sexta-feira, janeiro 25, 2013

Veja agora: a república dos bankeiros contra a energia barata



E ontem no Jornal da Globo, esse dois patetas tentando me convencer que a energia mais barata é ruim para o povo brasileiro.
Senta lá Globo...


terça-feira, janeiro 22, 2013

OBRAS QUE O GOVERNO FEDERAL PRECISA MOSTRAR PARA O POVO BRASILEIRO


GIGANTESCA OBRA DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA AVANÇA NA AMAZÔNIA



A imprensa brasileira, oposicionista, jamais dará destaque a esta obra:




FONTE: vimeo.com (http://vimeo.com/32296930[Imagem do google adicionada por este blog 'democracia&política'].

Boletim de atualização dos sites Outras Palavras e Biblioteca Diplô



Boletim de atualização - Nº 250 - 21/1/2013





"Indignados" espanhõis buscam novo caminho para superar crise da democracia formal. Qual seu programa? Por que cultiva o anonimato? Por Manuel Castells

Os fundamentalistas são brutais. Mas o que os bombardeios ressaltam é incapacidade das "democracias" contemporâneas em lidar com o Outro. Por Glen Greenwald


Filme romeno imagina convento católico abalado por nudez e repressão; e convida a refletir sobre poder, sexualidade e fundamentalismos. Por José Geraldo Couto







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BLOG DA REDAÇÃO
Textos da Escola Livre de Comunicação Compartilhada



Belas Artes: começa diálogo que pode reabrir cinema
Reunião com prefeitura de São Paulo anima grupos que lutam para reativar salas. Surge ideia de convertê-las em polo de um corredor cultural. Por Bruna Bernacchio

Baixo Centro-2013: para retomar cidades e refletir sobre seu futuro
Volta em abril, em São Paulo, festival que marcou movimento para reocupar espaços públicos nas metrópoles. Por Gabriela Leite
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OUTRAS MÍDIAS
Uma seleção do material publicado pela blogosfera independente



Rádio Digital: nova batalha pelo futuro da ComunicaçãoTudo recomenda que Brasil adote padrão DRM: livre e barato, multiplica alcance de própria internet. Mas liberdade perturba oligopólio das mídias. Por Thiago Novaes, no Coletivo Digital
A Vale encolheu. E agora?
Em linguagem cifrada, mega-empresa anuncia perdas de US$ 4,2 bilhões, após operações desastrosas. Não seria hora de rever atuação? Por Lúcio Flavio Pinto, em seu blog
O grande negócio da Saúde e uma alternativa
Não basta Anvisa suspender seguros faltosos. É preciso rever toda cadeia dos serviços médicos, e considerar possível estatização. Por Mauro Santayana, em seu blog
A Cultura, a classe sem nome e o MinC de Marta
Abertura ao diálogo com Pontos de Cultura é início de longo caminho. Ministra tem, contudo, faca e queijo na mão. Por Hugo Albuquerque, no Descurvo
Argentina: o porquê da campanha contra Cristina Kirchner
Uma militante histórica da luta pelos direitos humanos narra o envolvimento Grupo Clarín com ditaduras, e tentativa de manter a qualquer custo monopólio da mídia
Guantánamo: a segunda chance de Obama
Prisão ilegal ainda abriga 166 prisioneiros. Torturados, seis podem ser condenados à morte. Presidente precisa fechar campo que envergonha EUA. No site da Anistia Internacional
Crack: o que a internação compulsória não muda
Reportagem na região da Luz revela: usuários querem deixar a droga, mas condenam os que "te prendem, te dão um monte de remédio, te deixam lesado e não cuidam de nada". No Overmundo




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sábado, janeiro 19, 2013

Falta audácia, por exemplo, para exercer a nova legitimidade do Estado indutor num mundo fraturado pela desordem neoliberal.


O que trava o Brasil? A hegemonia e os zumbis da história

Um afoito exército está à espera de ordens nas redações. Enerva-se nas baias.

'É preciso travar Lula!" --antes que ele destrave o país, os investimentos, os empresários... etc.


Adestrado, cevado no cocho neoliberal, quer trotar seus dotes; reclama serviço.


As ventas cospem impaciência.

Ressentem-se do ginete que lhe afrouxe a brida mas conduza a rédea. Sem o quê os coices se espalham a esmo.

Não raro no próprio traseiro.

O recente fiasco da 'emergência elétrica', por exemplo.

Desmoralizado nas páginas da economia e da meteorologia, mostra o estrago dos arranques sem rumo, sem discernimento, nem apuro.

Coisa de mula sem cabeça --e a metáfora traz o desconfortável visgo da pertinência.

O conservadorismo brasileiro detém os meios -- as baias ressoam sofreguidão; faltam-lhe os fins, o discurso claro, convincente; a meta crível, o projeto pertinente que conquiste os corações do país.

O 2014 tucano está sendo programado pelos professores-banqueiros do PSDB. Banqueiros --como seria o novo Brasil dos banqueiros?

Clareza e votos são imiscíveis neste caso e nessa hora.

Melhor não levar as convicções ao campo aberto.

No escrutínio da história, o saldo da desordem neoliberal escancara perdas econômicas e danos sociais inexcedíveis desde 1929.

Um fardo.

A transparência, ao contrário, favorece o governo, autoriza a agenda progressista a avançar o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.

Mas para isso é preciso debater certas questões de forma clara e democrática.

É incontornável dispor de canais para discutir a densidade das perguntas e pactuar a hierarquia das prioridades.

Não é tema que se esgote na lógica mercadista.

O que é preciso para completar a cidadania de quem saiu da soleira da porta, do lado de fora do país, abriu conta em banco, ingressou no mercado de consumo e quer ir além?

A transparência da crise afrouxa os interditos ao debate e amplia o horizonte à reordenação que ele enseja.

Mas essa vantagem cobra um preço justo para o seu desfrute: não ter medo da história.

O desassombro hoje é um requisito da confiança da sociedade no governo.

Como confiar em quem hesita diante dos próprios trunfos?

'Confiança' é a palavra-ônibus que catalisa a disputa política nos dias que correm.

O conservadorismo embarca seus interesses nesse veículo complacente. E as manchetes ecoam prestimosas..

Por exemplo:

"Baixo investimento reflete rejeição ao intervencionismo estatal, não há confiança no ambiente de negócios" (com R$ 45 bi em isenções fiscais em 2012 e R$ 53 bi previstos em 2013; ademais da ampla desoneração prevista nas folhas de pagamento?);

"O superávit primário foi maquiado" (mas a relação dívida/PIB de 36% não é uma das mais baixas do mundo? E não é fato que pode ser mantida assim com um superávit à metade do perseguido atualmente, de 3% do PIB?);

"O nível dos reservatórios prenuncia um apagão iminente" (chove acima da média no Rio, SP, MG, ES, TO E DF, segundo o Cptec);

"A inflação está sem controle" (preços recuam no atacado e sinalizam tendência futura, diz a FGV);

"O juro terá que subir em algum momento" (é negativo em boa parte do mundo e a taxa real do país, mesmo no seu menor patamar histórico, ainda é das mais altas);

"Os fundos internacionais (NR: os especulativos) batem em retirada do país"(o Brasil recebeu US$ 60 bi em investimentos produtivos em 2012, explica o BC);

"O 'tripé' ficou manco, o câmbio não flutua" (o dólar livre e alto é a festa dos operadores rentistas que fazem arbitragem e a desgraça da indústria local afogada em importações)

"País tende à estagflação, com preços em alta e demanda em queda" (fatos: vendas de automóveis crescem 26,7% na primeira quinzena de janeiro na comparação anual , diz a Fenabrave; Brasil terá a maior expansão de vagas entre as dez maiores economias do mundo em 2013; 71% das empresas pretendem ampliar seu quadro, anuncia a CareerBuilder; vendas de passagens aéreas devem crescer 9,5% no país em 2013, informa a Abear; consumo das famílias cresce há três anos consecutivos, mostra o IBGE; indústria brasileira inverte tendência de queda e cresce 2,5% em novembro de 2012, sinaliza a CNI).

