O cientista político como serviçal da
imprensa-empresa:
para dar formato racional às sandices
Entreouvido na Vila Vudu:
O artigo original levava o título de “The Intellectual as Servant of the State”
[O cientista político como serviçal do Estado].
Mudamos, porque nós aqui somos comunistas e acreditamos no Estado.
Nós NÃO SOMOS ‘liberais-democráticos-fascistas-de-mercado’!
Nós acreditamos em Estado e NÃO ACREDITAMOS em jornais e jornalistas e
jornalismos & marketagens, entidades bifrontes do tipo Cantanhede &
Rampazzo e/ou Lavareda & Tucanaria Privateira Ltda e/ou jornalões &
Consultoria Tendêncy e/ou e tal e tal e a lista é looooooooooooooooonga.
Entendemos portanto que um dos mais graves problemas no Brasil 2015
são os falso-intelectuais, falso-inteligentíssimos, falso-bem-informados
JORNALISTAS e comentaristas empregados da imprensa-empresa.
Quem não conheça essa cambada, basta dedicar-se a ouvir, por cinco minutos, o
opinionismo tosco de qualquer Boechat, Neubarth, Cantanhede, LoPrete,
Sardembergh, Mirian Leitão et canalha ‘jornalística’ ‘adjunta – repetido
incansavelmente, o dia inteeeeeeeeeeiro, sempre a mesma ‘notícia’ &
‘comentário’, dez vezes por dia, nas rádios FM Estadão, CNN e Band
FM.
Então o artigo aí vai, porque é excelente informação histórica.
Mas, para nosso real proveito, o artigo deve ser lido não como comentário ao
trabalho de acanalhamento do Brasil que faz a canalha metida a ‘cientista
social dominante’. Essa cambada nós JÁ DERRUBAMOS DO PODER, quando derrotamos
nas urnas
a República USP-Chicago-Pindamonhangaba & TFP plus Aécin.
O artigo que aí vai deve ser lido como comentário à canalha golpista metida a
cientista-social & economista & historiador à moda Villa, porque é a
canalha metida a ‘intelectual’ que foi incorporada – depois de derrotada nas
urnas –, à canalha golpista metida a ‘jornalística’.
Essa cambada é paga para trabalhar diariamente contra o voto da maioria
democrática.
Por sorte, são incompetentes, são mal informados e alguns, inclusivemente,
são cornos politológicos sociológicos histÓÓricos! :-D)))))))
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Cientistas políticos e comentaristas políticos, – gente de ar
snob que
vive de ‘assessorar’ os reles mortais que recebem votos dos eleitores – são uma
praga da república. Como espécies invasivas, eles infestam a Washington de
hoje, onde sua presença sufoca o bom-senso e já levou à beira da extinção a
simples capacidade de perceber a realidade. Sempre em ternos ou
tailleurs
& colarzinhos caros – aquel@s almofadinhas dão aulas ao Congresso,
pontificam na imprensa-empresa escrita e falada, e até já esquentam cadeira em
posições chaves no Executivo, sempre com impacto maléfico. São como a carpa
asiática jogada nos Grandes Lagos.
E dizer que tudo começou tão inocentemente! Nos idos de 1933,
com o país nas garras da Grande Depressão, o presidente Franklin Delano
Roosevelt foi o primeiro a atrair para o estado um punhado de cientistas
sociais e políticos, ansiosos para incorporarem-se às fileiras de seu Novo
Negócio [orig.
New Deal]. Crise econômica sem precedentes exigia algum
pensamento novo – pensou
FDR. Se as contribuições desse “
Brains Trust” [alguma coisa como ‘poupança em cérebros’, ou
‘Fundo Cérebros’] tiveram qualquer impacto positivo ou se só ajudaram a
retardar a recuperação econômica (e foram total desperdício de tempo e
dinheiro) é tema que ainda se discute até hoje. No mínimo, contudo, a chegada
de Adolph Berle, Raymond Moley, Rexford Tugwell e outros elevaram o cenário de
uísque e charutos de Washington. Como membros beneméritos da
intelligentsia,
recebiam então uma espécie de cachê artístico, como pianistas de boate.
