terça-feira, maio 31, 2011

A foto de Collor e a máscara da mídia



Por Altamiro Borges

A decisão do presidente do Senado, José Sarney, de retirar as fotos do impeachment de Fernando Collor do “túnel do tempo”, o corredor no Congresso Nacional que resume a história do Brasil em textos e imagens, está gerando uma baita gritaria da mídia. A crítica até é justa.

Afinal, pela primeira vez o povo na rua, em memoráveis manifestações, derrubou um presidente corrupto e adepto do desmonte neoliberal. Nada justifica que este fato histórico fique de fora do “túnel do tempo” – a não ser o compadrio e o "cretinismo parlamentar".

Os criadores do "caçador de marajás"

Mas, também neste canhestro episódio, fica patente a hipocrisia da mídia. Afinal, foi ela quem fabricou a imagem do “caçador de marajás”, pavimentando a vitória de Collor na polarizada eleição de 1989. Primeiro na revista Veja, depois nos jornalões e na sequência, massivamente, nas emissoras de televisão, produziu-se uma brutal manipulação para evitar a vitória de Lula.

O “túnel de tempo” deveria, inclusive, incluir fotos das capas destas publicações e vídeos do período para ajudar a desmascarar o sinistro papel da mídia na história recente do país. Um vídeo indispensável seria o do famoso debate televisivo entre Collor e Lula, descaradamente manipulado pela TV Globo na reta final da eleição para beneficiar o dono da afiliada desta empresa em Alagoas.

Não há ingênuos na imprensa

A gritaria da mídia contra a retirada das fotos do impeachment não é ingênua. Visa insinuar que o Brasil, agora sob o comando de Dilma Rousseff, é conivente com a corrupção. Eliane Cantanhêde, articulista da Folha que tem “afetivas relações” com os caciques tucanos, não esconde este intento. No texto “Caem a foto e a máscara”, ela aproveita o episódio para atacar o atual governo.

“O Brasil reescreve a história, apaga vestígios de moralismo, recria pessoas e maquia ou apaga fotos ao velho jeitão stalinista... Impera o que mais se temia desde a redemocratização: a sensação de que são todos iguais”, alfineta a “calunista”, que deixou de citar que seu amigo FHC quase virou ministro de Collor e que a direita atual deu sustentação ao “caçador dos marajás”.

Falso ceticismo da calunista

Ao final, a marota Cantanhêde afirma que, na luta pelo impeachment de Collor, “nós, os jornalistas, caímos no conto da ética; e os cara-pintadas eram só massa de manobra. Nada disse se repetirá. Os novos Collor podem ficar sossegados”. Posando de cética, ela só falta propor um novo movimento de rua pelo impeachment de Dilma Rousseff, já que todos os “governos parecem iguais”.

“Com Dilma, como foi com Collor, a (o) presidente não tem traquejo político e parece engolida (o) pelos aliados, antes que pelos adversários. Com Dilma, como foi com Sarney, tudo corre solto e a (o) presidente parece à sombra de quem de fato manda”. Em síntese, o canhestro episódio da foto de Collor revela como muitos, principalmente na mídia, temem a história e manipulam os fatos históricos.

http://altamiroborges.blogspot.com/2011/05/foto-de-collor-e-mascara-da-midia.html

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http://www.conversaafiada.com.br/antigo/?p=29273



A LAMBANÇA COROADA DE NATALINO SALGADO... Onde estão todos? Tem alguém aí???






É tudo verdade, já mostramos aqui na lista e no http://grupobeatrice.blogspot.com/2011/04/universidade-federal-do-maranhao-virou.html
Mas a pergunta que não quer calar É: onde estão os alunos, funcionários e professores da UFMA? Cadê essa gente que não faz NADA?
Não precisa esperar a eleição para mudar a situação, até porque no esquema clientelista apontado no texto do professor Flávio Reis, o tal Natalino deve levar com sobras.
E o PT do MA, que deveria fiscalizar a aplicação dos recursos federais? Já fizeram alguma denúncia para o MEC?
Onde estão todos? Tem alguém aí???
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A LAMBANÇA COROADA DE NATALINO SALGADO
Flávio Reis
Professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA

