sexta-feira, agosto 30, 2019
BOLSONARO URRA: Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e, hoje em dia, não tem esse problema em seu país
Jornal The New York Times, um dos mais influentes do mundo, destacou uma série de frases de Jair Bolsonaro com ataques ao meio ambiente e às populações indígenas. Dentre as frases destacadas, está a que Bolsonaro disse que os índigenas deveriam ter sido "dizimados". "Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e, hoje em dia, não tem esse problema em seu país”, destaca a reportagem
https://www.brasil247.com/midia/nyt-destaca-frases-de-bolsonaro-contra-o-meio-ambiente-e-aos-povos-indigenas
O Departamento da @policiafederal em São Paulo fica a 12 quilômetros de distância do bairro do Morumbi, onde jornalistas acharam o Queiroz. Incompetência ou omissão determinada por @SF_Moro e @jairbolsonaro para que não seja revelado o elo com o crime organizado das milícias?
O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) condenou a postura da Polícia Federal em relação ao paradeiro de Fabrício Queiroz, que encontra-se livre circulando pelas ruas de São Paulo. "PF fica a 12 quilômetros do Morumbi. Incompetência ou omissão determinada por Moro? ", questionou
https://www.brasil247.com/regionais/sul/pimenta-pf-fica-a-12-quilometros-do-morumbi-incompetencia-ou-omissao-determinada-por-moro
quarta-feira, agosto 28, 2019
domingo, agosto 25, 2019
sábado, agosto 24, 2019
sexta-feira, agosto 23, 2019
quarta-feira, agosto 21, 2019
A danação da história e a disputa pelo futuro
José Luís Fiori1, filósofo e professor, RJ
19/06/2019
"Depois de 1940, a Argentina entrou num processo
entrópico de divisão social e crise política crônica, ao não conseguir
se unir em torno de uma nova estratégia de desenvolvimento, adequada ao
contexto geopolítico e econômico criado pelo fim da Segunda Guerra
Mundial, pelo declínio da Inglaterra, e pela supremacia mundial dos
Estados Unidos."
J.L.F. História, estratégia e desenvolvimento. Petrópolis: Editora Vozes, 2014, p. 272
Existe uma pergunta angustiante que está parada no
ar: o que passará com o Brasil quando a população perceber que a
economia brasileira colapsou e que o programa econômico deste governo
não tem a menor possibilidade de recolocar o país na rota do
crescimento? Com ou sem reforma da Previdência, qualquer que seja ela,
mesmo a proposta pelo Sr. Guedes. E o que ocorrerá depois disso?
O mais provável é que a equipe econômica do governo seja demitida e
substituída por algum outro grupo de economistas que atenue os traços
mais destrutivos do programa ultra-liberal do governo do governo. Mesmo
assim, não estará afastada a possibilidade de que o próprio presidente
seja substituído por algum dos seus aliados dessa coalizão de
extrema-direita construída de forma apressada e irresponsável, em torno
de uma figura absolutamente ignorante, despreparada e insana. Mas se
nada disso acontecer e as coisas seguirem se arrastando e piorando nos
próximos tempos, o mais provável é que as forças de extrema-direita
venham a ser fragorosamente derrotadas nas próximas eleições
presidenciais.O problema é que, quando isto ocorrer, o Brasil já terá completado mais uma "década perdida", o que torna ainda mais difícil de prever e planejar o que acontecerá, e o que possa ser feito na década de 2020 para retirar o país do caos. Entretanto, é indispensável e urgente que se imagine e reflita sobre esse futuro, para não repetir erros passados. Para tanto, o melhor caminho é começar pela releitura do próprio passado e, em seguida, analisar com mais atenção o caso de alguns países que fizeram idênticas escolhas, e que vão antecipando as consequências do rumo adotado pelo Brasil.
Comecemos, portanto, de forma extremamente sintética, pela década de 80 do século passado, quando o "desenvolvimentismo sul-americano" entrou em crise e foi abandonado por todos os países do continente, onde ele havia sido hegemônico desde o fim da II Guerra Mundial. Esse colapso ocorreu de forma simultânea com a "crise da hegemonia americana" da década de 70, e com a mudança da estratégia econômica internacional dos Estados Unidos durante o governo de Ronald Reagan, na década de 80. Foi nesse período que se deu a grande "virada neoliberal" da América do Sul, quando as elites políticas e econômicas do continente adotaram em conjunto, e quase simultaneamente, o mesmo programa de reformas e políticas liberais preconizado pelo que se chamou, na época, de "Consenso de Washington".