Então, veio a 2ª Guerra Mundial, seguida imediatamente pela implantação da
Guerra Fria. Esses eventos trouxeram a Washington uma segunda leva de
pensadores profundíssimos, cuja agenda cerebral estava agora integralmente
dedicada à “segurança nacional”. Esse conceito elástico pela própria natureza –
melhor seria identificar logo o problema e chamar a coisa, para sempre, de
“insegurança nacional” – reunia simplesmente qualquer coisa que tivesse a ver
com prontidão para fazer guerras, ou sobreviver a elas, incluindo economia,
tecnologia, desenho de armas, tomada de decisões, estrutura das Forças Armadas
e outros temas ditos de vital importância para a sobrevivência da nação.
A insegurança nacional tornou-se então – e assim permanece até hoje – a
política mundial que é como um maná, presente que nunca para de cair dos céus.
Gente que se especializou em pensar sobre a insegurança nacional veio a ser
conhecida como “intelectuais da defesa” [mais ou menos como, na
imprensa-empresa brasileira, um tal de
“Godoy”
d’O Estadão é o único ‘especialista em armas’ que há no Brasil inteiro!].
Os ‘especialistas’ pioneiros nessa empreitada, lá nos anos 1950s, recebiam o
cheque de pagamento semanal de
think tanks como a prototípica Corporação
RAND, e de instituições acadêmicas mais tradicionais. Entre essa gente havia
figuras muito sinistras, como Herman Kahn, que se vangloriava por “pensar o
impensável”; e Albert Wohlstetter, que distribuía
tutorials em
Washington sobre as complexidades de manter-se “o delicado equilíbrio do terror”.
Nesse ensandecido mundo, a moeda em circulação foi então, como continua a ser
até hoje, “relevância política”. Significa inventar produtos que sugiram alguma
impressão de novidade, ao mesmo tempo em que só sirvam, mesmo, para perpetuar a
empreitada ‘oficial’ que esteja em andamento. Exemplo radical de
insight
de alta relevância política é a descoberta, pelo Dr. Fantástico (
Dr.
Strangelove) , de um “
mineshaft gap” [aprox. “atraso no
escavamento do buraco de mina”] – sucessor do “
bomber gap” [aprox..
“atraso na construção do bombardeiro”] e do “
missile gap” [aprox..
“atraso na construção do míssil”] os quais, nos anos 1950s, deixaram os EUA
supostamente atrasados em relação aos soviéticos na corrida armamentista e
precisando alucinadamente se igualarem a eles. Naquele momento, com uma troca
de tiros de bombas termonucleares a um passo de destruir o planeta, os EUA mais
uma vez estavam atrasados – diz o Dr. Fantástico. – Daquela vez, porque não
cavaram suficientes abrigos subterrâneos para salvar pelo menos uma pequena
parte da humanidade, que fosse.
Num único brilhante meneio frasal, o Dr. Fantástico postula uma nova
raison
d'être para todo o aparelho de insegurança nacional, assegurando assim que o
jogo possa prosseguir mais ou menos eternamente. Sequência do filme de
Stanley Kubrick estaria mostrando o general
“Buck” Turgidson e outros
emedalhados na Sala de Guerra, hoje, desenvolvendo planos para vedar o
mineshaft
gap, como se nada no mundo tivesse acontecido de lá até hoje.
Nasce o Estado de Insegurança Nacional
Mas foi nos anos 1960s, bem quando o
Dr. Strangelove foi visto pela
primeira vez nos cinemas, que os intelectuais-na-mídia, cientistas sociais e
politólogos (no Brasil, o politólogo mais importante é o Prof.
Bolívar Lamounier, o que pouco informa que realmente interesse ao avanço
do Brasil, mas ajuda, pelo menos, a avaliar todos os demais politólogos pátrios
ativos nos jornalões idem [NTs]) realmente ganharam palancão só deles. A
imprensa-empresa nos EUA passou a chamá-los de “intelectuais da ação” (?)
sugerindo energia e atividade importante.
