segunda-feira, setembro 28, 2009

Essa gente tem nome: golpistas.

Sem olhos em Tegucigalpa

Posted by Leandro Fortes
O povo, unido, etc, etc, etc 
O povo, unido, etc, etc, etc

O jornalismo está abandonando, aos poucos, por motivos inconfessáveis, a valorização das personagens como elemento de narrativa. Emblemático é o caso de Honduras, um catalisador profundo das intenções de setores da imprensa cada vez mais perfilados em bloco sobre um ensaiado viés chavista (a nova panacéia editorial do continente) aplicado ao noticiário toda vez que um movimento de esquerda se insinua sobre velhos latifúndios – físicos e imateriais. Para tal, recorre-se cada vez mais a malabarismos de linguagem para se referir ao golpe militar que derrubou o presidente constitucionalmente eleito Manuel Zelaya.

Por conta disso, o governo golpista passou a ser chamado, aqui e acolá, de “governo de fato”, uma solução patética encontrada por alguns veículos para se referir a uma administração firmada na fraude eleitoral e na usurpação pura e simples de poder. Há, ainda, quem se refira à quadrilha de Roberto Micheleti como “governo interino”, o que só pode ser piada. Itamar Franco foi interino, esse é o beabá, até tornar-se “de fato” com o impedimento e a renúncia de Fernando Collor de Mello, mas isso não deu a ninguém o direito de, a partir de então, nomeá-lo “presidente de fato” ou chefe de um “governo de fato”. Se é governo, é de fato. Se assim não for, ou é interino, ou é golpista.

Não deixa de ser divertido o inglório exercício a que se dedica certa direita nacional envergonhada, pronta a converter em golpe de Estado a intenção do presidente (de fato, pero no mucho) Zelaya de convocar os hondurenhos a decidir, por plebiscito, a possibilidade de uma reeleição que sequer serviria a ele. Possível até que servisse à oposição – a mesma que lhe seqüestrou de pijama, o enfiou num avião e o desovou na Costa Rica. Talvez preferissem que ele tivesse comprado votos para se reeleger. Esse tipo de crime é, historicamente, melhor digerido pela mídia brasileira.

Essa gente não pode e não deve ser chamada de “governo de fato”, muito menos “interino”. Essa gente tem nome: golpistas. Bandoleiros políticos que estão, corajosamente, sendo confrontados pela diplomacia brasileira que, além de lhe condenar em todos os foros internacionais, deu abrigo a Zelaya na embaixada. Lá, o presidente (de verdade) se encontra protegido e alimentado, a causar saudável constrangimento aos golpistas que o defenestraram de Tegucigalpa, essa cidade de sonoro nome maia que, de uma hora para outra, tornou-se mundialmente popular no rastro de um vexame.

Mas comecei falando da importância de haver personagens no texto jornalístico e acabei me perdendo em necessários devaneios, porque no contexto da crise hondurenha se inclui uma cobertura, basicamente, desumana. Não no sentido da esperada brutalidade ideológica disseminada por jornais e jornalistas conservadores e, vá lá, liberais. Mas por não atentar diretamente para o fator humano estacionado nas ruas, manifestantes com as mãos perto do fogo aceso pelo golpe, sujeitos a tiros e bordoadas apenas para dizer “não”. Eu gostaria muito de saber quem são essas pessoas, mas tudo que se fala delas vem em números. Num dia, são 100 em frente à embaixada, no outro, são duas mil. Variam de dezenas a milhares da noite para o dia, sem que qualquer explicação sobre elas nos seja minimamente concedida.

Não é preciso muita sensibilidade para perceber que a chave (não Chávez!) para a compreensão do golpe em Honduras está nos hábitos e na cultura desses desconhecidos tegucigalpenses (ou seriam tegucigalpanos?). Falta quem lhes pergunte sobre os verdadeiros sentimentos desencadeados com o golpe, justo quando o mundo todo acreditava que o expediente das quarteladas jazia, para nunca mais, no túmulo dos tristes folclores latino americanos. São as personagens, sobretudo nas tragédias, que conjugam fatos e sentimentos de modo a permitir a nós, os indivíduos, compartilhar sonhos e loucuras. Daí a importância de prestar atenção nelas.

Até agora, a única personagem “de fato” é o próprio Manuel Zelaya, aliás, de figurino impagável, chapéu de cowboy sobre os cabelos escandalosamente tingidos, tal qual o bigode pouco alentador, na indisfarçável tonalidade das asas da graúna.

http://brasiliaeuvi.wordpress.com/2009/09/26/sem-olhos-em-tegucigalpa/

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domingo, setembro 27, 2009

LULA NA ONU



O discurso pode ser visto e ouvido na íntegra (19 minutos) em:
Tem um lag enorme entre o som e a imagem, mas tá bonito. Pra mim é muito emocionante.
Quem tiver Real Player pode assistir em: http://www.un.org/ga/64/generaldebate/BR.shtml clicando em Video: original language.
>>>

Lula retoma na ONU os tempos da luta sindical

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ONU, denunciando os golpistas de Honduras, trouxe a memória o sindicalista Lula de quatro décadas atrás. A análise é do jornalista baiano Vitor Hugo Soares, no texto A camiseta de Lula e a ONU, no Terra Magazine.*

Lula, 'o cara da camiseta', abre a Assembléia da ONU

Foi um impacto, não nego. A câmera da televisão enquadrou a cara enfezada de Luiz Inácio Lula da Silva com toques de algum aprendiz americano do baiano Glauber Rocha. Era quarta-feira, 23 de setembro de 2009 e o presidente do Brasil caminhava para a tribuna onde faria, por praxe diplomática, o primeiro discurso na abertura da 64ª Assembleia Geral das Nações Unidas - proeminência da qual o dirigente brasileiro soube tirar proveito como raramente se viu naquele pedaço globalizado de Nova Iorque.

Mesmo metido em terno de corte impecável, cabelo e barba agora tomados de incontáveis fios brancos - mas aparados e cuidados por bom barbeiro de Brasília ou de São Bernardo - a imagem que a TV mandava para o mundo, empurrava a memória para São Paulo de uns 30 anos atrás.

A cidade onde em cada esquina se vendia aquela camiseta de algodão, com o desenho do então líder dos operários metalúrgicos do ABC. Lula com pinta de "sapo barbudo", como definiu o gaúcho Leonel Brizola ao retornar do longo exílio decorrente do golpe que derrubou o governo democrático do presidente João Goulart. Na camisa, o desenho do rosto do então líder operário de cabelos desgrenhados, cara amarrada, e o aviso escrito em tom vermelho: "Não mexa comigo. Hoje eu não tô bom!"

Lembram? Até em Montevidéu e Buenos Aires vi algumas delas penduradas nas barracas da feira de San Telmo e nos quiosques da Corrientes ou, do outro lado do Rio da Prata, na Avenida 18 de Julio, onde ainda era possível tropeçar com exilados brasileiros em cada esquina, mesmo depois da expulsão de Brizola para os Estados Unidos, pelos ditadores da turma da Operação Condor que mandavam por lá.

Mas o que quero mesmo dizer é: raras vezes nos últimos tempos, Lula esteve tão parecido com o cara da camiseta, como nesta semana, em Nova Iorque. É só conferir as imagens - o que não é fácil, porque a mídia brasileira (especialmente os jornais impressos e as grandes redes de TV), cobriu o assunto com displicente e estranha má vontade. Quase sempre em tom irônico ou abertamente ofensivo em relação às vítimas do golpe e benevolente, para dizer o mínimo, com os golpistas.

Vale observar que Lula modificou de última hora sua fala do chefe de Estado sobre temas mundiais mais candentes - como a crise financeira que amedrontou o mundo e o aquecimento global que ameaça o futuro do planeta - para introduzir um tema tipicamente latino-americano. A velha e sempre daninha tentação golpista contra regimes democráticos e as liberdades fundamentais no continente.

Esta questão, que parecia superada, foi retomada em junho passado, a partir da surpreendente, audaciosa e violenta deposição do presidente eleito de Honduras. Sob o argumento que tentava convocar um plebiscito para mudar a constituição e poder disputar um segundo mandato, Manuel Zelaya foi tirado da cama de madrugada, de pijama, com armas apontadas para sua cabeça por milires emcapuçados. Levado à força para o aeroporto, foi posto dentro de um avião militar e expulso de seu país e do governo legitimamente conquistado.

