sexta-feira, novembro 30, 2012

PALESTINA LIVRE


publicado em 30/11/2012

Por Fillipe Mauro

Decisão foi aprovada por 138 membros com direito a voto; apenas nove foram contrários

O povo palestino vivenciou nesta quinta-feira (29/11) um de seus maiores avanços diplomáticos e conquistou na Assembleia Geral das Nações Unidas o status de Estado observador. Dos Estados membros com direito a voto no plenário, 138 concordaram com a proposta e apenas nove foram contrários à decisão (EUA, Israel, Canadá, República Tcheca, Palau, Nauru, Micronésia, Ilhas Marshall e Panamá). Outros 41 países se abstiveram.
Antes da votação, palestinos em Gaza e na Cisjordânia já davam como certa a aprovação e ocupavam as ruas de diversas cidades com comícios e celebrações. Embora em meio às multidões estivessem presentem faixas e símbolos dos dois principais partidos políticos do país, o Hamas e o Fatah, o que prevalecia eram retratos do falecido líder Yasser Arafat e a bandeira nacional palestina.
Depois da votação, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que após um dia que qualificou de "histórico" é "urgente" que palestinos e israelenses retomem "negociações" diretas.
"Acho que os palestinos têm seu legítimo direito a ter seu próprio Estado independente e Israel tem direito a viver com segurança dentro de suas fronteiras", ressaltou Ban, que reiterou que "não pode haver substitutos às negociações diretas".
Os Estados Unidos, por sua vez, criticaram o novo status concedido à Palestina. "É uma resolução infeliz e por isso votamos contra", afirmou a embaixadora norte-americana nas Nações Unidas, Susan Rice, que classificou a decisão de "contraproducente".
No discurso que precedeu o pleito, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, afirmou que a Palestina "acredita na paz" e que a comunidade internacional está diante da "última oportunidade" para a solução dos conflitos entre os dois Estados.
"A Palestina vem hoje perante a Assembleia Geral porque acredita na paz e porque seu povo, como provou nos últimos dias, a necessita desesperadamente", disse. Ele foi ovacionado pela grande maioria dos membros da Assembleia Geral, boa parte deles de pé, e afirmou que a votação de hoje apresenta "uma obrigação moral". A seu ver a janela de oportunidade para a paz "está se reduzindo e o tempo se esgota rapidamente".
Abbas alega que não foi à ONU para buscar a deslegitimação do Estado de Israel, "mas para afirmar a legitimidade de um Estado que deve agora conseguir sua independência".
O gesto é interpretado por diplomatas da maior parte dos membros da ONU como uma forma de evitar que as negociações de paz entre israelenses e palestinos tornem-se impossíveis.
Idealizador dos recentes bombardeios à Gaza, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chegou a afirmar que não haverá um Estado palestino até que Israel seja reconhecido como um "Estado judeu", independentemente de "quantas mãos sejam levantadas" na Assembleia Geral.
"A votação na ONU não mudará nada no terreno. Não antecipará a criação de um Estado palestino, a adiará. Nossa mão (...) sempre estará estendida à paz ", disse o primeiro-ministro em um ato público no Centro Menachem Begin.
Não é o que pensa o ex-primeiro ministro israelense Ehud Olmert, que ao longo dos últimos dias enfatizou seu apoio ao ingresso da Palestina como Estado observador. “Eu acredito que o pedido palestino às Nações Unidas é coerente com o conceito básico da solução de dois Estados. Portanto, não vejo razões para me opor a isso. Uma vez que as Nações Unidas lancem as bases dessa ideia, nós, israelenses, teremos de aceitar um sério processo de negociações”, disse o ex-premiê ao portal norte-americano Daily Beast.
O governo dos Estados Unidos já anunciou que se opõe a essa resolução e que acredita que uma resolução eficiente só poderá ser alcançada bilateralmente entre Israel e Palestina. Ainda submersa em uma crise diplomática com o Irã, o gabinete do democrata Barack Obama tenta preserver ao máximo as relações com o governo de Benjamin Metanyahu, em Israel.
A 67ª sessão também foi marcada pela divulgação de um novo relatório do CEIRPP (Comitê pelos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino, na sigla em inglês) sobre a situação da nova troca de agressões entre Israel e Palestina.
De acordo com o órgão, que foi fundado em 1975 pelas Nações Unidas, “Israel se recusa veementemente a refrear seus assentamentos ilegais, que continuam a intensificar o sentimento de desconfiança, a elevar as tensões e a prejudicar uma solução baseada em dois Estados”. 

http://www.fpabramo.org.br/noticias/assembleia-geral-da-onu-eleva-status-da-palestina-estado-observador



Ronnie Kasrils:”O que Israel faz com os palestinos é pior que o apartheid”

publicado em 30 de novembro de 2012 às 16:37
Ronnie Kasrils: ““Um movimento de solidariedade internacional aos palestinos tem um papel muito importante. Foi assim que nós derrubamos o apartheid”. Foto: Carlos Carvalho/CartaMaior

Para Ronnie Kasrils, Israel só vai parar com o expansionismo e com a opressão de fora para dentro. “Um movimento de solidariedade internacional aos palestinos tem um papel muito importante. Foi assim que nós derrubamos o apartheid. Nós tínhamos razão. Levou tempo, mas Leclerc teve de libertar Mandela e dizer ‘vamos conversar’, que era o que nós dizíamos que tinha de ser feito. “Eu acredito que este é o aspecto mais importante da luta em solidariedade ao povo palestino. É preciso denunciar os assentamentos, mas é preciso boicotar, também. É preciso constrange-los materialmente, economicamente”, defendeu.
por Katarina Peixoto, em Carta Maior

