sexta-feira, outubro 31, 2008

Jornalistas querem desempregar você


Se eu fosse o dono das Casas Bahia eu parava imediatamente de anunciar na TV.
Por que colocar dinheiro na TV, se a TV está querendo desempregar os meus clientes e acabar com o meu negócio?
Desligue a Globo, a Bandeirantes, a Record e o SBT.
É melhor quebrar o latifúndio da mídia do que quebrar o Brasil.
Os jornalistas vão perder o emprego?
Ótimo, talvez assim eles desenvolvam algum tipo de responsabilidade com relação ao resto da humanidade.
______________________________________________


Vendas das Casas Bahia não foram afetadas pela crise

Apesar de a crise ainda não ter abalado as vendas nas Casas Bahia, a maior rede de eletrodomésticos do país, a empresa já está tomando algumas providências para não ser surpreendida mais na frente.Uma das medidas tomadas foi suspender as compras dos fornecedores que estiverem reajustando os preços em razão da alta do dólar.

O objetivo de Michael Klein, diretor-executivo das Casas Bahia, ao tomar essa decisão, é não frear as vendas. Mesmo com toda essa crise, ele mantém a aposta de atingir a meta de R$ 14 bilhões de faturamento neste ano, R$ 1 bilhão acima do registrado em 2007.

"Estamos deixando de comprar dos fornecedores que estão subindo os preços", diz Michael Klein. "A minha preocupação é com o poder aquisitivo da população."

O empresário sabe que a elevação dos preços afeta diretamente o poder aquisitivo da população. É esse efeito que ele quer evitar ao rejeitar os aumentos de preços da indústria.

Nos últimos dias, Klein afirma que vários fornecedores começaram a subir os preços de seus produtos usando o argumento da alta do dólar. Os reajustes vão de 10% a 30%, dependendo do peso do componente importado.As TVs de plasma e de LCD têm, por exemplo, cerca de 70% de importados. Já as geladeiras, mais ou menos 15%. As indústrias estão tentando repassar para o comércio os efeitos da alta do dólar sobre os seus custos.

Klein não diz, no entanto, quais são as empresas que estão tentando repassar esses aumentos. Apenas afirma que só está trabalhando com os fornecedores que estão mantendo os seus preços.

Sobre a crise financeira global, Klein afirma que o cliente das Casas Bahia ainda não sentiu seus efeitos. De acordo com ele, o consumidor de baixa renda não está preocupado se a ação da Vale caiu ou subiu 50% ou 60% no ano, se o preço do barril de petróleo despencou para US$ 60 ou se quebrou algum banco americano, mas sim com o seu emprego e com a manutenção do crédito.

Por isso, o empresário diz que as vendas das Casas Bahia não foram afetadas pela crise, pelo menos por enquanto. A empresa não só manteve os preços como também as mesmas condições de financiamento -taxa de juros e prazo de pagamento.

De qualquer forma, Klein afirma que vai esperar assentar a poeira da crise para fazer o planejamento da empresa para 2009. No ano passado, a empresa já estava com os planos prontos para 2008.

"O mercado ainda está se comportando de forma irracional. Não há condições de se planejar nada para 2009", diz Klein. "O melhor é esperar o mercado assentar para planejar qualquer coisa."

Segundo Michael Klein, o que ele observa, no entanto, é que as empresas que não se endividaram, não dependem de dinheiro de fora nem de capital de giro dos bancos estão trabalhando normalmente, como o caso das Casas Bahia. "A crise ainda não chegou aqui."

;;;

quinta-feira, outubro 30, 2008

Tragédia de Eloá exige urgente controle social sobre a mídia


Enquanto a mídia estiver acima do bem e do mal, livre de qualquer controle social civilizatório, humanizador e democrático da sociedade, estaremos sendo surpreendidos por espetáculos animalescos em que a televisão termina envolvendo-se irresponsavelmente em crimes, tal como ocorreu agora no seqüestro que terminou com a trágica morte da adolescente Eloá Cristina.

Por Beto Almeida*, no Hora do Povo
Toneladas de falsa lamentação estarão sendo difundidas pela mídia incapaz de olhar no próprio espelho e reconhecer que ela própria tem sido fator de disseminação de mensagens que cultuam a violência. No caso Eloá, as redes de TV deram um funesto passo adiante no desrespeito às normas mais básicas do processo civilizatório: pelo menos três redes de TV comunicaram-se diretamente, por telefone celular, com o assassino Lindemberg Fernandes, durante o transcurso do ato criminoso, revelando a mais absoluta irresponsabilidade e, até que se prove o contrário, com capacidade de interferir negativamente no desfecho do episódio, quando ainda estava ocorrendo uma negociação das autoridades policiais na tentativa de evitar o pior, que acabou ocorrendo.

