dutos de dinheiro. Espaço e tempo de um capital semovente, que não pode parar de fluir. As bolsas de valores passaram a funcionar 24 horas por dia. O mercado mundial está em toda parte. Todos estão incluídos na fluidez infinita do sistema. As próprias pessoas se dissolveram nos fluxos de valor. Elas não existem mais como unidades distintas. O capital se confunde com a textura da vida cotidiana.
Em Videodrome (1983), se perdia o contato com o real mediante sucessivos delírios “orgânicos”, provocados pela televisão. Em Filhos do medo (1979), a alucinação produzia efeitos psicossomáticos, capazes de gerar crianças monstruosas. Em Naked Lunch (1991), as máquinas tinham pele, carne, boca e ânus, e interagiam com os humanos. Em eXistenZ  (1999), eram instalados plugues, programas e implantes nos corpos dos personagens, e eles transitavam por múltiplas realidades virtuais. Em Cosmópolis, o tecnossurrealismo de Cronenberg atinge o ápice. O homem e as partes de seu organismo, o cérebro e os sonhos se tornaram peças de uma megamáquina. Os elementos maquínicos estão inteiramente incorporados ao humano e vice-versa, em comunicação interna mútua. Dez mil microconexões no nível do comportamento, da percepção, do desejo, da sensibilidade. A alucinação agora está molecularizada pela realidade. Indissociavelmente.
A maquinaria toda é operada como um elaborado videogame para gênios super-yuppies e supernerds, como Packer. Os elementos maquínicos de seu corpo estão perfeitamente ajustados à megamáquina. Ele é prolongamento, personificação, a realização plena de uma moral. Sem sair da limusine, com breves gestos e falas precisas, ele comanda o império. Eis a utopia do capital em pessoa. Ele é o pequeno deus, o mestre dos jogos, a combinação perfeita entre ego e ciência. Físico, roupas, óculos, gestos, charmoso, elegante, erótico, apenas 6% de gordura corporal: ele é perfeito. A esposa é perfeita. A limusine é perfeita, uma redoma esterilizada à prova de cheiros, ruídos, da mediocridade, do tumulto.
Mas a vida é mais. O capital não consegue controlar tudo. Os vampiros não podem sugar a vida inteira. O problema das bolhas é que mais dia menos dia elas estouram. São estouradas por pressão interna. Há muito mais acontecendo na China do que o iuã. Os fluxos afinal podem ser perturbados. Os esquemas, desarranjados. A festa confinada dos night clubs dá lugar à festa violenta dos protestos de rua. O regime laminar se torna turbulento. A turba de indignados resiste. O processo pára, o valor não se realiza, pop!, colapso do sistema.Cosmópolis é um filme sobre a crise. Não se passa em Nova Iorque por acaso. Enquanto as máquinas bárbaras proliferam fora do carro, ameaçadoras e violentas, Packer não pode fazer mais do que discutir teoria com uma assessora. É a sina do capital, a abstração impassível diante da revolução que bate à janela. Mosaico da decadência do capitalismo contemporâneo. Um road movie Occupy.
A utopia e a miséria, as imagens do sucesso e do fracasso se encontram no final. Nessa altura, a utopia se desfez junto das roupas, do cabelo, do casamento, da fortuna, do glamour. Num mundo em ruínas, Packer encontra Benno, seu gêmeo maligno, o avesso da utopia. Dois subprodutos do sistema, o capital realizado e o irrealizado, duas faces do mesmo trabalho morto e parasitário. Descartáveis. Benno deixou a imperfeição se exprimir. Comiserou-se. Percebeu as coisas. Packer é incapaz todavia de reconhecer a assimetria. Passou o filme tentando, mas não pôde ouvir sequer a própria próstata. Não compreendeu onde dormem as limusines. Como o capital, Packer fluiu pela cidade num caixão. Direto ao colapso derradeiro.