Episódio que agora recrudesce com consequências imprevisíveis, a partir do retorno do presidente - de surpresa para o ditador civil posto em seu lugar - , abrigado na embaixada brasileira em Tegucigalpa, em meio a cortinas de fogo e fumaça que o episódio levanta. Lula, o primeiro a gritar na primeira hora do golpe, não muda de tom.

Na ONU defendeu a imediata recondução do presidente eleito de Honduras ao cargo e exigiu a inviolabilidade da embaixada brasileira como preliminar para outras negociações legais e diplomáticas. Disse de forma clara e com a expressão apropriada, que se o fórum mundial em geral, e em particular o Conselho de Segurança não tomar uma posição firme desta vez sobre a crise em Honduras, outros golpes se seguirão.

"Não somos voluntaristas. Mas sem vontade política não se pode enfrentar e corrigir situações que conspiram contra a paz, o desenvolvimento e a democracia... A comunidade internacional exige que Zelaya reassuma imediatamente a Presidência de seu país e deve estar atenta à inviolabilidade da missão diplomática brasileira na capital hondurenha".

Ontem, em Pittisburgh, onde desembarcou para a reunião do G-20, o presidente não baixou o tom. Insiste na urgência do Conselho de Segurança da ONU entrar com firmeza no caso, "pois os golpistas estão exagerando, estão quase exigindo que o presidente eleito democraticamente peça desculpas por estar em Honduras".

E reservou as farpas finais para os que seguem firmes nas teorias de conspiração do Brasil mexendo os cordões em Honduras, ou priorizam nos espaços de informação mais o chapelão de Zelaya que a efetiva cobrança de responsabilidade dos que tocam, de fato, esta nova aventura golpista na América Latina.

"Vocês vão ter que acreditar num golpista ou em mim", disse Lula, ainda sem tirar a camiseta dos anos 70.

Façam suas apostas.

Fonte: Terra Magazine

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sábado, setembro 26, 2009

"Sorry, tucanada, mas o Brasil não é mais FHC (Fraco, Hesitante e Covarde)".

O Brasil não é mais FHC...

(Quarta-Feira, 23 de Setembro de 2009 às 23:58hs)

http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/Blog/texto_blog.asp?id_artigo=7542

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, que concedeu entrevista para a Fórum que está chegando às bancas, acaba de postar uma frase no twitter que merece registro.
 Para comentar a participação de Lula na ONU, cravou: "Sorry, tucanada, mas o Brasil não é mais FHC (Fraco, Hesitante e Covarde)".
 Ao que o filho do presidente Lula, Marcos Lula , ativo tuiteiro, reverberou: "show do Berzoni...rs".
 O Brasil não é mais Fraco, Hesitante e Covarde renderia umas boas camisetas na minha época de movimento estudantil.
 Pra constar: o endereço de Berzoini no twitter é @ricardoberzoini, o do Marcos Lula, @marcoslula e o deste tuiteiro @renato_rovai.

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Sucesso da reunião do G-20 decreta fim do G-8

Os resultados da reunião do G-20 em Pittsburgh - a antiga cidade do aço nos Estados Unidos, hoje centro de alta tecnologia, educação e medicina avançada - consolida a autoridade do grupo e decreta o fim do G-8.

Desmentem, também, todas as análises e previsões de nossos tucanos com seus ex-embaixadores e ex-ministros de relações exteriores à frente, agora convertidos em comentaristas e analistas da Rede Globo, na qual até mais parecem profetas do apocalipse. 

A decisão de apoiar e reiterar a necessidade da continuidade das medidas adotadas pelos vários países, de estimulo ao crescimento - particularmente do emprego - é uma resposta inclusive aos críticos internos aqui no Brasil das políticas de nosso governo, tomado como exemplo na reunião, já que vamos criar 1 milhão de novos empregos só esse ano. 

A cúpula abriu caminho para a reforma das instituições financeiras internacionais - FMI e o Banco Mundial (BIRD), entre outras - ao aumentar o direito de votos de nossos países emergentes nessas instituições e ao retomar a agenda da reforma do sistema bancário e financeiro internacional com mais controle e regulação.

Ponto para o Brasil, para a nossa política externa e para o presidente Lula, que tiveram um papel de destaque no encontro.

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ONU encerra tentativas de violar soberania brasileira

A pronta resposta da Organização das Nações Unidas (ONU) ao pedido brasileiro de garantias sobre o óbvio (a inviolabilidade de nossa representação diplomática em Honduras) coloca um ponto final  nas tentativas do governo hondurenho de violar nosso território e soberania, de invadir ou promover qualquer ato contra à embaixada brasileira em Tegucigalpa, onde há uma semana se refugia o presidente deposto Manuel Zelaya. 

É o que eu espero, ao mesmo tempo em que lamento que uma situação inusitada e absurda como essa, de ameaças ao território e a soberania brasileiros, seja respaldada no Brasil pela oposição e pela midia - com as Organizações Globo, jornal e TV à frente - num comportamento abertamente simpático aos golpistas e que beira à traição nacional. 

A comunidade internacional, por unanimidade, e ao contrário do que fazem nossa mídia e a oposição, não discutiu o caráter do golpe, ou se o Brasil tem ou não direito de hospedar, asilar, abrigar - seja lá que termo se queira usar - o presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya.

E não o fez, porque ele não pode ser tomado, ou tratado, como um foragido, ou perseguido, ou mesmo como um criminoso. Os golpistas hondurenhos é que o são. Zelaya, para a ONU e a OEA, epara a comunidade internacional é simplesmente o presidente de Honduras, eleito constitucional e democraticamente por seu povo.

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Imprensa radicaliza sua campanha a favor de golpistas

Salta a vista a radicalização - com raras exceções - de nossa midia, de seus comentaristas, articulistas e chefes de redação, que promovem uma campanha sistemática contra o governo Lula, apenas mudando de temas.

Nestas ultimas semanas foi a política externa do governo - e não apenas em relação à crise hondurenha - que foi colocada na berlinda. Há articulistas de economia que abandonaram sua especialidade e dias e dias seguidos se dedicam a escrever sobre Honduras (leia nota acima).

Tudo bem que se sabe que por trás do golpe - ou claramente, à frente dele e como seu principal motivo - tem toda uma rede de interesses econômicos dos Estados Unidos, mas não precisam exagerar...

Diplomatas aposentados põem pena a serviço de ditadura

Lamentavelmente diplomatas aposentados colocaram suas vozes - e pena - a serviço dessa causa antinacional e antidemocrática, sem esconder suas simpatias pelos golpistas. E pior: omitem-se ante a violência que o presidente Álvaro Uribe comanda na Colômbia, praticamente comprando um novo período de governo, o famoso terceiro mandato.

Terceiro mandato, aliás, só foi rejeitado e provocou escândalo aqui quando nossa midia quis imputar ao presidente Lula e ao PT a intenção de mudar a Constituição e tentá-lo aqui no Brasil.

Aí, vocês se lembram, nossa mídia deflagrou contra o presidente, seu partido e o governo uma campanha similar a atual que move contra o presidente Manuel Zelaya, a democracia em Honduras, e a favor do golpe militar que o derrubou.

http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=blogsection&id=11&Itemid=37


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quarta-feira, setembro 23, 2009

NOSSO MAROTO PRESIDENTE


Será que a fina ironia do presidente não foi compreendida pela mídia, ou a nossa imprensa a compreendeu, mas não quis “passar recibo”? Esperto e atento, Lula percebeu que, após o estrago que Bush fez à imagem dos EUA, e, por conseqüência, ao pensamento de direita, qualquer um identificado com essa ideologia se dará mal nas eleições. Nem do ponto de vista do pensamento econômico e desenvolvimentista, ser de direita favorecerá um candidato. O artigo é de Rogério Mattos Costa.

Rogério Mattos Costa

Com a popularidade de seu governo nas nuvens, a economia e os empregos crescendo e vários candidatos oriundos da esquerda querendo sucedê-lo, qual poderia ser, para Lula a maior provocação a dirigir ao Serra, do que soltar uma “perola” dessas, num claríssimo tom irônico, discursando para centenas de empresários?

E que provocou sonoras gargalhadas no plenário?

Será que a mídia não percebeu a ironia?

Será que ela concorda com Lula e quer que Serra não seja classificado como “de direita”?

Isso sugere um teste. Será que Serra é de direita?

1. Só a direita tem o monopólio da mídia. E Serra tem, não só apoio, mas controle integral da mídia que o protege e sempre que pode elogia.

2. Só a direita usa força militar contra favelados, sem terra, sem-teto e minorias. Serra usou destacamentos de choque nos casos da invasão da USP, Heliópolis, Pontal, etc.

