quinta-feira, novembro 27, 2008

Nem O Globo lê O Globo


Miriam Leitão não vende carro usado

O leitor de "O Globo", que pensa em vender seu carro usado para comprar um novo, está em apuros. A se guiar pelas informações que obtém no caderno de economia do jornal, ele não sabe se deve abandonar seus planos ou se pode procurar o veículo que deseja e negociar com calma.

O leitor de O Globo, que pensa em vender seu carro usado para comprar um novo, está em apuros. A se guiar pelas informações que obtém no caderno de economia do jornal, ele não sabe se deve abandonar seus planos ou se pode procurar o veículo que deseja e negociar com calma. É uma decisão a ser tomada de acordo com a página lida.

Afinal, deve dar crédito aos vaticínios da veterana analista de economia, Miriam Leitão, para quem vivemos na véspera do apocalipse, graças à conjugação da crise internacional com a falta de prudência do governo? Ou confiar que, passado um momento de instabilidade, a tendência da economia brasileira é se normalizar com as medidas que vêm sendo tomadas pelo Banco Central de abrir linhas para o financiamento do comércio exterior e de flexibilização do compulsório. Meirelles ou Miriam, eis a questão? Mantega ou Gustavo Franco, qual o norte a ser seguido?

Estamos na iminência de um brutal contingenciamento de crédito ou, como assegura Fábio Barbosa, presidente da Febraban “o mercado está pouco a pouco retornando à normalidade"? No Globo essa é uma questão que assume dimensões esquizofrênicas. A leitura da edição de domingo, 23 de novembro, é fundamental para entendermos o que anda acontecendo na imprensa nativa. Sintoma de tempos em que a análise dos fatos se confunde com o desejo das fontes e dos especialistas de plantão.

Na página 28, em sua coluna, Miriam pontifica: “as locadoras brasileiras estão recusando terceirização de frota por que não conseguem comprar carros novos, nem repassar os velhos. Locadoras funcionam assim: usam sempre carros novos e revendem os já usados, às vezes para as próprias montadoras, mas esse giro agora está difícil, por dificuldades de captação de financiamento numa ponta, e falta de consumidor final na outra ponta do negócio". Pronto, é melhor o leitor adiar o sonho de adquirir um novo veículo. O motor do setor automotivo engasgou por falta de ajuste de custos.

Na página seguinte, em matéria assinada pelo jornalista Bruno Rosa, intitulada "Itens usados em alta", o mesmo leitor fica sabendo que "a crise já fez o consumidor brasileiro mudar de hábitos. As roupas novas deram lugar à remodelagem de peças antigas esquecidas no armário. O dinheiro aplicado no banco foi resgatado para adquirir um carro usado, que já está vendendo mais que os similares zero quilômetro". Boas novas, o sonho não morreu. Seu carro novo é uma possibilidade real.

O que explica que, na mesma edição, encontremos informações tão desencontradas? A resposta faria corar qualquer estudante de jornalismo. A colunista confiou na fonte e descuidou da apuração. Relegou a segundo plano a checagem do que noticiava. Produziu uma ficção econômica, permitindo que a fonte produzisse o fato.

Bruno, ao contrário da experiente jornalista, foi a campo e trouxe a notícia que desmentia a coluna. No meio disso tudo, um editor dormia em berço esplêndido, deixando claro que nem O GloboO Globo. Se o jornalismo deve ser o resultado de uma prática honesta, não há como deixar de perguntar se o nosso hipotético leitor compraria um carro usado de Miriam Leitão.

A resposta deve estar na sua preferência por páginas pares ou ímpares. Será esse o novo critério de noticiabilidade? A velha prática do par ou ímpar, dependendo da aposta da fonte que pauta? A que ponto chegou o "rigor jornalístico"! E pensar que é esse campo, por sua centralidade política, que formata agendas e tenta, desesperadamente, ser fiel ao imaginário da classe média. As sucessivas tentativas infrutíferas demonstram o motivo do fracasso: é na grande imprensa que a falta de crédito tem-se mostrado mais acentuada. Falta liquidez ao pântano.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.

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quarta-feira, novembro 26, 2008

Cala a boca, FHC!


Quem disse: “ A globalização é o novo Renascimento da humanidade.” 

Quem disse: “Quem acabou com a inflação, vai acabar com o desemprego.” 

Quem disse: “Esqueçam o que eu escrevi.” 

Quem disse: “Vou virar a página do getulismo.” 

Quem disse, no último comício de Alckmin, no segundo turno, com a camisa fora da calça, desesperado: “Lula, você acabou, você morreu.” 

Quem disse: “O Estado brasileiro gasta muito e gasta mal” e entregou o Estado com a dívida pública 11 vezes maior. 

Quem disse: “Eu tenho um pé na cozinha” e depois de terminado o mandato, cinicamente acrescentou: “na cozinha francesa”. 

Quem quebrou a economia brasileira três vezes e na última, em 1999, subiu a taxa de juros para 49%? 

Quem reprimiu e tentou criminalizar os movimentos sociais? 

Quem fez a Petrobras mudar de nome para Petrobrax, para tentar privatizá-la. 

Quem vendeu 1/3 das ações da Petrobras nas bolsas de valores de Nova York e de São Paulo? 

Quem quebrou o monopólio estatal do petróleo no Brasil? 

Quem comprou votos de parlamentares para mudar a Constituição e conseguir um segundo mandato? 

Quem aumentou como nunca o trabalho precário no Brasil? 

Quem entregou o patrimônio público a preço de banana aos grandes capitais privados nacionais e internacionais, depois de sanear empresas públicas com dinheiro do BNDES e financiar essa transferência com juros subsidiados, no maior caso de corrupção da história brasileira. 

Quem disse que os trabalhadores brasileiros são preguiçosos? 

Quem disse que o Brasil tem vários milhões de pessoas “inimpregáveis”?  

Quem sumiu o Brasil na longa recessão a partir de 1999, que só foi superada no governo Lula? 