Natalino Salgado assumiu a reitoria da UFMA em 2007, após dez anos à frente do Hospital Universitário, que expandiu e ao mesmo tempo enredou numa série de práticas clientelistas. Logo no início de sua gestão, pressionado pelo MEC e com atraso em relação à maioria das outras universidades federais, impôs a aceitação das regras do projeto de expansão do governo federal (Reuni) sem maiores discussões.
E se assim começou, assim continuou. Era preciso não perder o bonde das verbas e promover as melhorias de que a universidade necessitava. Na verdade, estava dado o sinal para a sucessão de trapalhadas que culminaria numa reportagem do Jornal da Globo exibida nesta semana, integrando uma série especial sobre o ensino superior no país e cujo tema eram exemplos de abandono de instalações.
A cena é impagável, o repórter Rodrigo Alvarez está diante do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica (LTF), completamente abandonado, devidamente fechado e não podendo ser aberto à reportagem senão com a autorização do reitor. Contactado pelo celular, ele responde de forma quase inaudível que não acha necessário autorizar a entrada, agradece e desliga o telefone com o repórter ainda na linha. Este se dirige em seguida ao prédio da faculdade de Fármácia, no centro da cidade, prédio tombado que está caindo aos pedaços (a exemplo de outro, mais exuberante e importante, onde funcionava o departamento de assuntos culturais) e vai ao Laboratório de Bioquímica Clínica, que encontra desativado.
Instada a explicar a situação, a chefe do departamento fala que são sete laboratórios com um orçamento anual de R$ 10 mil! Ao final, vemos a palavra do reitor Natalino Salgado, o homem que, na intuição certeira do repórter, detém as chaves da Universidade Federal do Maranhão. Diz exatamente tratar-se de um prédio abandonado há quinze anos, com equipamentos enferrujados e que não havia necessidade de filmar nada lá, principalmente quando existiriam tantos “projetos estruturantes” nesta universidade que estava passando por “grandes transformações”.
Perguntado se não achava que a falta dos laboratórios prejudicava a formação dos alunos, saiu com esta pérola: “eu não tenho nenhum estudo para avaliar as atividades dos nossos alunos depois de formados”. É de espantar, pois estamos falando de laboratórios para cursos de farmácia e bioquímica... poderiam não ser essenciais? E o reitor Natalino Salgado é médico, goza de bom conceito como urologista. A explicação para tal disparate parece estar no seu tão propalado “modelo de gestão”.
Natalino Salgado não deixou passar oportunidade de angariar recursos através da aceitação sem controle dos programas de expansão do MEC, prometendo dobrar o número de alunos da UFMA num prazo muito curto. Tratando das reformas patrimoniais, centralizou as importantes decisões da esfera acadêmica na Pró-Reitoria de Ensino, que passou a distribuir determinações, muitas vezes por cima de suas atribuições estatutárias, lá colocando um professor alheio aos quadros desta ou de outra universidade, no melhor estilo “cargo de confiança”.
Paralelamente foram se esvaziando os conselhos universitários, de maneira que decisões de suma importância como a definição dos horários e do planejamento acadêmico quase foram alterados drasticamente de uma canetada, este último implicando em grande perda para as atividades de pesquisa.
Já vimos este filme inúmeras vezes, um círculo restrito de professores burocratas transforma tudo em números e gráficos, trata a universidade como se fosse uma coisa só, desconhece seus problemas e nem quer ouvir as unidades, acha que tem um modelo ideal, que, no caso, é apenas tentar se ajustar de qualquer forma às metas acordadas com o MEC.
Nestes anos, tornou-se visível que muitas verbas apareceram. Os recursos captados vão a mais de 200 milhões. Sem saber de detalhes dos números, os olhos não param de perguntar como eles foram utilizados, quando vemos várias obras interminadas, algumas se arrastando há dois anos e outras claramente escandalosas, compreensíveis apenas dentro de uma visão da instituição como empresa, onde, como diz o velho ditado, a propaganda é a alma do negócio.
No final de 2008, ano em que os recursos do Reuni começaram a chegar, estava na abertura do Encontro Humanístico, naquela ocasião com a presença do professor Paulo Arantes, quando ouvimos estupefatos o magnífico reitor anunciar em seu discurso uma reforma dos banheiros do CCH, para aplauso da galera. Parecia um político em palanque de interior anunciando obras. Aquela cena dizia muito sobre o estilo em questão. A tal reforma atravessaria mais de um ano em execução e este seria o padrão comum. Elenco apenas aquelas com que deparo no cotidiano: a construção de um prédio pequeno destinado à pós-graduação das ciências humanas se arrastou durante anos; a reforma de banheiros do CCSo, já entrando no terceiro semestre; a incrível obra de antiengenharia que é a construção das rampas de acessibilidade no mesmo prédio, que também já está pelo terceiro semestre, e torna o prédio ainda mais quente quando talvez fosse mais barato instalar um elevador exclusivamente para este fim; a obra do pórtico de entrada, licitada no valor de 400 e poucos mil para entrega em três meses, já estando com pelo menos o dobro, além de todo o plano viário, pois parece que saíram arrebentando tudo ao mesmo tempo sem nenhum planejamento.
Algo de importância óbvia para o funcionamento diário de uma instituição onde se movimentam milhares de pessoas é tratado com um simples “desculpem os transtornos” e pelo visto vai atravessar o semestre. O prédio Paulo Freire, foi “inaugurado”, com festa e presença do ministro, mas ainda está daquele jeito. Prédio que, diga-se, é a expressão da devastação ambiental promovida sem pena pela Prefeitura de Campus nestes anos.
É coisa feita sem nenhuma perspectiva ambiental mais ampla, e que só fica bem mesmo nas imagens caprichadas das maquetes. O centro de convenções, a TV universitária, a concha acústica, a nova biblioteca central, a biblioteca setorial do CCH, o auditório central, a fábrica Santa Amélia, todas são obras que caminham muito fora dos prazos. Longe de ser um bom administrador, Natalino Salgado parece ser um mau gerenciador de recursos.
A gastança, promovida principalmente através da Fundação Josué Montelo, com certeza não resiste a uma auditoria. Atento ao que interessa nestes tempos de propaganda e espetáculo, o reitor tratou logo de ampliar a assessoria de comunicação da universidade, a ASCOM, transformando-a em autêntica agência de publicidade de sua gestão. E passamos a receber um jornal com vinte páginas, de que ele se orgulha da tiragem aos milhares, cheio de matérias falando de maravilhas, projetos em andamento e do mundo novo a vir, repleto também de fotos do reitor em setores e ocasiões diferentes.
Existia ali clara obsessão com a construção de uma imagem de inovação e empreendedorismo. Recebemos mesmo um kit com dvd mostrando a Ufma como verdadeira potência rumo à excelência, um delírio só. Nos números, jogados em comparações soltas, parece interessante, mas na realidade cotidiana é outra coisa. Aí as instalações são inadequadas, os professores insuficientes, a biblioteca é muito ruim, as salas de aula quentes e desconfortáveis, as salas de projeção foram desativadas, laboratórios sucateados ou fechados, os terminais de computadores seguem insuficientes, não há espaços de convívio, tudo continua feio e destruído.
Exemplos de compras mal feitas e desperdício existem aos montes, mas vou ficar com as centenas de bebedouros recentemente adquiridos com a voltagem imprópria. Academicamente, a expansão à toque de caixa vem criando problemas e gargalos nos cursos, muitas vezes surpreendidos com decisões tomadas à revelia dos colegiados pela poderosa Proen, tendo que operar malabarismos, já cada vez mais difíceis de disfarçar, quando o número de disciplinas sem oferta aumenta e logo vai estourar. No departamento de sociologia e antropologia, por exemplo, que atende a toda universidade, foram cerca de trinta disciplinas sem condições de oferta no semestre em curso.
Em dois ou três semestres a situação ficará insustentável. Os Centros continuaram anêmicos e quase sem função, como quer a reitoria e parecem concordar os respectivos diretores, que agem como se não tivessem sido eleitos e sim nomeados pelo reitor. Concordam com tudo e mais alguma coisa, não articulam os cursos e vão apenas tocando o expediente.
A investida final é sobre os departamentos, que perderão qualquer autonomia na definição de suas atividades, ou deixarão mesmo de existir, o que já está em vias de ser sacramentado. A expansão da pós-graduação, por sua vez, é feita aos trancos, sem acomodações, com estrutura improvisada e, principalmente, de forma muito isolada, é cada qual por si. Em vez de tentar modificar nossas arcaicas instâncias de decisões no sentido de abrir para a própria comunidade a gestão da universidade, tomou-se decididamente o rumo inverso de concentrar decisões, esvaziar colegiados, uniformizar procedimentos, desconhecendo a realidade efetiva dos diferentes centros. Neste sentido, o “novo marco legal” de que falam desenha uma centralização ainda maior e totalmente contrária aos requisitos de diversificação, autonomia e participação, tornadas apenas palavras constantes nos outdoors.
Por fim, para deixar claro que não convive bem com crítica e opiniões incômodas, o reitor tratou de cooptar o Diretório Central dos Estudantes, com pleno êxito, sendo triste ver um antigo espaço de lutas servindo de agência da reitoria, e chegou a articular uma chapa para tomar a diretoria da Associação de Professores, quase obtendo sucesso na empreitada. Foi por inciativa desta última, aliás, através de ação junto ao ministério público, que finalmente tivemos no início deste semestre as eleições para diretores de centro e chefes de departamento, adiadas sem justificativa há quase um ano. Agiu de forma contrária, célere, quanto à consulta para reitor, processo atropelado com prazo exíguo para registro de candidaturas e poucos dias para campanha. Acima de tudo, era preciso impedir qualquer discussão. Assim, Natalino Salgado seguia em céu de brigadeiro, atropelando tudo, distribuindo em mala direta um luxuoso folder de sua candidatura, papel couche com várias fotos (tudo do que ainda será...) e gráficos, com a propaganda da “gestão de qualidade comprovada”, até a citada reportagem que o pegou no contrapé.
Enquanto se propõe a gastar meio milhão num pórtico de entrada, construir um centro de convenções com auditório de quatro mil lugares e outras prioridades, a reitoria deixa laboratórios e bibliotecas, departamentos e centros à mingua. Se o repórter fosse olhar as tais obras estruturantes encontraria a situação descrita de várias obras inconclusas e sempre com poucos trabalhadores à vista. Tudo fruto de uma forma de gestão que é a própria irracionalidade administrativa. Tal como os políticos, o reitor gosta de atender a pedidos, não trabalha com descentralização de decisões e de recursos, agindo efetivamente como “o homem que detém as chaves da UFMA”.
Duas candidaturas oposicionistas se apresentaram contra essa situação. A professora Cláudia Durans, do departamento de Serviço Social, e a professora Sirliane, do departamento de Enfermagem. O nome da professora Sirliane foi uma surpresa agradável, pelo acerto das bandeiras de campanha Gestão Pública, Democrática e Transparente, exatamente tudo o que Natalino Salgado não faz, e por sinalizar novamente, apesar do tempo exíguo e da articulação menor, algo que a candidatura do professor Chico Gonçalves há quatro anos trouxe, a esperança de que os professores, alunos e funcionários desta universidade percebam um dia que podem caminhar fora da canga imposta por círculos que vivem anos a fio trancados nas esferas da administração superior e pouco sabem do dia a dia da universidade, das pessoas que a compõem, de suas dificuldades e necessidades. Esses senhores de casaca vivem vendendo o faz-de-conta e para isto precisam mesmo de muita propaganda, entretanto, chega uma hora que algo de revelador escapa e a realidade fura o engodo publicitário. Foi o que aconteceu no caso dos laboratórios do curso de farmácia na reportagem do Jornal da Globo, que, num lance, pôs a nu a real qualidade da gestão do reitor Natalino Salgado.