Se essa é a qualidade do combustível conservador, por que, afinal, o investimento patina, abaixo dos 25% do PIB, o mínimo requerido a um crescimento rápido?

Excesso de Estado?

O Estado brasileiro investia 11% do PIB, em média, entre os anos 60 até meados dos anos 70.

Hoje, a União investe 1,5% do PIB.

O aparelho público de precariedade imaginável daquele período regrediu no cepo neoliberal até naquilo que reconhecidamente fazia bem.

Desaprendeu a planejar e a executar grandes obras de infraestrutura, inclusive nas especialidades em que o país já foi referência mundial, caso de hidrelétricas, por exemplo.

Das 28 hidrelétricas em construção hoje, 20 estão com atraso.

Não é um problema específico da esfera federal.

O setor público foi programado para não funcionar em todo o país.
Seu controle (asfixia?) foi sofisticado. Amarras e interditos exacerbados. A eficiência foi deliberadamente exposta a uma corrosão abrangente, material, funcional e ideológica. Favorável aos interesses mercadistas e privatistas. Deletéria ao país.

Autoproclamada eficiente, a gestão tucana em SP, há 18 anos no poder, não consegue, por exemplo, fazer mais que 1,9 km de metrô por ano. São Paulo tem 74,3 kms de rede metroviária-- a menor entre as grandes capitais do mundo; a da Cidade do México tem 210 kms.

Cálculo da BBC: com 402 kms o metrô de Londres cresce em média 2,68 km por ano; mantido esse ritmo --e a 'eficiência' tucana, levaria 172 anos para São Paulo alcançar Londres.

Em frente.

O aparelho público que a ortodoxia abomina, assim como o mercado interno de massa que seus colunistas desdenham, representam, na verdade, as duas grandes turbinas capazes de afrontar o contágio da estagnação mundial no Brasil.

Mas tudo passa --esbarra, por enquanto-- pela conquista da confiança do capital privado, cuja participação é indispensável num novo ciclo de crescimento.

Confiança, bem entendido, significa para o capitalista o seguinte: a certeza de colocar seu dinheiro num projeto com retorno futuro superior ao das aplicações financeira; acrescido de um bônus pela liquidez inferior do investimento em longo prazo.

O governo Dilma tem espetado importantes estacas para reverter a 'preferência mórbida pela liquidez' consagrada nos anos liberais de FHC, Malan, Armínio e Selic de até 42% reais...

Sob coices e advertências das redações, derrubou a Selic de 12,5% para 7,25% entre agosto de 2011 e outubro de 2012.

Desmontou o piso da poupança e tem pressionado a banca a reduzir o spread e a ampliar o crédito usando os bancos públicos como guincho e alavanca.

Concedeu o equivalente a 1% do PIB em incentivos fiscais à produção no ano passado.

Anunciou um pacote adicional de infraestrutura de R$ 133 bilhões, incluindo rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.

Está fazendo o certo.

Rédea curta nos juros, mantidos em patamares mínimos para não rivalizar com as expectativas de retorno da aplicação produtiva.

Um processo de redistribuição de renda persistente (aumento do salário mínimo, programas sociais, pleno emprego etc) para acelerar o encolhimento dos estoques industriais. Isso realimenta o ciclo de expansão, evita seu esgotamento precore. Gera um ambiente encorajador à ampliaçao de capacidade produtiva.

O que falta, então, para conquistar a confiança do capital privado e as coisas acontecerem?

Falta audácia, por exemplo, para exercer a nova legitimidade do Estado indutor num mundo fraturado pela desordem neoliberal.

Mas, sobretudo, talvez, a questão principal não esteja na palavra confiança. Ou talvez aquilo que o keyenesianismo chama de confiança tenha uma tradução mais completa na palavra hegemonia.

Hegemonia não se conquista apenas com a boa gestão econômica.

A 'obsessão mórbida pela liquidez' naturalmente lê jornais e acompanha a luta política.

A mídia nativa e a forânea, irmanadas nos mesmos ideais, como se pode observar em episódios recentes, a exemplo do polêmico ajuste do superávit de 2012, borrifa densa neblina de incerteza na sociedade: a macroeconomia do governo não tem coerência, não há consistência no tripé, tampouco viabilidade no longo prazo.

A começar pela alavanca do mercado interno de massa, que se desqualifica e se minimiza. Um fenômeno assistencial 'insustentável', cravam os sábios tucanos e seus aprendizes de orelha e holerite.

A confiança, vista desse mirante, não é um saldo cumulativo de incentivos fiscais, mas um campo conflagrado.

Nada que se contabilize de forma pacífica, linear, como parece acreditar o governo na sua gradual rotina de anúncios e medidas.

A confiança é uma das esferas da luta pela hegemonia. Uma queda de braço bruta, e sem volta, estampada e vocalizada em espiral ascendente pelo dispositivo midiático conservador. 

É sobretudo nessa frente que o desempenho de Brasília deixa a desejar.
Desde setembro de 2008, certas coisas ficaram ostensivamente disfuncionais no mundo e na macroeconomia dominante.

Vivemos o esgotamento de um ciclo histórico.

A força da ideologia, porém, ainda mantém a vigência de certos anacronismos no mundo dos vivos, confundindo-se com eles.

O noticiário dispensa-lhes tratamento equivalente e respeitoso. Como se a ordem das coisas permanecesse inalterada, depois que o cemitério do desemprego recebeu as carcaças de 50 milhões de vítimas, dificilmente ressuscitáveis, de um serial killer chamado 'mercados autorreguláveis'.

Vulgo, vale tudo neoliberal.

Os artífices e instrumentos da matança persistem no mundo dos vivos como zumbis históricos e nisso reside o seu maior perigo.

Zumbis são mortos que matam. 


No caso brasileiro, extraem a força letal do medo que os vivos tem de ocupar seu papel na história.

E, sobretudo, de erguer a partir daí uma nova hegemonia, capaz de irradiar a confiança num novo ciclo de desenvolvimento.

Postado por Saul Leblon às 09:57

terça-feira, janeiro 15, 2013

Aaron Swartz (1986-2013) Combatente contra a privatização do conhecimento


Entreouvido na Vila Vudu:
Walter Benjamin nasceu em Berlin, dia 15/7/1892; e suicidou-se em Portbou (fronteira Espanha-França) dia 27/9/1940.
Walter Benjamin TAMBÉM preferiu o suicídio, a deixar-se julgar pelo aparelho judicial dos nazistas.