Quem quase liquidou o Mercosul com suas idéias de livre comércio e de prioridade de comércio com os países do norte? 

Quem promoveu a mais ampla privatização da educação no Brasil? 

Quem fracassou e teve seu governo largamente rejeitado quando seu candidato foi derrotado em 2002? 

Quem não conseguiu nem que o candidato do seu partido defendesse seu governo nas eleições de 2006? 

Quem é o político atualmente mais rejeitado pelo povo brasileiro, como tendo sido o presidente dos ricos? 

Quem tinha o apoio de 18% dos brasileiros a esta altura do mandato, quando Lula tem 80% de apoio e 8% de rejeição. 

Quem disse e fez tudo isso, FHC, deve calar a boca para sempre. O povo o rejeitou, o Brasil o rejeitou, democraticamente. 

CALA A BOCA, FHC!

por Emir Sader


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domingo, novembro 23, 2008

A crise da extrema esquerda


Os resultados das eleições municipais vieram corroborar o que o cenário político nacional já permitia ver: o esgotamento do impulso da extrema esquerda, que tinha sido relançada no começo do governo Lula. A votação em torno de 1% de dois dos seus três parlamentares, candidatos a prefeito em São Paulo e no Rio de Janeiro, com votações significativamente menores do que as que tiveram como candidatos a deputados, sem falar na diferença colossal em relação à candidata à presidência, apenas dois anos antes – são a expressão eleitoral, quantitativa, que se estendeu por praticamente todo o país, do esgotamento prematuro de um projeto que se iniciou com uma lógica clara, mas esbarrou cedo em limitações que o levam a um beco difícil, se não houver mudança de rota.


A Carta aos Brasileiros, anunciando que o novo governo não iria romper nenhum compromisso – nesse caso, com o capital financeiro, para bloquear o ataque especulativo, medido pelo “risco Lula” -, a nomeação de Meirelles para o Banco Central e a reforma da previdência como primeira do governo – desenharam o quadro de decepção com o governo Lula, que levaria à saída do PT de setores de esquerda. A orientação assumida pelo governo inicialmente, em que a presença hegemônica de Palocci fazia primar os elementos de continuidade com o governo FHC sobre os de mudança – estes recluídos basicamente na política externa diferenciada e em setores localizados – e a reiteração de um governo estritamente neoliberal davam uma imagem de um governo que era considerado pelos que abandonavam o PT, como irreversivelmente perdido para a esquerda.

O dilema para a esquerda era seguir a luta por um governo anti-neoliberal dentro do PT e do governo ou sair para reagrupar forças e projetar a formação de uma nova agrupação. Naquele momento se cogitou a constituição de um núcleo socialista, dos que permaneciam e dos que saíam do PT, para discutir amplamente os rumos a tomar. Não apenas cabia uma força à esquerda do PT, como se poderia prever que ela seria engrossada por setores amplos, caso a orientação inicial do governo se mantivesse.

Dois fatores vieram a alterar esse quadro. O primeiro, a precipitação na fundação de um novo partido – o Psol -, com o primeiro grupo que saiu do PT – em particular a tendência morenista – passando a controlar as estruturas da nova agremiação. Isto não apenas estreitou organizativamente o novo partido, como o levou a posições de ultra-esquerda, responsáveis pelo seu isolamento e sectarização. A candidatura presidencial nas eleições de 2006 agregou um outro elemento ao sectarismo, que já levaria a uma posição de eqüidistância em relação ao governo Lula. O raciocínio predominante foi o de que o governo era o melhor administrador do neoliberalismo, porque além de mantê-lo e consolidá-lo, o fazia dividindo e confundindo a esquerda, neutralizando a amplos setores do movimento de massas. Portanto deveria ser derrotado e destruído, para que uma verdadeira esquerda pudesse surgir. O governo Lula e o PT passaram a ser os inimigos fundamentais da nova agrupação.

Esse elemento favoreceu a aliança – já desenhada no Parlamento, mas consolidada na campanha eleitoral – com a direita – tanto com o bloco tucano-pefelista, como com a mídia oligárquica -, na oposição ao governo e à reeleição de Lula. A projeção midiática benevolente da imagem da candidata do Psol lhe permitia ter mais votos do que os do seu partido, mas comprometia a imagem do partido com uma campanha despolitizada e oportunista, em que a caracterização do governo Lula não se diferenciava daquela feita na campanha do “mensalão”. Como se poderia esperar, apesar de algumas resistências, a posição no segundo turno foi a do voto nulo, isto é, daria igual para o novo partido a vitória do neoliberal duro e puro Alckmin ou de Lula. (Se tornava linha nacional oficial o que já se havia dado nas primeiras eleições em que o Psol participou, as municipais, em que, por exemplo, em Porto Alegre, diante de Raul Pont e Fogaça, no segundo turno, se afirmou que se tratava da nova direita contra a velha direita e se decidiu pelo voto nulo.)

Uma combinação entre sectarismo e oportunismo foi responsável pelo comprometimento da orientação política do novo partido, que o levou a perder a possibilidade de formação de um partido à esquerda do PT, que se aliasse a este nos pontos comuns e lutasse contra nos temas de divergência. O sectarismo levou a que sindicatos saíssem da CUT, sem conseguir se agrupar com outros, enfraquecendo a esquerda da CUT e se dispersando no isolamento. Levou a que os parlamentares do Psol votassem contra o governo em tudo – até mesmo na CPMF – e não apoiassem as políticas corretas do governo – como a política internacional, entre outras. Esta se dá porque o governo brasileiro tem estreita política de alianças com as principais lideranças de esquerda no continente – como as de Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia -, que apóiam o governo Lula, o que desloca completamente posições de ultra-esquerda – que se reproduzem de forma similar a dessa corrente no Brasil nesses países -, deixando de atuar numa dimensão fundamental para a esquerda – a integração continental.