Conforme já divulgado, a apresentadora Sonia Abraão, da Rede TV, chegou mesmo a entrevistar longamente Lindemberg por celular no exato momento em que o oficial da PM tentava desesperadamente um contato telefônico com o criminoso. Resultado: o celular estava ocupado!!! Isto é de uma gravidade gigantesca!!!

Quem dá o direito aos meios de comunicação de sentirem-se acima das normas da sociedade, de considerarem-se mais importantes que a própria polícia, de decretarem arbitrariamente - revelando prepotência - que mais importante que a negociação é a entrevista que faziam como o seqüestrador? Será a sacrossanta lei do “vale tudo pela audiência”? Êpa!!! Aqui se verifica a transposição apavorante do limite entre civilização e barbárie!

Ibope

A menos que a psicologia tenha desistido de tudo diante do ceticismo que tais episódios podem causar sobre a capacidade humana de avançar no processo civilizatório, é inegável que uma negociação adequada, uma persuasão na dose certa, uma palavra precisa orientada por critérios científicos podem, sim, sensibilizar um sujeito transtornado e até demovê-lo de chegar às últimas conseqüências, salvando vidas em risco.

Sim, há uma longa trajetória de acertos e erros nesta matéria, mas, até onde se sabe, os especialistas em saúde mental conseguem inúmeros êxitos basicamente através de técnicas de neutralização dos distúrbios destrutivos, evitando que os protagonistas de atos violentos, como Lindemberg, cheguem às últimas conseqüências. É rigorosamente inaceitável que se despreze o legado de Freud, Adler, Reich, Jung e os progressos já alcançados na área da saúde mental pela humanidade assim em troca um pontinho a mais no Ibope.

Afinal, os amigos de Lindemberg testemunharam que ele sempre foi um cara normal, boa praça, camarada, um jovem pobre de periferia enfrentando as adversidades que o capitalismo colocou à sua frente. Portanto, será que uma pessoa assim não poderia afinal ter se sensibilizado pela negociação conduzida sob orientação de psicólogos?

Sim, em tese poderia, pois desconhecem-se antecedentes de conduta violenta ou anti-social de Lindemberg. Sim, poderia, mas não com as televisões, com sua capacidade de alterar o comportamento de qualquer ser humano — e é impossível negar isso — telefonando para ele, querendo entrevistá-lo “ao vivo”, sabendo-se que ele tinha a televisão ligada, conforme foi informado.

O que estas entrevistas interferem num sujeito que já estava completamente transtornado por um surto violento? Qual a possibilidade de que ao insuflar o seu ego, lançando-o no terreno escorregadio da “fama”, transformando-o numa “celebridade”, tornando ainda mais complexa a cena do crime, adulterando todo o processo de diálogo negociador que vinha sendo mantido com o policial encarregado, a mídia terminou por entrar em cena num crime em andamento, com entrevistadores que não são especialistas nem em segurança pública, nem em saúde mental, nem em ciências jurídicas, mas simplesmente à busca do desprezível “furo jornalístico”, aumentou os fatores de risco das adolescentes seqüestradas?

Ainda que estas perguntas não sejam todas respondidas facilmente, terá a mídia o direito de estabelecer por decreto que ela pode colocar-se em contato direto com um sujeito que está cometendo um crime simplesmente porque para ela o furo jornalístico está acima da vida? Uma sociedade que desenvolve as tecnologias da comunicação mas não desenvolve os instrumentos de sua humanização, revela-se uma sociedade com componentes bárbaros.

E revela também o risco de termos meios de comunicação tão ágeis, tão abrangentes, mas, por estarem sem controle social humanizador, capazes de ampliar a insegurança, resvalar para o papel de cúmplice de um ato criminoso na medida em que, à revelia de qualquer orientação das autoridades policiais, adentra eletronicamente a cena do crime, introduz a retro-alimentação de valores e mensagens que aprofundam o distúrbio de um seqüestrador já em transe psicótico, que passa então a ver o seu ato na tela da televisão ligada no apartamento transformado em cativeiro. Que efeitos isto pode ter na sua decisão de matar ou render-se?