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[Primeira parte]
PAUL JAY, Editor Sênior de The Real News Network: Aaron Swartz foi brilhante desenvolvedor de softwares. Recentemente, trabalhou para a empresa Thoughtworks – desenvolvedora global de softwares. Mas, antes disso, já era mundialmente conhecido como o desenvolvedor de Reddit, o inventor do RSS e um dos que conceberam e projetaram a organização Creative Commons. Na 6a-feira passada, Aaron suicidou-se em New York.

Em junho desse ano, Aaron Swartz foi acusado de ter usado o acesso que obteve do Massachusets Institute of Technology, MIT, para logar-se ao sistema JSTOR – um banco de dados de artigos acadêmicos, de onde teria baixado grande quantidade de artigos científicos com o intuito de distribuí-los. Temia-se que fosse condenado a mais de 30 anos de prisão.

Hoje, para falar conosco sobre Aaron, o homem, e o significado desse caso, temos, para começar, Roy Singham. Roy é fundador e presidente da empresa Thoughtworks Inc., a última para a qual Aaron trabalhou. E Brian Guthrie. Brian trabalhava com Aaron na mesma empresa; também é desenvolvedor de softwares e ativista pela liberdade da Internet. Obrigado a ambos, por aceitar nosso convite.

Brian Guthrie: Obrigado a você.

Jay: Roy, por favor. Para começarmos, fale rapidamente sobre o caso, sobre o que realmente se viu na acusação. Quero dizer: a pergunta que, suponho, todos nós nos fazemos hoje é: por que o Procurador atacou Aaron com tanta fúria? Nenhum documento foi distribuído. Se Aaron baixou os documentos pensando em torná-los públicos, jamais os distribuiu. Não houve nenhum crime. Apesar disso, o Procurador atacou-o furiosamente...

Roy Singham: É... Não se sabe, mesmo... A família de Aaron distribuiu uma declaração[1], me parece, muito firme, na qual falam de excesso da Procuradoria e, infelizmente, nesse caso, também da cumplicidade do MIT, que permitiu que as coisas tomassem o rumo que tomaram. Fato é que, se Aaron baixou aqueles documentos, tinha pleno direito de baixá-los. Ele tinha acesso autorizado a eles; os documentos estavam num servidor... Mas nenhuma pessoa recebeu documento algum, porque Aaron não distribuiu documento algum. Quer dizer: se fosse crime, teria sido crime sem vítima... De fato, eles inventaram o ‘crime’ de ter intenção de distribuir... do qual não há qualquer indício ou prova.

Deve-se lembrar também que são artigos acadêmicos. Não se trata de segredos empresariais, nem de segredo de estado. São artigos acessíveis a qualquer pessoa que tenha a necessária credencial que Aaron tinha e muitos têm, em todo o mundo. E naqueles documentos condensam-se séculos de saberes da humanidade, de conhecimento humano. A ideia de que haveria algum proveito de natureza econômica a extrair da distribuição daqueles documentos é falsa. Se tivesse havido algum crime, seria impossível provar qualquer motivação econômica. E ninguém nem nenhuma instituição foi lesada. A empresa JSTOR, que é a organização da qual os documentos foram baixados, mostrou grande surpresa com o rumo que a história tomou, porque, disseram, era coisa fácil de resolver, que ninguém fora prejudicado, que não acreditavam que chegasse a haver um ‘caso’ policial e julgamento...

E de repente, lá está o governo dos EUA, na pessoa do Procurador Federal no Estado de Massachussets, que se põe a perseguir alguém, mesmo sem dano algum, mesmo sem vítima. Enquanto os que poderiam sentir-se como ‘vítimas’, se tivessem perdido alguma coisa, mas nada perderam, pedem que o Procurador Federal cancele as acusações. Que é estranho, é.

Jay: Parece que, então, o objetivo tem de ser o de mandar um recado claro a todos que tenham esse tipo de talento de alta especialização, pode-se dizer, que Aaron tinha: fiquem bem longe de documentos que pertençam a seja quem for, proprietário privado ou proprietário estatal... E ponto final. Parece que não há dúvida de que Aaron foi usado para mandar o recado à comunidade da qual ele fazia parte.

Singham: É, mas... A verdade é que cada pessoa tem opinião diferente sobre o que houve. Glen Greenwald, no artigo, que achei brilhante, que escreveu para o The Guardian,[2] considera várias teorias potenciais sobre por que a Procuradoria cometeu tais excessos. Você sabe... Teria sido para criar um caso exemplar? Teria sido porque Aaron tinha inimigos poderosos nos EUA?

Como você provavelmente sabe, Aaron ajudou muito na luta para derrotar a legislação antipirataria. Ele também meteu-se com o governo, ao mostrar que as coisas [incompr.] que já produziram para os tribunais têm de ser lives. Baixou tudo aquilo, e expôs o ridículo do que estão tentando fazer. Claro que ele já chamara a atenção do FBI e do governo. Sabemos que já estava no alvo deles.

Mas o que aquele Procurador Federal fez, porém, em Boston, além das questões políticas que haja, são o que mais chama a atenção de todos, hoje. Houve vingancismo, aquele Procurador e seu gabinete rebaixaram a justiça federal. Afinal, é um Procurador Federal, juiz federal da Procuradoria Federal do Estado de Massachusetts, Carmin Ortiz. Ele já estava, há mais de dois anos, tentando meter o Aaron, praticamente um menino, um lindo rapaz, na cadeia.

Quais, portanto, seriam os motivos pessoais, além do caso político, de, no mínimo, no caso de Aaron, dois Procuradores federais? Foi o perguntamos em nossa declaração, hoje [incompr.], distribuída à imprensa. Aqui, fala como indivíduo. Mas na declaração a ideia era que... Não é possível que haja Procuradores de justiça, nos EUA, que usem os poderes que têm para acuar gente inocente, que se sirvam do sistema judicial para chantagear inocentes e obrigá-los a se declararem culpados. Ser condenado, num processo desses, implica custas de milhões de dólares, o sujeito, a família, ficam arruinados, 35 anos de cadeia... Tudo isso assusta qualquer pessoa.

E há muitas questões a serem ventiladas publicamente, na nossa opinião, sem dúvida alguma na minha opinião e na opinião de Brian, que trabalhava todos os dias ao lado de Aaron. Se se deixar sem discutir publicamente o que aconteceu, perderemos a geração atual e, possivelmente, mais uma geração de Aarons, duas gerações das melhores cabeças que o planeta produziu até agora. O que está em jogo é isso! Tenho ideias pessoais, sobre o que há, nesse caso, de motivação política, sim. Mas penso, em primeiro lugar, que a família de Aaron gostará de nos ouvir dizer isso. Por que, em todo o governo dos EUA, ninguém sequer tentou interromper a ação daquele Procurador Federal? Por quê? Como é possível que isso tenha acontecido nos EUA? [incompr.]

Jay: Brian, você trabalhava ao lado de Aaron. Fale um pouco sobre o homem. Para começar, o que o motivou, em primeiro lugar, o que você acredita que o tenha motivado para baixar todos aqueles documentos? Tanto quanto sei, ele jamais negou que tivesse baixado os documentos. Mas a ação era parte de uma visão mais ampla, sobre o mundo. Que visão era essa?