Ele tem 73 anos e nasceu numa comunidade judaica de Joanesburgo, formada por fugitivos do extermínio em Vilna e em Riga, na Lituânia, no início do século XX. Aos 9 anos, numa sessão de cine-notícias entre filmes, viu as imagens que começavam a circular, no mundo, dos campos de concentração nazistas. Voltou para casa e perguntou à sua mãe, a quem diz dever a sua consciência frente à opressão e à intolerância, se o que acontecia na sua vizinhança e no seu país, com a população negra, era a mesma coisa. Se a pobreza, a humilhação e a segregação a que estavam condenados pelos brancos era a mesma coisa que, no cine-notícia que acabara de ver, chamaram de antissemitismo.
“A minha mãe, que não era uma intelectual, cuja família tinha uma delicatessen, mas que frequentou a escola até os 16 anos, disse que não, que não era a mesma coisa. Mas que aquilo que eu tinha visto e que tinha acabado de acontecer com o nosso povo na Europa tinha começado dessa mesma maneira que eu descrevera, ali (na África do Sul)”.
Esse é o tipo de coisa que Ronnie Kasrils começa a contar, assim que senta na mesa e pede que nos apresentemos, para uma conversa com alguns dos mais proeminentes participantes do Fórum Social Mundial Palestina Livre, que começa nesta quinta (29) e vai até domingo, em Porto Alegre.
Ronnie, ou “Ronaldo”, como ele gosta de se chamar, aqui, é um homem extraordinário e um sujeito adorável. Parece muito mais jovem, talvez pela exuberância, talvez pela natureza de seu compromisso moral com o mundo. É muito raro, quando se trata da questão palestina, que algum militante abra sorrisos tão largos e demonstre tamanho otimismo, como o faz Kasrils, um escritor, ativista, ex-ministro de estado da África do Sul pós-apartheid e membro do Tribunal Russell para a Palestina.
Ele começou a falar de sua vida, de suas trajetórias e de suas escolhas. É difícil de acreditar, mas Kasrils, aos dez anos, fez parte do Betar, o movimento da juventude sionista criado por Ze’ev Jabotinsky, o pai do revisionismo sionista, um movimento de extrema direita, que defende o que chamam de Israel bíblica, algo que hoje implicaria a incorporação da Síria, do Líbano, da Jordânia e do norte do Egito. Ronnie contou esse fato pitoresco rindo, para em seguida deixar claro:
“Éramos muito influenciados por um professor, que estimulava um sentimento de violência e de conflito, inclusive entre nós, e mesmo físico, como se isso nos fortalecesse, como um projeto pedagógico. Éramos meninos, tínhamos pouco mais de dez anos, mas entendemos que ele era doente. Era um louco”.
O seu engajamento no Betar se desfez com essa descoberta e também com a entrada no ensino médio, num colégio da elite branca, onde conheceu um professor história, Teddy Gordon, também judeu, que lhe ensinou sobre a Revolução Francesa.
É difícil descrever à altura o brilho nos olhos do sul-africano, quando falou de seu professor, a quem atribui a mudança mais definitiva na sua vida. Ronnie Kasrils é um homem poderoso e mundialmente conhecido, pegou em armas com Mandela, foi ministro de estado, mas quem mudou a sua vida, em termos políticos, foi o professor de história que lhe deu aula sobre um acontecimento chamado Revolução Francesa.
“Eu era, até então, um péssimo aluno, eu era um atleta, não era da ala dos intelectuais, como Richard Goldstone, que era meu colega. Mas quando esse professor começou a dar aula eu me tornei o melhor aluno, e saí do colégio de maneira promissora”, disse, sorrindo, convincente.
Kasrils tem aquela capacidade rara de nos ensinar a mirar a história com ganas de atribuir-lhe sentido e com a confiança em tal coisa. A escolha por nos contar essa história, essa pequena parte dela, era uma operação deliberada e ao mesmo tempo refinada. Era como se ele estivesse nos dizendo: olha aqui, gurizada, eu passei a levar a sério um ponto de vista universalista e é deste ponto de vista que eu estou aqui.
A ligação com a esquerda judaica e a luta contra o apartheid sul-africano
“Mas eu também saí do Betar por uma outra razão”, conta, rindo. “As meninas do Habonim Dror eram muito mais bonitas” e, na época, Kasrils não era exatamente um militante da esquerda judaica socialista, que buscava criar um lar nacional judaico a partir da cultura e da educação e da vida kibutziana.
“O que me tornou de esquerda foi o massacre de Shaperville, de março de 1961, em que 69 militantes pacifistas negros foram mortos e centenas ficaram feridos. Ali eu tomei a decisão de que iria fazer alguma coisa. A minha família nunca foi militante, de esquerda, mas eu tinha um tio na Cidade do Cabo que era advogado e comunista. Eu peguei um ônibus e fui para a casa dele. Cheguei lá e disse: eu quero me juntar a vocês”.
Ele nos olha bem sério, encosta-se na cadeira, abre um sorriso e completa:
“Então foi assim que eu comecei. Eu tinha de pôr em contato os núcleos da resistência ao apartheid, os membros dos partidos comunistas, da esquerda. E o meu tio estava isolado, noutra cidade. Eu disse que iria fazer isso. E fiz”.
Quando Mandela convocou à luta armada, após os acontecimentos de Shaperville, Kasrils se juntou a ele. Treinou na União Soviética, recebeu formação militar e esteve em vários países africanos, quando se tornou chefe de inteligência militar do movimento Lança de Uma Nação, o braço armado do Congresso Nacional Africano, liderado por Nelson Mandela. Passou cinco anos na cadeia, perdeu o emprego como executivo de uma empresa de telefonia, foi perseguido e banido da comunidade branca sul-africana. E se tornou ministro de estado da África do Sul pós-apartheid. Foi então que se voltou para a questão palestina.
A luta contra o apartheid israelense
Com o fim do apartheid e a primeira eleição democrática da África do Sul, Kasrils se tornou ministro de estado. E, depois do ministério da defesa, foi nomeado ministro para assuntos de água e florestas, de 1999-2004. Nesse período, ocorreu a segunda intifada e o muro de anexação de territórios palestinos, pelo então governo de Ariel Sharon, começou a ser erguido, anexando territórios palestinos para construir assentamentos, esmagando casas e vilas palestinas, segregando bairros, vilas e famílias, dividindo a região e instaurando um sistema identificado pelo sul-africano como muito mais hostil que o apartheid sul-africano.
Em 2001 ele redigiu a “Declaração de Consciência de Sul-Africanos Judeus”, contra as políticas israelenses nos territórios palestinos ocupados. Passou a ser acusado de antissemita, pela direita judaica local, e viajou para a Cisjordânia, como ministro para assuntos de água e florestas. Lá conheceu Jamal Juma, que dava início ao movimento de resistência não violenta Stop the Wall.
O que você defende como solução, os dois estados, as fronteiras da linha verde, um só estado para dois povos? Eu perguntei e isso parece não ter ecoado como uma questão a ser respondida. Kasrils olha para mim e diz que Israel só vai mudar, só vai parar com o expansionismo e com a opressão de fora para dentro. “Um movimento de solidariedade internacional aos palestinos tem um papel muito importante. Foi assim que nós derrubamos o apartheid. Nós tínhamos razão. Levou tempo, mas Leclerc teve de libertar Mandela e dizer ‘vamos conversar’, que era o que nós dizíamos que tinha de ser feito. Mas é preciso constranger economicamente, não apenas politicamente. O programa de Desinvestimento e de Boicote significou o começo do fim do apartheid e nós terminamos vencendo. Eu acredito que este é o aspecto mais importante da luta em solidariedade ao povo palestino. É preciso denunciar os assentamentos, mas é preciso boicotar, também. É preciso constrangê-los materialmente, economicamente”, defendeu.
Para Kasrils, o fato de que em Israel os cidadãos palestinos são cidadãos de segunda classe, com direitos limitados e sem o grau de liberdade civil dos israelenses configura apartheid. “No regime do apartheid, diante de um mestiço que não se sabia ao certo se era negro ou não, passavam um pente para ver se iria ou não deslizar sobre o cabelo. Caso o pente parasse, a pessoa iria para os setores dos negros”.
Em Israel não é assim, mas não precisa ser, lembrou. Há um muro que consegue separar as sociedades, anexando territórios dos palestinos, mas que afasta completamente os dois povos, promovendo limpeza étnica e criando “coisas como rodovias em que só judeus podem trafegar. Isso é uma violência que nem o apartheid sul-africano cometeu. O que o estado de Israel está fazendo com os palestinos é muito pior do que aquilo que acontecia no apartheid sul-africano”, concluiu.
O Fórum vai de 29 de novembro a 01 de dezembro e tomará conta da Rua dos Andradas, no centro de Porto Alegre. Confira programação aqui: www.wsfpalestine.net
Leia também:

http://www.viomundo.com.br/politica/ronnie-kasrilso-que-israel-faz-com-os-palestinos-e-pior-que-o-apartheid.html




