domingo, junho 29, 2008

TODOS CONTRA O PROJETO DO SENADOR AZEREDO

O projeto que busca implantar o estado de vigilância na rede, que quer obrigar a todo provedor a bloquear o P2P, que incita o denuncismo dos provedores de acesso é o SUBSTITUTIVO AO PLS 76/2000, PLS 137/2000 e PLC 89/03, de autoria do Senador Eduardo Azeredo (MG). 

O Projeto Substitutivo do Senador Azeredo (SUBSTITUTIVO ao PLS 76/2000, PLS 137/2000 e PLC 89/2003) está mais preocupado em proibir a troca de arquivos do que com o combate a pedofilia.

Veja o que o projeto diz no Art. 154-B:

"Obter dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização do legítimo titular, quando exigida.
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
...
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem mantém consigo, transporta ou fornece dado ou informação obtida nas mesmas circunstâncias do "caput", ou desses se utiliza além do prazo definido ou autorizado.

§ 2º - Se o dado ou informação obtida desautorizadamente é fornecida a terceiros pela rede de computadores, dispositivos de comunicação ou sistema informatizado, ou em qualquer outro meio de divulgação em massa, a pena é aumentada de um terço."


Leia mais aqui: http://samadeu.blogspot.com/

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sexta-feira, junho 27, 2008

GANHOU MAS NÃO LEVOU

A militância democrática sempre soube disso e nunca esperou o PT ou o governo para agir.
Desde 2002 centenas de listas, blogs e grupos se formaram por todo o Brasil com milhares de pessoas que nem se conheciam.
Em 2005 a internet foi o nosso "gabinete de crise".
No pasarán!

Por que o governo Lula perdeu a batalha da comunicação
 
 
E como a Globo definiu a narrativa dominante e única da crise do mensalão. A central de Brasília, dizem jornalistas que trabalharam no sistema Globo, formou uma espécie de “gabinete de crise" com líderes da oposição do qual faziam parte ACM Neto e Paes de Andrade. Fechar a Radiobrás foi o ato síntese de todos os grandes erros na política da comunicação do governo Lula. A análise é de Bernardo Kucinski.
 
Bernardo Kucinski
 
A mídia na era Lula deixou de funcionar como mediadora da política, passando a atuar diretamente como um partido político de oposição. Apesar de disputarem agressivamente o mercado entre si, há mais unidade programática hoje entre os veículos da mídia oligárquica do que no interior de qualquer partido político brasileiro, até mesmo partidos ideológicos como o PT e o PSOL. Todos os grandes veículos, sem exceção, apóiam as privatizações, a contenção dos gastos públicos, a redução de impostos; a obtenção de um maior superávit primário, a adesão do Brasil à ALCA; todos são críticos à criação de um fundo soberano, ao controle na entrada de capitais, ao Bolsa Família, à política de cotas nas universidades para negros, índios e alunos oriundos da escola pública, à entrada de Venezuela no Mercosul e ao próprio Mercosul. Todos criticam o governo sistematicamente, em todas as frentes da administração, faça o governo o que fizer ou deixar de fazer.
 
Na campanha da grande imprensa que levou Vargas ao suicídio, o governo ainda contava como apoio da poderosa cadeia nacional de jornais Última Hora. Hoje, não há exceção entre os grandes jornais. Outra diferença desta vez é a adesão ampla de jornalistas à postura de oposição, e sua disseminação por todos os gêneros jornalísticos tornando-se uma sub-cultura profissional. Emulada por editores, prestigiada por jornalistas bem sucedidos e comandada pelos intelectuais orgânicos das redações, os colunistas, essa sub-cultura é dotada de um modo narrativo e jargão próprios.
 