3. Só a direita ataca a Petrobras. Serra ataca a maior empresa estimulando CPIs, usando a mídia e paus-mandados como Alvaro Dias, Arthur Virgílio , a “Sheet from Saint Paul”, etc, embora o faça com muito cuidado para não “queimar” seu filme.

4. Só a direita quer privatizar tudo que puder. Serra, além de participar da privataria do reinado de Dom Fernando II, de quem era ministro do planejamento, já quis , em seu governo em São Paulo privatizar várias empresas como a CESP , sem sucesso.


Lula parece ter percebido que nesse turbilhão de candidaturas a presidente, todas ditas de “esquerda”, Serra poderia passar como mais um “esquerdista”, com seu currículo de “auto-refugiado”no Chile, de “exilado em Paris”, que tanto charme deu ao seu criador, FHC , no passado.

Em seu inegável “feeling” de animal político que é, nosso metalúrgico-presidente achou que essa seria a melhor hora para provocar Serra a dizer: “Não, Lula, eu não sou de esquerda. Agora sou de direita!”

Ou a fazer a direita a dizer: “Não Lula! Você está errado! Nós, a direita , estamos vivos e temos o nosso candidato, sim! E o nosso candidato é o Serra”...

Com seu sorriso maroto, o velho dirigente sindical que dirige o Brasil, quis dizer:

“Ah...quer dizer que agora todo mundo é de esquerda?”

Esperto e atento, Lula percebeu que, após o estrago que Bush, fez à imagem dos EUA e por conseqüência, ao pensamento de direita, qualquer um identificado com essa ideologia, se dará mal nas eleições.

Nem do ponto de vista do pensamento econômico e desenvolvimentista, ser de direita favorecerá um candidato...

Lula percebeu que, após a crise americana, com a estatização da General Motors, a desvalorização do dólar e o surgimento dos Estados “Falidos” da América, muito poucos políticos brasileiros andarão por aí querendo-se dizer herdeiros do legado político e ideológico da direita.

Lula sabe que Serra não é mais apenas um antigo esquerdista, agora a serviço da direita, como tantos. Lula quis evidenciar a opção política de seu oponente e suas companhias.

Lula quis dizer, com sua fina ironia, que Serra é a cara visível da própria direita. Que como a Hidra de Lerna, a direita tem muitas cabeças, mas uma é a cabeça principal, que comanda e pensa pelo monstro...

E é exatamente isso que Lula, sabendo como a mídia o detesta, quis que entrasse em discussão: “Serra é de esquerda ou de direita”?

E em sua malícia, Lula, o “semi-analfabeto”, como o acusam, usou a própria mídia adversária para colocar em evidência algo que muitos “ex-querdistas” como Serra, FHC, Gabeira, César Maia, Roberto Freire, querem fazer desaparecer, a todo custo: a nódoa escura da traição aos seus antigos ideais e da colaboração vergonhosa com os defensores e promotores da ditadura e da quebra do regime democrático em 1964.

Para a parcela da sociedade que o apóia, Lula quis transmitir um tipo de senha, um recado para que aproveitemos e repercutamos essa sua afirmação, feita entre largos e fartos sorrisos de ironia, que provocavam gargalhadas.

Como fez o site Vermelho com seu editorial muito esclarecedor.

Usando uma técnica da própria mídia, Lula “levantou a bola”, junto da rede, para que todos nós, vindos de trás, cortássemos sobre o campo do adversário...

E é isso que temos o dever se fazer: alertar as pessoas, através da rede de nossos relacionamentos, para o fato de que Serra, ex-lider da UNE, estar no presente, a serviço da direita.

Como tantos “freires”, “maias”, “lacerdas”, que foram corrompidos, convencidos e de muitas formas atraídos para prestar esse tipo de serviço a governos e grupos econômicos estrangeiros.

Prova de que o que eu afirmo pode estar certo é que a imprensa, que sempre acha que o Lula está errado em tudo, evitou entrar nessa de repercutir essa fala do presidente, mesmo ela tendo tudo para ser muito polêmica.

É que seus mentores, lá no comando supremo da PIG, devem ter percebido que numa fase boa para Lula, a comparação e o uso do critério “esquerda-direita”, não favoreceria Serra...muito pelo contrário...

Nós, brasileiros com acesso à internet e que no geral, apoiamos o governo Lula e queremos sua continuidade, temos que perceber melhor essa e outras “deixas” que o nosso impagável presidente nos dá para fustigarmos, de uma maneira que ele não pode fazer devido ao seu cargo, aos adversários do Brasil.

A situação lembra um pouco o que aconteceu em Portugal, onde logo depois da Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, com os torturadores e agentes da PIDE sendo presos na rua, sumiram-se os políticos de direita, que sustentavam a ditadura de Salazar por 53 anos.

A tal ponto que ninguém mais chamava de esquerdo o braço em que se usa o relógio.

Aquele era o braço “extremo-esquerdo”. E ao braço direito, chamava-se de simplesmente, de “esquerdo”...


http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16157&alterarHomeAtual=1


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terça-feira, setembro 22, 2009

UM NOVO BRASIL



Ascensão social beneficiou 31 milhões de brasileiros entre 2003 e 2008, revela pesquisa
Escrito por Agência Brasil   
22/09/2009
http://www.cut.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=16815&Itemid=170 

Rio de Janeiro - Cerca de 31 milhões de brasileiros subiram de classe social entre os anos de 2003 e 2008. Entre eles, 19,4 milhões deixaram a classe E, que traça a linha da pobreza no país, tendo a renda domiciliar inferior a R$ 768,00; e outros 1,5 milhão saíram da classe D (de R$ 768,00 a 1.114,00). Com isso, houve uma queda acumulada de 43% no grupo dos mais pobres neste período.

Ao mesmo tempo, a classe AB, que representa o grupo com renda domiciliar mais elevada (superior a R$ 4.807,00), ganhou 6 milhões de pessoas. A classe C (renda familiar entre R$ 1.115,00 e 4.807,00) é a maioria da população e recebeu 25,9 milhões de brasileiros nos últimos cinco anos.

A constatação faz parte de um estudo divulgado nesta segunda-feira (21) pela Fundação Getulio Vargas (FGV), com base nos dados de 2008 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), apresentada na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o economista da FGV Marcelo Néri, responsável pelo estudo, esse movimento foi puxado principalmente pelas políticas de transferência de renda do governo federal, como o Bolsa Família, que traz como impacto direto a melhoria na renda do brasileiro pertencente à camada mais baixa. Ele acredita que as transferências de renda no momento atual de crise podem contribuir para a retomada da economia.

"Se eu reajusto o Bolsa Família, a grande beneficiária é a classe E. Se eu aumento o salário mínimo, por exemplo, quem mais ganha é a classe D. Já se faço reajuste das aposentadorias acima do [salário] mínimo quem ganha mais é a classe AB", diz Néri. "Por isso defendo mais reajustes transitórios ao Bolsa Família do que reajustes permanentes ao mínimo e muito menos ganhos de pensões acima do mínimo, que não beneficiam nem a classe média brasileira."

Para ele, as políticas de renda têm impacto totalmente diferente em termos de desigualdade e de pobreza e na situação atual têm efeito diferente sobre a demanda. "O pobre consome toda a renda dele e, neste momento em que a gente está precisando de um ataque contra a crise, eu diria que o Pelé é o mercado interno e o seu companheiro de ataque é o Tostão do Bolsa Família. Essa é a dupla eficiente que está permitindo ao Brasil sair da crise ou não ter entrado tanto nela", diz.

Néri destacou, ainda, que desde 2001 o Brasil vive um processo de redução da desigualdade. Neste período, a renda per capita dos 10% mais pobres da população subiu 72%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu, aproximadamente, 11%. De acordo com o economista, essa melhora no indicador foi impulsionado principalmente pela renda do trabalho.

"Acho que essa redução de desigualdade foi a grande conquista da década. O fato de ser puxada em cerca de dois terços pela renda do trabalho significa que o brasileiro está gerando sua própria renda. O que temos observado é um boom no mercado de trabalho", ressaltou Neri. Segundo ele, os programas sociais ou aposentadorias foram responsáveis pelos outro um terço do movimento.