No entanto, em todos os países em que foram aplicadas, essas políticas neoliberais produziram baixo crescimento econômico e aumento das desigualdades sociais. E na entrada do novo milênio, os resultados negativos contribuíram para que a América do Sul fizesse uma nova meia-volta, desta vez "à esquerda", aproveitando-se do vácuo criado na região pela guerra global ao terrorismo, o que deslocou a atenção dos Estados Unidos para o Oriente Médio. Em poucos anos, quase todos os países do continente elegeram governos de orientação nacionalista, desenvolvimentista ou socialista, com uma retórica anti-neoliberal e com um projeto econômico cujo denominador comum apontava numa direção muito mais nacionalista e desenvolvimentista do que liberal. Foi nesse período, já na primeira década do novo milênio, que o Brasil e alguns outros países do continente decidiram aumentar o controle estatal ou reestatizar diretamente seus recursos energéticos, como aconteceu na Venezuela, depois da descoberta das suas grandes reservas de petróleo do Orinoco, no Brasil depois da descoberta do petróleo do Pré-Sal, e na Argentina, depois da descoberta das suas reservas de gás não convencional da Patagônia. E a América do Sul retomou então seu velho projeto de integração regional, agora sob a liderança brasileira, com a ampliação do Mercosul e a criação da Unasul.
Uma vez mais, entretanto, como na lenda de Penélope, o continente latino-americano desfez tudo de novo depois da crise econômica internacional de 2008 e, em particular, depois da mudança da doutrina estratégica dos Estados Unidos, com o governo de Donald Trump, que patrocina golpes de Estado e governos ultra liberais, ao mesmo tempo que pratica – paradoxalmente – o protecionismo e o nacionalismo econômico in domo suo. Mas parece que tudo está andando cada vez mais rápido, porque já existem fortes indícios de que esta nova onda liberal será ainda mais breve do que a anterior, como é o caso – fora da América do Sul – da vitória de Lopez Obrador no México, e da enorme reação popular contra o governo ultraliberal de Mauricio Macri, na Argentina.
A Argentina, aliás, é o caso mais longevo e paradigmático dessa verdadeira "gangorra sul-americana". O programa econômico do governo de Maurício Macri, por exemplo, reproduz quase integralmente as ideias ultraliberais do economista Domingo Cavallo, que já haviam sido provadas nos governos de Carlos Menem(1989-1999) e de Fernando de la Rua (1999-2001), antes dos governos peronistas de Nestor Kirshner (2003-2007) e de Cristina Kirshner (2007-2015), que desembocaram, por sua vez, no retorno do liberalismo, com a vitória eleitoral de Maurício Macri em outubro de 2015. O apoio parlamentar de Maurício Macri permitiu que ele aprovasse, sem maiores problemas, as famosas reformas da Previdência e da legislação trabalhista, mantendo rigorosa política de austeridade fiscal e de privatizações do que ainda restava nas mãos do Estado argentino.
Apesar de tudo isso, a política econômica do governo Macri tem produzido resultados desastrosos. Em 2018, a economia argentina sofreu uma queda de 2,5% e, em 2019, o PIB do país deverá ter outra queda de 3,1%, segundo as previsões mais otimistas. Com uma taxa de inflação de cerca de 46%, uma taxa de desemprego próxima dos 10%, e com 32% da população abaixo da linha de pobreza, a Argentina se transforma, pouco a pouco, num país subdesenvolvido, coisa que nunca havia sido. Pelo contrário, no início do século XX, a Argentina era uma das seis economias mais ricas do mundo e, mesmo até a década de 1940, seguiu sendo o país mais rico e homogêneo de toda a América do Sul. E foi só depois dos anos 50 que a Argentina perdeu o impulso econômico da sua Idade de Ouro (1870-1930), enfrentando, desde então, um prolongado processo de fragmentação social e política cada vez mais profundo e radical, que avança na forma de um movimento pendular e repetitivo, que ora aponta na direção liberal, ora na direção do peronismo, mas com a destruição mútua, por cada uma das partes, na rodada anterior.