Os “intelectuais da ação” eram pensadores, mas também fazedores, membros de um
“corpo amplo e em crescimento, de homens que escolheram sair dos seus nichos
silenciosos e tranquilos nas universidades e envolver-se nos problema
complexíssimos que a nação enfrenta” [
é vêêê o Villa!, que não
olha no olho NEM DA CÂMERA
:-D)))))))] – como definiu-os a revista
LIFE, em 1967.
Dentre os tais complexíssimos problemas, o mais complexíssimo era o que fazer
sobre o Vietnã – problema complexíssimo que vinha como de encomenda para que os
intelectuais da ação partissem logo prá cima dele e o cobrissem de tabefes.
Ao longo de um século e meio antes, os EUA haviam feito guerras por muitas
razões, dentre as quais ganância, medo, pânico, ira arrogante e legítima
autodefesa. Em diferentes ocasiões, cada uma dessas causas, isoladas ou em
diferentes combinações, empurrara os norte-americanos à luta. O Vietnã marcou a
primeira vez que os EUA foram à guerra, pelo menos em grande parte, em resposta
a um punhado de ideias perfeitamente imbecis, postas em circulação por gente
metida a super mega over inteligentíssima que ocupava postos de influência.
Ainda mais surpreendente, os intelectuais da ação continuaram a falar a favor
de continuar em guerra, mesmo já muito depois de ser perfeitamente evidente,
até para membros do Congresso, que a causa era causa mal concebida, mal
pensada, mal propagandeada e mal dita, condenada a terminar em fracasso.
Em seu excelente livro
American Reckoning: The Vietnã War and Our National Identity,
Christian Appy, historiador que leciona na University of Massachusetts, nos
lembra de o quanto aquelas ideias eram perfeitamente imbecis.
Como “Prova 1”, o professor Appy apresenta McGeorge Bundy, conselheiro para
segurança nacional, primeiro do presidente John F. Kennedy, depois de Lyndon
Johnson. Bundy é produto de estufa de Groton e Yale, e ganharia fama como o
mais jovem reitor da Faculdade de Artes e Ciências de Harvard, premiado com o
posto, mesmo sem ter nem diploma de graduação.
Como “Prova 2”, lá estava Walt Whitman Rostow, que sucedeu Bundy no cargo de
conselheiro de segurança nacional. Rostow também era de Yale, e formou-se no
mesmo ano no curso colegial e como PhD. Adiante, passou dois anos em Oxford, na
cátedra Rhodes. Como professor de história econômica no MIT, Rostow chamou a
atenção de Kennedy com seu livro de 1960, título modesto,
The Stages of
Economic Growth: A Non-Communist Manifesto, no qual oferece uma
grandiloquente teoria do desenvolvimento, de aplicabilidade ostensivamente
universal. Kennedy trouxe Rostow para Washington, para testar suas teorias de
“modernização” em locais como o Sudeste Asiático.
Por fim, como “Prova 3”, Appy discute rapidamente a contribuição do professor
Samuel P. Huntington para a Guerra do Vietnã. Huntington frequentou também
Yale, antes de obter seu PhD em Harvard, e depois voltou para lecionar,
tornando-se dos mais afamados cientistas políticos do pós 2ª Guerra Mundial.
Traço que se observa nos três, além da suspeita ‘formação’ adquirida em New
Haven: rendição e comprometimento inabaláveis com as supostas verdades da
Guerra Fria. A principal dessas supostas verdades era a seguinte: um monólito
denominado “Comunismo”, controlado por um pequeno grupo de ideólogos fanáticos
escondidos dentro do Kremlin, era ameaça existencial, não só contra os EUA e
seus aliados, mas contra a própria liberdade considerada em si. A ideia veio
com o corolário essencial: a única esperança de se evitar esse resultado
cataclísmico seria os EUA resistirem vigorosamente contra a ameaça comunista
onde quer que ela erguesse a cabeçorra.
Compre essas hipóteses gêmeas, e você aceita o imperativo de que os EUA tinham
de impedir a qualquer custo que a República Democrática do Vietnã, também
chamada Vietnã do Norte, viesse a absorver a República do Vietnã, também
chamada Vietnã do Sul, criando um país unificado; em outras palavras: o
imperativo de que o Vietnã seria causa pela qual valia a pena matar e morrer.