Por outro, o governo Lula passou a outra etapa, com a saída de vários de seus ministros, principalmente Palocci, conseguindo retomar um ciclo expansivo da economia e desenvolvendo efetivas políticas de distribuição de renda, ao mesmo tempo que recolocava o tema do desenvolvimento como central – deslocando o da estabilidade, central para o governo FHC -, avançando na recomposição do aparelho do Estado, melhorando substancialmente o nível do emprego formal, diminuindo o desemprego, entre outros aspetos.

A caracterização do governo Lula como expressão consolidada do neoliberalismo, um governo cada vez mais afundado no neoliberalismo – reedição de FHC, de Menem, de Carlos Andrés Perez, de Fujimori, de Sanchez de Losada – se chocava com a realidade.

Economistas da extrema esquerda continuaram brigando com a realidade, anunciando catástrofes iminentes, capitulações de toda ordem, tentando resgatar sua equivocada previsão sobre os destinos irreversíveis do governo, tentando reduzir o governo Lula a uma simples continuação do governo FHC, reduzindo as políticas sociais a “assistencialismo”, mas foram sistematicamente desmentidos pela realidade, que levou ao isolamento total dos que pregam essas posições desencontradas com a realidade.

O isolamento dessas posições se refletiu no resultado eleitoral, em que todas as correntes de ultra-esquerda ficaram relegadas à intranscendência política, revelando como estão afastadas da realidade, do sentimento geral do povo, dos problemas que enfrenta o Brasil e a América Latina. As políticas sociais respondem em grande parte pelos 80% de apoio do governo,rejeitado por apenas 8%. Para a direita basta a afirmação do “asisistencialismo” do governo e da desqualificação do povo, que se deixaria corromper por “alguns centavos”, mas a esquerda não pode comprá-la, por reacionária e discriminatória contra os pobres.

Confirmação desse isolamento e de perda de sensibilidade e contato com a realidade é que não se vê nenhum tipo de balanço autocrítico, sequer constatação de derrota da parte da extrema esquerda. Se afirma que se fizeram boas campanhas, não importando os resultados, como se se tratassem de pastores religiosos que pregam no deserto, com a consciência de que representam uma palavra divina, que ainda não foi compreendida pelo povo. (Marx dizia que a pequena burguesia sofre derrotas acachapantes, mas não se autocrítica, não coloca em questão sua orientação, acredita apenas que o povo ainda não está maduro para sua posições, definidas essencialmente como corretas, porque corresponderiam a textos sagrados da teoria.)

Não fazer um balanço das derrotas, não se dar conta do isolamento em que se encontram, da aliança tácita com a direita e das transformações do governo Lula – junto com as da própria realidade econômica e social do país –, da constatação do caráter contraditório do governo Lula, que não deveria ser se inimigo fundamental revelariam a perda de sensibilidade política, o que poderia significar um caminho sem volta para a extrema esquerda. Seria uma pena, porque a esquerda brasileira precisa de uma força mais radical, que se alie ao PT nas coincidências e lute nas divergências, compondo um quadro mais amplo e representativo, combinando aliança a autonomia, que faria bem à esquerda e ao Brasil.

por Emir Sader 

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quarta-feira, novembro 19, 2008

O lapso de um jornalismo relapso


Em um texto postado em seu blog, no dia 14 de novembro, Ricardo Noblat chamou o presidente do STF de "Gilmar Dantas". É bom lembrar que para Freud, esses desvios eram sintomas de um compromisso entre o intuito consciente da pessoa e o reprimido.

Gilson Caroni Filho

Este artigo foi originalmente escrito para o Observatório da Imprensa. Publicá-lo, com versão ampliada em Carta Maior, é uma forma de aumentar os espaços de discussão para os que ainda acreditam que um outro jornalismo é possível. Aqueles profissionais que recusam, na medida do impossível, qualquer prática jornalística que solicite desvios éticos, distorcendo a realidade e caluniando quem considera adversário político. Uma aposta difícil, mas irrecusável.
Quando a imprensa abre mão de ser uma instância de afirmação republicana – e é preocupante a freqüência com que isso vem ocorrendo diariamente – não comete apenas um grande desvio: deixa mesmo de ser imprensa para se tornar departamento de negócios diversos.
É sempre bom recordar o que disse Washington Novaes: "jornalismo não é profissão a ser exercida em nome próprio", mas por delegação da sociedade, a quem legitimamente pertence a informação. Em tempos de enganos nem sempre involuntários, um legítimo, de safra recente, deve ser examinado com humor e atenção. Apresenta-se como subtexto absurdo de intenções inconfessas.
O texto postado por Ricardo Noblat, sexta-feira, 14 de novembro, em seu blog supostamente jornalístico, nada mais é do que um ato falho, um desejo do inconsciente realizado através de um equívoco. É bom lembrar que para Freud, esses desvios eram sintomas de um compromisso entre o intuito consciente da pessoa e o reprimido. Se tivesse acesso ao que escrevem alguns jornalistas da grande imprensa nativa, vários conceitos psicanalíticos seriam revistos à luz da razão cínica que predomina nas redações.
Em poucas linhas, Noblat afirma que “o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Felix, já identificou o araponga da Agência Brasileira de Inteligência que grampeou a conversa travada por telefone entre o ministro Gilmar Dantas, presidente do Supremo Tribunal Federal, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Trata-se do mesmo araponga que entregou à revista VEJA a transcriação da conversa”.
Ao misturar o prenome do ministro com o sobrenome do banqueiro, o jornalista deu forma ao que os dicionários definem como simbiose: "associação entre dois seres vivos que vivem em comum". Um espécime que só existe no plano ideal da politização do Judiciário e da mídia partidarizada.
Importante destacar que, no mesmo dia, o jornalista postou um comentário com título sugestivo:” Uma nova vaia faria bem a Lula”, sugerindo hora e local: ”Seria bom para o excesso de auto-estima de Lula que ele fosse vaiado durante o jogo da próxima quarta-feira em Brasília entre a Seleção Brasileira e a Seleção de Portugal. A vaia que ele tomou no Maracanã na abertura dos Jogos Pan-Americanos já faz mais de um ano”.
É bom observar as angústias dos impolutos Catões da mídia e compreender as angústias que os afligem. Afinal, a crise econômica ainda não chegou com a intensidade por eles desejada. E o noticiário já dá mostras de qual será sua tônica nos próximos meses: a desconstrução simbólica de Lula, se possível com “argumentos” para torná-lo inelegível a partir de 2010.
Relatos tão fidedignos quanto a “transcriação” de fatos e fitas. Insondáveis são os motivos que levam ao surgimento de neologismos tão expressivos. Repito o que escrevi em artigo escrito recentemente publicado. O que permite tamanha desenvoltura na desfaçatez é a conjunção dos bem-intencionados que nada percebem com a esperteza dos bem selecionados peixinhos do "aquário".
É interessante a cadeia alimentar do campo jornalístico. Da labuta dos peixes de mercado, os ornados e pomposos extraem os nutrientes para os interesses dos peixões associados em empreendimentos políticos e econômicos. Qualquer advertência crítica à perfeição desse "ecossistema" soará como grito paranóico. Mas a leitura atenta não pode ceder aos reclamos do senso comum das redações.
Afinal, é lá que está sendo concebido o bloco de poder sonhado pela direita nativa: aquele tem no comando o “Gilmar Dantas” do blogueiro. É dura a disputa para saber quem ficaria como porta-voz da presidência. Mas pelas afinidades político-estilísticas, qualquer escolha será aplaudida pela “bancada dos analistas confiáveis”. Distintos senhores e distintas senhoras, espalhados nos mais diversos veículos, fazem desse sonho profissão de fé.
P.S: Quando esse artigo estava pronto, Ricardo Noblat, alertado por seus leitores, revisou o texto. Ou seria melhor falarmos em retificação de ato falho? Mas, como seguro morreu de velho, já havíamos feito um “screeenshot”
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UMA NOVA VAIA DE ENCOMENDA?
Achei isso em um dos comentários deixado na Carta Maior para o artigo do Gilson Caroni.
Vejam só!!! Dani