O Brasil entrou nessa mesma "gangorra", mas só a partir da crise econômica da década de 1980, que foi sucedida por três governos neoliberais entre 1990 e 2002, e por três governos híbridos, mas mais próximos de um "desenvolvimentismo progressista", com forte viés de inclusão social e de afirmação da soberania internacional do país, entre 2003 e 2015. E voltou à agenda liberal depois do golpe de Estado de 2015/16, de forma ainda mais radical do que no período de FHC, com a proposta econômica do ministro Paulo Guedes e de sua equipe de velhos alunos da Escola de Chicago. Na verdade, sua reiterada defesa da necessidade de "destruir" completamente a herança desenvolvimentista, lembra muito mais as posições do economista liberal Eugenio Gudin, defendidas no debate que manteve nos anos 1940 com o empresário industrialista Roberto Simonsen, a respeito do papel "correto" do Estado, do mercado e do planejamento no desenvolvimento brasileiro.
Não há dúvida de que o ministro Guedes e sua equipe colocam-se ao lado de Eugenio Gudin, na sua defesa comum da "vocação primário-exportadora" da economia brasileira – o que significaria, nesta altura do século XXI, um verdadeiro salto para trás, para começar tudo de novo, com o objetivo, ou utopia, de transformar o Brasil numa imensa Nova Zelândia.
Um projeto muito parecido com o dos presidentes paulistas da República Velha, e com o do governo argentino de Maurício Macri em anos mais recentes. A diferença é que hoje, no Brasil, essa agenda liberal aparece sustentada por uma aliança e um governo formado por grupos de extrema-direita, de militares aposentados, seitas religiosas fundamentalistas, milícias privadas, clubes de tiro e senhoras rezadeiras, financiados pelas elites tradicionais, tutelados pela grande imprensa conservadora e sustentados, em última instância, pelo governo norte-americano.
Esse verdadeiro Frankenstein talvez explique porque o desastre brasileiro esteja acontecendo de forma mais rápida do que na Argentina, o que aumenta a probabilidade de que o Brasil acabe prisioneiro da mesma "gangorra" que condena o país vizinho, e a própria América do Sul, a fazer e desfazer a mesma coisa dezenas de vezes, praticamente sem sair do lugar – ou pior ainda, baixando cada vez mais de lugar. Com a diferença de que, se isto se repetir no Brasil, o processo de desintegração deverá ser muito mais rápido e perverso do que na Argentina, porque o Brasil parte de um nível de desigualdade e pobreza muito maior do que tinham nossos vizinhos no século passado. Neste caso, o mais provável é que o Brasil entre num longo processo de "estagnação secular e precoce" ou, o que é pior, numa prolongada depressão econômica, interrompida por pequenos "soluços expansivos", incapazes de conter o avanço da desintegração social, que deverá ser cada vez mais violenta e cruel com a imensa maioria da população brasileira, que é a mais pobre e desprotegida. De qualquer maneira, esse será o país que encontrar(ão)emos ? pela frente, e será o desafio gigantesco dos novos governantes brasileiros que venham a ser eleitos em 2022 para substituir o atual capitão-presidente, ou qualquer outro personagem de extrema-direita que possa vir a ocupar seu lugar.
Mas atenção, porque o Brasil ainda não está condenado definitivamente a repetir a "gangorra argentina", nem precisa necessariamente recorrer ao seu mesmo modelo desenvolvimentista do passado. No caso de vitória de alguma coalizão de forças progressistas, é muito difícil antecipar desde já as medidas de política econômica que deveriam ser implementadas para afastar o país do caos, mas uma coisa é óbvia: com as dimensões e a heterogeneidade do Brasil, é uma completa sandice propor uma "refundação neozelandesa" de um país que tem todas as condições de "construir um caminho alternativo dentro da América do Sul, de alguma forma similar ao da economia norte-americana, que conseguiu combinar indústrias de alto valor agregado com a produção de alimentos e commodities de alta produtividade, sendo ao mesmo tempo autossuficiente do ponto de vista energético.