ONU reconhece o Estado Palestino
Editorial do sítio Vermelho:

Talvez, no futuro, o dia 29 de novembro venha a ser a data nacional palestina. Ou, ao menos, um grande feriado. A data marca uma grande vitória diplomática e política no caminho pelo reconhecimento do Estado Palestino independente, democrático e soberano. A Assembleia Geral da ONU aprovou, por 138 votos contra nove (EUA, Israel, Canadá e seis outros pequenos países) e 41 abstenções, a admissão da Palestina como Estado observador.


A extensão da vitória é expressa pelo fato de que mais de 2/3 dos 193 países membros da ONU terem votado pela elevação da Palestina ao novo status, conferindo, em nível internacional e diplomático, as prerrogativas, direitos e deveres de um Estado soberano. Um dos efeitos da nova situação será o reconhecimento internacional de que os territórios palestinos não são (como pretende Israel) áreas disputadas, mas “um país ocupado”, disse o negociador palestino na ONU Saeb Erakat.

Outro aspecto, jurídico, dessa vitória surge com a nova situação criada. O reconhecimento da Palestina como um Estado, mesmo que observador, dará a seu governo o direito de participar das agências da ONU e do Tribunal Penal internacional (TPI), com sede em Haia, ao qual poderá recorrer contra os crimes de guerra e contra a humanidade cometidos pelo governo sionista de Tel Aviv nos territórios palestinos ocupados.

Aliás, o temor de que isso ocorra reflete, por sua vez, a extensão da derrota de Israel e seus aliados, sobretudo os EUA, no plenário da ONU.

Numa confissão insofismável dos crimes de guerra e contra a humanidade que cometeram ou com os quais foram coniventes, Israel e EUA tentaram obter, sem êxito, o compromisso palestino de não recorrer ao TPI. A pretensão foi rejeitada pelos dirigentes palestinos.

A hipocrisia dos EUA e a mentirosa diplomacia do sionismo justificam a resistência contra o reconhecimento do Estado Palestino pela ONU alegando que o caminho para isso é a negociação entre a Autoridade Palestina e Israel – negociação que fracassou justamente devido à intransigência, arrogância e agressividade do governo de Tel Aviv, com total apoio dos EUA.

O temor de um eventual recurso palestino ao TPI ilustra as ilegalidades cometidas por Israel, com apoio de seus aliados, sobretudo os EUA, e que foram responsáveis por aquele fracasso diplomático.

As forças de ocupação de Israel repetem, em território palestino, agressões semelhantes às praticadas pelas tropas nazistas durante a 2ª Guerra Mundial nos territórios ocupados (o Gueto de Varsóvia é um exemplo dramático). Hoje, passados mais de sessenta anos, Israel repete na Palestina a agenda nazista no leste da Europa e visa ao genocídio e extermínio da população palestina para roubar suas terras, casas, propriedades.

São crimes de guerra que se repetem, como o uso de armas químicas e bombas de fragmentação, proibidas pela Convenção de Genebra e pela Convenção de Armas Químicas. Entre elas o fósforo branco, que queima os corpos das vítimas sem poder ser apagado. Israel usa e abusa dele, como fez na Operação Chumbo Derretido (2008) e no recente ataque contra Gaza.

A Convenção sobre Armas Convencionais proíbe o uso de armas excessivamente letais, que provoquem danos excessivos ou atingindo indiscriminadamente a população civil que, ao contrário, deve ser protegida e poupada pelas forças atacantes.

As convenções internacionais também proíbem apropriação dos bens dos civis e punições coletivas contra ações da resistência à ocupação.

Israel não cumpre nenhuma das determinações sobre a proteção à população e seus bombardeios destroem moradias com moradores dentro, como no caso da família Al-Dallu que teve onze pessoas mortas pelas bombas de Israel, a maioria mulheres, e quatro crianças (entre elas um bebê de menos de dois anos de idade!). Edifícios públicos, uma universidade, inclusive um estádio de futebol, estão entre as centenas de alvos de Israel. Em apenas uma semana de ataques, foram destruídas 200 casas, 42 edifícios públicos, e danificadas cerca de oito mil residências.

A vitória palestina na ONU é um acontecimento histórico memorável pelo avanço democrático e fortalecimento da ordem jurídica internacional que representa. É também memorável pela notável derrota do imperialismo, da diplomacia dos EUA e da agressividade israelense. É uma vitória que indica o único caminho para a paz duradoura e sustentável: o reconhecimento da autonomia dos povos e independência e soberania dos Estados.





quinta-feira, novembro 29, 2012

STF & MÍDIA APLICAM O GARROTE NA DEMOCRACIA BRASILEIRA. VAI FICAR ASSIM OU VAMOS REAGIR? NÃO ADIANTA VENCER AS ELEIÇÕES E ACEITAR O GARROTE DA MÍDIA E DO STF. TÁ NA HORA DE COLOCAR O POVO NA RUA. AGORA É AVANÇO OU RECUO.


Mídia & toga: a confraria do domínio do fato

A Suprema Corte do país acaba de se avocar mais uma prerrogativa: a de violar a lógica da história democrática brasileira.

Roberto Jefferson, que dispensa apresentações, pivô das denúncias que levaram à montagem daquilo recebeu o nome de fantasia de 'mensalão', foi objetivamente liberado pelas togas do STF nesta 4ª feira.

A pena que lhe foi atribuída, sete anos e 14 dias, tem a precisão do relojoeiro esperto; coisa feita para encher os olhos mas aliviar o ônus. Permitir-lhe-á ficar longe de qualquer instituição prisional para exercer livremente aquilo que sempre fez e sabe fazer.

A mesma condescendência já havia sido dispensada antes ao deputado do PR, Waldemar da Costa Neto, outro cuja folha de bons serviços à nação brasileira é conhecida, embora menos festejada.

A contrapelo desse indulto sugestivo, mas em tom de júbilo incontido,o Globo da 3ª feira espocou em manchete faiscante: "Tremembé, cidade do interior paulista, à espera de mensaleiros'.

Quais?

O texto é claro no alvo da mira: ' (...) Cidade pequena encravada na região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, Tremembé já vive as expectativas de ser o provável destino dos mensaleiros, como está sendo chamada a turma liderada pelo ex-ministro José Dirceu (...) Enquanto José Dirceu e seus companheiros não chegam, Tremembé segue sua rotina", garante-se o jornal, como se iniciasse a cobrança regressiva do grande dia.