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Uma nova meta do milênio: banda larga gratuita e para todos

(Terça-Feira, 22 de Setembro de 2009 às 01:57hs)


Aquele apito que às vezes soa e desperta ao mesmo tempo uma grande quantidade de pessoas, parece ter disparado para chamar a atenção de parte da sociedade brasileira para a Conferência da Comunicação.
 Aumenta a cada dia a quantidade de pessoas que tem se reunido em inúmeros debates por todos cantos do Brasil com o objetivo de construir propostas para um novo modelo no setor. Só isso já é algo que torna esse processo  relevante. Mas o melhor é que não são apenas os “especialistas” que têm participado desses debates. 
 Há gente da cultura, do movimento negro, feministas, GLBT, sindicatos, igrejas, sem-terra, universidades etc. Pessoas de diferentes cantos e áreas. Com histórias de vida e culturas distintas. 
 Gente com compreensões muito próximas em diversos aspectos, mas com diferenças sensíveis em outros. 
 Não há nada de mal nisso. É a diversidade a nossa principal riqueza. E o Fórum Social Mundial nos lembra isso a cada edição. 
 Mas são tantas as bandeiras da sociedade civil para a Confecom que podemos terminar esse processo sem avançar em alguns aspectos estratégicos. E talvez nada seja mais estratégico para a democracia brasileira e para a democratização das comunicações do que garantir o quanto antes a banda larga e gratuita para todos os cidadãos. 
 E por que não propor que isso se dê 2015? Afinal as metas do milênio firmadas pelo Brasil têm nesse ano o marco para um balanço das realizações. E como temos 8 metas do milênio, na Confecom poderia se consagrar a banda larga e gratuita como nossa nona e nova meta. 
 É suficiente essa conquista para democratizar a comunicação no Brasil? Evidente que não. Ao mesmo tempo ela ampliaria razoavelmente todas as nossas outras lutas.
 Nenhum movimento não terá mais força quando todos os brasileiros puderem ter acesso ao universo virtual e à sua diversidade de conhecimento.
 Evidente que é preciso ao mesmo tempo garantir que a internet mantenha a sua neutralidade atual e que leis escatológicas como a do senador Azeredo não sejam aprovadas. 
 Evidente que é preciso lutar para que o modelo atual de concessões seja revisto e que a sociedade passe a ter mais espaço para a produção de comunicação. 
 Evidente que é preciso forçar a barra para que a produção cultural nacional tenha mais espaço em rádios e TVs. E que isso seja garantido por lei. 
 Evidente que é preciso lutar para que os recursos da publicidade governamental não sustentem apenas meia dúzia de grupos midiáticos. 
 Evidente que cada grupo deve gritar mais alto aquilo que mais lhe toca. 
 Mas essa bandeira comum da banda larga gratuita e para todos poderia ser o “outro mundo é possível” onde todos caberíamos. 
 Somos muitos e teremos muitas propostas nessa Conferência. Mas seria ótimo se todos tivessemos conjutamente ao menos uma. 
 Se conseguissemos conquistar a banda larga gratuita até 2015 para todos os brasileiros, deixaríamos um legado sensacional para as próximas gerações. E mudaríamos radicalmente a correlação de forças nesse setor.
 E sem dúvida teríamos muito mais força para novas conquistas.

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Por que a mídia demotucana anda tão nervosa?


Melhor parar de brigar com os fatos

 

Por José Paulo Kupfer

 

Um sexto da população brasileira subiu na escala social, entre 2003 e 2008, ou seja, no governo Lula. Foram 32 milhões de pessoas que passaram a fazer parte das classes A, B e C. A conclusão é da insuspeita Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Desse conjunto, quase dois terços deixaram para trás as classes D e E. Em números absolutos, cerca de 20 milhões de brasileiros saíram das faixas mais pobres. As classes D e E, com o movimento, encolheram, no período, acima de 40%.

Quem diz tudo isso é o economista Marcelo Néri, coordenador do Centro de Políticas Sociais da FGV. Néri é um dos maiores especialistas brasileiros na organização e análise dos microdados fornecidos pelos levantamentos sócio-demográficos, em especial dos censos e das pesquisas por amostras, do tipo das PNADs. Não consta que alguma vez, na sua já longa e bem sucedida carreira de pesquisador, tenha se preocupado com possíveis ”usos eleitorais” de seus achados técnicos.

De acordo com os resultados obtidos por Néri, só em 2008, cerca de 4 milhões de pessoas saíram da classe E. A classe C, classificada como “classe média”, incorporou, no ano, cinco milhões de brasileiros. Também em 2008, 1,7 milhão ascenderam às classes A e B.

No período analisado, a renda per capita média, em termos reais (já descontados a inflação e o crescimento da população), cresceu 5,26%. Três fatores principais explicam o ocorrido, segundo Néri. O primeiro é o aumento da renda em razão dos programas sociais. Depois vem a parcela da renda da Previdência vinculada ao salário mínimo. E, na seqüência, os aumentos na própria renda do trabalho.

Pelos critérios da FGV, fazem parte da classe E todos apresentam renda domiciliar mensal inferior a R$ 768 (média individual de a R$ 232), enquanto a classe D é formada por pessoas com renda domiciliar entre R$ 768 e R$ 1.114. A classe C engloba os que somam renda domiciliar entre R$ 1.115 e R$ 4.806, enquanto a classe AB reúne aqueles com renda domiciliar acima de R$ 4.806. Para quem se espanta com esses valores, não custa lembrar que o mais pobre dos 10% mais ricos, no Brasil, tem rendimento mensal pouco superior a mil reais.

Depois, tem quem brigue com os fatos e não entenda a popularidade de Lula.

Comentário de um leitor do blog José Paulo Kupfer em Crônicas da Economia Brasileira.


Jorge disse: 21/09/2009 às 23:20 - Se Lula não tem nada a ver com esses resultados, ou esses resultados não existem, ou quando existem são obra do governo anterior, ou da grande prosperidade mundial, então:


Explique o motivo de Bill Clinton ter feito um grande governo, onde os EUA só conheciam prosperidade, enquanto aqui o Brasil só conhecia crises, miséria e muitas outras tragédias, com fhc? Por outro lado Bush recebeu um país em ordem e crescendo, e mesmo com o período de prosperidade mundial, levou os EUA a uma grande crise e o mundo junto.


Não podemos esquecer que o Brasil fazia parte de um grupo composto também por México e Argentina, eram irmãos siameses, enfrentavam crises parecidas, não tinham autonomia, e seguiam planos impostos pelo FMI. Sendo que hoje o Brasil entrou para os BRICs, prospera e tem reconhecimento mundial. Enquanto México e Argentina continuam enfrentado dificuldades econômicas. E principalmente, porque México e Argentina não estão entre BRICs?


Ao meu ver não é o momento que faz o governo, e sim o governo que faz o momento. E nesse ponto não adianta brigar com os fatos, Lula faz um bom governo, pois recebeu um país quebrado. Em 2002 o Brasil não tinha reservas, tinha miséria, dividas, desemprego, inflação e juros em alta, inclusive existia a possibilidade de pedir moratória e afundarmos em mais uma crise. Espero que o próximo governo consiga seguir o mesmo caminho, pois construir é difícil, mais destruir é fácil, é só olhar para os EUA.

Postado por olhosdosertão às 22:10


http://olhosdosertao.blogspot.com/2009/09/por-que-midia-demotucana-anda-tao.html

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segunda-feira, setembro 21, 2009

Lula propõe uma "consolidação das Leis Sociais"




Lula planeja a 'CLT social' & Na entrevista ao Valor Econômico, Lula propõe uma "consolidação das Leis Sociais" 

 
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Sexta-feira, 18 setembro de 2009  
Jornal da Tarde

Lula planeja a 'CLT social'
 
Com mais de 14 meses de mandato pela frente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já começou a prestação de contas do seu governo. Ele tem aproveitado as solenidades para listar o que considera como conquistas obtidas para o Brasil durante sua administração, iniciada em 2003. Também se preocupa em tentar pautar o rumo do debate para candidatos à sua sucessão. E tem anunciado medidas que pretende adotar.

A primeira passa por um aumento significativo do investimento na Educação e em Ciência e Tecnologia. Outra, trata de um plano massificado de inclusão digital em todo o País. “Quero levar isso a cada rincão do Brasil”, diz. Mas sua principal ideia é instituir uma Consolidação das Leis Sociais, adaptando para a área social o modelo da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) lançada por Getúlio Vargas na década de 40.

Nesse novo modelo, que precisará ser aprovado pelo Congresso, vai reunir e fixar regras para a maioria das iniciativas que o governo mantém na área social. Na sua avaliação, é tentativa de transformar essas políticas em conquistas, da mesma forma que a CLT estabeleceu normas na área trabalhista e que pautaram todo o início de sua trajetória política como líder sindicalista na região do ABC. Essa Consolidação deverá incluir programas como Bolsa-Família, Saúde da Família, Merenda Escolar, entre outros.