Para isto, antes que nada, o Brasil terá que mudar radicalmente a sua postura internacional, em particular com relação aos Estados Unidos, que se considera com pleno direito ao exercício da sua soberania dentro de todo o "hemisfério ocidental". Ou seja, do nosso ponto de vista, a luta por um novo projeto de desenvolvimento para o Brasil terá que começar por uma nova estratégia de poder internacional. Mas se este for o caminho escolhido pelos brasileiros, não há como enganar-se: os novos governantes eleitos em 2022 terão que colocar uma pá de cal em cima da vergonhosa política externa deste governo de extrema-direita, e começar um novo tipo de relacionamento com os Estados Unidos, que será sempre, ao mesmo tempo, de complementaridade, competição e conflito, sobretudo dentro da América do Sul e com relação aos fluxos e recursos do Atlântico Sul. De qualquer forma, e, em qualquer caso, o fundamental é que o novo governo brasileiro se oriente sempre, e em primeiro lugar, pela bússola dos seus próprios objetivos sociais, econômicos e geopolíticos. Conscientes de que terão pela frente um caminho muito estreito e complicado, e que este caminho tomará muito tempo para se consolidar. Mas ao mesmo tempo, com a certeza de que este é o tempo que tomaram todos os grandes países para construir o seu próprio futuro sem ser humilhados, nem envergonhar-se jamais de si mesmo e do seu passado.
Notas
- Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ, coordenador do grupo de pesquisa "Poder Global e Geopolítica do Capitalismo", e do Laboratório de "Ética e Poder Global", pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). Publicou, "O Poder Global e a Nova Geopolitica das Nações", Editora Boitempo, 2007 e "História, estratégia e desenvolvimento", Boitempo, em 2014.
http://www.frentepelasoberania.com.br/geopolitica/a-danacao-da-historia-e-a-disputa-pelo-futuro/
A República de todos, ou uma capatazia dos mercados?
Por Saul Leblon
É desconcertante, mas a voz mais estridente da barbárie hoje no mundo fala o idioma português.
Jair Bolsonaro – ‘talquei?’
Mas não só ele.
Nem apenas os seus filhos, os amigos deles, os parentes e agregados que os circundam ou os cinturões extremistas que orbitam no seu obscuro entorno institucional e clandestino.
A barbárie também desponta em múltiplas instâncias de poder da sociedade neste momento.
O governador do Rio de Janeiro, Wilson José Witzel, é uma cruz maltina em ascensão.
Ex-juiz federal, ex-fuzileiro naval, aplica na administração da segurança pública os métodos de Rodrigo Duterte, o presidente filipino que disputa o ranking do pesadelo mundial na ameaça aos direitos humanos.
Ao celebrar sua vitória em 2016, como relatou então a BBC, Duterte encorajou civis armados a matarem traficantes que resistissem à prisão. ‘Fiquem à vontade para nos ligar. Ou faça você mesmo’, afirmou em cadeia nacional.
“Eu lhes darei uma medalha”.
Semanas depois, 2 mil pessoas supostamente vinculadas ao tráfico haviam sido assassinadas.
Mirar a cabeça de supostos traficantes e disparar é também a solução Witzel para uma equação social cujo saldo em vidas inocentes denuncia a mal disfarçada guerra contra jovens pretos e pobres.
Há, ainda, derivações medievais que dirigem o Estado como se fosse uma igreja, exortando a uma guerra fria entre fiéis e hereges.
Nos porões, uma organização clandestina de juízes e procuradores tortura o Estado de Direito em delações que se nivelam a chantagens e extorsões para liquidar adversários políticos.
O fato de nenhum membro honrado do judiciário brasileiro ter reunido força e consentimento até agora para dizer basta à polícia política de Moro, Dallagnol & Cia. é significativo da deriva institucional que avulta aos olhos do mundo.
A relevância ambiental –e geopolítica– do Brasil para o destino do planeta explica a inquietação adicional com Bolsonaro em relação a Duterte.
O Presidente brasileiro condensa múltiplos medos que assombram a democracia acossada do século XXI.
Por que é tão difícil detê-lo se as próprias elites consideram o seu trabalho concluído, mencionando-o com frequência cada vez maior como uma fonte de ‘ruído ‘ contraproducente?
Parte da resposta remete à disjuntiva que dá título a esse texto.
Uma República do bem comum, ou uma capatazia a serviço dos mercados?
O peso dessa carta condensa toda a história do jogo.
No golpe de 2016, o Brasil viu a sua elite –e a mídia- se aliar à escória do submundo político e religioso.
Ao mirar o desmonte da Constituição de 1988, ela se descomprometeu de vez de compartilhar uma República de todos, com o Estado democrático e os fundos públicos correspondentes.