Devemos à Suprema Corte sob a batuta do agora presidente Joaquim Barbosa esse conjunto de uma harmonia desconcertante: Jefferson e Waldemar, livres; e José Dirceu, condenado sem provas, cuja vida foi posta na ponta da baioneta da ditadura militar por lutar pela democracia, vai para Tremembé - pelo menos assim o Globo prefixou. Em se tratando do Judiciário que aprendemos a conhecer em sua fina sensibilidade aos holofotes, significa um passo e tanto.

A reportagem do Globo pode ser encarada como um recado às togas: estamos aqui, ministros. Equipes e câmeras de prontidão no aquecimento para o grande dia. Um símbolo do PT será emoldurado pelas grades, em cena e horário naturalmente desfrutáveis pelo Jornal Nacional, como o foram todos os capítulos da Ação 470.

O empenho do dispositivo midiático é manter acesa a chama.

Cercá-la de cuidados para que contradições flagrantes, como a que foi reiterada hoje, na absolvição daquilo que avulta como o paradigma de um escroque, não empalideçam a demonização arduamente construída ao longo da novela.

Para tanto, o símbolo representado por José Dirceu deve ser regularmente aspergido de lama até que o desfecho se materialize na escalada do JN e no jogral das manchetes do dia seguinte.

É disso que cuida a cobertura jornalística nos dias que correm. Trata-se de
convencer a opinião pública de que repousa nas entranhas da Operação Porto Seguro a 'chave do porão'.Aquela capaz de escancarar o quarto escuro dentro do qual Lula, Dirceu e todos os corruptos do país, que naturalmente serão sempre do PT, debatem novos e velhos golpes.

Na busca sôfrega das pistas para confirmar as manchetes a lógica muitas vezes atrapalha. Demita-se a lógica.

Os supremos juízes da Suprema Corte não revogaram a história da luta democrática brasileira? Não redesenharam um país em que Roberto Jefferson merece condescendência e José Dirceu é bandido?

As togas da suprema instância não demitiram os fatos? Por que o jornalismo há de se ater a eles? O país e a mídia vivem agora sob o império das ilações.Eis aí uma contribuição inesperada, porém marcante da Corte ao aperfeiçoamento das instituições democráticas e do currículo das escolas de jornalismo.

Na verdade, virtuoses no ramo já praticam com impressionante desembaraço o cânone da notícia inspirado na assertiva das togas que se dispensaram do elemento essencial de uma sentença: provas.

Na edição impressa da quarta- feira, 28-22, o jornal Folha de S. Paulo deu aula-magna de como aplicar a jurisprudência à estrutura de um texto, para dissimular um editorial em notícia.

O procedimento não é novo, mas o jornalismo à la 'dompinio dos fatos' desfruta agora do exemplo inapelável que vem de cima. As togas fizeram escola.

Acompanhe como funciona o verdadeiro manual de redação nesta tentativ de afirmar, sem dispor de provas, os vínculos entre o ex-ministro José Dirceu e a 'Operação Porto Seguro'. Siga:

No título, antecipa-se a criminalização, assim: "Procuradora e denunciante citam Dirceu".

No destaque, abaixo do título, reforça-se a indução reiterativa:

"O nome do ex-ministro José Dirceu foi duplamente envolvido no caso apurado pela Operação Porto Seguro da Polícia Federal".

No corpo da matéria, as 'provas' que sustentam a manchete:

1) "A procuradora federal Suzana Fairbanks afirma que Dirceu era procurado para resolver questões como se ainda fosse ministro: "[Era] Uma pessoa que tinha poder de decisão lá dentro [do governo]";

2) Em seguida, o texto incorpora a entrevista ao "Jornal Nacional" do delator do esquema, o ex-auditor do TCU, Cyonil da Cunha Borge (
veja aqui, outro primor do gênero 'jornalismo à la Supremo')

Trecho incorporado pela pela matéria da Folha: " Cyonil disse que Paulo Rodrigues Vieira, tido como um dos cabeças do esquema, o convidou para participar de um aniversário de Dirceu e citou o nome do petista ao oferecer a propina".

Por fim, escondidos no artigo, sem peso nem influencia na manchete, os fatos:

1) (...) "Fairbanks afirma que não há troca direta de mensagens entre a ex-assessora (Rosemary Noronha) e Dirceu";

2) Também não há o nome de Lula: "Conversa dela com o Lula não existe", diz. "Nem áudio, nem emails."

3) Sobre o delator, a promotora afirmou(...) "É um corrupto que sofreu um golpe. Levou um calote. Não recebeu o pagamento todo, como tinham combinado, e resolveu entregar o esquema todo' .

No arremate, seis linhas para o famoso 'o outro lado', em nome do qual avoca-se o direito de fazer qualquer coisa.

Leia a seguir a íntegra da matéria.
Procuradora e denunciante citam Dirceu
Folha de São Paulo 28-11-2012

O ex-ministro da Casa Civil era uma das autoridades a quem a ex-chefe de gabinete da Presidência sempre recorria

Auditor que entregou o caso afirma que suborno foi oferecido em nome do petista; Dirceu diz que é 'improcedente'


DE SÃO PAULO

O nome do ex-ministro José Dirceu foi duplamente envolvido no caso apurado pela Operação Porto Seguro da Polícia Federal.

A procuradora federal Suzana Fairbanks diz que Dirceu era uma das autoridades do governo federal a quem Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, recorria para atender interesses do grupo desarticulado pela PF.

Rosemary, segundo investigação da PF e do Ministério Público Federal, costumava citá-lo como "JD".

Fairbanks afirma que Dirceu era procurado para resolver questões como se ainda fosse ministro: "[Era] Uma pessoa que tinha poder de decisão lá dentro [do governo]."

Ainda ontem, o petista também teve o nome envolvido no caso pelo delator do esquema, o ex-auditor do TCU (Tribunal de Contas da União) Cyonil da Cunha Borges.

Em entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, Cyonil disse que Paulo Rodrigues Vieira, tido como um dos cabeças do esquema, o convidou para participar de um aniversário de Dirceu e citou o nome do petista ao oferecer a propina.

Cyonil disse ter recebido uma oferta de R$ 300 mil de Vieira para fazer um relatório favorável à Tecondi, empresa que opera em Santos.

"Na ocasião, ele [Vieira] escreveu que o processo era de suposto interesse de José Dirceu e escreveu R$ 300 mil no papel", disse ao "JN".

PRISÃO
A procuradora Fairbanks disse ainda que não está descartado o pedido de prisão de Rosemary Noronha.

Segundo ela, Rose procurava a cúpula do governo para "agendamento de reuniões de políticos, nomeação de cargos", para atender o grupo. "A influência dela era constante", diz, tanto no governo do ex-presidente Lula quanto no de Dilma Rousseff.

Fairbanks afirma que não há troca direta de mensagens entre a ex-assessora e Dirceu. Também não há o nome de Lula. "Conversa dela com o Lula não existe", diz. "Nem áudio, nem emails."

Sobre Cyonil, o delator, Fairbanks afirmou que ele entregou o esquema porque foi traído. "É um corrupto que sofreu um golpe. Levou um calote. Não recebeu o pagamento todo, como tinham combinado, e resolveu entregar o esquema todo", disse.