Com a palavra os especialistas em saúde mental, particularmente aplicada à área de segurança pública: ao se ver na tela, entrevistado por estas desastradas apresentadoras, o efeito psicótico do fato comunicativo que o torna “celebridade”, não pode agravar a complexidade de seu transtorno, não pode insuflar ainda mais seus instintos violentos, não pode interferir negativamente no desfecho ao entorpecer o processo de negociação, que, afinal, sofreu várias interrupções para que as televisões, como abutres, celebrassem o seu “vale tudo pela audiência”???

Como alternativa não seria mais lógico, mais sensato, sobretudo mais humano do que espremer aquelas 100 horas de seqüestro para que produza o máximo de sensacionalismo possível, simplesmente não dar nenhuma divulgação até o desfecho final do episódio? Especialmente, porque os magnatas da mídia — especialmente os do departamento comercial das TVs, de olho no Ibope minuto a minuto — sabiam que Lindemberg tinha uma TV ligada. Insufladas pelo departamento comercial, as redações se agitam: “Vamos entrevistar o seqüestrador ao vivo!!!”. Se isto aumentava o risco de vida de Eloá e Nayara... não era o elemento mais importante.

Afinal, vale tudo pela audiência, decreta a barbárie do mercado! Mas, também as autoridades policiais sabiam desta ação irresponsável das tevês: por que não determinaram a suspensão destas entrevistas? Por que não há rigorosamente nenhum controle social sobre os meios de comunicação social no Brasil hoje se vamos acumulando tragédias desta natureza?

A mídia pode ampliar o risco de vida no desfecho de um seqüestro. No sul também já houve um episódio assim, onde reportagem negociou com um seqüestrador tendo como pano de fundo conseguir que a sua rendição fosse aprazada por um tempo para que o fato fosse noticiado ao vivo dentro do horário do telejornal da emissora gaúcha. Quando Marx fala que ainda estamos na pré-história da civilização muitos não acreditam...

Cumplicidade

Para revelar esta barbárie basta lembrar outro carnaval televisivo de culto à violência: o caso do assassinato da menina Isabela Nardoni. No dia da reconstituição do crime, as redes de televisão transmitiram nove horas seguidas ao vivo, sem interrupções para comerciais, derrubando mesmo a grade comercial.

Sim, mas igual “esforço de reportagem” não é feito para uma divulgação apropriada, equilibrada, humanizada de informações sobre a violência doméstica, pano de fundo daquele crime. Quando uma menina é assassinada alteram-se a duração dos telejornais, dos programas, derrubam-se até grades comerciais.

Mas, para uma política preventiva, de humanização das relações familiares, de construção de consciência amorosa, revelando e abordando adequada e delicadamente a existência do grave problema de saúde e de segurança pública que é a violência doméstica, as tevês fazem o mais absurdo dos silêncios, aproximando-se assim da cumplicidade, pela via da omissão, por deixar de cumprir o que reza a Constituição, segundo a qual a mídia deve ser fator de elevação educacional, cultural e civilizatória.

Espalhar o terror para vender segurança... privada

Hoje a nossa mídia predominantemente “espalha terror para vender segurança”. Os desenhos animados são aterrorizantes, emitem sons freneticamente agressivos, os personagens matam com a maior facilidade, as armas são os ícones mais difundidos, não são os livros, os heróis da nacionalidade. Armas têm sua imagem super divulgada como poder, prazer, ação, emoção ou simples objeto de consumo, atributo de status.

Desse desfile permanente de armas na telinha depreende-se quase que uma máxima: “que sentido tem uma vida sem armas?”. Talvez alguém cinicamente tente dizer que a multiplicação de empresas de segurança privada para ricos, de milícias armadas em bairros pobres e o enxugamento da segurança pública como parte da demolição neoliberal do estado não tenha nada que ver com isto tudo que estamos tratando. Foi este critério pretensioso e prepotente, sempre na linha do vale tudo pela audiência, que conduziu Tim Lopes ao seu suplício, quando a TV Globo já dispunha, com antecedência, de todas as informações sobre o risco que o repórter corria.

Mas a TV segue com o circo de horrores. Assim como, pela lógica da divulgação em tirânica abundância, parece que “não tem sentido um mundo sem cerveja, sem Coca-Cola, sem a velocidade dos super carros anunciados, velocidade impossível pelos engarrafamentos de um transporte inviabilizado pelo individualismo em detrimento do coletivo”.

Provavelmente jovens como Lindemberg não se transformassem em criminosos se lhes alcançasse uma televisão humanizada, civilizada, que não cultue e não propagandeie a arma. Uma televisão que não realimentasse permanentemente o animalesco critério de que “eu amo tanto esta mulher que se ela não me quiser eu a mato de tanto amor”.