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17/09/2009
Valor Econômico
Autores: Claudia Safatle, Maria Cristina Fernandes, Cristiano Romero e Raymundo Costa
 
 
Na primeira entrevista concedida após a grande crise global,
Lula propõe uma "Consolidação das Leis Sociais" 

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende mandar ao Congresso ainda neste ano um projeto de lei para consolidar as políticas sociais de seu governo. A ideia é amarrar no texto da lei uma "Consolidação das Leis Sociais", a exemplo do que, na década de 1940, Getúlio Vargas fez com a "Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)". O presidente disse em entrevista ao Valor, ontem pela manhã, que não vai pedir urgência para esse projeto. "É bom mesmo que ele seja discutido em ano eleitoral".
 
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende mandar ao Congresso ainda este ano um projeto de lei para consolidar as políticas sociais de seu governo. A ideia é amarrar no texto da lei uma "Consolidação das Leis Sociais", a exemplo do que, na década de 50, Getúlio Vargas fez com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Diz que, para este projeto, não vai pedir urgência. "É bom mesmo que seja discutido no ano eleitoral".
 
Faz parte dos planos do presidente também para este ano encaminhar ao Congresso um projeto de inclusão digital. "Será para integrar o país todinho com fibras óticas", adiantou.
 
 
Na primeira entrevista concedida após a grande crise global, Lula criticou as empresas que, por medo ou incertezas, se precipitaram tomando medidas desnecessárias e defendeu a ação do Estado. "Quem sustentou essa crise foi o governo e o povo pobre, porque alguns setores empresariais brasileiros pisaram no breque de forma desnecessária".
 
Ele explicou porque está insatisfeito especialmente com a Vale do Rio Doce, a quem tem pressionado a agregar valor à extração de minério, construir usinas siderúrgicas e fazer suas encomendas dentro do país, em vez de recorrer à importação, como tem feito. "A Vale não pode ficar se dando ao luxo de ficar exportando apenas minério de ferro", diz ele. Hoje, disse, os chineses já produzem 535 milhões de toneladas de aço por ano, enquanto o Brasil, o maior produtor de minério do mundo, produz apenas 35 milhões de toneladas. "Isso não faz nenhum sentido."
 
O presidente defendeu a expansão de gastos promovida por seu governo, alegando que o Estado forte ajudou o país a enfrentar a recente crise econômica. "A gente não deveria ficar preocupado em saber quanto o Estado gasta. Deveria ficar preocupado em saber se o Estado está cumprindo com suas funções de bem tratar a população."
 
Rechaçou a eventualidade do "risco Serra", aludido por algumas autoridades de seu governo face às veementes críticas do governador de São Paulo, José Serra (PSDB) à política monetária. "É uma cretinice política. É tão sério governar um país da magnitude do Brasil que ninguém que entre aqui vai se meter a fazer bobagem, vai ser bobo de mexer na estabilidade econômica e permitir que a inflação volte".
 
A falta de carisma da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, provável candidata à sua sucessão em 2010 não é , para ele, um obstáculo eleitoral. "Se dependesse de carisma, Fernando Henrique Cardoso não teria sido eleito e Serra não seria nem candidato. Jânio Quadros tinha carisma e ficou só seis meses". O principal ativo de Dilma, na opinião de Lula, é a "capacidade gerencial" da ministra. "E mulher tem que ser dura mesmo, para se impor entre os homens."
 
Lula contou que já desaconselhou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a se candidatar ao governo de Goiás. "Eu já disse pro Meirelles. Eu sinceramente acho que o Meirelles não devia pensar em ser candidato a governador, coisa nenhuma. Mas esse negócio tem um comichão..."
 
O risco de os esqueletos deixados por planos de estabilização de governos passados se transformarem em pesado fardo para o Tesouro Nacional preocupa o presidente. Segundo ele, se o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitar as ações contra bancos baseadas em supostos prejuízos causados por planos econômicos, uma conta que supera os R$ 100 bilhões, os bancos vão acionar judicialmente a União para bancar que ela banque essa despesa.
 
Na entrevista ao Valor, concedida na manhã de ontem em seu gabinete no Centro Cultural do Banco do Brasil, o presidente falou por uma hora e meia. Fumou cigarrilha na última meia hora da entrevista e não se recusou a falar de seu futuro político quando deixar a Presidência. "Gostaria de usar o que aprendi na Presidência para ajudar tanto a América Latina quanto a África a implementar políticas sociais, mas primeiro preciso saber se eles querem, porque de palpiteiro todo mundo está cansado".
 
 
Sobre uma nova candidatura em 2014, o presidente foi direto: "Se Dilma for eleita, ela tem todo direito de chegar em 2014 e falar "eu quero a reeleição". Se isso não acontecer, obviamente a história política pode ter outro rumo".
 
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A entrevista:
 
 
 
Valor: Passado um ano da grande crise global, a economia brasileira começa a se recuperar. Além do pré-sal, qual a agenda do governo para o pós crise?
 
Luiz Inácio Lula da Silva: Ainda este ano vou apresentar uma proposta sobre inclusão digital. E, também, uma proposta consolidando todas as políticas sociais do governo.
 
Valor: Inclusive, o Bolsa Família, o salário mínimo?
 
Lula: Todas. Vai ter uma lei que vai legalizar tudo, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Será uma consolidação das políticas públicas para sustentar os avanços conquistados. Tudo o que foi feito, até as conferências nacionais, porque nós só temos legalizada a da saúde.
 
Valor: Mas o governo ainda não conseguiu sequer aprovar a política de valorização do salário mínimo?
 
Lula: A culpa não é minha. Mandei (para o Congresso) já faz um ano e meio. Sou de um tempo de dirigente sindical que, quando a gente falava de salário mínimo, as pessoas já falavam logo de inflação. Nós demos, desde que cheguei aqui, 67% de aumento real para o salário mínimo e ninguém mais fala de inflação. O projeto que nós mandamos é uma coisa bonita. É a reposição da inflação mais o aumento do PIB de dois anos atrás. Quero consolidar isso porque acho que o Brasil tem que mudar de patamar.
 
Valor: O senhor vai pedir urgência?
 
Lula: Não. É ótimo que dê debate no ano eleitoral. Quando eu voltar de viagem, vou ter uma reunião com todos os ministros da área social e vamos começar a trabalhar nisso.
 
Valor: E a inclusão digital?
 
Lula: Esta eu quero mandar também este ano. Será para integrar o país com fibras óticas. O Brasil precisa disso. Eu dei 45 dias de prazo, ontem, para que me apresentem o projeto de integração de todo o sistema ótico do Brasil.
 
Valor: O que mais será feito?
 
Lula: Uma proposta de um novo PAC para 2011-2015, que anunciarei em janeiro ou fevereiro. Porque precisamos colocar, no Orçamento de 2011, dinheiro para a Copa do Mundo, sobretudo na questão de mobilização urbana. E, se a gente ganhar a sede das Olimpíadas, já tem que ter uma coisa mais poderosa nisso.
 
Valor: Só para a parte que lhe cabe no pré-sal, o BNDES diz que vai precisar de uma capitalização de R$ 100 bilhões do Tesouro Nacional. O senhor já autorizou a operação?
 
Lula: Acabamos de dar R$ 100 bilhões ao BNDES e nem utilizamos ainda todo esse dinheiro. Para nós, o pré-sal começa ontem. Na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, pedi aos empresários que constituíssem um grupo de trabalho para que possamos ter dimensão do que vamos precisar nos próximos 15 anos entre infraestrutura, equipamentos para construção de sondas, plataformas, toda a cadeia. Não podemos deixar tudo para a última hora e isso vai exigir muito dinheiro. Esse problema do BNDES ainda não chegou aqui, mas posso garantir que não faltará dinheiro para o pré-sal.
 
Valor: O governo pensa numa política industrial para o pré-sal, voltada para as grandes empresas nacionais. Fala-se em ter empresas "campeãs nacionais". Isso vai renovar o parque industrial e as lideranças empresariais do país?
 