OUTRO LADO
Em nota, Dirceu afirmou que é improcedente a informação de que tenha relação pessoal ou profissional com Paulo Vieira. "Se Vieira usou o meu nome em conversas com terceiros, o fez de maneira indevida. Também não tenho nenhum interesse nas atividades da empresa Tecondi", disse o ex-ministro.

O petista afirmou que estuda com os advogados tomadas medidas judiciais. "Considero-me vítima de calúnias com as menções feita."

O advogado de Cyonil, Rodrigo Selberg, afirmou que a avaliação da procuradora sobre seu cliente é "precipitada". "O histórico [de Cyonil] comprova que ele não é corrupto", afirmou.
Postado por Saul Leblon às 20:06

domingo, novembro 25, 2012

Genocídio em Gaza. Veja o que a grande mídia esconde de você.

O termo "genocídio" não existia antes de 1944; ele foi criado como um conceito específico para designar crimes que têm como objetivo a eliminação da existência física de GRUPOS nacionais, étnicos, raciais, e/ou religiosos. 


19 minutos de terror em Gaza


http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/11/19-minutos-de-terror-em-gaza.html 


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Sayyed Nasrallah:
“Cada palmo da Palestina ocupada é território da Resistência”* 
25/11/2012, Batoul Wehbe, Al-Manar TV, Líbanohttp://www.almanar.com.lb/english/adetails.php?eid=75230&frid=23&seccatid=14&cid=23&fromval=1

Em discurso transmitido pela televisão na 10ª noite de Muharram, o secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hasan Nasrallah alertou a entidade sionista de que, caso o Líbano seja atacado, cada palmo da Palestina Ocupada é território da Resistência. E renovou seu apoio à Síria, em todos os campos.

‘Israel’[1] é, de fato, mais fraca que teia de aranha

Sua Eminência congratulou-se com todos os grupos da Resistência em Gaza, pela vitória sobre a entidade sionista. Sayyed Nasrallah disse que “em Gaza vimos vitória real e completa, por mais que alguns mercenários a serviço de ‘Israel’ tentem encobrir os fatos, como também fizeram em julho de 2006 e na vitória de Gaza em 2009.”

O secretário-geral do Hezbollah lembrou aos governos árabes, mesmo sabendo que dificilmente o ouviriam, que Gaza e a Palestina “precisam, além de palavras de simpatia e visitas, também de armas, dinheiro e apoio efetivo. Gaza já fez por merecer o apoio de todos os governos árabes, porque nunca desistiu da Resistência e vive hoje de vitória em vitória.”

Sua Eminência, o secretário-geral do Hezbollah, destacou que, no recente confronto em Gaza, ‘Israel’ mostrou que é mais fraca que uma teia de aranha.

“Quando o Irã apoia os movimentos de Resistência, faz o que é seu dever fazer, do ponto de vista ideológico e estratégico, e o Irã não espera qualquer retribuição” – disse Sayyed Nasrallah, que também alertou contra o risco das tentativas superficiais para apresentar o inimigo, como amigo.

“Em todo mundo árabe e muçulmano, há quem tente apresentar ‘Israel’ como amiga e o Irã como inimigo. Mas ‘Israel’ nada dá em troca dessas solidariedades de ocasião, por causa da natureza criminosa e agressiva dos governos sionistas. Digo a todos os que assim falam, que seus esquemas estão condenados ao fracasso.”

“Dia após dia, os povos árabes e islâmicos veem que o Irã é amigo solidário, que os apoia. Foi o que mais uma vez se confirmou na recente confrontação na Faixa de Gaza, como já se vira antes, no Líbano.”

O que distingue o Bahrain é que, ali, o levante é pacífico

O secretário-geral do Hezbollah renovou o apoio da Resistência ao povo do Bahrain e à sua revolução pacífica, conclamando o governo do Bahrain a atender às justas demandas do povo bahraini, que mantém consciência clara do que quer, apesar de toda a injustiça e da opressão que sofre.

Sua Eminência também falou dos países da Região “que insistem em impedir qualquer solução positiva para o povo do Bahrain. Disse que aqueles governos que não defendem o povo do Bahrain temem que a luta por reformas que hoje mobiliza os bahrainis venha a alastrar-se para as ditaduras vizinhas.”

Estamos com a Síria, com toda a Síria

Sobre a crise na Síria, Sayyed Nasrallah disse que o Hezbollah está ao lado dos oprimidos em todos os países onde haja oprimidos, e que temos de saber discernir claramente quem é oprimido, em cada caso.

“Hoje, na Síria, toda a Síria é oprimida, todo o povo, o exército, a própria existência da Síria está ameaçada, porque a Síria foi convertida em alvo de ataque em vários níveis” – disse Sua Eminência.

“Dissemos, ano passado, que é direito legítimo dos sírios exigir reformas,[2] e continuamos a respeitar esse direito legítimo dos sírios.

Defender hoje os sírios oprimidos implica exigir o fim dos combates e o fim da matança, para preservar a Síria íntegra e unida, para que o país consiga recuperar-se. Qualquer outra posição é trabalhar pela destruição da Síria.”

Somos pelo diálogo,
mas nos ergueremos contra os que se ergam contra nós


O secretário-geral do Hezbollah destacou a importância de haver segurança, estabilidade, paz e coexistência civil pacífica entre todos os grupos que constituem a sociedade libanesa. Repetiu que “todas as acusações que se fazem contra o Partido da Resistência são falsas, injustas e sem qualquer prova; são, sempre, ações complementares aos assassinatos e outros atos de violência.” Sua Eminência repetiu que o único inimigo do Hezbollah é ‘Israel’. Que o Hezbollah não tem inimigos no Líbano, nem nos demais partidos políticos, apesar das muitas diferenças de opinião.

“Sempre acreditamos e continuamos a acreditar que o diálogo e a ação política são a única via para superar as crises no Líbano. Não rejeitamos a possibilidade de sentar para dialogar a qualquer momento. Mas não aceitamos que se imponham condições para o diálogo ou que se levantem acusações falsas contra nós. Digo hoje que continuamos, como sempre fomos, a favor do diálogo, da convergência e de uma solução política, mas nos ergueremos contra os que se ergam contra nós.”

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* Esse artigo é tradução da versão em inglês, divulgada hoje pela rede Al-ManarTV, do Líbano. Todas as correções, sobretudo as feitas a partir da versão original em árabe, são bem-vindas [NTs].
[1] O Hezbollah não reconhece o estado de Israel, ao qual se refere, quase sempre, como “entidade sionista”. Por isso, quando ocorre, a palavra “Israel” é usada com aspas simples, convenção que mantemos nessa tradução [NTs].
[2] Sobre a posição do Hezbollah sobre a Síria, ver também “Assange entrevista Nasrallah” (16/4/2012, Russia Today, em português, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/04/hassan-nasrallah-hezbollah-entrevistado.html) [NTs].