Nome:
luiz claudio pinheiro
Tendência:
A favor
Comentário:
Gilson, com relação a uma possível vaia contra Lula no jogo com Portugal, tem uma coisa que possivelmente voce e o resto do país não sabem, mas tem sido um dos assuntos mais falados nestes ultimos dias aqui em Brasília. É que cerca de 50% dos ingressos estão sendo distribuídos pelo governador Arruda (DEM) a autoridades e funcionários dos tres poderes. "Esses convidados dão mais prestígio ao espetáculo do que os torcedores comuns, e seria constrangedor para o governador se eles tivessem que pagar ingresso", explicou com todas as letras, em entrevista às rádios, o secretário de Esportes daqui. Para o povão, o ingresso mais barato custa R$ 160. Isso mesmo, 160 pilas é o ingresso mais barato. A indignação da população brasiliense contra o que está acontecendo é grande. No estádio, só vai ter autoridade e gente com bastante cacife. Se houver vaia, é bom saber que tipo de gente está vaiando.
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domingo, novembro 16, 2008

Não tenha medo, é só desligar a TV



Noticia do Blue Bus - 12/11/08

Marinho De fato, a crise nao chegou, mas o medo dela sim16:00 A crise é assunto em toda parte - nas salas de reunioes das empresas, nos botecos, nos saloes de beleza, nas agências de propaganda e principalmente na mídia. Mas, afinal, será que ela já desembarcou de fato no país? Quais as consequências que ela pode trazer? Para responder a essas dúvidas, a McCann e o Datapopular foram a campo na última semana de outubro para entrevistar mais de 600 habitantes de capitais e cidades do interior das regioes Sul, Sudeste e Nordeste, todos pertencentes às classes C e D, ou seja, com renda média familiar entre R$ 600 e R$ 3,000 - nota mais cedo aqui. Os resultados, divulgados agora de manha, mostraram que, apesar de ainda nao terem sido afetadas, as pessoas nao tem duvidas de que nao, nao sairao ilesas dessa crise. 12/11 Luiz Alberto Marinho

Para você ter uma idéia do que anda acontecendo, basta dizer que 85% dos brasileiros de baixa renda consideram que sua condiçao econômica atual vai de regular para boa e que apenas 25% acham que a vida ficou pior nos últimos 3 meses. Porém, chega a 43% o percentual dos que acreditam que o país piorou de 6 meses para cá. Além disso, 76% estao preocupados ou muito preocupados com a crise, 90% pensam que o país será afetado por ela e 88% dizem que a própria família sofrerá de alguma maneira as consequências desse problema. O que mais se espera é o aumento do desemprego, reduçao nos salários e aumento da inflaçao. Em outras palavras, o que assusta essa gente é a possibilidade de ter que reduzir o consumo e a nao conseguir pagar suas contas e dívidas. 12/11 Luiz Alberto Marinho

O que faz com que as pessoas acreditem que todas essas coisas ruins acontecerao com elas em breve, apesar de haver poucos sinais concretos da crise em suas vidas? É justamente o barulho que se faz em torno do tema, especialmente na mídia, que alimenta com fervor o pessimismo desse pessoal. 12/11 Luiz Alberto Marinho


Mesmo sem entender direito o que acontece no mundo, 61% dos brasileiros que habitam a base da pirâmide social cogitam pisar no freio e adiar a realizaçao de sonhos de consumo. Os mais preocupados sao os que moram no interior, as mulheres e os mais velhos. Entre as medidas que poderao ser adotadas, caso a situaçao piore de fato, estao a diminuiçao dos gastos, a reduçao do grau de endividamento, a busca por mais um emprego e o adiamento de compras planejadas para o ano que vem, especialmente a aquisiçao de automóveis, eletrodomésticos e eletrônicos, a reforma da casa e a compra de imóveis. 12/11 Luiz Alberto Marinho