quinta-feira, setembro 13, 2012

AS LIÇÕES DA SOBERBA



Esta semana, mais de um milhão e meio de pessoas marcharam, no centro de Barcelona, na Espanha, para exigir a divisão do país e a independência total da Catalunha, a mais importante das Regiões Autônomas da Espanha.
Foi o “Dia da Catalunha”. Mas a verdade é que poucas são as grandes províncias espanholas que querem continuar unidas a uma nação que enfrenta o desemprego de 25%, o maior da Europa. Um em cada quatro de seus jovens, segundo informou ontem a OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico - não estavam estudando nem trabalhando em 2008, o primeiro ano da crise.
No Brasil boa parte da população, ajudada pela programação majoritariamente estrangeira de grande parte das emissoras de televisão, incluídas as de assinatura, e outros meios de comunicação, acostumou a ver tudo que vem do chamado “Primeiro Mundo” com um misto de subserviência e admiração.
Quando aqui aportaram bancos e empresas espanholas e portuguesas, nos anos 90, pouca gente percebeu que esses países - que nos mandaram milhões de emigrantes durante os séculos XIX e XX, porque não tinham condições de lhes assegurar pão e futuro - estavam apenas vivendo momentos artificiais de prosperidade.
Ninguém se lembrou de que, para entrar na Comunidade Econômica Européia, eles haviam recebido, durante anos, bilhões de euros de ajuda dos países mais ricos.
Ninguém percebeu que eles só tinham capital para comprar nossas empresas – privatizadas, em muitos casos, apesar de serem estratégicas – porque tomavam empréstimos para participar da farra da desnacionalização da nossa economia, a pouco mais de um ou 2% ao ano. Enquanto isso, os juros, aqui, para investimento em atividades produtivas, estavam nas alturas.
Enquanto poucos enriqueciam com o euro, muitos cidadãos espanhóis, enganados pelos meios de comunicação que alimentavam essa ilusão com entusiasmo, acreditavam que a Espanha seria a oitava potência do mundo durante o século XXI, e que seu país iria entrar para o G-7, quando hoje ele sequer faz parte do G-20, e o G-7 está se transformando, paulatinamente, em uma pantomima diplomática.
A Espanha hoje tem uma dívida total de mais de três trilhões de euros (entre governo central, províncias autônomas, empresas financeiras e não financeiras), mais de 165% de dívida externa (frente a cerca de 13% do Brasil). Sua dívida interna líquida é mais do dobro da nossa. Suas reservas internacionais são 30 bilhões de dólares, quando as nossas são de 375 bilhões de dólares. Somos o terceiro maior credor individual do Tesouro dos Estados Unidos, depois da China e do Japão. Com muito esforço estamos resistindo à globalização.
Não podemos fazer como a Espanha e Portugal, que expulsavam nossos cidadãos de seus aeroportos, e cair na tentação da soberba. Mas precisamos aprender a dar mais valor ao que somos e ao que fazemos, e parar de nos iludir com tudo o que vem do estrangeiro.

Postado por Mauro Santayana


Duas horas de apagão em cada dez. Um colosso. Seu custo: 2% do PIB, mais um salário mínimo per capita em impostos emergenciais cobrados dos brasileiros.


AS "LUZES" TUCANAS E O "APAGÃO" DO PLANEJAMENTO

Por Saul Leblon

“O setor de energia é, por definição, área indissociável do planejamento. Os projetos nesse setor são de longa maturação. Construir uma usina, obrigatoriamente, é algo a ser previsto anos antes; o calendário das obras obedece a estudos estratégicos de evolução da demanda. O planejamento é imperativo em se tratando do principal insumo da sociedade moderna. Sem a garantia desse, os demais perdem potência de uso.

Prescindir do planejamento estatal nessa tarefa é algo só cogitável em época em que a mentalidade pública foi esfericamente colonizada pelo espírito imediatista dos ditos “mercados autossuficientes”. Aqueles que, livres da mão pesada do 'intervencionismo', 'alocariamos investimentos da forma mais eficiente, ao menor custo'.

Um dia, em meados de maio de 2001, esse conto de fadas midiático ortodoxo trombou com o lobo mau, pasme, da escassez de eletricidade num país que tem uma das maiores redes fluviais do mundo: era o “apagão”. A diferença entre a oferta e a demanda sinalizava déficit de robustos 20%. Duas horas de apagão em cada dez. Um colosso.

Curioso, ninguém desconfiara antes? Não. O conluio entre as “privatizações” e a “ganância dos acionistas privados”, cuja lógica consiste em sobrepor os dividendos aos investimentos, indicava céu de brigadeiro. Não foi uma falha, mas o resultado de uma convicção.

Ainda hoje, a alegada “falta de chuva” é a humilhante explicação dos protagonistas desse 'cochilo' do século operado por um governante “brasileiro” [?].

Hidrelétricas, como se aprende nos bancos escolares, dispõem de reservatórios justamente para estocar água. Uma forma planejada de assegurar a geração das turbinas quando as chuvas escasseiam.