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sexta-feira, novembro 23, 2012

Quem são e o que fazem os “jornalistas de Cachoeira"



Imprensa e oposição atacam, em uníssono, o parecer do relator da CPMI do Cachoeira que pede o indiciamento de cinco jornalistas e sugere ao Ministério Público Federal que prossiga com as investições sobre outros sete. As alegações centrais são que a medida fere a liberdade de imprensa ou refletem o desejo de vingança do PT com seus algozes no mensalão. Uma leitura do relatório revela uma outra realidade. E uma realidade estarrecedora sobre os meandros da imprensa brasileira. A reportagem é de Najla Passos.
Najla Passos
  • Brasília - Desde que o relator da CPMI do Cachoeira, deputado Odair Costa (PT-MG), confirmou, nesta quarta (21), que irá pedir o indiciamento de cinco jornalistas no seu relatório final, imprensa e oposição passaram a atacar a medida, em uníssono, alegando ora afronto à liberdade de expressão, ora o desejo de vingança do PT contra seus algozes no “mensalão”. Uma leitura do relatório revela uma outra realidade. E uma realidade estarrecedora sobre os meandros da imprensa brasileira. Os documentos falam de jornalistas vendendo sua força de trabalho ou o espaço dos veículos em que trabalham para beneficiarem uma reconhecida organização criminosa na prática de crimes. Ou então, associando-se a ela para destruir desafetos comuns dos criminosos e dos seus veículos.

    O diretor da sucursal de Veja em Brasília, Policarpo Junior, é a face mais conhecida deste time. Mas o grupo é muito maior. O relatório da CPMI cita nominalmente doze jornalistas que teriam contribuído periodicamente com o esquema criminoso, e acabaram flagrados em atitudes, no mínimo, suspeitas, por meio das quebras de sigilos telefônicos, ficais e bancários dos membros da quadrilha e das empresas, de fachada ou não, que operavam em nome dela. Desses doze, pede o indiciamento de cinco, contra os quais as provas são robustas. Sugere ao Ministério Público Federal (MPF) o prosseguimento das investigações contra os outros sete, com base nos indícios já levantados pela Comissão.

    Saiba quem são os jornalistas que, no entendimento da CPMI, devem ser indiciados:

    1 - Wagner Relâmpago
    Repórter policial do DF Alerta, da TV Brasília/Rede TV, e do programa Na Polícia e nas Ruas – Rádio Clube 105,5 FM - DF . Segundo a CPMI, ele utilizou seu espaço na TV e no rádio para “bater” nos inimigos da quadrilha ou personalidades públicas que atrapalhavam suas atividades criminosas. Em 2011, foram creditados pelo menos três repasses da quadrilha para sua conta pessoal de, aproximadamente, de R$ 300 mil cada. As relações de Relâmpago com Cachoeira foram reveladas por Carta Maior em 30/3, na reportagem
    Quadrilha de Cachoeira mantinha relações com a mídia. Para a CPMI, Relâmpago incorreu no artigo 288 do Código Penal, o que justifica seu indicamento pelo crime de formação de quadrilha.

    2 - Patrícia Moraes
    É sócia-administradora e editora de política do jornal Opção, de Goiás. Mantinha interlocução constante com Cachoeira e outros membros da quadrilha. Também recebia pagamentos períodicos do bando, na sua conta pessoal e na do jornal, para “divulgar as matérias de interesse da organização criminosa e fazer oposição e a desconstrução midiática de adversários”, conforme o relatório da CPMI. O documento sugere, inclusive, suspeitas de que o periódico possa pertencer à quadrilha de Cachoeira. Os recursos recebidos pela jornalista somam R$ 155 mil. A CPMI pediu seu indiciamento por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

    3 - João Unes
    Jornalista e advogado, trabalhou em O Estado de S.Paulo, O Popular, TV Anhanguera e TV Record. Segundo a CPMI, foi um dos jornalistas que receberam as mais vultosas quantias da quadrilha. Foi o idealizador e diretor do jornal online A Redação que, segundo a CPMI, foi adquirido posteriormente pela máfia. A soma dos valores transferidos para ele, conforme diálogos interceptados, chega a R$ 1, 85 milhão. Nem todos os valores mencionados nos diálogos foram comprovados na quebra dos sigilos do jornalista e das empresas fantasmas do bando. A CPMI pede seu indiciamento por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

    4 - Carlos Antônio Nogueira, o Botina
    Segundo o relatório, ele se apresenta como proprietário do jornal O Estado de Goiás, mas na verdade é sócio minoritário de Carlinhos Cachoeira no empreendimento que, conforme diálogos interceptados, também tem ou teve como sócio o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Botina também é proprietário da empresa WCR Comunicação e Produção e do Canal 5. Sob ordens de Cachoeira, utilizava o jornal para criar fatos políticos, fabricar notícias que pudessem prejudicar adversários ou constranger autoridades, enfim, que beneficiem as atividades da organização. Movimentou vultosas quantias. As maiores delas foram por meio da WCR Produção e Comunicação, que recebeu recursos das laranjas de Cachoeira da ordem de R$ 460 mil, R$ 1,42 milhão e R$ 584 mil, entre outros. A CPMI pede seu indiciamento por formação de quadrilha e lavagem de recursos.

    5 - Policarpo Junior
    É diretor da sucursal da Veja em Brasília. Segundo o relatório da CPMI, colaborou com os interesses da organização criminosa promovendo suas atividades ilícitas, eliminando ou inviabilizando a concorrência e desconstruindo imagens e biografias de adversários comuns da máfia e da publicação. O relacionamento entre Cachoeira e Policarpo começou em 2004. Apesar de atualmente mídia e oposição considerarem um acinte à liberdade de imprensa sua convocação para prestar esclareimentos na CPMI do Cachoeira, ele depôs na CPI dos Bingos, em 2005, para defender o contraventor, como Carta Maior revelou na reportagem
    Jornalista da Veja favoreceu Cachoeira em depoimento de 2005, em 28/5. Suas relações com Cachoeira foram fartamente documentadas, como mostram, por exemplo, as reportagens Os encontros entre Policarpo, da Veja, e os homens de Cachoeira, de 10/5, e Cachoeira: “O Policarpo, ele confia muito em mim, viu?”
    , de 15/5. A CPMI pediu seu indiciamento por formação de quadrilha.

    Confira também quem são os jornalistas que a CPMI pede que sejam alvos de mais investigações pelo MPF:

    1 - Luiz Costa Pinto, o Lulinha
    É o proprietário da empresa Ideias, Fatos e Textos (IFT), que prestou serviços para a Câmara durante a gestão de João Paulo Cunha (PT-SP), fato que acabou rendendo à ambos denúncias por crime de peculato no escândalo do “mensalão”. Cunha foi absolvido por este crime na ação penal 470, que tramita no STF. O processo contra Lulinha tramita na justiça comum. Conforme o relatório da CPMI, O jornalista foi contratado pela organização criminosa de Cachoeira para emplacar matérias favoráveis ao grupo nos meios jornalísticos. Entre fevereiro de 2011 e maio de 2012, recebeu o total de R$ 425 mil da Delta, por meio de transferências creditadas na conta da IFT.