Do ponto de vista das marcas e do varejo, o que esse consumidor popular pode fazer é procurar lojas mais baratas, cortar produtos supérfluos, diminuir a frequência de compra e trocar as marcas preferidas por similares mais em conta. Os setores que sofreriam menos, se a crise bater na porta das classes C e D, seriam os relacionados com limpeza, saúde, moradia, alimentaçao e educaçao. Os maiores cortes seriam em lazer, vestuário, cartoes de crédito e celulares. O grande termômetro do pessimismo do consumidor popular brasileiro será este Natal. Nada menos do que 63% dos entrevistados pensam em mudar a forma de presentear. Se eles farao isso realmente ou nao é algo que somente saberemos no início do ano que vem. 12/11 Luiz Alberto Marinho

Concluindo, a pesquisa da McCann mostra que as classes C e D já sabem o que fazer se a crise invadir suas casas sem pedir licença. Desemprego de algum parente ou amigo próximo, aumento da inflaçao e incapacidade de pagar contas ou dívidas seriam os principais sinais de que é chegada a hora de agir. Elas estao assustadas e preocupadas, nao com o presente, mas principalmente com as incertezas do futuro e a possibilidade de perder boa parte do que conquistaram a duras penas nos últimos anos.
Todas do Marinho no Blue Bus, escolha uma na lista aqui. 12/11 Luiz Alberto Marinho
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sexta-feira, novembro 14, 2008

"La dittatura inizia con l'ignoranza"



Houve notícia no Estadão Online, dia 13/10,em
http://www.estadao.com.br/internacional/not_int265253,0.htm. Aí vai:

Estudantes da Itália rejeitam reformas e tomam escolas
Juventude protesta contra Lei Gelmini para educação; Berlusconi responde e manda polícia ocupar escolas
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Enquanto isso, em São Luís, os estudantes fizeram campanha para o tucano Castelo...






Os "cabeças" das entidades inclusive afirmaram que o ex-governador não mandou espancar estudantes durante a greve de 1979.
Quem tem mais de 40 anos sabe que o governador biônico Castelo bateu e muito. Foram vários dias de confronto nas ruas de São Luís.
Diferente da música, aqui em São Luís, não se deve confiar em quem tem menos de 40...
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segunda-feira, novembro 10, 2008

As lições da eleição



*Sônia Jansen

O que podemos concluir a partir do resultado das eleições em São Luís

É desolador constatar que – apesar de todos os esforços para mostrar que há uma outra maneira de fazer política, com seriedade, honestidadee espírito público – o discurso acaba caindo no vazio e o que transparece é a supremacia do boato sobre a discussão de propostas. Quem vence é o marketing político, as técnicas de comunicação a serviço da ilusão. A ampla utilização dos modernos recursos imagéticos e sonoros proporcionados pela televisão e as pesquisas de intenção que vão delineando um resultado anunciado. Embalam-se promessas vazias para presente, traveste-se o vilão de mocinho e o horário eleitoral confunde-se com a ficção. Utiliza-se sem o menor escrúpulo a imagem da miséria para a enganação. O eleitor fica com a falsa impressão de que tem uma escolha e não percebe que sua vontade é manipulada pela lógica publicitária. Como disse Frei Beto num artigo publicado recentemente, “troca-se a ética pela estética”.
Mais uma vez perdemos o bonde. Mas não vamos nos concentrar nos aspectos negativos. No meio de tanta frustração é possível perceber um processo de mudança de mentalidade em curso. A mensagem foi entendida por uma grande parcela da população. Houve grandes lições de solidariedade e de amizade. Por livre e espontânea vontade as pessoas foram às ruas. Na feira, no supermercado, na padaria, nas praças e bares defenderam com paixão a idéia da “mudança pra valer”, carregaram a bandeira da ética, da gestão moderna e democrática e da política como atividade com fins essencialmente humanos e sociais. Pessoas que acreditaram no sonho de uma escola de qualidade, de um sistema de saúde eficiente, moradias dignas, transporte rápido e seguro, enfim de uma cidade mais justa, de uma administração baseada na excelência dos serviços e na correta aplicação dos recursos públicos.
Foi possível ver no rosto de cada um a paixão por uma idéia, ver que apesar de todas as frustrações, as pessoas ainda ousam acreditar que é possível fazer diferente, que a política não se reduz a um jogo de interesses ou vantagens pessoais.
E que bom que tivemos uma opção. Que bom que o voto desta vez não foi apenas uma obrigação e sim uma oportunidade de escolha, de uma nova alternativa. Finalmente, pudemos acreditar que havia uma esperança, que mesmo não se concretizando é um alento nesse mar de decepções. Esses dias de campanha foram de grande alegria e de emoção como há muito não se via na nossa cidade.
É realmente uma pena que a maioria dos cidadãos ludovicences não tenha compreendido a grandeza desse momento. O dia que seria da grande virada, de uma renovação qualitativa, do grande salto de são Luís para a modernidade. Tomara que a esperança não se perca, que ressurja ainda mais forte e que a lição seja aprendida por todos.

*Jornalista e servidora da Justiça Federal desde 1992


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sábado, novembro 08, 2008

Nada foi capaz de deter Bush, em matéria de violar a Constituição dos EUA.

De novidade, só, que o mesmo desrespeito à liberdade que sempre praticou no resto do mundo, Bush praticou também dentro dos EUA.