Com Bolsonaro pisando a jugular do PT – e Moro sangrando e salgando suas vísceras–, os punhos de renda liberais e o dinheiro grosso viram a possibilidade de colocar a sociedade de joelhos, inteiramente a serviço dos mercados.
Uma capatazia política –Moro, Bolsonaro, mídia & CIA– para subjugar a nação integralmente aos mercados estava ao alcance das mãos.
Um ciclo de desenvolvimento havia se esgotado; outro teria que ser construído.
Era agora ou nunca.
A radicalidade da exclusão arquitetada dificulta agora mover a peça que se tornou o seu corolário político e ideológico.
Os punhos de renda abriram o canil para colocar o cachorro louco a seu serviço mas não sabem mais como reconduzi-lo ao cercado depois que o enforcador e a focinheira foram afrouxados.
Pode-se cortar com uma faca a espessa malha de incertezas, desconfiança, medo e incapacidade que recobre essa encruzilhada.
A alta voltagem da tensão decorre de uma ambiguidade clássica nos ciclos de radicalização política ao longo da história: como descartar criaturas que escaparam ao criador, sem pôr a perder o conjunto da obra?
No caso desse Termidor canhestro, o que se teme perder é a faxina em curso na Carta progressista de 1988, ademais das conquistas nacionais e civilizatórias já levadas à guilhotina, que vão de Vargas (CLT, Petrobrás, bancos públicos etc.) à Princesa Isabel (abolição do trabalho escravo).
Aos poucos, a aliança golpista de 2016 está descobrindo, a exemplo de Macri, na Argentina, que a história não aceita roteiros imaginativos.
Derrubar Dilma, encarcerar Lula, processar Cristina não elimina as contradições dilacerantes do processo de desenvolvimento na periferia de um sistema ameaçadoramente desregulado.
A liberdade econômica dos mercados, à qual os publicitários do golpe atribuíam poderes de fada madrinha da redenção nacional, está em xeque.
Era só tirar Dilma. A sabedoria intrínseca aos livres mercados cuidaria de alocar recursos ao menor custo, com a maior eficiência.
Os investimentos voltariam no dia seguinte, era a promessa.
Nas semanas seguintes…
Nos meses seguintes…
Nos anos…?
Fatos.
Na Argentina, a taxa de investimento que era de 20% do PIB em 2007, caiu para 13,5% às vésperas do esfarelamento eleitoral de Macri.
No Brasil ela rasteja no nível mais baixo dos últimos 72 anos.
A fornalha da insatisfação junta vapor e a caldeira política começa a apitar.
Depois dos lucros registrados em 2018, em grande parte por conta da base de comparação deprimida, a república dos acionistas se impacienta no Brasil.
No país do desemprego e dos estoques sem demanda, a espiral descendente começa a puxar os balanços também para baixo.
A ‘Oi’ teve R$ 1,4 bi de prejuízo no 2º trimestre (ações caíram 24%); o Grupo Ultra perdeu R$ 1,8 bi em Bolsa; ações da Sabesp caíram 6%…
A mágica falhou.
Aqui, a plateia se enerva ainda em voz baixa; na Argentina, o nervosismo explodiu em uma avalanche de votos que enterrou a receita ultraneoliberal com uma diferença de 3,8 milhões de votos, num total de 25 milhões de eleitores (mais de 15% de diferença em favor da chapa Alberto-Cristina).
Das 23 regiões argentinas, Macri só ganhou em duas.
O monólogo político do antipetismo e do anticomunismo indigente não dá conta de equacionar a realidade não prevista que bate à porta do país.
O deslizamento da pedra angular da recuperação rápida –e sua precificação pedagógica na Argentina- está abrindo gretas.
Uma sombra de desolação recobre a montanha desordenada de ruínas à qual se reduziu a economia do país.
Mais que isso, começam a perceber os que ainda tem olhos para ver e ouvidos para escutar.
Não são ruínas congeladas. Elas se retroalimentam.
Abrindo novas frentes de demolição.
A criminosa interrupção de obras públicas e de programas habitacionais – obra coletiva de Moro e Guedes— rebate na derrocada do setor que mais emprega no mercado.
O de obras e construção civil.
A seca do investimento nessa área só foi pior em 1948, no atribulado cenário do pós-guerra mundial.
Não é um ponto fora da curva.
Mesmo a capacidade produtiva já existente encontra-se subutilizada em outras frentes.
O hiato médio entre aquilo que o país poderia estar fabricando e a realidade do PIB é da ordem de 6%.