Em contraste com o jornalismo clássico, que trabalha com assertivas verazes para esclarecer fatos concretos, sua narrativa não tem o objetivo de esclarecer e sim o de convencer o leitor de determinada acusação, usando como fio condutores seqüências de ilações. É ao mesmo tempo grosseira na omissão inescrupulosa de fatos que poderiam criar outras narrativas , e sofisticada na forma maliciosa como manipula falas, datas e números. O enunciador dessa narrativa conhece os bastidores do poder e não precisar provar suas assertivas. VEJA acusou o PT de receber dinheiro de Cuba, admitindo na própria narrativa não ter provas de que isso tenha acontecido. Em outra ocasião, justificou a acusação alegando não haver nenhuma prova de que aquilo não havia acontecido.
 
Trata-se de uma sub- cultura agressiva. Chegam a atacar colegas jornalistas que a ela se recusaram a aderir , criando nas redações um ambiente adverso a nuances de interpretação ou divergências de análise. O meta-sentido construído por essa narrativa é o de que o governo Lula é o mais corrupto da história do Brasil, é incompetente, trapalhão, só tem alto índice de aprovação porque o povo é ignorante ou se deixa levar pelo bolso, não pela cabeça.
 
Levantam como principal bandeira o repúdio à corrupção. Mas como quase todo o moralismo em política, trata-se de mais uma modalidade de falso moralismo: é o “moralismo dirigido” que denuncia os “ mensaleiros do PT” e deixa pra lá o valerioduto dos tucanos, onde tudo de fato começou, e mais recentemente o escândalo do Detran de Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul onde tudo continua. É “ moralismo instrumental”, que visa menos o restabelecimento da ética e mais a destruição do PT e do petismo.
 
O que poucos sabem é que essa sub-cultura se tornou dominante graças a uma mãozinha da Globo. Quando foi revelada em fevereiro de 2004 a propina recebida dois anos antes por Waldomiro Diniz, sub-chefe da assessoria parlamentar da Casa Civil do governo Lula, a Globo vislumbrou a oportunidade de uma ofensiva de caráter estratégico: cortar o barato do petismo e de sua ameaça de governar o Brasil por 40 anos. Com esse objetivo, mudou o modus operandi do seu jornalismo político. Logo depois das denúncias de Roberto Jefferson, criou uma central de operações, em Brasília, unificando as coberturas de política da TV, CBN e jornal O Globo sob o comando de Ali Kamel, que para isso se deslocou para Brasília.
 
Em quase todas as campanhas eleitorais os grandes jornais criam uma instância adicional de decisão sob o comando de alguem de confiança da casa, que passa a centralizar toda a cobertura política. A central coordenada por Ali Kamel em Brasília reflete essa passagem de um jornalismo normal para um jornalismo de campanha, apesar de não estar em curso uma campanha eleitoral.
 
A central de Brasília, dizem jornalistas que trabalharam no sistema Globo, formou uma espécie de “gabinete de crise" com líderes da oposição do qual faziam parte ACM Neto e Paes de Andrade, pautando-os e por eles se pautando. Vários jornalistas faziam parte da operação, cada um encarregado de uma “fonte” da oposição. Tinham a ordem de repercutir junto àquela fonte, todos os dias, falas e acusações, matérias do dia anterior, entrevistando sempre os mesmos protagonistas: Heloísa Helena, ACM Neto, Gabeira , Onix Lorenzoni. No dia seguinte, os jornais davam essas falas em manchete, como se fosse fatos. Assim surgiu todo um processo de construção de um relato da crise destinado a se tornar a narrativa dominante e única.
 
A VEJA lançara sua própria operação de objetivos estratégicos muito antes. Entre 2003 e 2006, VEJA produziu 50 capas contra Lula , sendo 18 delas consecutivas.
 
Quando surgiu a fita de Waldomiro Diniz, a revista revelou esse objetivo em ato falho : “Os ares em torno do Palácio tinham na semana passada sabor de fim de governo.”
 
Na Globo, a operação encontrou resistências internas de jornalistas que ainda lambiam as feridas provocadas pelo falseamento do debate Collor- Lula, e da cobertura da campanha das Diretas Já. Deu-se então a marginalização de Franklin Martins da cobertura política. Esse afastamento teve grande importância porque institui no corpo de jornalistas a sensação de insegurança e o medo, necessários para a imposição da nova ordem. Sua saída foi um baque”, avaliou Luiz Nassif em entrevista a Forum.
 