Lula: Certamente aumentará muito o setor empresarial brasileiro. Precisamos aproveitar o pré-sal e criar, também, um grande polo petroquímico. Não podemos ficar no sexto, sétimo lugar nesse setor. Pedi para o Luciano Coutinho (presidente do BNDES) coordenar um grupo de trabalho para que a gente possa anunciar em breve um plano de fomento à indústria petroquímica no Brasil. E pedi para os empresários brasileiros se prepararem para coisas maiores. Vamos precisar de mais estaleiros, diques secos, e isso tem que começar agora para estar pronto em três a quatro anos. Sobretudo, temos que convencer os empresários estrangeiros a investir no Brasil, construindo parcerias.
 
Valor: É por essa razão que o senhor está irritado com a Vale?
 
Lula: Não estou irritado com a Vale. Tenho cobrado sistematicamente da Vale a construção de usinas siderúrgicas no país. Todo mundo sabe o que a Vale representa para o Brasil. É uma empresa excepcional, mas não pode se dar ao luxo de exportar apenas minério de ferro. Os chineses já estão produzindo 535 milhões de toneladas de aço e nós continuamos com 35 milhões de toneladas. Daqui a pouco vamos ter que importar aço da China. Isso não faz nenhum sentido. Quando a gente vende minério de ferro, custa um tiquinho.
 
Valor: E não paga imposto porque o produto não é industrializado...
 
Lula: Não paga imposto. Tudo isso eu tenho discutido muito com a Vale porque eu a respeito. Quando ela contrata navios de 400 mil toneladas na China, é de se perguntar: ´e o esforço imenso que estou fazendo para recuperar a indústria naval brasileira?´
Valor: Mas a Vale não é uma empresa privada?
 
Lula: Pode ser privada ou pública. O interesse do país está em primeiro lugar. As empresas privadas têm tantas obrigações com o país como eu tenho. Não é porque sou presidente que só eu tenho responsabilidade. Se quisermos construir uma indústria competitiva no mundo, vamos ter que fortalecer o país.
 
Valor: Os custos não são importantes?
 
Lula: Os empresários têm tanta obrigação de ser brasileiros e nacionalistas quanto eu! Estou fazendo uma discussão com a Vale, já fiz com outras empresas, porque quando queremos importar aço da China, os empresários brasileiros não querem. Mas quando eles aumentam seus preços, eu sou obrigado a reduzir a alíquota (de importação) para poder equilibrar. Eu sei a importância das empresas brasileiras, ninguém mais do que eu brigou neste país para elas virarem multinacionais. Porque, cada vez que uma empresa se torna uma multinacional, ela é uma bandeira do país fincada em outro país.
 
Valor: As empresas não importam porque lá fora é mais barato e tecnologicamente mais avançado?
 
Lula: Não sei se tecnologicamente é mais avançado. Pode ser mais barato. Quando começamos a discutir com a Petrobras a construção de plataformas, ela falava ´nós economizamos não sei quantos milhões´. Eu falava ´tudo bem, e os desempregados brasileiros? E o avanço tecnológico do país? E a possibilidade de fazemos plataformas aqui e exportar?´ Em vez de apenas importar, vamos convencer as empresas de fora que nós temos demanda e que elas venham construir no Brasil. Não estamos pedindo favor. Talvez o Brasil seja, daqui para a frente, o país a consumir mais implementos para a construção de sondas e plataformas.
 
Valor: O governo pensa em reduzir os custos de produção no Brasil?
 
Lula: Temos, no momento, uma crise econômica em que o custo financeiro subiu no mundo inteiro. Desde que entrei, e considerando a extinção da CPMF, foram mais de R$ 100 bilhões em desonerações. Eu já mandei duas reformas tributárias ao Congresso. As duas tiveram a concordância dos 27 governadores e dos empresários. Mas as propostas chegam no Senado e, como diria o Jânio Quadros, tem o ´inimigo oculto´ que não deixa que sejam aprovadas.
 
Valor: Como o senhor vê o papel do Estado pós crise?
 
Lula: O Estado não pode ser o gerenciador, o administrador. O Estado tem que ter apenas o papel de indutor e fiscalizador. Então, (o Estado) leva uma refinaria para o Ceará, um estaleiro para Pernambuco. Se dependesse da Petrobras, ela não gostaria de fazer refinarias.
 
Valor: Por que há ociosidade?
 
Lula: Na lógica da Petrobras, as suas refinarias já atendem a demanda. Há 20 anos a empresa não fazia uma nova refinaria. Agora, o que significa uma nova refinaria num Estado? A primeira coisa que vai ter é um polo petroquímico para aquela região. Este é o papel do governo. O governo não pode se omitir. A fragilidade dos governantes, hoje, é que eles acreditaram nos últimos dez anos que os mercados resolviam os problemas. E agora, quando chegou a crise, todos perceberam que, se os Estados não fizessem o que fizeram, a crise seria mais profunda. Se o Bush (George, ex-presidente dos Estados Unidos) tivesse a dimensão da crise e tivesse colocado US$ 60 bilhões no Lehman Brothers antes de ele quebrar, possivelmente não teríamos a crise de crédito que tivemos. Então, a Vale entra nessa minha lógica.
 
Valor: Depois da conversa com o senhor, a Vale vai construir as siderúrgicas?
 
Lula: Ela precisa agregar valor às suas exportações. Se ela exportar uma tonelada de bauxita, vai receber entre US$ 30 e US$ 50. Se for um tonelada de alumínio pronto, vai vender por US$ 3 mil. Além disso, vai gerar emprego aqui, vai ter que construir hidrelétrica para ter energia. Não pode ter só o interesse imediato pelo lucro porque a matéria prima um dia acaba e, antes de acabar, temos que ganhar dinheiro com isso. A Vale entende isso.
 
Valor: Então ela se comprometeu?
 
Lula: Basta ver a propaganda dela nos jornais. Faz três anos que venho conversando com a Vale. O Estado do Pará reclama o tempo inteiro, Minas Gerais e o Espírito Santo também. A siderúrgica do Ceará não foi proposta por mim. Foi proposta em 1992. Há condições de fazer? Há. Há mercado? Há. Temos tecnologia? Temos. Então, vamos fazer.
 
Valor: Entre reduzir a carga tributária, desonerando a folha de pagamentos das empresas, e aumentar o salário do funcionalismo, o senhor ficou com a segunda opção. Por quê?
 
Lula: Primeiro porque a desoneração é baseada no nervosismo econômico, no aperto de determinado segmento. O Estado tem que ter força. No Brasil, durante os anos 80, se criou a ideia de Estado mínimo. O Estado mínimo não vale para nada. O Estado tem que ter força para fazer as políticas que fizemos agora, na crise, com a compreensão do Congresso. Não pense que foi fácil tomar a decisão de fazer o Banco do Brasil (BB) comprar a Nossa Caixa em São Paulo.
 
Valor: Por quê?
 
Lula: As pessoas diziam: ´Ah, o presidente vai dar dinheiro ao Serra e o Serra é candidato´. Mas não dei dinheiro para o Serra. Comprei um banco que tinha caixa e para permitir que o BB tivesse mais capacidade de alavancar o crédito. Quando fui comprar (via BB) 50% do Banco Votorantim, tive que me lixar para a especulação. Nós precisávamos financiar o mercado de carro usado e o Banco do Brasil não tinha ´expertise´. Então, compramos 50% do Votorantim, que tem uma carteira de carro usado de R$ 90 bilhões. Vocês têm dimensão do que foi ter uma Caixa Econômica Federal, um BNDES ou um BB na crise? Foi extremamente importante. A Petrobras apresentou estudo mostrando que deveria adiar o cronograma dos investimentos dela de 2013 para 2017.
 
Valor: Durante a crise?
 
Lula: É. Convoquei o Conselho da Petrobras para dizer: ´Olha, este é um momento em que não se pode recuar´. Até no futebol a gente aprende que, quando se está ganhando de 1 x 0 e recua, a gente se ferra.
 
Valor: E funcionou?
 
Lula: Quem sustentou essa crise foi o governo e o povo pobre, porque alguns setores empresariais brasileiros pisaram no breque de forma desnecessária. Aquele famoso cavalo de pau que o (Antonio) Palocci (ex-ministro da Fazenda) dizia que a gente não podia dar na economia, alguns setores empresariais deram por puro medo, incerteza. Essas coisas nós conversamos muito com os empresários, no comitê acompanhamento da crise. Agora não vai ter mais comitê de crise, mas sim de produção, investimento e inovação tecnológica. Estou otimista porque este é o momento do Brasil.
 
Valor: Por exemplo?
 