Prontuário médico de Dilma foi vazado no Hospital Sírio-Libanês

por Conceição Lemes
Na última quinta-feira, 26 de abril, recebi um e-mail de Gerson Carneiro, leitor do Viomundo, com o assuntoAves de mau agouro. Perguntava se eu tinha alguma notícia sobre o estado de saúde da presidenta Dilma Rousseff.
Nascido em Irecê, sertão da Bahia, criado em Senhor do Bonfim e morando em Salvador desde a adolescência, Gerson é muito brincalhão. Seu perfil no twitter diz tudo: No meu velório não quero ouvir nenhum choro; quero ouvir muitas piadas. Se você é chorão(ona) e/ou não sabe contar piadas, favor não ir.
Mas ele estava preocupadíssimo. Dois amigos disseram-lhe que Dilma estava gravemente enferma. Os detalhes me fizeram relembrar a sordidez das mentiras espalhadas durante as eleições de 2010.
“Não acho que seja verdade”, respondi-lhe. “São os urubus de plantão, mas vou checar.”
Liguei para o deputado federal paulista Paulo Teixeira, líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, que, por coincidência, havia estado com a presidenta no dia anterior.
“A Dilma teve pneumonia nos dois pulmões, mas já sarou. Inicialmente achou que era apenas gripe, não deu muita atenção. Só que a situação complicou”, conta a esta repórter o que ouviu da presidenta. “Se tivesse alguma doença grave, a Dilma seria a primeira a falar. Lembra-se da transparência no trato do linfoma, em 2009?”
No sábado, porém, “ao visitar” o Tijolaço, a casa digital do deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ), descobri uma das possíveis origens dos boatos que circularam pela internet na semana passada. Encarnando o próprio o urubu da semana, a revista Época chegou às bancas com a ficha médica completa da presidenta. No caminho da Dilma há sempre uma ficha! Assinam a reportagem: Cristiane Segatto, Isabel Clemente e Leandro Loyola. Atente bem à foto e à chamada de capa.