O colosso tucano que hoje borrifa iluminismo contra os obscurantistas estatizantes contratara uma escuridão estrutural em pleno século XXI. Seu custo: 2% do PIB, mais um salário mínimo per capita em impostos emergenciais cobrados dos brasileiros. 

O desemprego em São Paulo, em abril do ano seguinte, bateu em 20,4% - no auge da Depressão nos EUA, em 1937, chegou a 27%. O 'apagão' vitaminou uma economia já desidratada pela ortodoxia monetária e escalpelada pela fuga de capitais.

Hoje, ainda, muita gente se espanta que o saldo líquido de vagas criadas no ciclo tucano tenha sido inferior a 800 mil. Cinco milhões de empregos criados no período, mas devastados por barrigadas desse tipo. Nos oito anos de Lula, a contrário, 15 milhões de empregos foram gerados: o saldo final foi superior a 11 milhões de vagas.

O iluminismo colonizado pelos mercados revelou-se puro obscurantismo conservador.

Quem se jactava de haver 'enterrado a era Vargas', desprezou também o exemplo de Roosevelt. Com ele, a ferramenta da racionalidade mais óbvia para enfrentar as incertezas intrínsecas aos mercados e à natureza: o planejamento público da economia. De novo aqui, o oposto do que fizeram Lula e Dilma a partir de crise de 2008.

Nesse “11 de setembro” de trágicas efemérides, a Presidenta Dilma Rousseff trouxe à memória nacional mais esse episódio para relativizar a soberba daqueles que uma década depois continuam a aspergir “lições de ética e finanças” [!], a partir de uma experiência histórica falida. A mídia esqueceu , mas quando estourou o 'apagão, em maio de 2001, o governo FHC vivia às voltas com uma CPI focada nas entranhas do Palácio e da base aliada.

Dilma contrapôs ao corte de 20% de energia elétrica, produzido nesse intercurso do “mercadismo”, com as 'luzes', um corte médio de 20% nos preços das tarifas a partir de janeiro de 2013.

A redução deve funcionar como importante impulso de competitividade para a indústria brasileira, uma das poucas no mundo abastecida predominantemente por energia limpa proveniente dos rios.

Dilma, que é especialista na área, deflagrou também um pente fino nas empresas do setor de energia. Em bom português: acabou a mamata herdada da privatização tucana. A partir de agora, elas serão obrigadas a reduzir suas tarifas na proporção dos investimentos já amortizados. Se já foram amortizados, não podem onerar os preços. O desconto já anunciado pode ficar maior.

Sem esconder certa ponta de orgulho, a Presidenta observou: "Tivemos que reconstruir esse setor".

A reconstrução inclui um “Plano Decenal” que prevê 71 novas usinas até 2017, com potencial de geração de 29.000 MW (o equivalente a duas Itaipu).

O hiato de planejamento público de três décadas sem grandes obras passa por bem-vindo “aggiornamento”. Trata-se de incorporar, à engenharia brasileira de grandes estruturas - que sempre foi uma referência entre os países em desenvolvimento -, a mitigação de impactos sociais e ambientais das hidrelétricas. Algo perfeitamente possível do ponto de vista técnico e econômico.

Existem 140 usinas hidrelétricas hoje; são responsáveis por 84% da energia elétrica consumida no Brasil.

Em todo o planeta, a fonte de eletricidade mais usada é o carvão mineral (40%), maior emissor de CO2. Mais de 65% da geração de eletricidade mundial provém de fontes fósseis (carvão mineral, gás natural e diesel) de alta emissão de CO2. O uso de fontes renováveis e de baixa emissão não ultrapassa 13% na média mundial; limita-se a 7% nos países ricos. No Brasil, é de 47%, sendo a hidroeletricidade a grande responsável por esse trunfo.

Impedir o sucateamento desse patrimônio representa, em si, ganho ambiental inestimável. Hoje, talvez,, ele estivesse comprometido se a lógica vigente nos anos 90 ainda comandasse o Estado brasileiro.”