GUTHRIE: Aaron é mais conhecido pela contribuição técnica, mas ele tinha, mesmo, alma de filósofo e de ativista. Era excepcionalmente culto, lia muito. Desde muito cedo e sempre, em sua vida, procurava aproximar-se de gente que admirava, procurava pessoas que admirava, perguntava o que fazer, como podia ajudar. E usou aquele talento técnico para melhorar coisas em toda a Internet. Se há coisa que todos dizem de Aaron é como ele se movimentava, como aparecia, sem mais nem menos, com ideias para ajudar, querendo trabalhar junto, oferecendo apoio à página internet de um, de outro. Era, sim, prodigiosamente inteligente e sinceramente desejava usar a inteligência que sabia que tinha e suas habilitades, e sua energia, para o bem do mundo.

Escrevia também muito, e muito bem. Pensava longamente no que escrever. Pode-se ver muito do tipo de homem que era, nos seus escritos online. Em pessoa, frente à frente, era meio calado, quase tímido, passava facilmente despercebido. Nunca chegava como o incrível ativista que foi. Mas, de fato, se se acompanhava o que ele dizia online, se se lê o arquivo online de seus escritos, do que pensava, das suas opiniões, então, sim, se vê a riqueza do conhecimento que ele tinha, tudo pesquisado, tudo organizado, as questões discutidas e expostas com enorme clareza.

Jay: Você deve ter discutido esse caso, especificamente, com ele. Como você explica a ação de ter baixado aqueles arqivos e o que ele esperava?

Singham: Aaron tinha uma abordagem muito disciplinada do modo como trabalhava e como trabalhar para maior proveito geral, do mundo, especificamente na luta em torno da questão dos direitos de autor, o copyright. Estava à procura de bancos de dados nos quais se arquivassem documentos que realmente contivessem algo de interesse social, de bem público, que devesse ser aberto, fosse pelo conteúdo, fosse por ser produzido com dinheiro de impostos que todos pagam, documentos que devessem ser propriedade aberta do povo dos EUA.

Por exemplo, o banco de dados PACER é banco de dados de documentos que foram usados em julgamentos públicos. Foi um dos bancos de dados públicos que ele ajudou a abrir para toda a internet. Nessa operação, todos descobriram que PACER estava cobrando pelo acesso àqueles documento públicos! São documentos de domínio público. São pagos e produzidos pelo povo dos EUA. Nada justifica que quem queira lê-los tenha de pagar pelo acesso.

Aaron fazia esse tipo de trabalho. Estava trabalhando para fazer-ver a desconexão absoluta que há entre as leis que temos sobre informação e o modo como as pessoas comuns têm (ou não têm!) acesso àquela informação. Estava fazendo isso. Estava trabalhando para abrir bancos de dados de documentos que já teriam de estar abertos há muito tempo, de fato, para todo mundo.

Singham: E há aí muitas e muitas nuances muito mais importantes do que o público sabe. Por exemplo: os acadêmicos que escrevem para periódicos especializados não são pagos para escrever ou publicar. Praticamente em todos os casos, as pesquisas e estudos cujos resultados são publicados são financiadas por instituições do Estado. Muitos daqueles artigos tiveram algum dia algum direito autoral, em muitos casos, já expirados. E coisas assim... De fato, o mesmo JSTOR distribuiu milhões de artigos de seu banco de dados, semana passada, porque....

Guthrie: Distribuíram 20% do que tinham arquivado.

Singham: 20%. Uma das coisas que Aaron disse em sua fala, acho, de 2011 foi “vocês sabem... Aqui está arquivado o conhecimento humano dos últimos 200 anos. Eu, como estudante de um país rico, numa universidade rica, tenho acesso livre a tudo isso, mas... e se uma estudante na Índia quiser ler o que eu leio gratuitamente, ela não pode. Porque não tem a senha que a universidade em que eu estudo me dá e me dá pleno acesso a tudo isso; mas não dá nenhum acesso a ela, à cultura literária e ao conhecimento científico da humanidade. Eu, ando um pouco e chego a uma biblioteca e posso ler o que quiser. Mas um jovem estudante pobre, por exemplo, no Brasil, não pode ler o que eu leio de graça, aqui.” Era algo que o ofendia profundamente, sinceramente, no plano moral. E ele via, muito claramente, o quanto essa discriminação prejudicaria também a sociedade norte-americana.

Guthrie: [incompr.] JSTOR [sigla de The Scholarly Journal Archive] é uma organização que tem uma missão[3], deve trabalhar pelo bem público, e com certeza baseia-se em um conjunto de boas intenções. Não tenho dúvidas de que, hoje, a JSTOR, como instituição, está muito mais feliz com o modo como conduziram o assunto, do que outras instituições envolvidas.

Mas Aaron sabia que professores e alunos das grandes universidades norte-americanas que têm acesso ao banco de dados de JSTOR também já partilhavam o acesso àquele conhecimento. JSTOR começou a cobrar de outras universidades pelo acesso aos seus bancos de dados. Muitos professores e alunos continuaram a partilhar senhas, ou distribuíam textos pelas suas próprias redes. Muitos acadêmicos já são uma comunidade de partilha de conhecimentos. São os que visam a distribuir conhecimento pelo mundo. Muitos não são obcecadamente preocupados com o sigilo de suas pesquisas. Querem que o maior número de pessoas saiba do que estão fazendo, leiam suas pesquisas.

Aaron sabia, contudo, que, mesmo assim, muita gente que vive em locais sem qualquer acesso às universidades, ou onde nem as universidades possam pagar as taxas de inscrição que JSTOR cobra têm também direito de acesso àquele conhecimento. Queria mudar isso. Queria mudar mesmo, em grandes números... [continua]




[Segunda parte]

Jay: E então, Roy? Por que esse Procurador – e, como você disse, não pode ser só um Procurador. Mais gente, no Departamento de Justiça tinha de ter conhecimento do que estava sendo feito. Por que decidiram sair à caça de Aaron? Porque se puseram a persegui-lo tão ferozmente? Por que vocês acham que essa perseguição é tão ameaçadora, tão grave?

Singham: Por que... é claro... É claro que nós não temos muita chance. O pior de todos os Procuradores do Gabinete de Ortiz é Heymann, é o mais vingativo. Trabalha para Ortiz, é o chefe de gabinete do Procurador. Esses dois, Ortiz e Heymann, na minha opinião, são 100% culpados pela perseguição infatigável, sem tréguas. E por tudo que aconteceu. E outros, todos sabem, outros também discutiram o caso, Holder e outros. É absolutamente impossível acreditar que não soubessem, que não tivessem discutido o caso.

E se se analisa o momento em que as acusações foram formlizadas contra Aaron, foi exatamente no mesmo momento em que acusaram Assange e Manning. Havia no ar aquela paranoia, no Departamento de Estado, no Serviço de Segurança Nacional... [incompr.] Há ativa, hoje, uma geração inteira de hackers e, pensaram eles, temos de acabar com isso. Se não metermos essa gente na cadeia, a segurança nacional estará ameaçada.... O ‘clima’, naquele momento era de... temos de acabar com eles. Muita gente sentiu, não aconteceu só com Aaron. Houve outros, Jeremy Hammond, os Anonymous, muita gente que está trabalhando muito pela liberdade na Internet. Muitos deles estão sendo caçados globalmente. Quero dizer é que... Pode-se dizer que é uma coisa social, histórica.

Ontem à noite, discutimos internamente, na nossa empresa. Há o pessoal que acha que “Por que, como empresa, temos de nos meter nisso? Por que chamar atenção para nós? Parece que queremos que o Procurador se ponha a nos investigar... Queremos que ele nos cace também?!” Discutimos os termos da nossa declaração pública. E, sim, estamos exigindo que o MIT peça desculpas à família de Aaron. Não se pode admitir que, sem mais nem menos, mudem toda a política da instituição... por causa de um Procurador Federal?