Temos uma TV machista também, temos uma TV debilóide, uma TV para brancos, para adultos, uma TV embrutecedora, destinada a vender e vender e vender, a formar consumidores, e quem não puder comprar um tênis caro é impelido a matar alguém para roubar um tênis, como ocorreu em Brasília. Afinal, a vida não tem sentido sem um desses tênis caríssimos... Temos uma TV de erotização doentia, uma TV que nos empurra para o alcoolismo, que nos recomenda, como a Lindemberg, a intolerância e o machismo, particularmente com armas nas mãos, quando enfrentamos uma angústia ou uma dor amorosa.

Temos uma TV bárbara. E não tem que ser assim, pois há no mundo experiências de TVs que são vetores educativos, culturais, humanizadores. A TV em Cuba evita a divulgação de crimes e não há publicidade comercial. Mas divulgam-se livros, filmes, datas históricas, heróis do país e do mundo, espetáculos de balé e música clássica. Crimes não!

Aqui podemos assistir desde sexo o mais vulgarizado até seres humanos espancando-se infinitamente com chutes e cotoveladas no rosto uns dos outros. Há canais para leilões de cavalos, bois, tapetes, corridas de cavalo, mas raramente há programas sobre inúmeros problemas de saúde mental para uma população carente de informação educativa, tal como pregou o presidente Lula ao determinar a criação da TV Brasil.

Aliás, registre-se a sóbria e equilibrada cobertura da TV Brasil sobre a tragédia de Eloá. Este é o caminho. A televisão é uma ferramenta muito importante para estar sob o controle da lógica bárbara e anticivilizatória do mercado, deve estar sob controle social, humanizador e democrático. Aliás, vale lembrar, as TVs que cometeram este espetáculo de barbárie no caso Eloá são as mesmas que durante anos enalteceram, recomendaram, sustentaram, sem discussão democrática, os valores do mercado como diretriz para o funcionamento da sociedade e agora, diante do enormes prejuízos que as fraudes mercadológicas especulativas causaram ao contribuinte norte-americano, podendo nos atingir, estas tevês não reconhecem o seu erro. Estão acima do bem e do mal.

É, portanto, urgente o desenvolvimento de mecanismos de controle social da mídia no Brasil. Ou, se nada for feito neste sentido, com dor e realismo somos obrigados a nos perguntar: qual será a próxima façanha da TV-barbárie? Sei que na Espanha alguns canais chegam a transmitir suicídio ao vivo... Foi para isto que se criou a televisão?

* Beto Almeida é presidente da TV Comunitária de Brasília


;;;

terça-feira, outubro 28, 2008

A dimensão política da crise




Rui Falcão

Em artigo publicado pela Folha de S. Paulo (24/10/2008), Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e ex-secretário geral da Unctad, observa, a propósito da crise financeira, que “as análises falam de tudo, menos de moral e de política. Dão a impressão de que o problema se limita a aspectos técnicos, sem vinculação com os valores éticos e independentes das relações de poder”.

De fato, não há como compreender o colapso sem remontar à mudança na correlação de forças na sociedade, ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990, entre grupos e classes dentro de cada país e entre estes e atores externos, mudança que acabou por conferir uma nova expressão institucional ao Estado. É dizer que a transferência de ativos e de capacidades de decisão do Estado para a iniciativa privada, a eliminação dos controles, a desregulamentação do trabalho, o desmantelamento da rede de proteção social, a contração do gasto público em políticas sociais, a redução de impostos sobre os ricos, a preeminência conferida à economia fictícia (financeira) sobre a economia real (da produção) – tudo isso se constitui em expressão de uma determinada modalidade de organização da vida econômica - agora em frangalhos geotectônicos -, somente compreensível à luz de uma nova relação entre Estado e mercado, resultante de um novo sistema de poder associado a ela.

Aí está a dimensão política da crise, de que fala Ricupero. Sem ela, não é possível compreender como nos Estados Unidos, por exemplo, a participação do setor financeiro no total dos lucros corporativos tenha saltado de 10% em 1980 para 40% em 2006, apesar de gerar apenas 5% dos empregos, enquanto a participação dos salários na renda nacional declinava. “Não se avança sobre quase metade dos lucros da economia sem contar com a cumplicidade do sistema político. A mudança de poder que abriu o caminho à hegemonia financeira foi, nesse período, a ‘revolução’ neoconservadora de Reagan e de Thatcher...”, acrescenta.