FONTE: escrito por Saul Leblon no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1088).

terça-feira, setembro 11, 2012

"Não acredite em combustão espontânea"


Nada queima por acaso nas favelas paulistanas


Estudo estatístico mostra notável coincidência entre os incêndios e… as áreas de  interesses do mercado imobiliário
 
Por João Finazzi, no PET RI-PUC
[Título original:"Não acredite em combustão espontânea"]
Segundo a física, propelente ou propulsante é um material que pode ser usado para mover um objeto aplicando uma força, podendo ou não envolver uma reação química, como a combustão.
De acordo com o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, até o dia 3 de setembro de 2012, houve 32 incêndios em favelas do estado – cinco somente nas últimas semanas. O último, no dia 3, na Favela do Piolho (ou Sônia Ribeiro) resultou na destruição das casas de 285 famílias, somando um total de 1.140 pessoas desabrigadas por conta dos incêndios em favelas.
O evento não é novo: em quatro anos foram registradas 540 ocorrências. Entretanto, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada em abril deste ano para investigar os incêndios segue parada, desrespeitando todos os trabalhadores brasileiros que tiveram suas moradias engolidas pelo fogo.
Juntamente com o alto número de incêndios, segue-se a suspeita: foram coincidências?
O Município de São Paulo apresenta 1565 favelas ao longo de seu território, distribuídas, majoritariamente na região Sul, Leste e Norte. Os distritos que possuem o maior número de favelas são: Capão Redondo (5,94% ou 93), Jardim Angela (5,43% ou 85), Campo Limpo (5,05% ou 79), Grajaú (4,66% ou 73). O que significa que 21,08% de todas as favelas de São Paulo estão nessas áreas.
Somando as últimas 9 ocorrências de incêndios em favelas (São Miguel, Alba, Buraco Quente, Piolho, Paraisópolis, Vila Prudente, Humaitá, Areão e Presidente Wilson), chega-se ao fato de que elas aconteceram em regiões que concentram apenas 7,28% das favelas da cidade.
Em uma área em que se encontram 114 favelas de São Paulo, houve 9 incêndios em menos de um ano, enquanto que em uma área em que se encontram 330 favelas não houve nenhum. Algo muito peculiar deve acontecer com a minoria das favelas, pois apresentam mais incêndios que a vasta maioria. Ao menos que o clima seja mais seco nessas regiões e que os habitantes dessas comunidades tenham um espírito mais incendiário que os das outras, a coincidência simplesmente não é aceitável.
Àqueles que ainda se apegam às inconsistências do destino, vamos a mais alguns fatos.
A Favela São Miguel, que leva o nome do bairro, divide sua região com apenas outras 5 favelas, representando todas apenas 0,38% das favelas de São Paulo. Desse modo, a possível existência de um incêndio por ali, em comparação com todas as outras favelas da cidade é extremamente baixa. Porém, ao pensar somente de modo abstrato, estatístico, nos esquecemos do fator principal: a realidade. O bairro de São Miguel é vizinho do bairro Ermelino Matarazzo, o qual, de acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), teve a maior valorização imobiliária na cidade de São Paulo entre 2009 e novembro de 2011, 213,9%. Lá, o preço do metro quadrado triplicou – mas não aumentou tanto quanto a possibilidade real de um incêndio em favelas por ali.
As favelas Alba e Buraco Negro também estão na rota do mercado imobiliário. Dividindo o bairro do Jabaquara com o restante dos imóveis, a favela inviabiliza um maior investimento do mercado na região, que se valorizou em 128,40%. Mas nada como um incêndio para melhorar as oportunidades dos investidores.
Todas as 9 favelas citadas estão em regiões de valorização imobiliária: Piolho (Campo Belo, 113%), Comunidade Vila Prudente (ao lado do Sacomã, 149%) e Presidente Wilson (a única favela do Cambuci, 117%). Sem contar com Humaitá e Areião (situadas na Marginal Pinheiros) e a já conhecida Paraisópolis.
Soma-se a tudo isso, o fato de que as favelas em que não houve incêndios (que são a vasta maioria), estão situadas em regiões de desvalorização, como o Grajaú (-25,7%) e Cidade Dutra (-9%). Cai, juntamente com o preço dos terrenos, a chance de um incêndio “acidental”.
Pensar em coincidência em uma situação dessa é querer fechar os olhos para o mundo. Resta aos moradores das comunidades resistirem contra as forças do mercado imobiliário, pois quem brinca com fogo acaba por se queimar. Enquanto isso, como disse Leonardo Sakamoto, “…favelas que viram cinzas são um incenso queimando em nome do progresso e do futuro.”
Leia também:
  1. A limpeza pelo fogo nas favelas de São Paulo
  2. O páreo duro das eleições paulistanas
  3. Um sacerdote nas barricadas
  4. Nas praças, um programa
  5. Hora de pensar nas bicicletas
  6. Possível reviravolta nas perspectivas do petróleo
  7. Fora da mídia, mas forte nas ruas
  8. Um terço da Líbia nas mãos dos rebeldes
  9. O craque dos pés no chão e cabeça nas nuvens
  10. Por um novo horizonte feminista