Tudo isso é muito importante. O acesso à internet para todos não é importante, para nós, pessoalmente, e também para nossa empresa? Claro que é! Se vc visitar a página de Aaron, há alguém lá, de 14 anos que escreveu que Aaron é seu ‘herói’. Se essa geração, onde pode haver centenas, milhares de Aarons, começa, desde já, a ser ‘ensinada’ que os que trabalham para garantir mais liberdade para todos podem ser presos, destruídos, arrasados, que alguns, mais desesperados ou mais frágeis, não suportarão a pressão ou a dificuldade da luta... Não se pode admitir que aconteça, porque, se acontecer, a internet humanista do futuro, a internet revolucionária, terá sido assassinada no ovo.

Fomos forçados a uma posição de mais ativismo, para combater a supressão da desobediência e da resistência civil. Infelizmente, alguns de nós, nós... Mas, nos dois últimos dias, algumas das melhores cabeças, das cabeças mais criativas, já trouxeram algumas das respostas mais inteligentes de toda a comunidade, contra, contra esses horrendos atos de autoritarismo.

Jay: Parte da questão é que... Os EUA têm superioridade militar sobre todo o mundo, têm superioridade financeira sobre todo o mundo? Será que têm? Porque, no que tenha a ver com tecnologia de computadores... parecem tão assustados nesse front. Talvez suspeitem que não têm qualquer superioridade intelectual? Talvez saibam que não têm? Por isso se sentem vulneráveis, assustadiços? Por isso atacam tão furiosamente? Porque se sintam expostos?

Guthrie: Há uma narrativa segundo a qual fazem o que fazem porque a tecnologia é novidade e eles têm medo do hacker-bandido que entra em qualquer sistema e faz o que bem entenda com os dados... É narrativa fantasiosa, nada disso é v erdade. Quero dizer... O que compreendemos da tecnologia está ainda no começo. Mas acho que Aaron acabou capturado por essa narrativa que os Procuradores da Justiça Federal podem manipular a favor deles mesmos. Se conseguirem pintar Aaron como bandido perigoso, como mais um de uma vasta conspiração de hackers-bandidos. E Aaron...

Jay: Antes da entrevista, fora do ar, você disse uma coisa importante: que Aaron não invadiu sistema algum. Ele tinha a senha de acesso, dele, legalmente dele. O que Aaron fez foi como ir a uma livraria com a carteirinha de entrada, entrar normalmente e fotocopiar livros de domínio público. Para distribuir as cópias, se quisesse. Foi isso?

Singham: Não é bem isso, porque Aaron nunca imprimiu nada. Não houve nenhuma cópia. Ele baixou os arquivos para o seu computador. Não há crime algum.

Guthrie: É. A comparação correta é com alguém que entra legalmente numa biblioteca e passa os olhos, muito rapidamente, por muitos livros. O que impacta o sistema, é que ele baixou muitos artigos, muito rapidamente. Mas não fez coisa alguma que alguém, seja quem for, possa descrever como hackear alguém ou a propriedade de alguém. Aaron não entrou em nenhum sistema, não alterou nenhuma senha. Não fez coisa alguma que a página que ele acessou não autorizasse a fazer. Nem, sequer, alterou a URL, o que é óbvio...

Singham: É óbvio...

Guthrie: É absolutamente óbvio que não alterou nem a URL – que é algo que tem sido usado como pretexto para acusar pessoas de estarem hackeando páginas. Se você alterar a URL de um vídeo do YouTube, alguém poderá alegar que, em circunstâncias que façam pensar nisso, você estaria hackeando o vídeo. Aaron não fez nem isso. Nem faria. Aaron não era esse tipo de gente.

Jay: Você está dizendo que, se um aluno comum, sem histórico nem interesse no ativismo de Internet e sem ter os dotes e a habilitação excepcional de Aaron, tivesse feito o que ele fez, nada teria acontecido e, com certeza, não teríamos Procurador algum em surto persecutório. O Gabinete do Procurador Federal do estado de Massachusetts pôs-se a caçar Aaron porque se tratava dele, Aaron Swartz. E porque tem medo do que gente como ele é capaz de fazer. É isso?

Singham: Acho, é minha opinião pessoal, que há um movimento calculado, no governo dos EUA, para tornar inoperante a próxima geração de ‘gente de computador’. Aliás, a desobediência civil que esse pessoal pratica não é diferente da que o Dr. [Martin Luther] King, da que Gandhi pregavam. O argumento de que Gandhi desrespeitou a lei no imposto do sal, ou, então, que o Dr. King violou leis ao ‘desrespeitar’ as leis racistaas... São pequenas transgressões, sem importância alguma, de leis injustas...

Aaron gostava de riscos. Acreditava que, acho que... Não sei se ele teria antevisto alguma resposta tão absurda... Não sei se alguém poderia prever a reação alucinada desse Procurador, mas... Aaron compreendia muito bem que as leis que há hoje, não dão conta, de modo algum, das mudanças tecnológicas. Que são leis aprovadas há 30, 40 anos, que já nada significam nessa área nova em que vivemos hoje. Entendia também muito bem que aquelas leis estão sendo usadas por um pequeno grupo de empresas gigantescas para privatizar e converter em dinheiro todo o capital intelectual que é legado humano, de toda a humanidade.

Por isso, até a revista The Economist, que não é afamada pelas posições progressistas, chamou-o ontem de “o homem dos comuns” [orig. commons man],[1] e não no [incompr.] sentido de ele defender, ou ser um dos grandes defensores do conceito dos bens “commons” e a completa erosão...

Mas Aaron, nesse sentido, estava atacando diretamente os interesses econômicos dos que estão tentando privatizar o conhecimento humano.

Mas ele também sabia que havia uma relação entre aqueles interesses e o Estado, razão pela qual quase tudo em que estava trabalhando era ativismo em torno de leis. Porque ele então começou a entender que o contexto mais amplo era, sim, um contexto político. Por mais apaixonado que fosse por Creative Commons, também era apaixonado pela próxima geração de combatentes.

Jay: Brian, fale um pouco sobre as outras áreas em que Aaron trabalhava. Você me disse, antes da entrevista, que essa era parte pequena do ativismo de Aaron.

Guthrie: É. Nós conhecemos Aaron como técnico, mas a tecnologia para ele era uma ferramenta. Algo que ele queria usar para realmente mudar o mundo. O trabalho que estávamos fazendo com ele na Thoughtworks envolvia construir um software usando as mesmas ferramentas e técnicas que o pessoal do Vale do Sílício está usando para fazer as pessoas postarem mais no Facebook, aplicando o mesmo nível de detalhes analíticos para encorajar as pessoas a trabalhar certo, fazer o bem no mundo e aproximar as vozes num coletivo de gente que tenta mudar as coisas.

E assim, para esse objetivo, estão trabalhando num software que Aaron queria fazer e fez – já está disponível, gratuito. Basta baixar, você mesmo. É distribuído sob licença de fonte aberta. Aaron planejava usar esse programa para chegar às ferramentas mais avançadas para ativismo social na internet em todo o mundo, para gente que não teria acesso às ferramentas, se não pagasse.