A Época quer matar a Dilma”, denunciou Brizola Neto já no título do seu artigo do sábado. “Essa é a ‘ética’ dos nossos grandes meios de comunicação. Não precisam de fatos, basta construírem versões, erguendo grandes mentiras sobre minúsculas verdades. Esses é que pretendem ser os ‘ fiscais do poder’. Que imundície!”
Realmente, a foto da capa (Dilma com os olhos fechados como se estivesse morta, num caixão) combinada à chamada (seu estado ainda exige cuidados) induzem, de pronto, a se temer o pior: o câncer voltou. Fim de linha. Mas depois lendo, felizmente, não é nada disso.
O relatório médico, feito pela equipe do Sírio-Libanês que cuida de Dilma e tornado público pela Presidência em resposta à reportagem de Época, é enfático: “ótimo estado de saúde”.
A Época, porém, elenca uma porção de problemas, fazendo passar a ideia de que Dilma seria um poço de doenças. Só que do ponto de vista estritamente de saúde a reportagem não disse a que veio, é uma não-matéria. Um equívoco.
Explico. No passado, saúde era sinônimo de ausência de doença. Porém, com a crescente longevidade da população essa noção foi derrubada. Visões mais amplas a substituíram. A mais clássica é a da Organização Mundial de Saúde (OMS): saúde é o bem-estar físico, psíquico e social.
Logo, ter saúde não depende simplesmente da presença ou da inexistência de doenças. É normal ter algumas delas com o avançar da idade. Em geral, parte-se – atenção! – de uma a duas, na faixa dos 20 a 30 anos, para cinco ou seis, aos 80 ou 90.
Em outras palavras: pode-se estar na faixa dos 60 anos, como a presidenta, ter diversas doenças, mantê-las sob controle e ser saudável. Em compensação, um jovem – em tese, saudável – pode ser doente. É o caso daquele que atravessa dez faróis vermelhos seguidos; ele pode não estar bem mentalmente e, por isso, talvez morra ou mate alguém.
E a lista de 28 remédios, os mal-estares e os resultados de exames?
Qual a novidade? Nenhuma. Deu até vontade de rir, pois a Época se levou a sério. Esqueceu-se do básico: Dilma é ser humano, em carne e osso, como qualquer um de nós. Ponto. Tem dor de barriga, de cabeça, nas costas, tosse, espirra, chora, ri, sofre, fica triste, alegre. A Presidência da República não imuniza ninguém.
Aliás, para fazer a malfadada reportagem, Época não precisava recorrer a métodos não ortodoxos para saber que a glicemia subiu quando Dilma teve pneumonia e parou com o remédio para diabetes. Mesmo que não tivesse diabetes, a glicemia dela teria subido. Normalmente infecções aumentam as taxas de “açúcar” no sangue.
E as dores no estômago, náuseas e aftas? Quem já tomou antibióticos sabe que esses efeitos adversos podem ocorrer. E para aliviar as aftas, por exemplo, a gente usa o que tem à mão na hora, inclusive bicarbonato de sódio. Eu garanto: funciona.
“Mas e a tiroidite de Hashimoto?”, alguns talvez questionem. “A presidenta tem hipotiroidismo!.”
Ela e mais cerca de 3 milhões de brasileiros, e a tiroidite de Hashimoto é a causa principal. Trata-se de uma doença auto-imune que acomete mais o sexo feminino — principalmente após os 40 anos: o sistema imunológico não reconhece a tiroide como parte do corpo e a ataca, inflamando-a ou destruindo-a progressivamente. O tratamento consiste em tomar diariamente comprimidos de levotiroxina.
Então por que publicar tal matéria se Dilma sempre foi tão transparente em relação aos seus diagnósticos e tratamentos e nunca impediu os seus médicos de passar informação à mídia sobre a sua saúde? Será que esperavam encontrar uma bomba e como acharam apenas traques, tocaram assim mesmo? Por que levaram adiante dando ares fúnebres, para males comuns na população e que podem ser perfeitamente controlados hoje em dia, mantendo a pessoa saudável?
Considerando que do ponto de vista de saúde a matéria não beneficia o leitor, só tenho estas explicações. Má fé. Mau jornalismo. O objetivo é claramente político. Fragilizar a presidenta. Jogá-la na corda. Machucá-la.
Esse é um lado dessa sujeira, que só pode se materializar porque houve o vazamento do prontuário da paciente Dilma Rousseff, via Hospital Sírio-Libanês. Um sem a cumplicidade do outro não teria sido possível a reportagem. Não sei como nem quem passou as informações. Se foi por São Paulo, onde fica a sede daÉpoca e do hospital. Ou se via Brasília, onde a revista tem sucursal e o Sírio-Libanês, uma unidade. Em quase 30 anos como repórter na área de saúde, nunca tinha visto um vazamento de prontuário tão rico em detalhes. Não foi uma mera dica, passada em conversa ligeira de corredor ou de telefone. Mas a ficha completa com todos os exames feitos, dias, horários, resultados, remédios envolvidos.
No domingo, pela manhã, liguei para a assessoria de imprensa do Sírio-Libanês e perguntei o que o hospital tinha a dizer sobre o vazamento do prontuário da ilustre paciente. Resposta repetida várias vezes:
O hospital não vazou nada, o hospital não divulgou nada, as informações foram passadas à presidência da República. É a informação que estamos dando aos jornalistas que estão nos ligando.
Não convencida, mesmo sendo domingo, liguei de novo à tarde. A resposta foi semelhante. Mandei ainda, às 16h, e-mail com cópia para três membros da equipe da assessoria de imprensa, questionando o vazamento do prontuário médico da presidenta. Até agora, quase 27 horas depois, não recebi a resposta.
O fato é que fora a via judicial, que não é o caso, legalmente só podem ter acesso à ficha médica completa de Dilma ela própria, seu representante legal, os seus médicos e equipe e o Sírio-Libanês, já que o prontuário fica sob a guarda do hospital.
Dilma, obviamente, não passaria as informações com tantos dados técnicos. Vale lembrar que, atendendo à solicitação de Época, ela enviou à revista um relatório sobre o seu estado de saúde feito pelos médicos do Sírio-Libanês. A revista utilizou a frase “ótimo estado de saúde” e ignorou o restante. Depois, em resposta à reportagem de Época, a Presidência tornou público o relatório encaminhado anteriormente à revista (está no mesmo post do Brizola Neto, logo abaixo do seu artigo).
Acredito que os médicos que assistem Dilma no Sírio-Libanês também não vazariam o prontuário. As equipes que cuidam da presidenta são coordenadas por Roberto Kalil Filho, Paulo Hoff, Yana Novis, David Uip, Raul Cutait, Carlos Carvalho, Milberto Scaff e Julio Cesar Marino.
Suponho que não fariam isso ainda os doutores Antonio Carlos Onofre de Lira e Paulo Ayrosa Galvão, respectivamente, diretor-técnico e diretor-clínico do Sírio Libanês.
Sobra o hospital enquanto instituição, afinal o prontuário médico fica sob sua guarda e não saiu voando para os braços da Época. Alguém o acessou e passou para Época. Informação é moeda de troca. O “serviço” pode ter sido feito até por um médico para cair nas graças do jornalista e, depois, no futuro, ser recompensado com espaço na publicação. Nesses anos cobrindo saúde já ouvi quase tudo. Desde médico relatando a colegas a doença x ou y de paciente famoso às supostas puladas de cerca do dito cujo.
“Na verdade, o sistema de proteção aos dados dos pacientes nos grandes hospitais e laboratórios ainda é muito frágil”, alerta o pediatra Marcelo Silber, médico credenciado do Sírio-Libanês e do Albert Einstein, em São Paulo. “Com a minha senha de médico, posso acessar a ficha completa de qualquer paciente, famoso ou não. Logo, alguém de má fé pode fazê-lo e passá-lo adiante, conforme o seu interesse. Por exemplo, imprensa, convênios, seguro-saúde.”
Está escrito no Código de Ética Médica, do Conselho Federal de Medicina:
É vedado ao médico revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente.
Ou seja, alguém se prestou a fazer o serviço sujo no caso de Dilma. Se foi médico ou outro membro da equipe do hospital – enfermeira, nutricionista, psicólogo, secretária, técnico em informática ou seja lá quem for –, diria aos colegas de Época que esse profissional não é digno de confiança. Se foi um médico, abram olho. Médico bom não é só técnico competente; tem que ser eticamente humano.
A quebra de confidencialidade das informações de qualquer paciente é algo muito grave. Diria criminoso. Dilma foi enganada. Traída. Teve as suas informações de saúde violadas. Espero que o Hospital Sírio-Libanês descubra como, quando, onde e quem acessou indevidamente o seu prontuário e passou adiante. Também se houve um mandante. Não por ser a presidenta, mas porque todo paciente merece respeito e solidariedade. Na semana passada a vítima foi a Dilma, na próxima, pode ser você, o Azenha, eu.
O nosso compromisso de jornalistas é com a informação ética. O do médico é única e exclusivamente com o seu paciente, famoso ou anônimo. Hospital não é palco, doença não é espetáculo midiático nem paciente, escada. Esse show tem que parar.

E quem, no Oriente Médio, liga para o que Obama diga?

30/5/2011, Robert Fisk, The Independent, UKhttp://www.independent.co.uk/opinion/commentators/fisk/who-cares-in-the-middle-east-what-obama-says-2290761.html
Esse mês, o Oriente Médio assistiu ao desmonte do presidente dos EUA. Pior do que isso, se assistiu aqui ao ponto mais baixo do prestígio dos EUA na região, desde que Roosevelt encontrou-se com o rei Abdul Aziz a bordo do USS Quincy, no Grande Lago Salgado[1], em 1945.

Enquanto Barack Obama e Benjamin Netanyahu representavam sua farsa em dueto em Washington – Obama rastejante como sempre –, os árabes meteram mãos à obra, no serviço de mudar seu mundo, em manifestações de rua, lutando e gritando e morrendo para alcançar liberdades que jamais tiveram. E Obama gaguejava sobre mudanças no Oriente Médio – e sobre o novo papel dos EUA na região. Foi patético.

“E... que conversa é essa de ‘papel na região’?” perguntou-me um amigo egípcio, no fim de semana. “Será que ainda supõem que alguém aqui tenha algum interesse em saber o que eles pensam?”

Verdade. A omissão de Obama, o erro de não ter apoiado as revoluções árabes antes de estarem praticamente decididas, tirou dos EUA o pouco prestígio que ainda tinha no Oriente Médio. Obama calou sobre a derrubada de Ben Ali; só se uniu ao coro de indignação contra Mubarak dois dias depois de Mubarak já ter fugido; condenou o regime sírio – que já matou mais gente do próprio povo que qualquer outro governo nessa “primavera” árabe, exceto o temível Gaddafi –, mas deixou bem claro que gostaria muito de ver sobreviver o regime de Assad; ergueu o punhozinho contra a crueldade gigante do minúsculo Bahrain; mas, inacreditavelmente, ainda não disse uma palavra, uma, que fosse, contra a Arábia Saudita. Frente a Israel, Obama ajoelha-se. Como se surpreender agora, quando os árabes dão as costas aos EUA, não por ódio ou ira, não com ameaças, mas só, exclusivamente, com desprezo profundo?