    2 - Cláudio Humberto
    Citado em diversas gravações interceptadas pela Polícia Federal como uma espécie de assessor de comunicação, ele também foi contratado via Delta, a pedido do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Entre 2011 e 2012, recebeu R$ 187,7 mil, depositados pela Delta na conta da CT Pontocom Ltda, empresa na qual é sócio-administrador desde maior de 2001.

    3 - Jorge Kajuru
    É apresentador da TV Esporte Interativo. Também recebeu recursos da organização de Cachoeira que, segundo ele, se referiam à patrocínio feito pela Vitapan, empresa farmacêutica ligada ao esquema criminoso. Ele teria recebido do grupo R$ 20 mil, entre 2011 e 2012, em contas das suas empresas e na sua conta pessoal. A CPMI, porém, o isenta de responsabilidades por conduta criminosa.

    4 - Magno José, o Maguinho
    De acordo com a CPMI, o blogueiro Magno José, o Maguinho, também recebeu recursos da organização criminosa para prestar serviços à quadrilha. Ele é editor do blog Boletim de Novidades Lotéricas, que prega a legalização dos jogos no país. Entretanto, os repasses dos recursos ao jornalista não foram comprovado. Os indícios decorrem do material publicado pelo blog e das conversas dos membros da quadrilha interceptadas pela PF. Portanto, a CPMI optou por não propor seu indicamento.

    5 - Mino Pedrosa
    Já trabalhou no Jornal de Brasília, em O Estado de S.Paulo, em O Globo, na revista IstoÉ e hoje é editor-chefe do blog QuidNovi. É apontado como o responsável pela deflagração do Caso Loterj, que resultou na queda do assessor da Casa Civil do governo Lula, Waldomiro Diniz. De acordo com conversas interceptadas pela Polícia Federal (PF) entre membros da quadrilha de Cachoeira, ele teria recebido um apartamento e um carro para depôr em favor do contraventor, envolvido no esquema. É responsabilizado também como o autor de denúncias sobre o governo do Distrito Federal, com base em grampos ilegais feitos por Idalberto Matias, o Dadá, membro da quadrilha. E, também, como a pessoa que “vazou” para Cachoeira que a PF preparava a Operação Monte Carlo. A CPMI reconhece, porém, que não obteve provas suficientes para pedir o indiciamento do jornalista.

    6 - Renato Alves
    É jornalista do Correio Braziliense e editor do blog Última Parada. Segundo o relatório, as interceptações telefônicas revelaram que ele também mantinha interlocução frequente com a organização criminosa. Foi, inclusive, o autor de uma das matérias mais comemoradas pelos integrantes da quadrilha em 2011, que promovia os jogos eletrônicos do grupo pela internet no exterior. Em troca dos serviçcos prestados, Alves recebia presentes e vantagens, como ele mesmo atesta em ligação itnerceptada pela PF. Mas a CPMI afirma que não conseguiu colher provas suficientes de que ele tenha contribuído para a prática de crimes e pede novas investigações.

    7 - Eumano Silva, o Doni
    É ex-Diretor da Revista Época em Brasília. Também teria prestado importantes serviços à quadrilha de Cachoeira, por meio de reportagens que a beneficiava. A CPMI, porém não encontrou provas conclusivas sobre sua participação no crime e, por isso, sugeriu ao MPF mais investigações.
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A CPMI de Cachoeira e o Papel da Mídia


Coluna Econômica - 22/11/2012

O papel moderno da imprensa, no mundo, tem dois divisores de água.

O primeiro, legítimo, o episódio Watergate, no qual um jornal (The Washington Post), com um jornalismo rigoroso e corajoso, logrou derrubar o presidente da República da maior Nação democrática do planeta.

O segundo, tenebroso, o processo ao qual foi submetido o magnata da mídia, Rupert Murdoch, depois de revelados os métodos criminosos do seu tabloide, "The Sun", para obter reportagens sensacionalistas.

O crime do The Sun foi ter se envolvido com baixos e médios escalões da polícia para atentar contra o direito à privacidade de cidadãos ingleses.

***

O relatório da CPMI de Cachoeira, traz dados muito mais graves do que os crimes do "The Sun". Mostra ligações diretas entre jornalistas e o crime organizado.

A acusação maior é contra a revista Veja e seu diretor em Brasília, Policarpo Jr. O relatório mostra, com abundância de detalhes, como Policarpo era acionado para derrubar autoridades e servidores públicos que incomodassem Carlinhos Cachoeira, atacar concorrentes do marginal e como encomendava dossiês a ele, muitos obtidos por métodos criminosos.

***

Já em 2008, a série "O caso de Veja" - que publiquei na Internet - mostrava os resultados dessa parceria.

Um esquema aliado de Cachoeira havia sido afastado dos Correios pelo esquema Roberto Jefferson. Jairo (o araponga de Cachoeira) armou um grampo em cima de um diretor, Maurício Marinho, recebendo propina de R$ 3 mil. A gravação foi entregue a Policarpo, que a considerou insuficiente. Providenciou-se outra gravação, aprovada por Policarpo.

Divulgado o grampo, caiu toda a estrutura montada por Jefferson e entrou a de Cachoeira. Veja compactuou com o novo grupo, mesmo sendo Policarpo conhecedor íntimo do esquema criminoso por trás dele.

Dois anos depois, a Polícia Federal implodiu o novo esquema. E a revista manteve-se em silêncio, preservando Cachoeira.

***

Nos estudos sobre as chamadas OrgCrim (organizações criminosas), em nível global, identificam-se braços nos três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - e também na mídia. O relatório descreve bem as funções da organização de Cachoeira no país.

Cachoeira ajudou a eleger o ex-senador Demóstenes Torres. Veja transformou-o em uma figura política poderosa, com sucessivas matérias apontando-o como o paladino da luta contra a corrupção. Com o poder que se viu revestido por Veja, Demóstenes transitava em repartições, junto a Ministros do Supremo, aumentando o poder de lobby da quadrilha de Cachoeira.

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Veja é um ponto fora da curva no jornalismo brasileiro. Mas não ficou sozinha nessa parceria com o crime.

Um levantamento sobre as premiações do jornalismo investigativo nas últimas décadas vai revelar como fontes, em muitos casos, lobistas e criminosos da pior espécie.