Bundy, Rostow e Huntington não só engoliram a hipótese com anzol, linha e
carretel, como, além disso, passaram a dedicar-se a conseguir que outros em
Washington também fossem igualmente fisgados.
Mas já em 1965, quando clamava pela “americanização” da Guerra do Vietnã, Bundy
começava a duvidar de que se fosse possível vencer aquela guerra. Mas...
ninguém precisa se preocupar: ainda que o esforço termine em fracasso, como
disse ele, aconselhando, ao presidente Johnson, “a política faz valer a pena.”
Como assim?! “No mínimo” – Bundy escreveu –, “esvaziaremos as críticas de que
não fizemos tudo que poderíamos ter feito, e o que fizemos será importante em
muitos países, inclusive no nosso.” Se os EUA acabaram por perder o Vietnã do
Sul, pelo menos os norte-americanos morreram tentando impedir que perdessem – e
essa, graças a uma lógica pervertida e na avaliação do mais jovem reitor de
Harvard em todos os tempos, seria a garantia da salvação. Bundy acreditava que
o ponto essencial seria impedir que outros vissem os EUA como “tigre de papel”.
Negar-se à guerra, mesmo que guerra perdida, implica(ria) perder credibilidade.
Tinham de se dedicar, isso sim, a qualquer custo, a “Não deixar que pensem que
quando nos envolvemos, esquecemos de considerar algum grande perigo”. Esse o
problema do qual tinham de fugir!
Rostow até superou Bundy em linha-durismo. Além de defender incansavelmente os
bombardeios coercitivos para influenciar os políticos do Vietnã do Norte,
Rostow foi também o arquiteto-chefe de algo que ficou conhecido como
Strategic
Hamlet Program. A ideia era acelerar o processo Rostoviano de modernização,
realocando à força os camponeses vietnamitas, de suas vilas ancestrais, para
campos montados pelo governo de Saigon, onde encontrariam segurança, educação,
assistência médica e para plantar. Assim se conquistariam corações-e-mentes. Os
camponeses nunca mais teriam qualquer contato com os comunistas, e a derrota do
levante comunista decorreria automaticamente, com o pessoal do Vietnã do Sul já
introduzido na “era do alto consumo de massas”, à qual toda a humanidade
ascenderia como destino final.
Assim rezava a teoria. A realidade foi um pouco diferente. Os Hamlets
Estratégicos que chegaram a ser tentados eram exatamente iguais a qualquer
campo de concentração dos nazistas. O governo de Saigon revelou-se fraco
demais, incompetente demais e corrupto demais para cumprir sua parte do trato.
Em vez de ganhar corações-e-mentes, o programa gerou alienação em níveis
altíssimos e, de fato, só conseguiu desestabilizar a sociedade camponesa nas
áreas onde chegou a ser iniciado. Outro resultado da ‘ideia’ foi que número
crescente de camponeses arrancados de suas terras e casas afluiu para as
cidades do Vietnã do Sul onde praticamente não havia trabalho além do serviço
doméstico para a crescente população militar dos EUA – atividade que muito dificilmente
levaria a algum tipo de desenvolvimento sustentável.
Fato é que mesmo depois de a Guerra do Vietnã já ter acabado em derrota total,
completa, avassaladora para os EUA, Rostow ainda insistia que sua teoria teria
sido ‘confirmada’. “Nós e os asiáticos de sudeste”, escreveu ele, usamos os
anos de guerra “tão bem que nem houve pânico [quando Saigon caiu], que
fatalmente teria havido se não tivéssemos intervindo.” Por incrível que pareça,
contado hoje, fato é que Rostow ‘comprovou’ inúmeras boas notícias, todas
atribuíveis à guerra norte-americana.
“Desde 1975, houve expansão geral do comércio de outros países daquela mesma
região com o Japão e o Ocidente. Na Tailândia, vimos surgir uma nova classes de
empresários. Malaysia e Singapore tornaram-se países de bens manufaturados
diversificados para exportação. E vê-se hoje a emergência de uma classe muito
mais densa de tecnocratas na Indonésia.