Agora, quem toma as decisões são os árabes e seus companheiros muçulmanos do Oriente Médio.

A Turquia está furiosa com Assad, porque prometeu duas vezes propor reformas e eleições democráticas – e em nenhum dos casos honrou a promessa. O governo turco mandou duas delegações a Damasco e, segundo os turcos, na segunda visita Assad mentiu ao ministro das Relações Exteriores (disse que insistiria para que seu irmão Maher tirasse seus policiais das ruas das cidades sírias). Não insistiu. Os torturadores prosseguiram em sua faina.

Assistindo à chegada de centenas de refugiados sírios pela fronteira norte do Líbano, o governo turco teme agora que se repita a onda de refugiados do Curdistão Iraquiano que inundou seu território depois da Guerra do Golfo de 1991, e já tem planos secretos para impedir que os curdos sírios cheguem aos milhares às áreas curdas do sudeste da Turquia. Os generais turcos prepararam operação para enviar soldados turcos para a Síria, para criar uma “área segura” para os refugiados sírios no território do califado de Assad. Os turcos estão preparados para avançar bem além da cidade de Al Qamishli, já na Síria – e talvez cheguem à metade do Deir el-Zour (aos velhos campos de matança do deserto, no holocausto de armênios em 1915), mas sem qualquer alarde. O plano é ali criar um “paraíso seguro” para os que fogem do massacre nas cidades sírias.

Os qataris, simultaneamente, trabalham para impedir que a Argélia forneça mais tanques e veículos blindados a Gaddafi – essa foi uma das razões da visita do emir do Qatar, o pássaro mais esperto do Golfo Árabe, ao presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, semana passada. O Qatar está comprometido com os rebeldes líbios em Benghazi; seus aviões voam para a Líbia a partir de Creta e – o que não se sabia até agora –, há oficiais do Qatar assessorando os rebeldes na cidade de Misrata na Líbia ocidental. Se a Argélia estiver de fato ajudando a blindar Gaddafi e repondo material destruído, estaria explicado o avanço ridiculamente lento da campanha da OTAN contra Gaddafi.

Claro, tudo depende de saber se Bouteflika realmente controla o próprio exército – ou se o pouvoir argelino, que inclui muitos generais conspiradores e corruptos, está cumprindo ordens e acordos. O equipamento argelino é superior ao de Gaddafi; assim, para cada tanque destruído, é possível que Gaddafi esteja recebendo modelo novo, como item de reposição. Abaixo da Tunísia, Argélia e Líbia partilham 750 milhas de fronteira de deserto, rota de fácil trânsito de armas.

Mas os qataris também têm atraído a ira de Assad. A cobertura obcecada que a rede Al Jazeera tem dado ao levante sírio – imagens de mortos e feridos sempre muito mais terríveis que qualquer coisa que a soft televisão ocidental jamais se atreveria a mostrar – enfureceu a televisão estatal síria, que se pôs a atacar furiosamente o emir e o estado do Qatar. O governo sírio acaba se suspender projetos de investimentos de empresas do Qatar no valor de 4 bilhões de libras, entre os quais um projeto da estatal de água e eletricidade do Qatar.

Entre esses eventos épicos – o próprio Iêmen talvez leve a coroa de repressão mais sangrenta de todas; e os número de mártires sírios já ultrapassou o número de mortos pela polícia assassina e esquadrões-da-morte de Mubarak há cinco meses – quem se surpreenderá ao constatar que Netanyahu e Obama já sejam vistos como absolutamente irrelevantes?

A verdade é que as políticas de Obama para o Oriente Médio – sejam quais forem – são tão obscuras e confusas, que nem recebem qualquer atenção mais aprofundada. Obama apóia, claro, a democracia – e em seguida admite que a democracia pode não servir aos interesses dos EUA. Naquela magnífica democracia chamada Arábia Saudita, os EUA constroem negócio de venda de armas de 40 bilhões de libras, e ajudam os sauditas a desenvolver uma “nova” força de elite para proteger o petróleo e as futuras instalações nucleares do reino. Daí brota o medo de Obama de irritar a Arábia Saudita, onde dois dos três irmãos reinantes estão tão senis que já não tomam decisões lúcidas – e infelizmente um desses dois é o rei Abdullah. E daí brota também a disposição de Obama de assegurar a sobrevivência do regime de atrocidades da família Assad.

Claro que os israelenses preferem que a ditadura síria continue “estável”: melhor um sombrio califato conhecido, que qualquer governo islâmico que venha a surgir das ruínas. Mas e Obama? Que sentido faz Obama defender esse argumento, quando o povo sírio está morrendo nas ruas em luta para conquistar a democracia que o mesmo Obama diz que quer ver na região?

Um dos elementos mais ocos da oca política dos EUA para o Oriente Médio é a ideia básica segundo a qual os árabes seriam naturalmente mais estúpidos que “nós”, com certeza são mais estúpidos que os israelenses, ainda mais sem noção da realidade que o “ocidente”, além de os árabes absolutamente não entenderem a própria história. Assim sendo, os árabes têm de ser guiados, instruídos, conversados por La Clinton e sua troupe – exatamente como sempre fizeram e fazem os ditadores, guiando ‘seus filhos’ pela vida.

Fato é que os árabes são hoje muito mais amplamente alfabetizados que há uma geração; milhões falam inglês perfeitamente e são perfeitamente capazes de constatar a total fragilidade e a completa irrelevância política das falas de Obama. Quem ouvisse o primeiro discurso de Obama esse mês, 45 minutos – o primeiro discurso de uma sequência de quatro dias de conversa fiada e perfumaria enunciadas pelo homem que parecia disposto a falar ao mundo muçulmano, do Cairo, há dois anos, mas que, a partir dali, nada mais fez –, poderia até imaginar que Obama estaria no comando das revoltas árabes, nunca que se encolheu à margem delas, com medo.

Houve um muito significativo (co)lapso linguístico na fala de Obama ao longo desses quatro dias críticos. Dia 19/5, 5ª-feira, falou sobre a manutenção dos “assentamentos” israelenses. Dia 20/5, 6ª-feira, Netanyahu aplicou-lhe longo sermão sobre “algumas mudanças demográficas que se observam em campo”. Em seguida, ao falar ao lobby reunido do AIPAC, no domingo, 22/5, Obama já fizera sua a expressão absurda, sem sentido, de mascaramento dos fatos, de Netanyahu. No discurso ao AIPAC, Obama falou de “novas realidades demográficas que se observam em campo”.

Quem o ouvisse, jamais suspeitaria que Obama falasse de colônias ilegais, exclusivas para judeus, construídas ilegalmente em terras que Israel roubou e continua a roubar dos proprietários palestinos, no maior caso de roubo de terras da história da Palestina.