A nova configuração na distribuição e apropriação do excedente social somente se tornou possível mediante as profundas mudanças promovidas nas relações de poder na sociedade, e disso ela é expressão. O redesenho e o controle da rede institucional do Estado, que daí resultaram, postos a serviço do capital financeiro, expressam o que vem a ser o poder político em termos singelos – a capacidade de convencer ou obrigar os outros a fazer algo que não estava em sua intenção fazer, ou abster-se de algo que gostariam de fazer.

Isso se torna possível quando se concentram e mobilizam recursos de natureza variada, incluídos os de caráter econômico. Como resultado da mudança na distribuição e no uso dos recursos, mudam as relações entre indivíduos e grupos sociais, assim como mudam a sua posição relativa na hierarquia, a sua capacidade de ação e de imposição de objetivos e metas.

Eis a grande reestruturação, agora à beira do colapso, que gerou ganhadores e perdedores. Estes são fáceis de identificar na configuração política que resultou da redistribuição dos recursos em termos de eqüidade social e de poder sobre a máquina do Estado. Em primeiro lugar, o maior peso atribuído ao mercado pelos reformadores neoliberais implicou transferência de poder, das instituições do Estado para os atores que dele se apropriaram, com vistas a impedir que a sociedade, por mediação do Estado, lhes impusesse cobro no exercício da liberdade individual, concebida pelos neoconservadores como incompatível com toda e qualquer modalidade de controle e responsabilidade social – selvageria ideológica travestida de “empreendedorismo”, “capacidade de iniciativa”, “criatividade”, “inovação”.

Em segundo lugar, como resultado da preeminência dos interesses do mercado sobre a sociedade e o Estado, enfraqueceram-se os mecanismos de negociação, de organização e de mobilização dos movimentos sociais, já debilitados politicamente pela crise do desemprego e da estagnação econômica, que se agravava desde a segunda metade da década de 1970.
Além de propiciar o aumento da concentração da renda e a distribuição desigual dos custos e benefícios das políticas de recomposição das finanças públicas, o debilitamento do controle social sobre o Estado, em favor das elites neoconservadoras, provocou o esvaziamento das políticas sociais, que até então haviam caracterizado e legitimado a gestão pública, ainda que de eficácia incerta.

O discurso neoconservador, que passou a inculpar o Estado de Bem-Estar social pelos excessos distributivos do Estado - o mesmo Estado que durante 30 anos havia assegurado a estabilidade e o crescimento econômico revigorado por políticas sociais -, alcançou notável aceitação, graças à cooptação dos grandes meios de comunicação, em especial no caso do Brasil. Uma vez derrubado o muro de Berlim, os direitos sociais e a organização do trabalho, anteriormente brandidos como apanágio do mundo livre, passaram a ser estigmatizados em nome da democracia, da eficácia econômica e do livre mercado.

Na estratégia dos reformadores, o papel do Estado deveria restringir-se ao nível mínimo de provisão de bens públicos, estes interpretados em sentido restritivo. E, para desmantelar os instrumentos de intervenção, que haviam servido ao Estado de Bem-Estar, foi necessária uma prévia concentração de poderes decisórios em seu aparato institucional, imprescindível para impor a desregulamentação, a abertura e a entrega de funções essenciais do Estado à iniciativa privada; vencer as resistências democráticas em defesa do diálogo e da negociação e alterar o equilíbrio preexistente.

Para tanto, impunha-se a retração da gestão pública no terreno da economia e das políticas sociais, para confiar a execução da justiça distributiva à mão invisível do mercado. Somente assim, a mão neoconservadora pôde exercitar-se, depois de ter imposto a sua hegemonia no controle do Estado e de se ter apropriado de suas funções coercitivas, para a realização dos novos objetivos anti-sociais. De então em diante, caberia ao mercado, de modo excludente, na sua suposta condição soberana de matriz da riqueza, da eficiência e da justiça, promover a alocação dos recursos, distribuir bens, serviços e rendas e remunerar empenhos e engenhos.


A manifestação mais freqüente da ampliação da soberania estatal sob domínio neoliberal – ou seja, da ampliação da capacidade do Estado de impor decisões com autoridade suprema sobre a população e o território – foi a concentração do poder no âmbito do governo central, em especial o Poder Executivo, que passou a absorver prerrogativas do Parlamento, legislar por instrumentos de exceção ou de emergência, e dos tribunais. Truculência quando necessário – é o que exigia o teor anti-social das reformas.

Não se pode esquecer de que, entre outros botins, estava em jogo a disputa pela apropriação e controle de ingentes fundos sociais, como as contribuições dos sistemas de pensões e aposentadorias, sob gestão estatal. Por isso, os promotores das reformas, ao mesmo tempo em que festejavam a falência do totalitarismo soviético, lançavam mão de recursos extremos de concentração de poder.