Com o vazamento de informações sobre o clima interno de intolerância, em especial uma reportagem de Raimundo Pereira em Carta Capital, e matérias críticas em blogs e no site Carta Maior, a cúpula jornalística da empresa mandou circular um manifesto cobrando lealdade à casa. Três jornalistas que se recusam a assinar foram expurgados.
 
Da Globo o expurgo respingou a outros veículos da grande imprensa. O último capítulo desse processo foi a não renovação do mandato do Ombudsman da Folha, Mário Magalhães por criticar na internet a forma como a Folha reportou o vazamento dos gastos do governo FHC com cartões corporativos. Apontou falta de transparência por não indicarem as fontes da acusação de que Dilma Roussef foi a mandante, e a falha de não ouvir os causados. No caminho também perdeu seu espaço Paulo Henrique Amorim. Mino Carta, em solidariedade, desligou-se do IG.
 
Na campanha contra Getúlio a sobre-determinante era a guerra-fria, que desqualificava o nacionalismo e as demandas sindicais como meros instrumentos do comunismo. Hoje a sobre-determinante é o neoliberalismo que desqualifica opções de política econômica em nome de uma verdade única à qual é atribuído o monopólio da eficácia. A unanimidade anti-Lula da grande mídia só tem paralelo na unanimidade pró-neoliberal dessa mesma mídia.
 
Mas temos um paradoxo. O governo Lula tem mantido religiosamente seu acordo estratégico com o capital financeiro, que é o setor dominante hoje no capitalismo mundial e brasileiro. E apesar do vasto leque de políticas públicas de apoio aos pobres, não brigou com nenhum dos outros grupos de interesses do grande capital. Por que então tanta hostilidade da mídia? É como se a grande mídia agisse por conta própria, pouco ligando para a dupla capital financeiro-capital agrário e na qual se apóia.
 
É uma mídia governista, ou ”áulica”, na adjetivação de Nelson Werneck Sodré, quando o governo faz o jogo da dependência, como foram os governos de Dutra, Café Filho, Jânio Quadros e Fernando Henrique. E anti-governista, quando os governos são portadores de projetos de autonomia nacional, como foram os governos de Getúlio, Juscelino, que rompeu com o FMI, Jango e agora o de Lula.
 
Uma mídia que já nasceu neoliberal, muito antes do neoliberalismo se impor como ideologia dominante e organizativa das políticas públicas. Nunca aceitaram o Estado que chamam pejorativamente de “populista”. Em artigo recente na Folha, Bresser Pereira associou diretamente o discurso da mídia contra o populismo e sua inclinação pelo golpe à nossa extrema pobreza e polarização de renda. “Como a apropriação do excedente econômico não se realiza principalmente por meio do mercado mas do Estado, a probabilidade de que facções das elites recorram ao golpe de Estado quando se sentem ameaçadas é sempre grande.” Diz ainda que nossas elites “estão quase sempre associadas às potências externas e às suas elites.” Daí, diz ele ”O que vemos na imprensa, além de ameaças de golpe é o julgamento negativo dos seus governantes...”
 
A incompatibilidade entre governos populares portadores de projetos nacionais e a mídia oligárquica é de tal ordem que muitos desses governantes tiveram que jogar o mesmo jogo do autoritarismo, para dela se proteger. Getulio criou a Hora do Brasil como programa informativo de rádio para defender a revolução tenentista contra a oligarquia ainda em 1934, quando o regime era democrático, fundado na Constituição de 34. No Estado Novo foi ao extremo de instituir a censura previa através criando o Departamento de Imprensa e Propaganda. (DIP). No em seu retorno democrático, estimulou Samuel Wainer a criar sua cadeia Última Hora.
 