Lula: As pessoas estão compreendendo que fazer com que o pobre seja menos pobre é bom para a economia. Ele vira consumidor. Eles vão para o shopping e compram coisas que até pouco tempo só a classe média tinha acesso. Os empresários brasileiros precisam se modernizar.
Valor: A política de valorização do funcionalismo dificilmente poderá ser mantida por seu sucessor e nenhum dos candidatos tem ascendência sobre o movimento sindical que o senhor tem. Não é uma bomba relógio que o senhor deixa armada para o próximo governo?
 
Lula: Vocês acham que o Estado brasileiro paga bem?
 
Valor: O senhor acha que ainda ganha mal?
 
Lula: Você tem que medir o valor de determinadas funções no mercado e dentro do governo. Sempre achei que o pessoal da Petrobras ganhava muito. O Rodolfo Landim, quando era presidente da BR, há uns quatro anos, ganhava R$ 26 mil. Ele entrou na minha sala e disse: ´Presidente, tive convite de um empresário, estou de coração partido, mas não posso perder a oportunidade da minha vida´. Então, ele deixa de ganhar R$ 26 mil por mês e vai ganhar R$ 200 mil com dois anos de pagamento adiantado. Quanto vale um bom funcionário da Receita Federal, do Banco Central, no mercado? O que garante as pessoas ficarem no Estado é a estabilidade, não o salário.
 
Valor: Mas essa política de valorização salarial do funcionalismo é sustentável?
 
Lula: Como é que a gente vai deixar de contratar professores? Vou passar à história como o presidente que mais fez universidades neste país. Ontem, completamos a 11ª (das quais, duas foram iniciativa do governo anterior). Ganhamos do Juscelino Kubitschek, que fez dez. Teve governo que não fez nenhuma. E ainda há três no Congresso para serem aprovadas.
 
Valor: O senhor considera que o Estado hoje está arrumado?
 
Lula: A gente não deveria ficar preocupado em saber quanto o Estado gasta. Deveria ficar preocupado em saber se o Estado está cumprindo com suas funções de bem tratar a população. E ainda falta muito para chegar à perfeição.
 
Valor: O senhor foi vítima em 2002 do chamado "risco Lula". Hoje, já há quem fale em "risco Serra". Existe mais risco para o país com o Serra do que com a Dilma?
 
Lula: Nunca ouvi falar de ´risco Serra´ (risos). Posso falar de cátedra. Sofri com o ´risco Lula´ desde 1989. Em 1994, eu tinha 43% nas pesquisas em março e o que eles fizeram? Diminuíram o mandato para quatro anos e proibiram mostrar imagem externa no programa eleitoral. As pessoas pensam que esqueci isso. Quando chegaram as eleições para a prefeitura (em 1996), revogou-se a lei e todo mundo pôde mostrar imagens externas. Quando eles ganharam, aprovaram a reeleição. Então, essa coisa de ´risco Lula´ eu conheço bem.
 
Valor: É possível voltar a acorrer?
 
Lula: Espero que minha vitória e meu governo sirvam de lição para essas pessoas que ficam dizendo: ´o Lula era risco, agora o Serra é risco, a Dilma é risco, a Marina é risco, o Aécio é risco´. É uma cretinice política! Porque é tão sério governar um país da magnitude do Brasil que ninguém que entre aqui vai se meter a fazer bobagem. Quem fez bobagem não ficou. Todo mundo sabe da minha afinidade com os trabalhadores, da minha preferência pelos mais pobres. Entretanto, sou governante dos ricos também. E tenho certeza de que eles estão muito satisfeitos porque ganharam muito dinheiro no meu governo. Mais do que no governo ´deles´. Como pode um companheiro como a Dilma, o Serra, a Marina, todos que têm história, ficar sujeito a essa história de risco? E sabe por que não tem risco? Porque, se depois fizer bobagem, paga. Você pode ter visão diferente sobre as coisas, isso é normal. E agora mais ainda porque quem vier depois de mim.
 
Valor: Por quê?
 
Lula: Porque há um outro paradigma. Em cem anos a elite brasileira fez 140 escolas técnicas. Como é que esse torneiro mecânico faz 114? Estamos criando um paradigma. Fui ao Rio Maranguapinho (no Ceará) um dia desses. Estamos colocando lá R$ 390 milhões para fazer saneamento básico. Em Roraima são R$ 496 milhões para fazer saneamento e dragagem. Você sabe quanto o Brasil inteiro gastou em 2002 em saneamento?
 
Valor: Quanto?
 
Lula: R$ 262 milhões. Então, estamos colocando num bairro de Fortaleza o que foi colocado no Brasil inteiro naquele ano.
 
Valor: O senhor diria que pelo menos nos três fundamentos básicos da economia - superávit primário, câmbio flutuante e regime de metas - ninguém vai mexer porque foram testados na crise?
 
Lula: Para mim, inflação controlada é condição básica para o resto dar certo. Porque na hora que a inflação começar a crescer, os trabalhadores vão querer muito mais reajuste, os empresários também e a coisa desanda. Então, é manter a inflação controlada, a economia crescendo, permitir o crescimento do crédito. O Banco do Brasil sozinho hoje talvez tenha todo o crédito que o Brasil tinha em 2003.
 
Valor: Isso é bom ou ruim? Entre os anos 80 e 90, houve péssima gestão nos bancos estaduais, que acabaram quebrando...
 
Lula: Mas aí a culpa não é do banco. É irresponsabilidade da classe política. Os governantes transformaram os bancos públicos em caixa 2 de campanha. Emprestar dinheiro para amigo? Isso acabou. Não acho que ninguém que entre aqui vai ser bobo de mexer na estabilidade econômica e permitir que volte a inflação. Porque, se isso acontecer, o mandato é de apenas quatro anos.
 
Valor: A capacidade administrativa da ministra Dilma Rousseff, apesar do seu pouco carisma, e a confiança que o senhor tem em seu trabalho são suficientes para fazer dela uma candidata?
 
Lula: Quantos políticos têm carisma no Brasil? Se dependesse de carisma, Fernando Henrique Cardoso não teria sido presidente. Se dependesse de carisma, José Serra não poderia nem ser candidato. Carisma é uma coisa inata. Você pode aperfeiçoar ou não. Sempre é bom ter um pouco de carisma. O Jânio Quadros tinha carisma. Ficou só seis meses aqui. Estou dizendo que para governar este país é preciso um conjunto de qualidades. E a primeira qualidade é ganhar eleição. Tem que ter muita humildade, determinação do projeto que vai apresentar. Tem que provar que é capaz de gerenciar. Hoje, com sete anos de convivência, não conheço ninguém que tenha essa capacidade gerencial da Dilma. Às vezes as pessoas falam ´ela é dura´. Mas é que a mulher tem que ser mais dura mesmo.
 
Valor: Por quê?
 
Lula: Porque numa discussão política, para você se impor no meio de 30 ou 40 homens, é assim. A Dilma é muito competente. Feliz do país que vai ter uma disputa que pode ter Dilma, Serra, Marina, Heloísa Helena, Aécio. Houve no país um avanço qualitativo nas disputas eleitorais. O Fernando Henrique e eu já fomos um avanço extraordinário. Fico olhando e vejo que não tem um único candidato de direita. Isto é uma conquista extraordinária de um Brasil exuberante. É evidente que Serra tem discordância da Dilma e vice-versa, mas ninguém pode acusar um e outro de que não são democratas e não lutaram por este país.
 
Valor: Qual é a diferença entre eles?
 
Lula: Vai ter. Se for para fazer (um governo) igual não tem disputa. E, aí, o povo vai escolher por beleza... Não sei se serão só os dois. Mas são candidatos de qualidade.
 
Valor: Privatizar ou não privatizar pode ser a diferença?
Lula: Não.
 
Valor: Por que o senhor é contra a privatização?
 
Lula: Tudo aquilo que não é de interesse estratégico para o país pode ser privatizado. Agora, tudo o que é estratégico, o Estado pode fazer como fez com a Petrobras e o Banco do Brasil.
 
Valor: A Infraero é estratégica?
 
Lula: O Guido (Mantega, ministro da Fazenda) foi determinado a fazer um estudo sobre a Infraero, para ver se ela vira uma empresa de economia mista. O que nos interessa é que as coisas funcionem corretamente. Pedi ao Jobim (Nelson, ministro da Defesa) estudar o processo de concessão de um ou outro aeroporto para gente poder ter um termômetro, medir a qualidade de funcionamento. O que é estratégico no aeroporto é o controle do espaço aéreo e não ficar pegando passaporte de passageiros.
 
Valor: O senhor, então, não é contra a privatização por princípio?
 