Obama tem de responder por oito anos de mentiras, de Bush *
Robert Fisk
Advogados norte-americanos que defendem seis argelinos num julgamento de pedido de habeas corpus em Washington, essa semana, ouviram coisas muito estranhas sobre o serviço secreto dos EUA depois do 11/9. Dentre milhões de relatórios "originais" de espiões norte-americanos e suas "avaliações" sobre o mundo, apareceu um alerta da CIA do Oriente Médio, sobre um possível ataque estilo kamikaze contra uma base da Marinha dos EUA numa ilha do sul do Pacífico. O único problema é que tal base da Marinha não existe na tal ilha e nenhum navio de combate da 7ª Frota dos EUA jamais esteve lá. Em tom de máxima seriedade, investigação militar do Exército dos EUA informara, pouco antes, que Osama bin Laden havia sido visto comprando selos numa agência de correio de uma base militar dos EUA no leste da Ásia.
Que esse tipo de absurdo seja difundido pelo mundo por gente cuja missão seria defender os EUA na "guerra ao terror" mostra o tipo de ilha-da-fantasia no qual viveu o regime Bush nos últimos oito anos. Quem acredite que bin Laden faça compras numa lojinha de uma base militar norte-americana, acreditará que todos os presos são "terroristas", que todos os árabes são "terroristas", que podem ser executados sem julgamento, que "terroristas" tenham de ser torturados, que confissões arrancadas sob tortura gerem "informação", que Estados soberanos podem ser invadidos, que se pode roubar a agenda pessoal de telefones de qualquer um, nos EUA. Como Bob Herbert escreveu no The New York Times há alguns anos, o governo Bush precisava daquelas agendas, "porque contêm informação crucial sobre uma invasão de chineses em Terre Haute, Indiana, e votos de feliz aniversário para vovó, em Talladega, Alabama, para descobrir o esconderijo de Osama bin Laden". Nada foi capaz de deter Bush, em matéria de violar a Constituição dos EUA. De novidade, só, que o mesmo desrespeito à liberdade que sempre praticou no resto do mundo, Bush praticou também dentro dos EUA.
Como Barack Obama conseguirá consertar os danos hecatômbicos que seu predecessor, mentiroso, doentio, perpetrou por todo o planeta e, também, dentro dos EUA? John F. Kennedy disse uma vez que "os EUA, como o mundo sabe, jamais iniciarão uma guerra ". Depois do surto de medo, de Bush, e do "choque e horror" ("shock and awe") de Rumsfeld, depois de Abu Ghraib e Bagram e Guantanamo e interrogatórios secretos, como Obama conseguirá devolver seu país aos tempos de Camelot? O entusiasmo de nosso caro Gordon Brown, em mensagem sobre e-mails de espiões ingleses, é outro exemplo de o quanto a relação pervertida entre Blair e Bush ainda contamina também o corpo político na Inglaterra.
Dias depois de essa presidência-desastre finalmente ir-se para sempre, novas leis norte-americanas passarão a impedir que cidadãos britânicos visitem os EUA sem autorização especial dos serviços de inteligência. Que novas surpresas Bush reservará aos ingleses, antes do 20 de janeiro? O quê, afinal, vindo de Bush, ainda surpreenderá alguém?
Obama tem de fechar Guantanamo. Tem de encontrar um modo de pedir desculpas ao mundo pelos crimes de seu predecessor, tarefa difícil para um homem que tem de mostrar-se orgulhoso de seu país; mas desculpar-se, pedir desculpas, é o mínimo que terá de fazer – no plano internacional –, se a "mudança" que Obama prometeu para efeito doméstico tiver de fazer algum sentido também além das fronteiras dos EUA. Obama terá de repensar – e desmontar – toda a "guerra ao terror". Terá de sair do Iraque. Terá de desativar todas as gigantescas bases aéreas implantadas no Iraque, e o prédio-fortaleza da embaixada norte-americana que lá existe, construção que já custou 600 milhões de dólares. Terá de pôr fim aos ataques aéreos de assassinato em massa que continuam, no sul do Afeganistão – por quê, ah, mas por quê continuamos a matar noivos e convidados em festas de casamento? – e Obama terá, também, de dizer umas verdades a Israel: que os EUA não podem continuar a aplaudir a brutalidade do exército de Israel, nem podem aceitar que judeus, e sempre judeus, continuem a invadir e ocupar terras dos árabes. Obama terá de enfrentar, pelo menos, o lobby israelense (de fato, um lobby do Partido Likud de Israel), e rejeitar o que Bush aceitou em 2004, isso é, a invasão e a ocupação ilegais de grande parte da Cisjordânia. Para isso, os norte-americanos têm de reunir-se com autoridades iranianas – e com autoridades do Hamás. E Obama terá de pôr fim nos ataques aéreos ao Paquistão – e à Síria.
Verdade é que aumenta a preocupação entre os aliados dos EUA no Oriente Médio: é indispensável que os militares norte-americanos sejam postos, outra vez, sob controle – e esse, afinal, foi o motivo pelo qual a visita do General David Petraeus ao Iraque foi dedicada menos a organizar algum "levante" ("surge"), do que a tentar reimpor a disciplina entre os 150 mil soldados e marines cuja missão – e cuja moral – foram arruinadas pelas políticas de Bush. Há provas, por exemplo, de que o ataque de quatro helicópteros à Síria, mês passado, que matou oito pessoas – se não foi operação de guerra suja, sujíssima – não foi, de modo algum, autorizada nem por Washington nem pelo comando norte-americano em Bagdá.
Mas Obama não conseguirá. Quer a retirada do Iraque, para concentrar mais poder de fogo no Afeganistão. Não derrotará o lobby em Washington e não impedirá que prossiga a construção de colônias nos territórios palestinenses ocupados, nem conversará com os inimigos de Israel. Com a indicação de Rahm Emanuel – "nosso homem da AIPAC na Casa Branca", como o jornal Maariv o descreveu essa semana – Obama já 'queimou' a largada. E, é claro, há a terrível possibilidade de que bin Laden, quando não estiver comprando selos em lojinhas de correio em bases militares dos EUA, esteja planejando outra atrocidade, para dar boas-vindas ao governo Obama.
Há ainda outro probleminha, contudo: os prisioneiros "desaparecidos". Não as vítimas que foram (e talvez ainda estejam sendo) torturados em Guantanamo, mas os milhares que simplesmente sumiram quando estavam sob custódia de autoridades dos EUA no estrangeiro ou – por trabalho dos norte-americanos –, presos em prisões dos aliados dos EUA. Há quem fale de 20 mil prisioneiros desaparecidos, quase todos árabes, todos muçulmanos. Onde estão? Podem ainda ser libertados? Ou foram todos mortos? Se Obama descobrir que herdou covas coletivas, de enterros em massa de cadáveres não identificados, terá de pedir mais desculpas ao mundo do que jamais imaginou.