Obama anunciou que qualquer demora na construção da paz criará riscos para a segurança de Israel. Como se nem desconfiasse que o projeto de Netanyahu é, exatamente, adiar, adiar, adiar, adiar a paz o mais possível, até que já não haja terras palestinas a serem roubadas nem, tampouco, qualquer possibilidade de algum dia haver o estado palestino “viável” que EUA e União Europeia supostamente desejam.

Depois, foi aquela conversa sobre “as fronteiras de 1967”. Netanyahu declarou que as tais fronteiras seriam “indefensáveis” (apesar de as mesmas fronteiras terem parecido super defensáveis durante os 18 meses que antecederam a Guerra dos Seis Dias). E Obama – sem dar qualquer atenção ao fato de que Israel provavelmente é o único país do planeta que tem fronteiras terrestres a leste... mas não se sabe onde estão – disse que havia sido mal interpretado ao falar das fronteiras de 1967.

Pouco importa o que diga o presidente dos EUA, o atual ou qualquer outro. George W Bush assinou a rendição há anos, quando entregou a Ariel Sharon uma carta na qual declarou que os EUA aceitam “todos os grandes centros populacionais em Israel” localizados além das linhas de 1967.

Mesmo para os árabes já preparados para a fala desfibrada, sem espinha dorsal, de Obama, essa parte foi excessiva, além do razoável. Tampouco entenderam a reação ao discurso de Netanyahu ao Congresso. Como é possível que deputados e senadores dos EUA levantem-se 55 vezes para aplaudir Netanyahu – 55 vezes –, mais entusiasmo do que se vê nos parlamentos-fantoche de Assad, Saleh e o resto?

E o quê, diabos, afinal, o Grande Discursador do Ocidente quereria dizer com “todos os países têm direito a autodefesa”... mas a Palestina tem de ser “desmilitarizada”? Ora! Queria dizer que Israel está liberada para continuar a atacar palestinos (como em 2009, por exemplo, quando Obama guardou silêncio covarde, de traição) e os palestinos que aguentem o que os espera, se não se comportarem conforme as regras – porque não terão armas para defender-se.

Para Netanyahu, os palestinos podem escolher: ou unidade com o Hamás, ou paz com Israel. Conversa muito estranha, essa! Quando não havia unidade, Netanyahu dizia que não tinha interlocutor palestino, porque os palestinos estavam divididos. Quando os palestinos se unem, diz que são desqualificados para conversações de paz.

Claro, quanto mais tempo você vive no Oriente Médio, mais esperto fica. Lembro, por exemplo, em viagem a Gaza no início dos anos 1980s, quando Yasser Arafat comandava a OLP instalado em Beirute. Ansioso para destruir o prestígio de Arafat nos territórios ocupados, o governo de Israel decidiu apoiar um grupo islâmico em Gaza chamado Hamás. A verdade é simples. Eu vi com meus próprios olhos o comandante do Comando Sul do exército de Israel negociando com os barbudos do Hamás, autorizando-os a construir mais mesquitas.

É justo lembrar que, naquele momento, americanos e britânicos estavam ocupadíssimos tentando convencer um certo Osama bin Laden a combater contra o exército soviético no Afeganistão. Mas os israelenses não largavam o pé do Hamás. Dias depois, lá estavam outra vez reunidos com a ‘facção’ na Cisjordânia. A história foi matéria de primeira página do Jerusalem Post, no dia seguinte. E os EUA não reclamaram: nem um pio.

Lembro de outro momento, nesses longos anos. No início dos anos 1990s, membros do Hamás e da Jihad Islâmica foram infiltrados pela fronteira israelense no sul do Líbano, onde permaneceram mais de um ano acampados numa encosta gelada. Visitei-os naquele acampamento algumas vezes. Numa dessas vezes, mencionei que, no dia seguinte, viajaria para Israel. Imediatamente, um dos homens do Hamás correu até a barraca e voltou de lá com um caderno de anotações. Dali extraiu, para me dar, os números dos telefones de casa de três importantes políticos israelenses – dois dos quais continuam importantes até hoje – e eu, chegando a Jerusalém, testei os números: os três, certíssimos. Em outras palavras: no início dos anos 1990s, o governo de Israel mantinha contato pessoal e direto com o Hamás.

De lá até hoje, a narrativa foi deformada até se tornar irreconhecível. O Hamás passou a ser “super terrorista”, “representante da al-Qa'ida no governo unificado da Palestina”, os gênios do mal, para garantir que jamais haja paz entre os palestinos e Israel. Se tal coisa fosse verdade, a verdadeira al-Qa'ida já teria anunciado e assumiria plena responsabilidade pela ‘aliança’, que trataria de divulgar aos quatro ventos. Mas é mentira.

No mesmo contexto, Obama declarou que os palestinos teriam de responder perguntas sobre o Hamás. Mas... por quê? O que Obama e Netanyahu pensem sobre o Hamás absolutamente não interessa aos palestinos. Obama disse aos palestinos de que não se apresentem à ONU em setembro, para exigir o reconhecimento oficial ao seu estado. Mas... por que, diabos, não poderiam ir à ONU?

Se os povos do Egito, da Tunísia, do Iêmen, da Líbia, da Síria – e continuamos a esperar por outros que hão de vir, talvez, agora, a revolução da Jordânia, uma segunda revolução no Bahrain? O Marrocos?) – podem lutar por dignidade e liberdade, por que os palestinos não poderiam?

Tendo ouvido décadas de lições a favor de protestos não violentos, os palestinas escolheram a via de ir à ONU e lá fazer ouvir seu clamor por legitimação. Não. Obama acha que não. E ordena que nem tentem.

Quem leu todos os “Palestine Papers” divulgados por Al-Jazeera sabe, sem sombra de dúvidas, que os negociadores palestinos irão até onde for preciso para criar qualquer tipo de estado. Mas Mahmoud Abbas – que conseguiu escrever livro de 600 páginas sem usar a palavra “ocupação” – é perfeitamente capaz de engavetar o projeto ONU, de medo do que disse Obama – que o movimento seria visto como tentativa para “isolar” Israel e, claro, para “deslegitimar” o estado israelense – “o estado judeu”, como diz, agora, o presidente dos EUA.

Netanyahu é quem mais trabalha para deslegitimar Israel. De todos, é o que cada dia mais se parece com os bufões árabes que, até hoje, comandaram o Oriente Médio. Mubarak viu “mão estrangeira” na revolução egípcia (mão iraniana, claro). O príncipe coroado do Bahrain, idem (o Irã, sempre o Irã). E Gaddafi (viu mãos da al-Qa'ida, do imperialismo ocidental, várias mãos estrangeiras). Idem Saleh do Iêmen (al-Qa'ida, Mossad e EUA). Idem Assad da Síria (mãos do islamismo, talvez do Mossad, e outras). E idem, idem, Netanyahu – que vê, claro, a mão do Irã, além da mão da Síria, do Líbano, de todas as entidades e seres imagináveis... exceto as suas próprias mãos israelenses.

Contudo, enquanto segue a bufoneria geral, as placas tectônicas vibram e estremecem.