Pronto. Aí está. Você queria saber por que 58 mil norte-americanos (e número
vergonhosamente muito maior de vietnamitas) morreram na Guerra Americana [que é
como se conhece, no Vietnã, o que nos EUA chama-se Guerra do Vietnã (NTs)]?
Morreram para estimular o surgimento de empresários, aumentar as exportações e
fazer emergir muitos tecnocratas por todo o sudeste da Ásia.
Appy descreve o professor Huntington como outro intelectual da ação com grande
facilidade para ver ‘o bom’ de todas as catástrofes. Na visão de Huntington, o
deslocamento interno de sul-vietnamitas causado pelo uso desproporcional do
poder de fogo dos EUA, e o fracasso dos
Hamlets Estratégicos de Rostow,
foram notícias realmente muito boas. Estava agora muito facilitado o processo
de garantir aos norte-americanos, pleno domínio sobre os insurgentes.
A chave para a vitória final, Huntington
escreveu,
foi “urbanização e modernização por alistamento forçado, que rapidamente tirou
o país em questão da fase na qual um movimento revolucionário rural pode
esperar gerar força suficiente para chegar ao poder.” Ao esvaziar o país rural,
os EUA poderiam vencer a guerra nas cidades. “A favela urbana, que parece tão
horrível aos olhos dos norte-americanos de classe média, muitas vezes se
converte, para o camponês pobre, em portal para vida nova e muito melhor.” O
fraseado pode ter recebido gotas de desinfetante, mas a ideia continua clara e
bem suja: os desafios da vida na cidade, em estado de miséria indescritível,
transformariam como por milagre aqueles mesmos camponeses, em gente bem mais
interessada em fazer um pé de meia, do que em se alistar em revoluções sociais.
Revisitadas décadas depois, essas ideias defendidas de modo descaradamente
público pelos Bundy-Rostow-Huntingtons – ação de primeira qualidade de
intelectuais da ação! – parecem piores que obscenas e escandalosas. Elas
insultam qualquer inteligência mediana e nos fazem pensar como é possível que
alguém, algum dia, tenha levado a sério quantidade tão absoluta de
imbecilidades.
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[Para ter experiência direta dessa emoção, basta reler, hoje, o ‘artigo’
do polítólogo-em-chefe do Estadão & Tucanaria Privateira, o tal
‘professor’ [só rindo] Bolívar Lamounier, publicado em 2010, e que leva o
IMPRESSIONANTE título de “A
mexicanização em marcha”].
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Como aconteceu que, durante a Guerra do Vietnã, ideias tão ruins tenham tido
tanta influência, tão perversa? Por que essas ideias foram tão
impermeáveis a qualquer crítica? Por que não se as pôde desconstruir
devidamente? Por que, em resumo, foi tão difícil para os norte-americanos,
naquele momento, farejar a merda que lhe era impingida como ‘pensamento’?
Criar um Vietnã em câmera lenta, para o século 21
Essas perguntas absolutamente não interessam só por terem algum valor
histórico. Elas são muitíssimo importantes ainda hoje, aplicadas ao trabalho de
tecelagem da versão ‘século 21’, dos cientistas sociais e politólogos que
operam HOJE, todos especializados em insegurança nacional, cuja CONVERSA
TOTALMENTE FIADA serve de ‘fundamento’ HOJE para políticas que absolutamente
NÃO SÃO mais coerentes que as políticas usadas para justificar o início e a
continuação da Guerra do Vietnã.
Os sucessores dos Bundy-Rostow-Huntingtons subscrevem hoje as suas próprias
pressupostas ‘verdades’. Dentre elas, a principal suposta ‘verdade’ é que um
fenômeno chamado “Terrorismo” ou “Radicalismo Islamista”, inspirado por um
pequeno grupo de fanáticos controlado por um pequeno grupo de ideólogos
fanáticos escondidos em diferentes pontos no Oriente Médio Expandido é ameaça
existencial, não só contra os EUA e seus aliados, mas – sim, sim, a coisa ainda
vive entre nós! – contra a própria liberdade considerada em si.