Na indústria é pior.
Em junho, 22,8% da capacidade fabril estava desperdiçada (0,5 ponto pior que em 2018).
Nem assim os estoques escoam.
Níveis altos são informados nas áreas de metalurgia, química, metal, têxtil, celulose, farmacêutica etc.
O empobrecimento esfarela os deserdados e arrasta a classe média para o fundo do endividamento: ele hoje é recorde e atinge 44% da população.
Escolas particulares assistem a um movimento coordenado de mensalidades atrasadas e revoada de alunos para a rede pública.
Muitos que foram às ruas convocados pela Globo para derrubar Dilma agora não conseguem mais sair delas.
Desempregados, subempregados, desalentados, empreendedores de marmita, motoristas de Uber (só aqui são 600 mil) compõem uma massa superior a 50 milhões de pessoas.
Metade da população economicamente ativa está na soleira da porta, do lado de fora do mercado e da cidadania.
Quase 3,5 milhões estão desempregados há mais de dois anos.
Nunca se viveu aqui um ciclo tão longo de agravamento das disparidades sociais como o atual. A advertência está inscrita em pesquisas recentes da FGV.
A fenda que regrediu por mais de uma década, desde 2003, durante os governos Lula e Dilma, voltou a se abrir com o cerco golpista a partir das eleições de 2014.
Não parou mais de crescer.
Entre 2015 e 2017, a população pobre aumentou de 8,3% para 11,1% do total.
Em dois anos, o Brasil passou a ter mais 6,2 milhões de pobres.
Hoje são 23,3 milhões de cidadãos que subsistem com menos de R$ 233,00 por mês.
Há 17 trimestres consecutivos (4 anos e 3 meses) a roda da desigualdade gira impiedosamente impulsionada pelas ‘reformas’ e tesouradas fiscais.
A metade mais pobre da população já perdeu 17% da renda nessa maratona; o 1% mais rico ganhou 10%.
Na Argentina, a insistência de quatro anos na mesma receita jogou 32% da população para um desvão abaixo da linha da pobreza.
O solvente de medo e dúvida trazido pela derrota antecipada de Maurício Macri tende a diluir mais rápido a higidez da frente golpista no Brasil.
A perspectiva de um desastre equivalente antecipa nos meios empresariais e políticos a busca de salvaguardas para custos correspondentes.
A contestação ao histrionismo de Bolsonaro e – cada vez mais— ao baixo retorno das reformas amplamente saudadas pelos mercados, promove o descolamento de bancadas e votos no Congresso.
Candidaturas conservadoras a sua sucessão podem ter lançamento antecipado já no final deste ano.
Não há linearidade na política.
O que hoje parece uma linha de passagem contida e gradual poderá assumir a tensão de um elástico esticado até o ponto de ruptura.
O empurrão pode vir de flancos internos.
Mas o ambiente econômico internacional, onde a contagem regressiva de uma nova recessão pisca nos monitores da Europa e dos EUA, pode funcionar como uma alavanca brusca.
A ameaça de um solavanco externo amplifica a insegurança em relação à consistência da agenda interna.
Paulo Guedes e seus Chicago’s boys e a turma de Moro podem ter empurrado o país para um abraço de afogados ao desguarnecer o Estado dos instrumentos contracíclicos – investimentos estatais banidos, bancos públicos amesquinhados, grandes empreiteiras destruídas– diante de um mundo tragado pela desordem neoliberal.
O afluxo de capitais prometido para o day after do golpe pode demorar muito mais que o previsto.
Ou não acontecer, antes de uma largada eleitoral precoce.
Basicamente, o fluxo do dinheiro global orienta-se nesse momento pelo instinto da autopreservação com preferência pela segurança acima de tudo.
O nome disso é títulos do Tesouro americano e não Macri, tampouco Bolsonaro que perdeu massa nesse quesito pelo efeito Orloff.
Um dado resume todos os demais: o mundo tem atualmente US$ 15 trilhões aplicados em títulos públicos e bônus que pagam taxas de juros negativas.
O volume equivale a 25% dos papéis emitidos por governos e empresas em todo o planeta. (Financial Times)
Que isso ocorra no momento em que as ações nos EUA encontram-se no segundo período mais caro em 150 anos, segundo o FT, dá conta das correntes submersas de medo e insegurança que se deslocam nas profundezas do capitalismo desregulado do nosso tempo.