Singham: É. [incompr.] O pessoal pensa nele como uma espécie de ‘herói global do ocidente’. Aaron era profundamente internacionalista. É que... [incompr.] nesse aspecto, em especial, ele percebeu que o conhecimento sobre campanhas, militância, sobre organização, hoje, é fenômeno restrito a países ricos; que até entre os progressistas, há o risco de que as agendas não sejam montadas pelas próprias pessoas, que alguém as monta ‘pelas pessoas’. Aaron era democrata empenhado, dedicado. O que alguém faz, se vive numa aldeia perdida no Burundi e quer espalhar a minha campanha, não importa o que seja, a favor ou contra seja lá o que for, e o sujeito não quer que a agenda dele seja ‘traduzida’ por alguém em Washington, nem em New York, o sujeito quer falar, ele mesmo, e ser ouvido por aquelas pessoas que ouvem os tais celulares, e computadores moderníssimos....

Aaron era pensador incrivelmente avançado sobre a natureza do poder político, como democratizar o acesso, como a internet tem de ser usada para esvaziar o poder da acumulação de riqueza e poder. Foi dos últimos, infelizmente, nesse sentido... dos grandes humanistas, que lutaram contra o poder concentrado em poucas mãos e os estados totalitários.

JAY: Brian, gente como Aaron atualmente faz fortuna rápida. Mas ele parecia não se interssar por dinheiro... se entendi bem.

Guthrie: É – e diga-se a favor dele. Acho que Aaron poderia ter sido o que quisesse e fazer absotamente o que quisesse. O dinheiro caiu sobre ele, sem que ele o procurasse. E, diga-se, outra vez a favor dele, que ele continuou a seguir suas pistas e oportunidades, onde conseguisse encontrar alguma, sempre procurando fazer o maior bem possível à maior quantidade possível de pessoas. Nunca pensou em ganhar dinheiro. Ajudou a criar a empresa Reddit.com, e depois que foi vendida ao grupo Condé Nast, separou-se completamente e usava o dinheiro como usava o oxigênio que respirava, não para acumular oxigênio dentro dele, mas para andar o quanto precisasse, para melhorar o mundo.

Singham: Verdade é que ele não ganhou tanto dinheiro como se disse. Não foi tanto quanto as pessoas pensam.

Guthrie: É.

Singham: Aaron era um dos proprietários. Havia outros. E ele gastou nas ‘operações’, no caso PACER, para viver e morar. Nunca viveu como rico. Há muita coisa errada, no que se disse dele.

Pessoalmente, como técnico, estou preocupado com gente que acredita nos retratos que se pintam por aí de Steve Jobs, como ícone. O mundo precisa de ícones como Aaron Swartz, não como Steve Jobs. De fato, na nossa indústria, somos pessoas de sorte, porque conseguimos viver do que gosstamos de fazer. Mas... usamos para quê, o que nós sabemos fazer? Nesse sentido, pensando com meus botões, acho que Aaron foi o mais importante personagem modelo da nossa geração, com certeza nos EUA... É muito difícil, para mim...

Você e eu tivemos muita, muita sorte, porque vivemos tanto tempo com ele, nos últimos seis, oito meses. E passei dois dias chorando sem parar. Você também. E só hoje, no terceiro dia, estamos começando a conseguir começar a reconstruir o legado de Aaron, como, tenho certeza, ele queria que fizéssemos.

O que mais me perturba é gente que tenta inserir Aaron em cenários sempre estreitos, estreitos demais. É o hacker, ou é o cara da Internet. Conheço gente, conheço muita gente... Você e eu conhecemos muita, muita gente. Você conheceu algum sujeito melhor que ele? Mais atento, mais carinhoso? Eu ainda não consigo acreditar. Ainda choro.

Conversamos uma vez, recentemente, sobre como se podia mudar o modo como os americanos veem os muçulmanos. Aaron, um jovem, belo e bom judeu. Entrou na sala onde havia vários, você sabe, ativistas muçulmanos, e disse que todos temos de fazer alguma coisa para mudar o modo como os norte-americanos veem os muçulmanos. Chegou até a lousa e disse “escutem, temos de combater, fazer uma guerra contra os mercadores do ódio”. [incompr.] Tinha ido até lá dizer isso. Ficaram lá, uma, duas horas.

Guthrie: É.

Singham: Ele fazia essas coisas. A amplitude das questões sobre as quais pensava era quase inacreditável. Nesse sentido, era quase um radical. Leu Chomsky com 15 anos. Falava de tudo sobre o que as pessoas não querem falar. Era homem profundamente insatisfeiro. Numa de suas falas sobre a campanha SOPA, quando falou sobre isso pela primeira vez, disse “olha, não estou interessado em lei de direitos de autor; direitos de autor não me interessam, nem a favor nem contra. Quero mexer no acesso a assistência médica, quero mexer nessa crise financeira, quero entender por que não temos o Congresso ‘na cola’ das empresas que negociam com o Pentágono. Quero dizer... Ele pensava assim.

Jay: Roy, muitos dos que nos assistem perguntarão por que Aaron não quis lutar esse combate contra o Procurador. Já se sabe que ele sofria de depressão. Não é verdade que, porque sabia que seria preso, preferiu outra solução. Acho que, como sempre acontece, a depressão tomou conta da capacidade de decidir...

Guthrie: Uma das conversas que circularam foi a questão do dinheiro, que o dinheiro não seria problema. Você entra num processo desses, mesmo que seja completamente inocente, numa corte federal, passa um dia lá dentro sendo julgado e, à tarde, você está condenado a passar o resto de sua vida na cadeia ou deve 1,5 milhão de dólares. Não há como imaginar o que é isso [conversas cruzadas].

Singham: Esse dinheiro ele não tinha.

Guthrie: É. Não tinha. E, para pagar, ele teria de pedir a alguém... Isso....

Singham: Nós estávamos tentando ajudá-lo a levantar o dinheiro. Eu disse a ele várias vezes, Aaron, a comunidade sairá em sua defesa. Mas ele era tão reservado, tão discreto. Um cenário desses, para ele, era inconcebível. Acho também que... Tive de enfrentar a depressão, conhecidos meus tiveram depressão, há os que têm depressão. Tenho pensado muito sobre isso. Sei que depressão é coisa complexa. Ele sabia e falava abertamente. Pouca gente, da importância dele, falaria tão aberta e sinceramente sobre essa coisa.

Sinto também que... Aaron era muito amado. Posso dizer com segurança que era muito amado. O sócio dele, a família dele, são grandes pessoas. O que me ocorre é que... ele sabia que era amado. Mas é difícil, não importa o que digam os amigos, até os que mais nos amem, para alguém que vivia sinceramente preocupado com o futuro mais profundo, mais grave, da humanidade, ter, de repente, de se preocupar consigo mesmo, com arranjar dinheiro, advogados, sob o risco de ser preso. Não sei. Nem a família, nem na empresa falamos sobre isso. Mas todos o amamos muito [incompr].

Claro que sempre que se enfrenta uma tragédia como essa, todos se perguntam – fizemos tudo que poderíamos ter feito? Poderíamos ter feito mais? Estamos todos em luto, um processo de luto. Andamos, de fato, em torno do problema, porque nada muda alguns fatos? Como explicar e como reagir à fúria daquele Procurador? O que algum dia explicará a reação do MIT? O que algum dia explicará o terror de um homem jovem, ante uma sentença de 35 anos de prisão?