Duvido muito que os palestinos mantenham-se calados por muito tempo mais. Se há uma “intifada” na Síria, por que não uma Terceira Intifada na Palestina? Não ações de homens-bomba e mulheres-bomba, mas movimento de massas, protestos de milhares, de milhões. Se Israel atirou para matar contra alguns poucos manifestantes que tentaram – e vários conseguiram – furar a fronteira de Israel há duas semanas... o que mais farão se tiverem de enfrentar manifestações de milhares, de milhões?

Obama resolveu que a ONU não deve reconhecer nenhum estado palestino. Por que não? Mas, sobretudo, quem, no Oriente Médio, liga para o que Obama diga? De fato, nem os israelenses ligam.

Em breve, a primavera árabe será tórrido verão e virá também um outono árabe. Até lá, é possível que o Oriente Médio já se tenha transformado para sempre. O que os EUA digam não fará diferença alguma.

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[1] Orig. “Great Bitter Lake”: o lago salgado entre a parte norte e sul do Canal de Suez, antes de haver o Canal de Suez. Ao lado, está o Pequeno Mar Salgado (imagens em http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Great_Bitter_Lake).

  

domingo, maio 29, 2011

Para os filhos dos outros, a morte.

site da BBC acaba de postar uma matéria sobre o “novo engano” de tropas americanas – formalmente da Otan – no Afganistão. Leia, para entender as imagens chocantes aí do vídeo:
“Um grupo de pessoas do vilarejo de Sera Cala viajou até a capital de Helmand, Lashkar Gah, levando consigo os corpos de oito crianças, a mais nova com dois anos de idade, segundo informa o correspondente da BBC em Cabul Quentin Sommerville.
“Veja, eles não são do Talebã”, bradavam as pessoas enquanto mostravam os corpos a jornalistas locais, levando-os à sede do governo.”
Quarta-feira, 20 policiais afegãos e 18 civis foram mortos em um ataque aéreo da Otan, confundidos com  talibãs.
O presidente afegão, Hamid Karzai, deu um ultimato aos EUA para evitarem as mortes de civis. E os EUA, é claro, não deram a menor bola para o ultimato.

Jornalismo criminoso

Enviado por luisnassif, dom, 29/05/2011 - 10:34
Do Portal Luís Nassif
Epoca supera Veja em imundície e quer matar a Dilma

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Alertado por um leitor, fui ver a capa da Época, na qual uma foto da presidenta, de olhos fechados, é usada para ilustrar uma matéria sobre uma suposta gravidade de seus problemas de saúde.
É sordidamente mórbida.
Registra que os seus médicos dizem que ela “apresenta ótimo estado de saude”, mas a partir daí tece uma teia mal-intencionada e imunda sobre os problemas que ela apresentou e os outros que tem, normais para uma mulher da sua idade.
O hipotireoidismo, por exemplo, é problema comuníssimo entre as mulheres de mais idade. É por isso que todo médico pede a eles, sempre, o exame de TSH. E o hormônio T4 –Synthroid, Puran, Levoid, Euthyrox e outros – tomado em jejum, é a mais básica terapêutica, usada por anos e anos por milhões de mulheres do mundo inteiro.
A revista publica uma lista imbecil de “medicamentos” que a presidente tomava, em sua recuperação de uma pneumonia, listando tudo, até Novalgina, Fluimicil e Atrovent (usado em inalação até por crianças), e chegando ao cúmulo de citar “bicarbonato de sódio – contra aftas”.
Diz que o toldo que abrigou Dilma de uma chuva, em Salvador, ” lembrava uma bolha de plástico”.
Meu Deus, o que esperavam que fizessem com uma mulher que se recuperava de um pricípio de pneumonia? Que lhe jogassem um balde de água gelada por cima?
Essa é a “ética” dos nossos grandes meios de comunicação. Não precisam de fatos, basta construírem versões, erguendo grandes mentiras sobre minúsculas verdades.
Esses é que pretendem ser os “fiscais do poder”.
Que imundície!
+++
Os médicos Antônio Carlos Onofre de Lira, diretor técnico, e Paulo Ayroza Galvão, diretor clínico do Hospital Sírio-Libanês, por solicitação da Presidenta Dilma Roussef, emitiram agora à tarde um longo e detalhado relatório sobre os atendimentos prestados a ela.
Tratam em detalhes e com absoluta transparência todo os diagnósticos e terapêuticas relativos a eles.
O assunto de interesse público – a saúde da Presidenta – foi tratado com uma transparência ímpar. Aliás, sempre foi, mesmo quando ainda candidata.
Mas não foi transparência o que fez a Época. Foi violação de documentos médicos privados - e cuja divulgação só pode ser feita por autorização do paciente, segundo resolução nº1605/2000, do Conselho Federal de Medicina.
A revista teria todo o direito de formular perguntas sobre a saúde da presidente a ele ou a seus médicos. Mas está confesso nas próprias páginas da revista que “Época teve acesso a exames, a relatos médicos e à lista de medicamentos usados pela presidente da República”. Não foi, repito, informação sobre assuntos ou políticas públicas. Nem mesmo um diagnóstico ou prognóstico que, por sério, pudesse ter interesse para a sociedade. Foram detalhes personalíssimos, que a ninguém dizem respeito.
Isso é crime, previsto no Art. 154 do Código Penal. Tanto quanto é crime a violação de um extrato bancário, de qualquer pessoa. Crime para quem viola o que está sob sua guarda, seja um profissional hospitalar ou um gerente de banco, quanto para quem o divulga, sabendo que foi obtido de forma ilícita.
Não havia um crime a denunciar, um perigo a prevenir, algum direito de pessoa ou da sociedade a proteger, com a divulgação.
A intenção, prevista na lei de “produzir dano a outrem” está marcada pela fotografia “fúnebre” da capa e pela reunião maliciosa entre o uso de remédios para uma infecção – a pneumonia – com outras situações que nada têm a ver com ela – o hipotireoidismo, por exemplo – e até substâncias de uso tópico para aftas, como o bicarbonato de sódio e o Oncilon.
Isso nada tem a ver com o dever de dar informações sobre a saúde de uma pessoa pública. Tanto que elas são e foram dadas sempre, nos boletins médicos.
A motivação foi política: gerar medo, intranquilidade e dúvida sobre sua capacidade de governar. O que se praticou foi um crime – e não apenas um violação ética, o que já é grave – e crimes devem merecer responsabilização.
Mas, aqui, no país onde o inimigo político é culpado até que prove sua inocência (e olhe lá), pretender que a imprensa aja dentro da lei é “perseguição”.
PS. Senti falta da nossa blogosfera progressista para falar deste absurdo e do assanhamento tucano em demolir o governo que o povo elegeu. Será o frio que está fazendo hoje? (Em tempo, o Azenha deu divulgação a esta maracutaia farmacêutica da Época)
+++
Relatório médico do Hospital Sírio-Libanês sobre Dilma em resposta à Época
“Por solicitação da Exma. Presidenta da República, Sra Dilma Vana Rousseff, o Hospital Sírio-Libanês emite o presente relatório médico.
No início de 2009 a Presidenta Dilma Vana Rousseff foi submetida a avaliação clínica por seu cardiologista, Professor Dr. Roberto Kalil Filho, quando foram indicados exames de rotina, incluindo uma angiotomografia de coronárias, realizada em 20 de março de 2009 no Hospital Sírio-Libanês. Neste exame foi detectado um nódulo axilar esquerdo, com 2,3 cm. de diâmetro e características suspeitas. Uma biópsia excisional deste gânglio foi realizada no dia 3 de abril de 2009, e o diagnóstico final foi de Linfoma Difuso de Grandes Células do tipo B, CD20 positivo. Exames de estadiamento incluíram PET-CT e biópsia de medula óssea, sem achados adicionais. O estadiamento final foi IA.
De abril a julho de 2009, a Sra. Presidenta recebeu tratamento específico para seu tipo de linfoma, incluindo 4 ciclos de R-CHOP (Rituximab, Ciclofosfamida, Vincristina, Doxorrubicina e Prednisona). Durante o tratamento a paciente apresentou miopatia por corticóides e neutropenia transitória. Como complementação ao tratamento quimioterápico, foi indicada e realizada radioterapia envolvendo a axila e fossa supra-clavicular esquerdas. Após o término do tratamento, a paciente foi considerada em remissão completa, passando a acompanhamento de rotina.
Em 23 de dezembro de 2009 a Presidenta Dilma veio a este hospital com sintomas de vias aéreas superiores, acompanhados de febre baixa, sendo diagnosticada com Influenza A (H1N1), por técnica de PCR no swab nasal, tendo sido tratada com Oseltamivir, com resolução completa do quadro.
Em 20 de março de 2010, a Sra. Presidenta apresentou um edema na região cervical. Nesta mesma data, optou-se pela retirada do cateter venoso central (port-a-cath) com resolução quadro clinico.
Na noite de 30 de abril de 2011, a Sra. Presidenta deu entrada no Hospital Sírio-Libanês com sintomas de tosse, febre e mal-estar geral. Foram realizados exames completos que incluíram sorologias, hemoculturas, exames gerais e tomografia de tórax. O diagnóstico final foi de uma broncopneumonia. A Sra. Presidenta foi tratada com os antibióticos Ceftriaxona e Azitromicina, com resolução completa dos sintomas. Os exames sorológicos específicos e culturas não identificaram o agente etiológico. Na mesma data, foram realizados exames de imagem e de sangue para controle do linfoma, todos com resultados negativos. A Presidenta Dilma continua em remissão completa do linfoma, e não há nenhuma evidência de deficiências imunológicas, associadas ou não ao tratamento do linfoma realizado em 2009.
Em 21 de maio de 2011 a Sra. Presidenta realizou tomografia de tórax de controle, mostrando resolução completa do quadro de pneumonia detectado no mês anterior.
Do ponto de vista médico, neste momento a Sra. Presidenta apresenta ótimo estado de saúde.
As equipes que assistem a Sra. Presidenta são coordenadas pelos Profs. Drs. Roberto Kalil Filho, Paulo Hoff, Yana Novis, David Uip, Raul Cutait, Carlos Carvalho e Milberto Scaff, Julio Cesar Marino.
Antônio Carlos Onofre de Lira, diretor técnico do Hospital Sírio-Libanês
Paulo Ayroza Galvão, diretor clínico do Hospital Sírio-Libanês”.