Não apenas isso. Poderiam ser utilizados como fonte e suas informações servirem de ponto de partida para investigações mais aprofundadas. Mas eram utilizadas a seco, sem passar sequer pelo teste da verossimilhança, sem nenhum filtro, fuzilando reputações e, principalmente, atentando contra o próprio exercício do jornalismo.

quinta-feira, novembro 22, 2012

O que se esconde por trás do “Pilar de Nuvem”

22/11/2012, Rami Zurayk e Anne Gough, Al-Jazeera, Qatar
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Os agricultores estão hoje no meio do período crucial de colheita de azeitonas e
produção de azeite; e a destruição dos pomares é golpe terrível contra a segurança
alimentar e econômica de Gaza.
[EPA]
Rami Zurayk
Desde a criação do estado, em 1948, Israel sempre usou a comida e a nutrição (ou a falta de comida e a desnutrição) como meio para implantar-se militarmente e realizar a ocupação territorial da Palestina. Enquanto todos os olhos voltam-se hoje para a matança de crianças e a erradicação de famílias inteiras [1], em Gaza na operação “Pilar de Nuvem”, Israel continua em seu plano de longo prazo para dizimar os meios de produção de comida, de criação de animais e as capacidades dos habitantes de Gaza para tomar decisões econômicas e políticas sobre o que plantar e o que comer.
Anne Gough
Gaza e toda a Palestina Ocupada está sendo “re-estruturada” como entidade na qual a desnutrição seja endêmica, o acesso à comida negado e as pessoas forçadas a viver sob o medo constante de não ter comida suficiente para si e para a família.
Nos últimos oito anos, o setor de alimentos e criação de animais em Gaza foi severamente agredido, o que fez piorar as condições do setor agrícola, já gravemente abaladas por seis anos de sítio e bloqueio impostos por Israel, além das campanhas militares e décadas de ocupação.
Nos primeiros cinco dias do assalto, o Ministério da Agricultura de Gaza que as perdas nos setores de agricultura e pesca sejam superiores a US $50 milhões. Segundo nosso colega Mohammad El Bakri, que trabalha com o Sindicato das Comissões de Trabalho Agrícola [2] e outros especialistas em Gaza, os agricultores estão hoje no meio do período crucial de colheita de azeitonas e produção de azeite; e a destruição dos pomares é golpe terrível contra a segurança alimentar e econômica de Gaza.
A crise da água
Os ataques aéreos dos israelenses contra os túneis [3] limitaram o fluxo de entrada de alimentos e combustível em Gaza. Poucas lojas permanecem abertas e a ONU já alertou para o risco de crise de água. Há notícias de bombardeios que visam diretamente aos poços de irrigação. O Ministério de Saúde de Gaza já está sem estoque de 40% dos remédios essenciais [4] e com estoque muito baixo de seringas e bandagens.
A terrível situação em que Gaza sobrevive hoje começou em 1948, quando milícias sionistas armadas expulsaram mais de 700 mil palestinos das áreas em que viviam, 200 mil dos quais fugiram para Gaza, onde a população triplicou nesses mais de 60 anos.
Historicamente, Gaza sempre foi conhecida pelo oásis de água fresca de Wadi Gaza [5] , importante ponto de parada nas rotas comerciais entre o Egito e a Síria. Já não é um oásis, as terras arrasadas e absolutamente esterilizadas pelas escavadeiras e niveladoras de Israel ao longo de toda a fronteira leste de Gaza (29% da terra arável [6]) é terra inacessível. Barcos israelenses atiram com canhões de água contra pescadores palestinos, impedindo-os de trabalhar além da distância de três milhas náuticas da praia.
Esgotos poluídos estão vazando dentro do aquífero do litoral, das redes de água e esgoto e dos prédios bombardeados no ataque israelense de 2009-9 contra Gaza, na Operação Chumbo Derretido. [7]
Israel também impediu a entrada em Gaza do equipamento necessário para reparar a infraestrutura danificada. Sem acesso a água para beber, muita gente em Gaza sobrevive hoje com 20 litros/dia/pessoa [8], quando, em Israel, o consumo médio de água é de 300 litros/dia/pessoa. [9]
Todas as 10 mil pequenas propriedades e granjas de Gaza foram danificadas no massacre de 2008-9 [10], meio milhão de árvores foram arrancadas, mais de um milhão de frangos e galinhas foram mortos [11], além de ovelhas, bois, vacas e cabras. Os israelenses destruíram 60% da indústria agrícola em Gaza, provocando perdas da ordem de US$ 268m.
A proporção da população de Gaza que vive sob condições de insegurança alimentar aumentou 75% depois do massacre de 2008-9, e muitas casas já são classificadas hoje como em situação de insegurança alimentar crônica, em Gaza. Dois anos depois dos ataques de 2008-9, a taxa de desemprego em Gaza era de 45,2%. [12]
Campos isolados
Na Cisjordânia a situação também é desesperadora. Os Acordos de Oslo de 1995 dividiram a Cisjordânia em uma Área A, sob controle da Autoridade Palestina, representando 3% da Cisjordânia; uma Área B, sob controle conjunto, equivalente a 25%; e uma Área C, equivalente a 72% da área, sob total controle de Israel, inclusive os campos agricultáveis do vale do rio Jordão.
De fato, o exército de Israel pode invadir qualquer área a qualquer tempo. A bifurcação da terra palestina e a construção de muros e cercas separaram os agricultores de seus campos plantados e dos mercados; [13] garantiram impunidade aos colonos israelenses fanáticos e violentos; e desfiguraram completamente a paisagem.
O objetivo de longo prazo de Israel em Gaza não é só o sítio e o bloqueio, mas, também, implantar naquela região condições e práticas de des-desenvolvimento que forcem os palestinos a depender completamente, ou da potência israelense ocupante, ou da ajuda internacional.
Em 2007, os militares israelenses produziram um cálculo do número mínimo de calorias/dia autorizadas para os habitantes de Gaza. [14] O mecanismo de controle da ingestão calórica caracteriza punição coletiva e eterno sofrimento, mas não leva à morte por fome. Não pode haver qualquer dúvida de que essa política de des-alimentação criada por Israel e implantada contra os palestinos é do conhecimento e conta com o apoio do governo dos EUA.
As consequências do mais recente assalto israelense contra Gaza, em 2012, só se tornarão plenamente visíveis depois que a poeira assentar. Mas não se afastarão muito do objetivo já declarado de Dov Weisglass em 2006: “A ideia é pôr os palestinos em dieta, mas sem matá-los de fome”.

Notas de rodapé
[1] 18/11/2012, The Guardian, UK, Harriet Sherwood (de Jerusalém) em: Gaza: four children killed in single Israeli air strike
[3] 18/11/2012, ONU, em: Gaza situation report, 18 November
[4] 18/11/2012, The Independent, UK, Jeremy Laurance em: Overwhelmed Palestinian doctors run out of life-saving medicines
[5] 6/4/2007, NYTimes, Mark Zeitoun em: A Gaza Tragedy: Complicity when the dam breaks
[6] Ver Agricultura na Cisjordânia Ocupada(em inglês)
[7] 27/10/2009, Anistia Internacional, em: Israel rations Palestinians to trickle of water
[8] Idem item [7]
[9] Idem item [7] e [8]
[10] 23/1/2009, Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) em: The humanitarian situation in Gaza and FAO’s response
[11] 12/2006 – 1/2009, United Nations Environment Programme em: Environmental Assessment of the Gaza Strip
[12] UNRWAUnited Nations Agency for Palestine Refugees, em: Labour Market Briefing /Gaza Strip – 2nd Half 2010
[13] 13/11/2012, UNRWAUnited Nations Agency for Palestine Refugees, em: Farmer's income stuck on the ‘other’ side of the Barrier
[14] Idem nota [13]