E a ideia veio com o corolário essencial empoeirado e importado da Guerra Fria:
a única esperança de se evitar esse resultado cataclísmico é os EUA resistirem
vigorosamente contra a ameaça terrorista/islamista, onde quer que ela erga a
cabeçorra.
Pelo menos desde o 11/9/2001, e pode-se dizer que pelo menos ao longo das duas
últimas décadas, sem faltar um dia, os políticos norte-americanos tomaram essas
‘ideias’ como teorias fartamente confirmadas e sem erro possível. Acontece
assim em parte porque pouquíssimos dos intelectuais especializados em
insegurança nacional deram-se o trabalho de questionar as tais ‘ideiazinhas’.
A verdade é que esses especialistas impediram o estado de ter o DEVER de tratar
dessas questões e problemas. Pense nessa canalha toda como ‘intelectuais’
devotados a fugir e renegar toda e qualquer atividade intelectual genuína. Mais
ou menos como Herman Kahn e Albert Wohlstetter (ou o Dr. Fantástico), a função
deles é perpetuar a empreitada em curso.
O fato de já ninguém ver com clareza de que empreitada afinal se trata,
realmente facilita a vida deles. Antes se falava sempre de Guerra Global ao
Terror, era uma
Global War on Terror,
GWOT. Hoje, já é Guerra Sem
Nome. É mais ou menos como aquela famosa sentença da Suprema Corte sobre
pornografia: não sabemos definir; só sabemos que é quando vemos ‘a coisa’. É
assim, também, com o
ISIL a mais recente manifestação etérea a capturar
todas as atenções de Washington.
A única coisa que se pode dizer com certeza sobre a empreitada Sem Nome é que
ela continua e não há fim à vista. Já está convertida numa espécie de Vietnã em
câmera lenta, favorecendo reflexão espantosamente rarefeita sobre o curso até
agora e sobre rumos futuros. Se ainda há “Brains Trust” funcionando em
Washington, foi esquecido lá, no piloto automático. Hoje, a segunda e terceira
gerações bastardas da RAND que ocupam vastos andares na zona noroeste de
Washington – Centro isso, Instituto aquilo – concentram-se dia e noite em
discussões sobre os equivalentes atualizados para HOJE dos Strategic Hamlets,
sem nem um instante de dedicação a qualquer pensamento mais fundamental, mais
aproveitável.
O que me empurrou para essas maltraçadas linhas foi a notícia de que Ashton
Carter está de volta ao Pentágono, como 4º secretário de Defesa do presidente
Obama. O próprio Carter foi intelectual da ação do jeitão dos
Bundy-Rostow-Huntingtons e fez carreira alternando períodos de ‘serviço’ em
Harvard com idem ‘lá’ (no Pentágono). Carter também é ‘de Yale’ e também foi
‘professor da cátedra Rhodes, com um PhD de Oxford.
“Ash” – porque em Washington, quando acontece de você ser identificado só pelo
primeiro nome (“Henry,” “Zbig,” “Hillary”) é sinal de que você
REALMENTE-REALMENTE chegou-lá – é autor de quaquilhões de livros e artigos,
inclusive
uma
coluna co-assinada com o ex-secretário da Defesa William Perry em 2006 na
qual a dupla ‘exige’ guerra preventiva contra a Coreia do Norte. “Não há ação
militar sem perigos” – reconheceu ele, valentemente, naquele momento. “Mas o
perigo da inação continuada ante a corrida da Coreia do Norte para ameaçar
nosso país é muito maior” – exatamente o mesmo tipo de lógica à qual
periodicamente recorrem todos os Herman Kahn e Albert Wohlstetter.
Agora que Carter retomou as rédeas do Pentágono, está tendo muito trabalho, dia
e noite, para dar a impressão de que é um verdadeiro neo-Aristóteles em matéria
de pensamento. Como
anunciava
(ameaçava?) uma manchete do
Wall Street Journal, “Ash Carter Quer
Novos Olhos Contra as Ameaças Globais”. Claro que há uma pilha de ameaças
globais. Claro também que o secretário de Defesa dos EUA tem mandado divino
para enfrentá-las todas, claro, todo mundo sabe! Seu predecessor, Chuck Hagel
(sem título de Yale) era dado a andar com cautela. Carter, não. Carter é o
contrário. Já chegou mostrando que vem para agitar o pedaço.