Lula: Eu sou muito prático. Entre o meu princípio e o bom serviço prestado à população, fico com o bom serviço.
 
Valor: Quando o senhor falou dos candidatos, não mencionou Ciro Gomes.
 
Lula: O Ciro é um extraordinário candidato. De qualquer forma o PSB tem autonomia para lançar o Ciro candidato.
Valor: O senhor é o presidente mais popular da história do Brasil. No entanto, este Congresso é um dos mais desmoralizados. Por que o PT fracassou na condução do Congresso?
 
Lula: Você há de convir que a democracia no Brasil funciona com muito mais dinamismo que em qualquer outro lugar do mundo. O PT elegeu 81 deputados em 513 e 12 senadores em 81. A gente precisa dançar mais flamenco do que em qualquer país do mundo. Você vai ter que ter mais jogo de cintura. Exercitar a democracia é convencer as pessoas, é sempre mais difícil.
 
Valor: Por quê?
 
Lula: O Congresso é a única instituição julgada coletivamente. Se não teve sessão você fala: ´Deputado vagabundo que não trabalha´. Agora, nunca cita os que estiveram lá, de plantão, o tempo inteiro. Quando era constituinte, eu ficava doido porque ficava trabalhando até as duas, três horas da manhã. O Ulysses (Guimarães) ficava uma semana sem votar. Quando ele começava a votar, aquilo varava a noite. No dia seguinte, pegava o jornal, que dizia ´sessão não deu quórum porque os deputados não foram trabalhar´. Mas havia lá 200 em pé. Toda vez que vou a debates com estudantes, em inauguração de escolas, eu falo isso: ´Se vocês não gostam de política, acham que todo político é ladrão, que não presta, não renunciem à política. Entrem vocês na política porque, quem sabe, o perfeito que vocês querem está dentro de vocês´.
 
Valor: O senhor disse que o Brasil deve comemorar o fato de não ter candidatos de direita na eleição presidencial. Por que depois de tantas tentativas de aproximar PT e PSDB, isso não deu certo?
 
Lula: Porque na verdade nós somos os principais adversários.
 
Valor: Em São Paulo?
 
Lula: Em São Paulo e em outros lugares. Há uma disputa.
 
Valor: A aliança PT-PSDB é impossível?
 
Lula: Acho que agora é impossível.
 
Valor: Como o senhor avalia sua relação com a oposição, sobretudo no momento em que se discute o marco regulatório do pré-sal?
 
Lula: Essa oposição teve menos canal com o governo. Certamente o DEM e o PSDB pouco tiveram o que construir com o governo. Possivelmente quando eles eram governo, o PT também construiu poucas possibilidades. O projeto do pré-sal tal, como ele foi mandado, não é uma coisa minha. O trabalho que fizemos foi, sem falsa modéstia, digno de respeito, tanto é que o Serra concorda com o modelo. O Congresso tem liberdade para mudar.
 
Valor: A oposição diz que o governo pediu urgência para usar o projeto de forma eleitoreira. A urgência era exatamente por quê?
 
Lula: Porque precisamos aprovar o mais rápido possível para dizer ao mundo o que está aprovado e começar a trabalhar. Acho engraçado a oposição dizer isso. A oposição votou em seis meses cinco emendas constitucionais no governo Fernando Henrique Cardoso.
 
Valor: O senhor volta com o pedido de urgência, se for o caso?
 
Lula: Depende. Atendi ao pedido do presidente da Câmara, Michel Temer. Vamos votar no dia 10 de novembro. Isso me garante. Termino o mandato daqui a um ano. Serei ex-presidente, nem vento bate nas costas. Não é para mim que estou fazendo o pré-sal. O pré-sal é para o país.
 
Valor: O que o senhor pretende fazer depois que deixar o governo?
 
Lula: Não sei. A única coisa que tenho convicção é que não vou importunar quem for eleito.
 
Valor: Todo mundo tem medo que o senhor volte em 2014...
 
Lula: Medo? Acho que deveria ter alegria, se eu voltasse. Na política a gente tem de ter sempre o bom senso. Vamos supor que a Dilma seja eleita presidente da República...
 
Valor: E se ela perder a eleição? O senhor vai se sentir pressionado pelo PT a disputar em 2014?
 
Lula: Vou trabalhar para o povo votar favoravelmente, mas, se votar contra, vou ter o mesmo respeito que tenho pelo povo. Se ela for eleita, tem todo o direito de chegar a 2014 e falar ´eu quero a reeleição´.
 
Valor: E se ela não for eleita?
 
Lula: Não trabalho com essa hipótese, mas obviamente que, se não acontecer o que eu penso que deve acontecer, a história política pode ter outro rumo.
 
Valor: Parece que está consolidada a percepção de que o país terá câmbio apreciado por um bom tempo. O senhor teme uma desindustrialização?
 
Lula: O nosso objetivo é industrializar o máximo possível. O Palocci disse uma frase que é simples e antológica: ´o problema do câmbio flutuante é que ele flutua´. Obviamente que nós já estamos discutindo isso. Trabalhamos com a hipótese de que vai entrar muito dólar no Brasil. Precisamos trabalhar isso com carinho. Em contrapartida, também estamos avançando na questão de fazer trocas comerciais nas moedas dos países. Não preciso do dólar para fazer comércio com a China, a Índia, a Rússia. Podemos fazer comércio com nossas moedas e com as garantias dos bancos centrais. Esta é uma coisa nova que já começamos a discutir. Na última reunião dos Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China), foi constituído um grupo de trabalho para pensar sobre isso. Não é possível você tratar da economia com teoricismo, de que você acha que hoje pode tomar uma decisão para evitar que alguma coisa aconteça daqui a dez anos. Esta crise econômica mundial mostrou isso. Hoje é unanimidade mundial que o Brasil é o país mais preparado para enfrentar isso. Nunca tivemos nenhum plano econômico. Cada vez que tinha uma crise vinha um e apresentava um plano. Quebrava. Os bancos hoje estão sendo processados no Supremo Tribunal Federal (STF) por uma dívida de mais de R$ 150 bilhões, por causa dos planos Bresser e Verão.
 
Valor: Os bancos pediram ajuda ao governo?
 
Lula: Não é que o governo vai ajudar. O governo é o responsável. O governo fez a lei. Eles cumpriram a lei. Se eles perderem no STF, sabe o que vai acontecer?
 
Valor: A conta vai para o Tesouro.
 
Lula: Eles vão acionar a União. Obviamente que é isso. E quem fez os planos está dando palpites nas economias. Este é o dado. Também peço a Deus que eu não deixe nenhum esqueleto para meus sucessores. Por isso, estou mais tranquilo para tomar as decisões, mais meticuloso, para fazer as coisas. Eu fico imaginado, quando eu não estiver mais aqui dentro, o que é que um ex-presidente pode esperar do país. Que um venha e faça mais do que ele. Porque isso é o que vai fazer o país ir para a frente. Somente uma figura medíocre é capaz de torcer para o cara não dar certo. Porque, quando não dá certo, eu não vi nenhum político ter prejuízo. Ele pode perder a eleição, mas não tem prejuízo. Agora, o povo pobre é que paga a conta, se a política não der certo.
 
Valor: Qual vai ser o discurso da sua candidata?
 
Lula: Vamos deixar a candidata construir. Mas eu acho o seguinte: o que eram as campanhas passadas? Quem vai controlar a inflação, o salário mínimo de US$ 100, não era isso? Isso acabou. Não se fala mais em FMI, não se fala mais em salário mínimo de US$ 100, não se fala mais em inflação.
 
Valor: Mas no FMI o senhor vai falar?
 
Lula: Vou falar porque agora somos credores do FMI.
 
Valor: A França se tornou nosso parceiro prioritário em detrimento dos EUA?
 
Lula: Não sei porque não pensaram nisso antes. A França é o único país europeu que faz fronteira com o Brasil. São 700 quilômetros de fronteira. Isso é uma vantagem comparativa da relação com a França. Nós sempre teremos uma excelente relação com o EUA. Sempre teremos uma belíssima relação com a Europa. Mas isso não atrapalha que nós tenhamos relações bilaterais estratégicas com outros países. Acho que os Estados Unidos precisam ter um olhar para a América Latina mais produtivo, mais desenvolvimentista.
 
Valor: O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vai sair para se candidatar ao governo de Goiás?
 
Lula: Sinceramente, o Meirelles não devia pensar em ser candidato a governador, coisa nenhuma. É que esse negócio (fazer política) tem um comichão...


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