Assim é que, enquanto na Argentina o presidente Carlos Menem recorria a medidas de exceção, como decretos de emergência, para entregar os fundos públicos da previdência à iniciativa privada, no Chile o general Augusto Pinochet, ao suspender os direitos democráticos e impor uma ditadura sangrenta, promovia a privatização radical do sistema previdenciário, cujo controle confiou às finanças internacionais.

A previdência social brasileira teria tido o mesmo destino, não fossem os movimentos sociais a barrar o intento do governo FHC de privatizá-la, motivo por que a reforma, entre nós, limitou-se a restaurar as finanças públicas sem que a mão do mercado pudesse apropriar-se da poupança dos trabalhadores, como prescreviam, a mando das finanças globais, o FMI e o Banco Mundial.

A diferença na qualidade dos resultados referentes às reformas da previdência colhem-se agora, no calor da crise financeira atual. A variação dos impactos da crise sobre o sistema previdenciário dos países da América Latina, entre outros, reflete a variação na capacidade de luta dos trabalhadores de cada um deles na defesa de seus interesses contra a voracidade neoliberal dos governantes associados à “mão invisível”. Assim, por exemplo, as perdas no valor dos fundos de aposentadoria chilenos, sob controle das finanças internacionais, que haviam atingido 25% em setembro, estão na iminência de ultrapassar 40% em outubro, enquanto na Argentina as perdas atingiram mais de 40%, o que levou o governo Kirchner a reestatizá-lo. Para não falar da Islândia, país modelo das reformas neolilberais, onde as perdas dos aposentados já ultrapassam 70%. Já no Brasil, graças à resistência dos trabalhadores contra as investidas privatizantes de FHC, as perdas são nulas.

A crise financeira, como lembra Ricupero, é de natureza política, gera ganhadores e perdedores e convida a uma nova distribuição de poder, que queremos menos desigual e mais eqüitativa, como condição para a estabilidade econômica, a expansão do emprego e o fortalecimento da democracia. Isso somente se assegura mediante a vigilância e a defesa da sociedade organizada contra as ameaças recorrentes de retorno dos neoliberais ao poder.

----------------------------------

Rui Falcão, 64 anos, advogado e jornalista, é deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Foi deputado federal, presidente do PT e secretário de governo na gestão no governo Marta Suplicy.

Para acessar o artigo clique aqui


;;;

sábado, outubro 25, 2008

AGORA MAIS DO QUE NUNCA É FLÁVIO DINO PREFEITO


Após o debate não restou nenhuma dúvida sobre quem será o melhor prefeito para São Luís.

Flávio Dino foi todo tempo específico e claro sobre como pretende governar.

Citou um a um todos os recursos, programas e parcerias que como prefeito engajado na democracia vai poder utilizar para tornar São Luís uma cidade melhor.

Mostrou conhecer o novo Estatuto das Cidades, lei fundamental para os municípios brasileiros, que foi amplamente discutida no Congresso Nacional.

É impressionante, mas o candidato tucano não sabia o que dizer sobre o novo Estatuto das Cidades, e simplesmente embromou.

O velho esquema de dizer que vai fazer isso e aquilo sem nunca demonstrar como, de onde virão os recursos e com quem fará as parcerias.


VAMOS PARA AS RUAS ELEGER FLÁVIO DINO PREFEITO:

É o candidato da coligação PCdoB/PT.

É o candidato do governo LULA.

É o candidato que tem história na militância de esquerda e pela democracia brasileira.

É o único com reais condições políticas de governar São Luís junto com a população.

É o único candidato que fará tudo para que os programas sociais do governo LULA cheguem para quem precisa.



;;;

segunda-feira, outubro 20, 2008

Lula enquadra Serra


"Quem não quer ser cobrado pelo povo que não seja governo".

O presidente disse que o governador não tem o direito de acusar o PT por confronto entre polícias. Lula falou sobre o confronto entre policiais militares e civis na última quinta-feira. Foi a primeira vez na história que as duas forças de segurança do Estado se enfrentaram. No confronto, mais de 30 pessoas ficaram feridas, algumas à bala. "O governador Serra não tinha direito, me conhecendo, de acusar o PT nesse caso das Polícias Civil e Militar. Eu espero que, em algum momento, o governador peça desculpa por essa heresia, essa acusação", disse. O presidente enquadrou o governador de São Paulo, lembrando a ele das suas responsabilidades como governante. "Já comi o pão que o diabo amassou em 2005. Nunca me viram acusar quem quer que seja. O PT tem responsabilidade. As centrais sindicais também. Não podemos impedir que os dirigentes sindicais façam pauta de reivindicações para entregar pra nós, governantes. Quem não quer ser cobrado pelo povo que não seja governo. Aqui tem uma porção de companheiros que estão comigo, mas que vivem me cobrando. Eu acho que isso é democracia. É assim que a gente vai fortalecendo a sociedade, as entidades de classe e o movimento social. Por que é que eu vou ficar nervoso quando o movimento da moradia vai a Brasília fazer passeata? Eles têm mais é que fazer passeata mesmo, pois é assim que se conquistam as coisas", declarou.
;;;