Tradução de trabalho, sem valor comercial, para finalidades didáticas.
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terça-feira, novembro 04, 2008

Democracia da minoria


MUDANÇA DE VERDADE

Montréal (Canadá) - Na terça-feira, a América vai eleger Barack Obama como seu próximo presidente. A mídia corporativa continua a falar em "disputa apertada" em "estados-chave", mas não consigo imaginar que alguém que saiba alguma coisa sobre o que está acontecendo na América acredite realmente nela. Deveria ser óbvio, mesmo para os mais ferrenhos neocons, que John McCain e sua recém-nascida subordinada Sarah Palin estão prestes a ser varridos do mapa político dos Estados Unidos.
O Partido Republicano está em sérios apuros e os Democratas, sob a liderança de Obama, poderiam fazer muito mais para corrigir as obscenidades dos oito anos de mandato de Bush. Com a maioria absoluta tanto na Câmara quanto no Senado eles poderiam mudar qualquer coisa que eles quisessem, literalmente. As guerras no Afeganistão e no Iraque que desde o início eram ilegais e crimes contra a humanidade, você diz? Bem, elas poderiam terminar em um dia, simplesmente cortando as verbas que permitem a Bush continuar os massacres. Claro, eles poderiam ter feito isso lá atrás, em 2006, quando derrotaram os republicanos pela primeira vez, mas não o fizeram.
Pensando bem, em 2006, eles também podiam ter afastado Bush por qualquer um dos inúmeros crimes cometidos contra a Constituição dos EUA, mas isso também não foi possível. "Impeachment está fora da agenda", disse a recém-eleita líder da maioria Nancy Pelosi (a mesma mulher que iria mais tarde empurrar para o contribuinte o plano de socorro aos banqueiros-gangsters de Wall Street).
Falando de Wall Street e dos ladrões que continuam a dominar a América, a Câmara e o Senado controlados pelos Democratas poderiam ter votado leis, há dois anos, para regular os bancos de investimento que estavam vendendo títulos intoxicados pelo veneno "sub-prime", que agora estão promovendo a devastação financeira em todo o Globo. Mas não. Eles tinham coisas melhores para fazer, embora muitos deles, estou certo, tinham boas informações do que estava acontecendo e uma visão realista de onde a bolha imobiliária e os bilhões gastos na Guerra do Iraque iriam nos levar. Eles sabiam e poderiam ter feito muita coisa quando ainda havia tempo para evitar o desastre, mas preferiam não fazer.
Em vez disso, quando começou o colapso e o mercado acionário estava perdendo uma média de 500 a 700 pontos diariamente, os democratas foram os mais entusiásticos incentivadores do brinde de 700 bilhões de dólares (para os mesmos criminosos que haviam causado o desastre). A liderança Democrática apoiou a maior transferência de riqueza dos pobres para os ricos na história do país. "Temos que salvar os bancos e os banqueiros para salvar o povo", eles nos diziam. Um pouco como os soldados dos EUA faziam quando incendiavam aldeias sul-vietnamitas com os seus isqueiros Zippo para "salvá-las" do Vietcong.
Em 2007, o Censo dos EUA informou que aproximadamente 40% da riqueza do país era controlada por apenas 1% dos mais ricos, e que 10% eram donos de quase dois terços da riqueza da América. Estes são números que foram publicados no ano passado, antes da crise e do socorro e da descida diária do mercado de ações, e eles me lembram mais a disparidade de renda em regiões do sub-Saharan ou em ditaduras latino-americanas do tipo Pinochet, não nos Estados Unidos. E todavia foi nisso que nos tornamos. Uma oligarquia onde uma minúscula minoria da população define as políticas interna e externa e a cada quatro anos realiza eleições para que o resto de nós possa participar elegendo seus representantes, que irão gerir os bens (dos Estados Unidos) para seu benefício e uso exclusivo.
Eu estou farto desse sistema de mentiras e terror e espero que, mais cedo ou mais tarde, o povo da América finalmente irá se levantar contra seus reguladores autocráticos e tomar de volta o que é seu, legítimamente seu. Mudança não é apenas necessária, como nos diz Obama, ela tem que ser também verdadeira.


John Hemingway


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segunda-feira, novembro 03, 2008

Democracia midiática


Governos medíocres como o de José Serra e Jackson Lago são turbinados como governos realizadores. Do outro lado, atiram no povo brasileiro para atingir o governo que realiza e cumpre metas.


A cobertura espetacular que a "mídia brasileira" faz da eleição americana, com relação à cobertura negativa que essa mesma mídia faz da vida política nacional é o sinal claro do tipo de democracia que a Globo & Cia. querem implantar aqui no Brasil.


A democracia do espetáculo, uma democracia fria e que não decide nada, não muda nada. Uma democracia de ilusionistas.


Uma democracia de fraudes midiáticas, com horário eleitoral pago como propaganda nas TVs, militância de aluguel e muita festa cara, onde só é possível escolher o candidato amigo dos donos da grana.