É uma tragédia pessoal, para Aaron, para nós que o amávamos. É tudo horrível demais e exigimos explicações. Em todos os casos, ainda maior tragédia será, se tudo isso intimidar uma geração inteira de jovens combatentes. E os EUA criamos o estado mais totalitário do mundo, muito mais totalitário que 1984.

Jay: Obrigado pela entrevista.

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ADAM SWARTZ: “A Internet é incontrolável. Mas se esquecermos disso, se deixarmos que Hollywood reescreva a história e invente que a grande empresa Google fez o serviço todo, se deixarmos que nos convençam de que não fizemos diferença alguma, se passarmos a ver as coisas como responsabilidade de outros, que eles fizeram tudo, que nosso papel é ir para casa, fazer pipocas e ver Transformers... Aí, talvez, da próxima vez, eles talvez nos derrotem. Não podemos deixar que aconteça.”

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Declaração da Família de Aaron Swartz
13/1/2013. http://www.rememberaaronsw.com/

Nosso filho bem-amado, amigo, companheiro Aaron Swartz enforcou-se na 6ª-feira em seu apartamento no Brooklyn. Estamos em choque, sem ainda acreditar que já não o temos conosco.

A curiosidade insaciável de Aaron, a criatividade, o brilho; a empatia reflexiga, a capacidade de doar-se sem egoísmo, o amor ilimitado; a recusa a aceitar a injustiça como inevitável. Somos gratos pelo tempo que o tivemos entre nós. Agradecemos a todos que o amaram e o defenderam e a todos que continuam a fazer o trabalho que Aaron sempre fez, por um mundo melhor.

O comprometimento de Aaron com a justiça social foi profundo e definiu-lhe a vida. Aaron foi essencial para derrotar a legislação de censura à Internet; combateu por um sistema político mais democrático, aberto e transparente; e ajudou a criar, construir e preservar um quantidade quase inacreditável de projetos acadêmicos, que ampliaram o objetivo e a acessibilidade do conhecimento humanos para todos. Usou sua inteligência prodigiosa e suas vastíssimas capacidades como programador e tecnólogo, não para obter riqueza pessoal, mas para fazer da Internet e do mundo espaços de vida melhor e mais justa. Seus escritos alcançaram corações e mentes de mais de uma geração, em todos os continentes. Conquistou a amizade de milhares e o apoio de milhões de pessoas.

A morte de Aaron não é simples tragédia pessoal. É efeito de um sistema de justiça criminal contaminado pela intimidação e pela perseguição ilegal, descabida, inadmissível, sem limites.

Decisões tomadas pelos agentes do Gabinete do Procurador Geral dos EUA no Estado de Massachusetts e no MIT empurraram Aaron, de fato, ao suicídio.

O Gabinete do Procurador Geral dos EUA lançou contra Aaron uma carga excepcionalmente violenta de acusações, que implicariam, no caso de condenação, em 30 anos de cárcere, como castigo para um crime alegado, do qual não há vítimas.

No processo quase inimaginavelmente doloroso de esperar por esse julgamento descabido, ao contrário de JSTOR [sigla de Journal Storage][1] que o apoiou e defendeu
., a direção do Massachusetts Institute of Technology, MIT não defendeu Aaron nem os mais solenes princípios de sua própria comunidade acadêmica e científica.

Hoje, todos choramos a perda desse homem extraordinário.

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[1] JSTOR é um sistema online de arquivamento de periódicos acadêmicos sediado nos Estados Unidos, fundada em 1995, que reúne bibliotecas de todo mundo. Mais, em http://pt.wikipedia.org/wiki/JSTOR. Sobre JSTOR-USP, ver http://www.usp.br/sibi/biblioteca/jstor.htm [NTs].

Mais aqui:

http://oempastelador.blogspot.com.br/

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O primeiro navio brasileiro com duas mulheres no comando




Será entregue nesta quinta-feira à Transpetro o quarto navio Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef). Com 183 metros de comprimento e capacidade para 56 milhões de litros de combustíveis, o navio Rômulo Almeida será usado para o transporte de derivados claros de petróleo, como gasolina e diesel.

Com investimento de R$ 10,8 bilhões na encomenda de 49 embarcações, o Promef garantiu as bases para o ressurgimento da indústria naval brasileira, permitindo a abertura de novos estaleiros e a modernização dos estaleiros existentes. O Brasil já tem a quarta maior carteira de encomendas de navios do mundo, segundo a Transpetro. O setor, que chegou a ter menos de 2 mil trabalhadores na virada do século, emprega hoje mais de 60 mil pessoas.

Os três navios anteriores do Promef entraram em operação no prazo de pouco mais de um ano. Os primeiros foram os navios de produtos Celso Furtado e Sérgio Buarque de Holanda, pelo Estaleiro Mauá (RJ), e o petroleiro suezmax João Cândido, pelo EAS (PE).

O Rômulo Almeida, também do Mauá, será o primeiro navio brasileiro com duas mulheres no comando: a paraense Hildelene Lobato Bahia, que será a comandante do Rômulo Almeida, foi a primeira mulher brasileira a atingir o posto mais alto da hierarquia da Marinha Mercante; a carioca Vanessa Cunha será a sua imediata.

sexta-feira, janeiro 11, 2013

* "À pergunta, 'o que lhes deu Chávez', todos respondem: -Pátria" (El País)**Maré humana toma posse na Venezuela em lugar do presidente adoentado e cala o conservadorismo (leia nesta pág.)



UMA SEMANA PARA NÃO ESQUECER
O  jornalismo praticado pelo dispositivo conservador tem cada vez mais o prazo de validade  de um pote de iogurte, vencido. A 'grave denúncia' da noite  azeda  no contato com o oxigênio da manhã. A manchete  garrafal e assertiva da hora desaba ao primeiro sopro dos fatos.Como um frango desossado da Sadia, não se sustenta sem os ganchos de uma desconcertante indiferença à realidade. No futuro, quando o historiador  autopsiar esse açougue  onde cortes especiais redesenham o país ao gosto de interesses pantagruélicos,  será possível avaliar melhor as consequências da injeção sistemática de semi-informação, meias verdades, semi-cultura,vulgaridades e mentiras no imaginário de um povo. Por ora, trata-se de resistir à matéria tóxica. Sempre se poderá alegar em defesa do imobilismo  que o limite do abuso é o contrapeso da realidade objetiva. Em termos. O economicismo  que  se acredita autossuficiente na disputa pela hegemonia da sociedade  é tão equivocado quanto o laissez-faire. Ambos entregam o destino da Nação às forças de mercado. Com as consequências conhecidas, quando o conflito de interesses atinge a polarização prenunciada  nas manchetes da semana que passou. (LEIA MAIS AQUI)
(Carta Maior; 6ª feira, 11/01/2013)
 
Centenas de milhares saem às ruas de Caracas em apoio a Chávez
 

terça-feira, janeiro 08, 2013

GOVERNO NÃO PODE TER MEDO DE GOVERNAR

*Dispositivo midiático quer inviabilizar o desconto de 20% na tarifa elétrica**Medida foi boicotada pelos governos do PSDB** tucanos querem ocultar a sabotagem criando o pânico de um novo racionamento que absolva o apagão de 2001** não é a realidade, mas é a tônica do monopólio midiático** Sem mídia alternativa, governo deveria requisitar rede nacional para desmentir o terrorismo** apagão tucano custou R$ 60 bi ao país, com perda de 2 pontos no PIB** cada brasileiro pagou o equivalente a um salário mínimo em taxas adicionadas a sua conta de luz para compensar a barbeiragem tucana.  

http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?alterarHomeAtual=1&home=S

A Musa da Febre Amarela agora quer ser a Musa do Apagão?