domingo, outubro 19, 2008

Veja como funciona o esquema PSDB/MÍDIA


O seqüestro: é você sob a mira de um revólver

Como o povo paulista foi seqüestrado e humilhado pelos criminosos da falange midiocrata

Mauro Carrara

A mocinha mais encantadora da escola, olhos meio tupinambás, cabelos negros e compridos, alegre e falante, teve o cérebro atravessado por um fervente projétil de arma de fogo. Eloá é a vítima mais visível do desgoverno insano e cínico que mantém São Paulo em cativeiro desde Março de 2.001, quando ascendeu ao trono estadual o suserano alquimista. Ser paulista, hoje, equivale a viver num buraco imundo, úmido e molhado, sob a mira trêmula de um revólver, mas diante de uma TV que anuncia maravilhas da autoridade midiocrata.

Os paulistas sofrem, sobretudo, por conta da educação com padrões de quinto mundo, cujo projeto foi iniciado pela secretaria Rose Neubauer, há 13 anos. O Estado converteu-se, assim, na terra dos jovens analfabetos, zumbis sociais, filhos do regime de "aprovação automática".

No campo das obras públicas, sob a bandeira de treze listras, prospera o paraíso das empreiteiras e dos "gatos". As irregularidades se multiplicam, mas o campo de força da Assembléia Legislativa impede qualquer investigação detalhada sobre a farra com o dinheiro público.

Não bastasse a máfia dos pedágios e aquela dos fiscais associados aos parceiros do DEM, parte de São Paulo ainda foi entregue ao crime organizado. Quando o acordo sofre ameaças, o PCC simplesmente assume o controle de toda a gleba, como ocorreu em Agosto de 2.006.

Unanimidade sob vigilância do editor careca

São Paulo já sofrera muito, outras vezes, sob a direção de embusteiros como Ademar de Barros, Laudo Natel e Paulo Maluf. Estes, no entanto, encontravam aqui e ali o julgamento crítico, e muitas vezes a oposição, de veículos da imprensa hegemônica e dos jornalistas.

Constituído pela aliança dos setores quatrocentões, pela elite industrial e pelos ventríloquos do neoliberalismo bandeirante, o sistema de governo tucano cuidou, desde 1.995, de privar o Estado de qualquer debate público de idéias.

Esse controle se faz pela cooptação de profissionais de imprensa, muito bem remunerados, pela censura prévia exercitada nos "aquários" das redações e pela duras punições aplicadas aos jornalistas não-alinhados.

Nas redações da Barão de Limeira e da Marginal Tietê, há os chamados "telefones azuis", pelos quais o dono da mídia paulista, o calabrês José Serra Chirico, encomenda matérias, edita verbalmente textos e determina demissões.

"O Serra mandou" é frase comum, pronunciada em cochichos nas redações dos dois principais jornais paulistas.

Quando o calvo mandatário se vê ocupado, destaca algum de seus lugares-tenentes para a função de editor-chefe. Pode ser Aloysio Nunes Ferreira Filho, José Aníbal ou Angelo Andrea Matarazzo, tido orgulhosamente no PSDB como o "Chuta-mendigo", por conta de sua política de perseguição ao povo-de-rua.

Como pagar a conta da subserviência

Ao arrendar a imprensa paulista, entretanto, tucanos e demônios necessitavam oferecer uma contra-partida ao publishers aposentados dos jornalões. Considerada a queda vertiginosa da venda de anúncios nas mídias tradicionais, bolou-se um plano espetacular.

A prefeitura serrista-kassabista proibiria toda a comunicação dos pequenos, especialmente a publicidade de rua. Com isso, o comércio teria de fazer o caminho de volta à mídia tradicional. Assim nasceu o projeto "Cidade Limpa", defendido com unhas e dentes pelos dois pesados jornais e pelas emissoras de rádio e TV envolvidas no projeto.