Com esse objetivo em mente, logo no segundo dia de trabalho no Pentágono, já
jantou com Kenneth Pollack, Michael O’Hanlon e Robert Kagan, todos intelectuais
de alta patente na insegurança nacional, e velhos paus para toda obra em
Washington. À parte o fato de os três prestarem serviços à Brookings
Institution, os três orgulham-se de ter apoiado a
Guerra do Iraque nos idos de
2003. Hoje, eles ‘exigem’ redobrados esforços contra o
ISIL. Para
termos certeza, nós todos, de que a orientação fundamental da política exterior
dos EUA é firme, sólida, confiável (só temos de tentar mais, com mais empenho,
mais empenho), onde encontrar melhores conselheiros que
Pollack,
O’Hanlon e
Kagan (
qualquer
Kagan)?
Será que Carter contava com receber novos
insights dos seus parceiros de
jantar? Ou estaria ‘sinalizando’ para as redes de professores-adjuntos,
professores-convidados, professores-doutores, professores-em-chefe e
sociólogos-politólogos-comunicólogos que as verdades vigentes da insegurança
nacional permanecerão sacrossantas? Decida você, amigo leitor.
Logo depois, a primeira viagem internacional de Carter ofereceu mais uma
oportunidade para sinalizar suas intenções. No Kuwait, reuniu um conselho de
guerra, de altos funcionários militares e civis para que o atualizassem sobre a
guerra contra o
ISIL. Em ousado movimento que o separou crucialmente das
práticas padrão,
o
senhor do Pentágono PROIBIU RELATÓRIOS EM POWER POINT. Um dos participantes
descreveu o evento como “seminário escolar de cinco horas” – todos puderam
falar de coração aberto, lavar a alma. “
Isso é revirar todos os
paradigmas”,
comentou,
ainda tomado de assombro, um oficial sênior do Pentágono. Todos confirmaram
que, sim, Carter desafiou seus subordinados a “olhar com outros olhos para esse
problema”.
É claro que Carter pode ter dito “Vamos olhar a coisa como se fosse outro
problema”. Mas essa seria postura radical demais para ser levada a sério –
seria o equivalente de ele sugerir, lá nos idos dos anos 1960s que os
pressupostos dos EUA para o Vietnã deveriam ser reexaminados.
Seja como for – e para surpresa de ninguém – o ‘olhar novo’ não levou a
qualquer conclusão diferente da velha. Em vez de revirar algum paradigma,
Carter reafirmou a existência do mesmo velho paradigma: a atual abordagem que
os EUA têm implantado para enfrentar o
ISIL é confiável e ótima. Só
precisa de
uns
beliscões – a ‘deixa’ para os Pollacks, O’Hanlons e Kagans escreverem
qualquer bobagem, só para manter o conversê fiado que tomou o lugar de debate
sério.
E alguém precisa desse conversê fiado ‘jornalístico’ ‘intelectual’
‘sociológico-politológico-histórico’ de araque sem fim? Ele melhora de algum
modo a qualidade das políticas norte-americanas? Se os intelectuais da ação/da
politologia/da defesa calassem o bico, de vez, os EUA seriam menos seguros?
Permitam-me propor um experimento. Ponham TODO esse pessoal em quarentena. Nada
radical. Não é para sempre. Só até que a última neve do inverno degele na Nova
Inglaterra. Mandem essa gente de volta para Yale para reeducação. E vamos ver
se conseguimos sobreviver sem eles, por um mês, dois meses.
Enquanto isso, convidemos veteranos das guerras do Iraque e do Afeganistão,
para que ensinem ao país o melhor meio de enfrentar o
ISIL. (...)
Entrevistem, no horário nobre, domingo à noite, diretores de escolas públicas.
Sabe-se lá... Quanta sabedoria pode haver, escondida por aí?! **********