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Um dia na vida da Folha de S. Paulo
De como um dos maiores diários do país vem se especializando em inverter o sentido dos fatos. O jornal torce os fatos porque está torcendo pelos mesmos, em vez de tentar retratá-los com a maior precisão e contextualização possível.
Bernardo Kucinski


O dia é quinta, 30 de Outubro de 2008. Mas podia ser qualquer outro. Nessa quinta, o desprezo da Folha pelos seus leitores superou-se com a reportagem “Luz para Todos não cumpre a meta de dois milhões". Minha mulher, que já vinha se aborrecendo com a Folha, fechou as páginas, irritada: “Esse jornal pensa que somos idiotas”.
Começa pela foto que encima a história, uma cena de escuridão no Congresso Nacional, que não tem nada nadinha a ver com o programa Luz para Todos. Depois vem o título, enorme, em quatro colunas, numa página nobre do jornal, chamando de fracassado um programa que os números da reportagem revelam estar sendo um dos maiores sucessos do governo Lula.
O Luz para Todos atingiu até a semana anterior à publicação da matéria, nada menos que 1, 744 milhão de famílias. São famílias, por definição, localizadas em regiões remotas, pequenos vilarejos que as concessionárias não serviam por não ser econômico.
Mesmo se ficasse só nisso, já seria um feito excepcional. Não só pelo número absoluto de famílias e comunidades beneficiadas, mas também pelo fato de quase 90% da meta ter sido alcançada - meta essa que já era bastante ambiciosa.
Foi tão forte o desejo de narrar um fracasso que o repórter excluiu do seu argumento sobre o não cumprimento da meta deste ano o fato relevante de que o ano ainda não terminou. Só lá em baixo, no pé da reportagem, separadas propositalmente do argumento principal da narrativa, está a informação de que já há mais R$ 13 bilhões em contratos fechados, sendo R$ 9,4 bilhões do governo federal, R$ 1,6 bilhão dos governos estaduais e R$ 1,9 bilhão das concessionárias. O sucesso é tanto que o Ministério de Minas e Energia já pensa em ampliar a meta em mais 1,1 milhão de famílias entre 2009 e 2010. (1)
Na mesma edição, a Folha relata outro retumbante “fracasso” do governo Lula. “Gastos do governo com o PAC caem 70%”. O título é de quatro colunas ocupando também o topo de página. Um gráfico de pagamentos do PAC revela investimentos crescentes ao longo do ano, exceto pequena redução em junho, e as quedas que deveriam justificar o título, em setembro e outubro.De pronto está a desonestidade do título. Gastos só caíram nos últimos dois meses. E mais: caíram de forma brusca. A explicação está lá, escondida, no meio da própria reportagem: as chuvas de setembro e a greve dos servidores do Departamento Nacional de Infra-estrutura (DNIT) que “bloqueou pagamentos e todas as demais fases da gastos durante três semanas...” (2). Um título mais preciso seria na linha de ”greve paralisa obras do PAC”. Mas esse título não serviria ao propósito aparente de retratar um governo inoperante e incompetente.
Manipulação de números repetiu-se no título de página inteira ”Diminuem as vendas em supermercados”. O segundo parágrafo, aliás atropelado, diz que “a queda nas vendas em setembro, além de ser sazonal, ocorreu porque, em agosto, houve queda nos preços de alguns alimentos, o que resultou em alta no consumo daquele mês...”
Afinal, se em agosto os preços caíram, significa que o povo estocou, com isso comprando menos em setembro? Além dessa confusão, o jornal admite que comparou dois meses incomparáveis. Agosto teve 31 dias e cinco finais de semana. Setembro teve apenas 30 dias e quatro fins de semana. Os fins de semana concentram as idas aos supermercados para as compras maiores do mês.
Só o ajuste sazonal do número de dias de cada mês daria uma “diminuição” de 2,2% no faturamento de setembro em relação a agosto. E mais: lá adiante, em outro parágrafo, está escrito que o preço médio de uma cesta com 35 produtos caiu 1,25% em setembro, em relação a agosto. E nem consideramos ainda que setembro teve um fim de semana a menos. Portanto a queda de 5,6% no faturamento foi inferior ao que se deveria esperar pelo menor número de dias, menor número de fins de semana, e preços menores dos alimentos. O oposto do que o titulo dá a entender.
É isso que se chama inversão dos sentidos, truque que vem se tornando especialidade desse jornal. Na história do Luz para Todos o objetivo aparente é passar a idéia de um governo que não cumpre promessas e na reportagem da redução do ritmo do PAC, o objetivo é caracterizar um governo incompetente.
Há uma outra dimensão ainda mais interessante nessas manipulações: as duas reportagens saíram na véspera do evento em que o governo prestaria contas dos programas, quando o correto seria usar as informações para questionar a prestação de contas, não deixar o governo falando sozinho. Isso seria bom jornalismo. Por que o jornal se antecipou?
Sua intenção aparente e nada modesta foi a de esvaziar a prestação de contas do governo. Ou seja: o jornal quis pautar a agenda nacional e/ou negar ao governo seu potencial de pautar essa agenda.
O jornal torce os fatos porque está torcendo pelos fatos, em vez de tentar retratá-los com a maior precisão e contextualização possível. A matéria do PAC é mais uma de toda uma torcida do jornal contra o programa, desde o seu início.
Já a reportagem sugerindo falsamente que o povo está comprando menos comida, além de usar como referência um dado (faturamento) que interessas apenas aos proprietários dos supermercados, faz parte de uma nova e preocupante torcida da Folha: a torcida para que a crise dos bancos chegue logo ao Brasil. Esse catastrofismo vem marcando a cobertura de toda a mídia. Mas também nisso a Folha vem se superando.
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(1) No dia seguinte, a Folha voltou ao assunto em pequena nota na qual a ministra Dilma Rousseff, diz que faltarão apenas 100 mil famílias para a meta deste ano. Ou seja o programa terá cumprido 95% de sua meta. Mesmo assim, o jornal manteve a narrativa do fracasso.
(2) Também nesse caso a Folha voltou ao assunto no dia seguinte com o titulo: “Planalto culpa greves por ritmo menor de obras.” O jornal não contesta o argumento. Ao contrário, reforça-o dizendo que “conforme o jornal informou ontem, a greve de três semanas no DNIT paralisou todas as etapas dos gastos em obras de conservação, manutenção e construção de rodovias, responsáveis pela maior parcela dos investimentos do PAC.”


Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000).




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