Doze meses após a implantação da lei, dados internos de Folha e Estadão mostravam que os anúncios impressos haviam crescido entre 18% e 22%, englobando setores como o varejo automotivo e o negócio imobiliário.

Em adição, mimos e promessas de "inclusão" midiática garantem o apoio religioso de formadores de opinião, como do apresentador José Luiz Datena, do sub-humorista Marcelo Tas (do programa CQC), do animador de festas Carlos Tramontina e do teleator dramático Boris Casoy.

No caso da parceria demoníaca, é preciso fazer caixa para manter essa hegemonia informativa. Desse modo, as subprefeituras se converteram em estações de captação de recursos.

A principal central de coleta é a subprefeitura da Mooca, na qual as quadrilhas de fiscais costumam agir livremente. Recentemente, a ação criminosa se tornou tão escancarada que a polícia foi obrigada a enjaular o braço direito do subprefeito e um dedicado cabo eleitoral do alcaide Celso Kassab. Aricanduva, Lapa, Santana e Vila Prudente vivem processos semelhantes, de formação de caixa a partir da exploração do comércio informal.

Mesmo com as provas obtidas pelo Ministério Público, entretanto, a mídia arrendada apenas finge cobrir esses casos. Atira-se, convenientemente, tudo para baixo do tapete.

O paulista diante de seu algoz

Há quem diga que o doentio apoio popular ao governo de intervenção midiática se deva a uma espécie de Síndrome de Estocolmo, denominação que expressa a estranha afeição que seqüestrados desenvolvem por seus algozes. Outros apostam no paralelismo entre o modus político do grupo encastelado no poder e a alma ancestral do paulista de botinas, escravizador de índios.

Por fim, há quem acredite na inoculação permanente de poderosos sedativos e alucinógenos nas veias do paulista. Em cativeiro, para manter-se dócil, ele recebe diariamente cargas de drogas midiáticas. Por isso, jamais questiona, por exemplo, a responsabilidade do governo midiocrata na tragédia do metrô, que vitimou sete cidadãos-contribuintes.

Esse também seria o motivo pelo qual o cativo não atribui ao governador qualquer culpa na baderna urbana que opôs, na porta de sua casa, policiais civis e militares. Afinal, José Serra apresenta seu próprio telejornal e determina aos reféns paulistas que é "tudo culpa do PT e da CUT".

Em Santo André, no drama de Lindembergue e Eloá, o senhor de todas as emissoras, permitiu que seus funcionários microfonados reprisassem o filme "A Montanha dos Sete Abutres", estrelado por Kirk Douglas, no papel de um jornalista fracassado que prolonga o drama humano para ter o que contar a seu público (assistam ao DVD e confiram a semelhança). O resultado da armação foi parecido: uma intervenção desastrada e a interrupção brutal de um sonho de vida. No entanto, será que só isso serve para despertar sua atenção, você que é outro dos seqüestrados?

From: Mauro Carrara

;;;

sexta-feira, outubro 17, 2008

PSDB = PIOR SALÁRIO DO BRASIL






Castelo é tucano,
Castelo está onde sempre esteve...

Do lado da truculência, do arrocho salarial, do desemprego, da criminalização dos movimentos sociais...

No JP aqui no Maranhão, o mesmo esquema da imprensa paulista,












a imprensa no cabresto...

+++

quarta-feira, outubro 01, 2008

Como São Luís ficou assim?




>>>

23 anos de Jackson e Castelo
Jackson Lago e João Castelo, um ou outro, não raro ambos, destacam-se em todas as eleições municipais de São Luís desde 1985, quando o fim da ditadura restabeleceu a escolha direta dos prefeitos das capitais.

Assim:

1985 - Castelo elege a mulher, Gardênia (PDS), numa eleição em que ainda não havia segundo turno, batendo, pela ordem, Jaime Santana (PFL) e Jackson Lago (PDT), entre outros.

1988 - Ainda sem 2o turno, Jackson se elege, com Carlos Guterres (PMDB) em segundo.
1992 - Jackson elege Conceição Andrade (PSB), superando João Alberto (PFL) no segundo turno.
1996 - Outra disputa de 2o turno. Jackson volta à prefeitura, derrotando Castelo.

2000 - Com o apoio de Roseana Sarney, Jackson se reelege, com Castelo em 2o.

2004 - Tadeu Palácio, ex-vice de Jackson, que assumira dois anos antes, vence no primeiro turno. Castelo novamente em segundo.

2008 - O tucano Castelo, pela primeira vez com apoio do pedetista Jackson, agora governador, é o líder das pesquisas.

http://www.walter-rodrigues.jor.br/default.asp


































+++