Não há segurança sequer para investir em ações lucrativas nos EUA. Mas a escumalha parlamentar aqui acha que resolve o problema liberando trabalho aos domingos.
Os ventos uivam outra coisa.
Desmontar os instrumentos públicos de comando econômico – ademais de fragilizar abrigos de proteção social desde a educação pública ao auxílio desemprego etc— é assinar um contrato de rendição incondicional aos desígnios da tormenta em curso no horizonte.
Os críticos da intervenção do Estado se revezam na vigília de orações à espera de uma intervenção salvadora do investimento privado na economia brasileira.
Capitais não se movem por rezas ou cultos. Se a demanda patina, a pobreza cresce e os estoquem encalham, a ordem unida é manter a liquidez em renda fixa.
Há opção aos místicos da macroeconômica.
Mas tampouco é simples: inexiste fada madrinha progressista também.
O professor Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos mais lúcidos intelectuais brasileiros, e um economista de ecumênico reconhecimento, faz uma advertência grave.
‘O que precisa ser feito é óbvio: centralização do crédito; corte de dívidas; soltar o gasto público – a inflação está no chão e não ameaça; obras de infraestrutura’.
Como fazê-lo, no entanto, envolve um lastro de força política equivalente ao que empurrou o New Deal, pondera com seriedade na voz.
A organização capilar da sociedade é o divisor de águas de um novo pacto de desenvolvimento para o país.
Nenhum outro ‘insumo’ é mais importante que esse.
Sem ele será impossível imantar outros interesses na coagulação política ampla de forças necessárias à reordenação do crescimento com a democracia social no século XXI brasileiro.
Essa é a disjuntiva que congela e ao mesmo tempo solapa o governo Bolsonaro: uma República do bem comum, ou uma capatazia a serviço dos mercados?
A educação pública para a cidadania, o desenvolvimento e a pesquisa, que esse pacto requer – sobretudo na sua frente de conversão ambiental e tecnológica– é uma trincheira fundamental à construção dessa capilaridade organizativa.
Perfilam no sistema educacional milhões de crianças, jovens, pais, professores, reitores, intelectuais, personalidades, entidades, bancadas suprapartidárias e segmentos empresarial; vozes que precisam ecoar mais fortemente para que a sociedade brasileira sinta-se encorajada a assumir o comando do destino nacional nesta encruzilhada da sua história.
*Da Carta Maior
CONDENAÇÃO DE HADDAD: O judiciário limpa o caminho para o PSDB em caso de cassação de Bolsonaro.
A simples retomada do inquérito que investiga o financiamento ilegal de campanha e fraude eleitoral de Bolsonaro, indica não só uma possibilidade mas, o enfraquecimento do governo e a dissolução do apoio popular diante das constantes quebras de decoro do presidente. Como o impeachment não resolveria e prejudicara a imagem do país internacionalmente, a solução por uma nova eleição, derrubando a chapa Bolsonaro/Mourão por Fake News seria uma saída honrosa e inovadora para o Brasil, em relação à sua imagem para o mundo.
O que o judiciário, que em geral é tucano, erra categoricamente é que não adianta que haja inúmeras eleições com aparência de legalidade. A fraude está aí e não é somente em relação a Fernando Haddad mas, em relação ao ex-presidente Lula que venceria qualquer pleito, em primeiro turno.
Se eleições existem para exprimir o desejo popular, qual seria o sentido de eliminar o preferido da população, neste caso Lula, e depois eliminar o segundo colocado, que venceria uma possível eleição suplementar, neste caso, Haddad?
https://www.apostagem.com.br/2019/08/21/condenacao-de-haddad-o-judiciario-limpa-o-caminho-para-o-psdb-em-caso-de-cassacao-de-bolsonaro/
Não tem dinheiro? A saída é emitir dinheiro
por Gilberto Maringoni
Há poucos dias, o Boçal, da rampa do palácio do Planalto, ao ser perguntado sobre cortes orçamentários, respondeu:“O Brasil inteiro está sem dinheiro. (…) Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Os ministros estão apavorados. Estamos aqui tentando sobreviver no corrente ano. Não tem dinheiro e eu já sabia disso”.
O que Bolsonaro fala é uma gigantesca empulhação. O que deve fazer um governo quando se vê sem dinheiro?
Imprimir dinheiro.