Os boatos sobre o apagão de energia

Autor:
Coluna Econômica
Na Folha de ontem, a jornalista Eliane Cantanhêde forneceu a manchete, ao anunciar uma reunião de emergência do setor elétrico. Segundo a matéria, “a reunião foi acertada entre Dilma, durante suas férias no Nordeste, e o Ministro das Minas e Energia Edison Lobão”.
“Dirigentes de órgãos do setor tiveram que cancelar compromissos para comparecer”, dizia a matéria. Mais: “Dez dias depois de dizer que é "ridículo" falar em racionamento de energia, a presidente Dilma Rousseff convocou reunião de emergência sobre os baixos níveis dos reservatórios, para depois de amanhã, em Brasília.
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Segundo a jornalista, “oficialmente, estarão presentes ao encontro de quarta-feira os integrantes do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), que é presidido pelo ministro das Minas e Energia e é convocado, por exemplo, quando há apagões de grandes proporções, como ocorreu mais de uma vez em 2012”.
Existe um órgão denominado de Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) que reúne-se mensalmente para analisar o setor. Participam da reunião o Ministro, o Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Agência Nacional de Petróleo (ANP), a Agência Nacional de Águas (ANA), entre outras.
As reuniões são mensais e agenda do ano é definida sempre no mês de dezembro do ano anterior. Portanto, desde o mês passado a tal reunião “extraordinária” estava marcada.
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O mercado de energia elétrica é dividido em dois segmentos. Há os contratos de longo prazo, firmados entre grandes consumidores (entre os quais as distribuidoras) e fornecedores; e o chamado mercado spot, com compras de curto prazo.
Uma informação incorreta, como esta, poderia provocar oscilações de monta nas cotações do mercado spot. Poderia fazer empresas suspenderem planos de investimento, montarem planos de contingência.
Não afetou o mercado porque as grandes empresas, os grandes investidores dispõem de canais de informação específicos. E a própria Internet permitiu a propagação do desmentido do MME acerca do caráter “extraordinário” da reunião.
Mas a falsa notícia levantou até o argumento de que os problemas eram decorrentes da redução da conta de luz – que sequer ocorreu ainda.
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De concreto, existe a enorme seca que assola o nordeste, que reduziu as reservas do sistema. Atualmente os reservatórios da Região Nordeste operam com 31,6% da sua capacidade, e os da Região Norte com 41,24%.
Limitações ambientais, além disso, obrigaram a uma mudança na arquitetura das novas usinas hidrelétricas, substituindo os grandes lagos pela chamada tecnologia de “fio d’água”.
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Mas o modelo prevê um conjunto de usinas termoelétricas de reserva. Sempre que há problemas no fornecimento, elas são autorizadas a operar até que o sistema convencional volte a dar conta do recado.
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O episódio mostra, em todo caso, a dificuldade, hoje em dia, de se dispor de informações objetivas. Na Internet, há um caos informacional; nos jornais, uma sobreposição diária das intenções políticas sobre a objetividade das matérias.
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LEIA MAIS AQUI:

A cobertura da febre amarela pela Folha

Por Evanildo da Silveira
Lembra da campanha da Folha, Eliane Cantanhêde, "a favor" de uma epidemia de febre amarela em 2007 e 2008? Quer a Folha insistia que haveria uma epidemia da doença. Agora, uma pesquisadora da USP desmacara aquele absurdo:
Pesquisadora da USP desconstrói discurso epidêmico
da cobertura jornalística sobre febre amarela
Analisar o discurso veiculado pelo jornal Folha de S. Paulo durante a epizootia de febre amarela silvestre, que atingiu também seres humanos, foi o objetivo da dissertação de mestrado Epidemia midiática: um estudo sobre a construção de sentidos na cobertura da Folha de S.Paulo sobre a febre amarela, no verão 2007- 2008” , defendida pela jornalista e pesquisadora Cláudia Malinverni, na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
Foram analisadas 118 matérias veiculadas pelo jornal, entre 21 de dezembro de 2007 e 29 de fevereiro de 2008, recorte temporal que permitiu localizar a notícia que deu início ao fenômeno de agendamento midiático, a evolução do grau de noticiabilidade do tema e o seu desgaste como pauta de relevância. Para apoio à análise, foram selecionados 40 documentos institucionais sobre a doença, emitidos pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, no mesmo período.
Os achados indicam que as estratégias discursivas da cobertura jornalística relativizaram o discurso da autoridade de saúde pública; enfatizaram o “aumento progressivo” do número de casos; colocaram a vacinação como o limite entre a vida e a morte, omitindo riscos do uso indiscriminado da vacina antiamarílica; e propagaram a tese de uma iminente epidemia de febre amarela de grandes proporções. Essas estratégias deram novos sentidos à doença, deslocando o evento de sua forma silvestre, espacialmente restrita e de gravidade limitada, para a urbana, de caráter epidêmico e potencialmente mais grave.
Secundariamente, a análise permitiu identificar os riscos a que a população foi exposta em função dos sentidos produzidos pelo discurso midiático, com a ocorrência de óbitos diretamente relacionados ao noticiário veiculado pela imprensa, de modo geral, e seus impactos sobre o sistema público de saúde brasileiro. Como resultado da “epidemia midiática”, houve uma explosão da demanda pela vacina, que obrigou o Ministério da Saúde a distribuir, entre dezembro de 2007 e 22/02/2008, 13,6 milhões de doses da vacina antiamarílica, mais de 10 milhões de doses acima da distribuição média de rotina, para o período. Em menos de dois meses, mais de 7,6 milhões de doses foram aplicadas na população, 6,8 milhões só em janeiro de 2008, ápice do agendamento midiático. Em razão do aumento exponencial do consumo de vacina, o Brasil, um dos três fabricantes mundiais do antiamarílico, suspendeu a exportação do imunobiológico e pediu à Organização Mundial da Saúde (OMS) mais 4 milhões de doses do estoque de emergência global.
Além disso, a omissão da cobertura jornalística quanto aos riscos inerentes ao uso indiscriminado da vacina expôs a população brasileira a riscos letais. Em 2008, a vigilância de eventos adversos pós-vacinal do Ministério da Saúde registrou 8 casos de reação grave à vacina, dos quais 6 foram a óbito, 2 deles por doença viscerotrópica (DV), a forma mais rara e grave de reação ao vírus vacinal. Ressalte-se que, no Brasil, em nove anos (1999-2007) foram registrados 8 casos de DV, com 7 óbitos.
As matérias produzidas pelo jornal deram intensa visibilidade (saliência) às informações que visavam relativizar a instância discursiva oficial, que, por sua vez, não conseguiu impor-se ao fluxo discursivo midiático. Os sentidos produzidos pela cobertura jornalística tiraram de perspectiva as complexidades dos processos do adoecimento humano e os limites do conhecimento no tratamento das doenças. Nesta luta simbólica, perdeu o sistema público de saúde, mas, sobretudo, perdeu a população brasileira: mortes ocorreram.
Mais informações com a pesquisadora Claudia, pelo e-mail: Claudia.malinverni@usp.br