Morreu Gil Scott-Heron "A revolução não será televisionada" (se for, não será a revolução)

Pode-se ouvi-lo em http://letras.terra.com.br/gil-scott-heron/1288939/

e em I'm new here (que eu gosto muito) em http://www.youtube.com/watch?v=eV_astp3BjM




vila vudu

Come frango e arrota faizão! ...

 O DISCURSO ANACRÔNICO


O discurso do presidente Barack Obama, em Londres, como quase todos os pronunciamentos políticos, não pode ser entendido em sua literalidade. As palavras, disso sabemos, servem para dizer e servem para ocultar, e quase sempre revelam, ao ocultar. Quando buscam esconder o verdadeiro sentimento dos que as pronunciam, revelam-no. Foi um speech fora do tempo, e lembra os pronunciados por Ted Roosevelt na passagem do século 19 para o século 20.
Obama foi a Londres a fim de dizer aos britânicos que os dois povos, vindos da mesma e presunçosa Albion, continuam a mandar no mundo. Começaram a mandar antes mesmo que as colônias da Nova Inglaterra existissem, ainda no fim do século 16, quando os espanhóis foram fragorosamente derrotados, com sua armada, que se pressupunha invencível, mais pelos ventos e ondas altas do Canal da Mancha do que pela ação dos navios britânicos. Essa supremacia foi confirmada, no século 19, em Waterloo. Mas o simples fato de que o presidente dos Estados Unidos tenha considerado ser importante essa reafirmação de domínio, revela que ele se encontraem erosão. O presidente cometeu um equívoco político importante, talvez porque tenha trocado de ghost-writer, ao desdenhar a posição da Europa. Ele não menciona diretamente países como a Alemanha e a França, e só se refere “aos nossos aliados”. Enfim, os donos do mundo são eles. Os outros, por mais poderosos sejam, são apenas “aliados”. O Brasil e os outros grandes países emergentes, reunidos no grupo Bric, são mencionados, como incapazes de ameaçar a supremacia mundial do eixo Washington-Londres. Não cremos que o Brasil venha a disputar a “liderança” do mundo. A melhor atitude de uma nação forte é a de não comprometer esse potencial em atos de conquista. Bons exércitos, economia sólida, instituições permanentes são condições necessárias para assegurar a liberdade interna e garantir os interesses nacionais na sociedade mundial. Mas se essa vantagem for usada em aventuras estultas, as conseqüências sempre serão, a prazo curto ou longo, desastrosas. Na vida de cada um de nós, e na vida das nações, a melhor escolha é a de não liderar, mas, tampouco, seguir a liderança alheia. Deixemos aos outros a sua autonomia e sejamos ferozes defensores da nossa independência.
Dentro da mesma ordem de idéias, estamos diante de outra manifestação de arrogância chocha, da candidata francesa, Christine Lagarde, à direção do FMI. Ela, em resposta à posição brasileira e de outros países emergentes, que reclamam o direito de indicar o substituto de Strauss-Kahn, declara que a instituição tem que continuar em mãos européias. Há dois anos, ela disse que, “no FMI, quem paga, manda”. Como se vê, a sua idéia é a de que a instituição não é mundial, mas de alguns países que se julgam os guardiães universais da moeda. Se é esse o critério da Sra. Lagarde, está na hora de o FMI trocar de mãos. Os países emergentes são hoje os maiores credores do mundo. A China, a Rússia, a Índia e o Brasil, em conjunto, retêm as maiores reservas mundiais, enquanto os Estados Unidos e a maioria dos países europeus são os grandes devedores internacionais. A dívida, pública e privada, dos Estados Unidos é nominalmente de 50.2 trilhões de dólares (3 vezes o seu PIB), isso sem contar com os trilhões e trilhões de dólares que, sem lastro metálico, circulam no mundo inteiro. Quem está pagando, direta ou indiretamente, são os países em desenvolvimento, como é o caso da China e dos outros integrantes do BRIC.
Com toda a sua arrogância, o discurso de Obama é vazio: o único poder de que dispõem Washington, Londres e seus aliados da OTAN, é o bélico – que se encontra encurralado no Iraque e no Afeganistão.
Se o critério é esse, o de quem paga, manda, os Bric podem abandonar o FMI – e criar uma nova instituição, que lhes sirva.

Postado por Mauro Santayana