Rodar a maquininha da Casa da Moeda.
País com moeda soberana, com gastos e dívidas em moeda soberana, com imensa capacidade ociosa, com um enorme exército industrial de reserva (desemprego batendo os 14%), tem de imprimir dinheiro para poder gastar. (Atenção: emissão é prerrogativa do Estado. Bancos privados não podem emitir através de mil e um subterfúgios, como usualmente ocorre).
Em uma economia com demanda reprimida, mercado interno em encolhimento e à beira de recessão, o risco inflacionário é mínimo. Um país não funciona como uma casa de família, como o Boçal e todos os políticos empulhadores tentam nos fazer crer. Famílias não emitem dinheiro. Países sim. Famílias têm pouca elasticidade no gasto. Países têm ampla elasticidade, determinam a taxa de juros de suas dívidas e precisam ter solvência no longo prazo.
Essa é uma decisão fundamentalmente política e não econômica. Essa é a decisão que Franklin Roosevelt tomou ao assumir o poder, em 1933, diante da grande depressão. Emitiu dinheiro e expandiu o gasto (investimento) público. A crise só foi debelada quando o gasto atingiu seu auge, em 1940, num acelerado esforço de guerra.
Roosevelt seria chamado hoje pelo colunismo econômico pilantra de partidário da gastança.
Infelizmente, nos últimos anos tivemos no Brasil alguns Hoovers e nenhum Roosevelt.
P. S. Utilizei a imagem de “imprimir dinheiro” e “rodar a maquininha” para simplificar a ideia. Na verdade, o BC não precisa mandar produzir notas e moedas fisicamente, pois o grosso do numerário circulante é virtual. São meros registros eletrônicos feitos cotidianamente em computadores do BC e dos bancos.
https://jornalggn.com.br/artigos/nao-tem-dinheiro-a-saida-e-emitir-dinheiro-por-gilberto-maringoni/
https://www.brasil247.com/economia/bc-vai-acelerar-queima-de-reservas-e-coloca-em-risco-a-economia-brasileira - Sob o comando de Roberto Campos Neto e contrariando a área técnica, o Banco Central vai leiloar US$ 3,845 bilhões das reservas internacionais do Brasil, entre 21 e 29 de agosto; acumuladas em sua maioria pelos governos Lula e Dilma, as reservas somam US$ 388 bilhões e servem de proteção à economia brasileira contra crises cambiais de grandes proporções - JUNTE A ISSO A SITUAÇÃO DE PARALISIA DO ESTADO EM ÁREAS EXPLOSIVAS COMO RECEITA FEDERAL, SAÚDE, PESQUISA, EDUCAÇÃO, FORÇAS ARMADAS E INSS. NÃO É PRECISO SER UM GÊNIO PRA VER NO QUE VAI DAR...
[O GGN prepara uma série no YouTube que vai mostrar a interferência dos EUA na Lava Jato. Quer apoiar o projeto pelo interesse público? Clique aqui]
sexta-feira, agosto 16, 2019
quinta-feira, agosto 15, 2019
terça-feira, agosto 13, 2019
Os atos em favor da educação aconteceram em mais de 200 cidades em todo o país. É o Brasil na luta por educação de qualidade.#Tsunami13Agosto
CURITIBA
RECIFE
RECIFE
O 13 de Agosto no Rio. Candelária apinhada contra as reformas de Bozo e Guedes. pic.twitter.com/k2dVZwnQYA— JC (@jcr_pt) August 13, 2019
Os atos em favor da educação aconteceram em mais de 200 cidades em todo o país. É o Brasil na luta por educação de qualidade.
#Tsunami13Agosto
— PT Brasil (@ptbrasil) August 13, 2019https://twitter.com/i/status/1161419759902167046
Na Paulista, milhares de estudantes protestam contra desmonte da Educação
Milhares de estudantes, professores, trabalhadores, ativistas de
movimentos sociais ocupam na noite desta terça-feira (13) vão do Masp e
parte da avenida Paulista, em São Paulo, em protesto contra o corte de
recursos da Educação e contra a reforma da Previdência; manifestações
ocorrem em mais de 50 cidades
https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/na-paulista-milhares-de-estudantes-protestam-contra-desmonte-da-educacao
https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/na-paulista-milhares-de-estudantes-protestam-contra-desmonte-da-educacao
sexta-feira, agosto 09, 2019
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