segunda-feira, novembro 08, 2010

As palavras de Awlaki são dirigidas, sobretudo, aos muçulmanos falantes de inglês.

 Ocidente em pânico: uma voz norte-americana pró-Jihad

Anwar al-Awlaki, o clérigo islamista militante, atualmente escondido no Iêmen, foi denunciado por EUA e Grã-Bretanha como arquiconspirador contra o Ocidente. Simultaneamente, centenas de vídeos em que aparece pregando e em entrevistas em inglês, foram removidos do YouTube.
Awlaki, pregador eloquente, está sendo acusado de radicalizar o discurso de Roshonara Choudhry, a estudante de teologia que esfaqueou o deputado inglês Stephen Timms por ter votado a favor da invasão ao Iraque. Awlaki teria tido contato também com militantes muçulmanos que depois atacaram alvos norte-americanos, como o estudante nigeriano preso com explosivos costurados às cuecas e o soldado dos EUA que matou a tiros 13 soldados de sua companhia no Forte Hood.
Nos vídeos de Awlaki que permanecem no YouTube, quase todos excertos de seus discursos transmitidos pela televisão norte-americana, sua mensagem continua assustadoramente clara. Em voz suave e controlada, Awlaki conta que nasceu nos EUA onde viveu até os 21 anos e formou-se como pregador islâmico, sempre pregando a não-violência; até a invasão ao Iraque, em 2003. A invasão do Iraque o converteu em apóstolo da guerra jihadista contra os EUA: “Acabei por ter de concluir que, depois da invasão ao Iraque, a Jihad passou a ser dever de todos os muçulmanos.”
Awlaki foi denunciado como “terrorista assassino” e como um dos líderes da al-Qa'ida na Península Arábica, mas o motivo principal de sua significativa influência é que é hoje o único líder jihadista capaz de expor com clareza e racionalidade a ideologia de uma guerra jihadista, em perfeito inglês norte-americano. As falas de Osama bin Laden são quase incompreensíveis no ocidente, e as dos líderes da al-Qa'ida no Iraque e no Paquistão raramente passam de catilinária sectária.
Diferente de todos esses, Awlaki, nascido no Novo México e extremamente culto, jamais eleva o tom de voz, e fala em tom que os norte-americanos conhecem bem, por ser típico de outros pregadores religiosos que pregam pela televisão. Fala firme e dirige-se ‘pessoalmente’ a cada um dos que o ouçam, citando eventos políticos atualizados e incidentes da vida diária, como seus casos exemplares. Num dos vídeos, ilustrado com fotos de muçulmanos em guerra, no qual Awlaki argumenta para mostrar aos muçulmanos os riscos que o Islã enfrenta hoje, o pregador ainda é bem jovem. O Afeganistão e o Iêmen do Sul foram dominados pelos comunistas; e o Iraque e o movimento palestino por nacionalistas. Seu principal argumento é que esses inimigos do Islã também já foram derrotados por uma Jihad vencedora.
O que mais alarma os governos dos EUA e da Grã-Bretanha, é que as palavras de Awlaki são dirigidas, sobretudo, aos muçulmanos falantes de inglês. Ele pergunta como os muçulmanos dos EUA podem ser leais a um país que está em guerra contra o Islã. Também soa alarmante, para os que estejam sob risco de converter-se em alvo dos jihadistas, que os que abracem a luta jihadista pregada por Awlaki podem chegar a isso sem qualquer contato anterior com movimentos militantes, o que cria o risco de ataques absolutamente imprevisíveis. Choudhry, que cumpre prisão perpétua depois do ataque ao deputado Timms, é filha de imigrados de Bangladesh e cidadã britânica. Jamais manifestara posições extremistas, até que passou a visitar websites islâmicos.
Awlaki é absolutamente diferente dos mais conhecidos líderes e porta-vozes da al-Qa'ida, cujas bases localizam-se nas áreas tribais do noroeste do Paquistão e em áreas de árabes sunitas no Iraque. Em claro contraste com a argumentação sofisticada de Awlaki, a favor da Jihad contra os EUA e seus aliados, os líderes, porta-vozes e combatentes da al-Qa'ida no Iraque sempre focam seus discursos em ataques contra a maioria xiita, que veem como infiéis. O Talibã paquistanês, fortemente influenciado pela al-Qa'ida, concentra seus ataques contra os que não professam o mesmo ramo do islamismo sunita.
Fontes da segurança saudita dizem que voluntários estrangeiros de todo o mundo muçulmano, sobretudo da Arábia Saudita e do Iêmen, que supõem que estejam imigrando para o Iraque para combater as tropas da ocupação norte-americana, acabam convertidos em homens-bomba, em ataques contra supermercados e mesquitas xiitas. Só essa semana, houve mais de 100 mortos em ataques coordenados contra áreas xiitas de Bagdá.
A Al-Qa'ida sobreviveu ao massacre coordenado contra ela pelos EUA e aliados desde 2003, em larga medida porque existe mais como uma ideologia e um conjunto de atitudes, do que como movimento organizado que possa ser localizado e dizimado. A política dos EUA, de assassinar sistematicamente os líderes da Al-Qa’ida, tem impacto limitado, porque a força do movimento está em sua estrutura de rede, pulverizada em inúmeras ‘franquias’ locais, para a maioria das quais a Jihad contra os EUA não é o objetivo imediato. Se fosse, seus ataques seriam ainda mais devastadores, porque no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão há milhares de quadros jihadistas treinados e experientes, tanto na fabricação de bombas quanto na logística de fazer as bombas chegarem aos alvos.
O governo e a mídia nos EUA estão agora em processo de demonizar Awlaki, e provavelmente exageram a influência que tenha, apontando-o como inspiração para os ataques no Iêmen, onde estaria localizada a nova base central da al-Qa'ida.
De fato, como também aconteceu no Iraque, a al-Qa'ida voltou a se reorganizar e fortaleceu-se no Iêmen, sobretudo, porque se associou a grupos que já faziam oposição ao governo central. No Iêmen, a oposição cresce no sul (ex República Popular Democrática do Iêmen) que se uniu ao norte (República Árabe do Iêmen), em 1990. O governo central, na capital Sanaa, tem todas as razões do mundo para persuadir os EUA a rotular todos os inimigos do governo como se fossem uma mesma “al-Qa'ida”, porque assim, obtém facilmente armas e ajuda financeira, além de apoio militar e político.
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