Estas reflexões, se tem algum fundamento, mostram como foi equivocada a política de comunicação do governo Lula, a começar por não atribuir à comunicação e às relações com a mídia o mesmo peso estratégico que atribuiu às suas relações com a banca internacional. Nem sequer havia um comando único para a comunicação, que sofreu um processo de feudalização. Só na presidência, três feudos disputavam espaço: a Secom, o Gabinete do Porta-Voz e Assessoria de Imprensa. Fora dela, dois ministérios definiam políticas públicas na esfera da comunicação: Ministério das Comunicações e Ministério da Cultura.
 
Propostas longamente discutidas ainda no âmbito dos grupos de jornalistas do PT, e pelos funcionários da Radiobrás, não foram sequer discutidas. Nesse vazio, o único grande aparelho de comunicação social do governo, o sistema Radiobrás acabou embarcando numa política editorial chamada de “comunicação cidadã”, que tinha como preocupação fundamental e explícita de dissociar-se do governo do dia. O que é pior: despojava a Radiobrás de sua atribuição formal de sistema estatal de comunicação. Isso num momento histórico que exigia, ao contrário, reforçar o sistema estatal de comunicação.
 
Pouco experiente em jornalismo político, a equipe não conseguiu resolver de forma criativa a contradição entre fazer um jornalismo veraz de qualidade e politicamente relevante, e ser ao mesmo tempo um serviço estatal de comunicação. Com definições opacas, que nada acrescentavam ao que se entende por jornalismo, acabaram desenvolvendo um jornalismo de tipo alternativo, parecido ao que fazem as ongs e movimentos sociais.
 
A importante mudança do papel da Radiobras nunca foi discutida no Conselho da Radiobrás. O corpo da Radiobrás chegou a se entusiasmar com a idéia sempre simpática a jornalistas, mas simplória, de deixar de ser “chapa-branca”, mas acabou não havendo muita harmonia entre a nova direção e as bases. Uma apregoada “gestão participativa”, ficou mais no papel do que na prática.
 
Em minucioso relatório sobre as conquistas da Radiobrás perto do final do primeiro mandato, o presidente do Conselho enumerou os muitos avanços técnicos, mas apontou que a Radiobrás havia criado uma outra missão e outro papel para si, sem discutir essas mudanças previamente com o próprio governo. Também apontou ser falso o debate que contrapõe comunicação de caráter oficial com o direito do cidadão á boa informação.
 
Mais equivocada ainda foi a proposta de acabar com a obrigatoriedade da Voz do Brasil, formulada pela direção da Radiobrás logo no primeiro ano do mandato de Lula, a partir dos conceitos neoliberais de que o Estado não faz parte da esfera pública e a liberdade de imprensa do baronato da mídia é a própria liberdade de imprensa. A Radiobrás chegou a co-patrocinar no anexo II da Câmara dos Deputados, junto com os Mesquitas um seminário para apoiar a flexibilização da Voz do Brasil.
 
Essa mesma visão ingênua levou a Radiobrás a adotar como sua e como se fosse a única possível, a narrativa da grande imprensa na grande crise do mensalão, que como vimos foi em grande parte articulada entre o sistema Globo e a oposição. Embora só hoje se saibam alguns detalhes dessa operação, as forçadas de barra no noticiário e nas manchetes eram discerníveis a qualquer jornalista experiente.
 
Naquele momento, a Radiobrás era o único sistema de comunicação social capaz de criar uma narrativa realmente independente da crise, que sem ser chapa branca também não fosse submissa à articulação comandada pela Globo. Mas quando veio a crise, seu projeto editorial entrou em parafuso. Mais do que isso: a crise traumatizou a direção da empresa que viu ruir a bandeira ética do PT, sob a qual muitos deles cresceram, formaram-se e criaram sua identidade pública. Só um estado catatônico poderia explicar o fato da Radiobrás dar ao vivo e na íntegra o depoimento de Roberto Jefferson de junho de 2005 como se quisesse se colocar à frente do sistema Globo. No momento crucial da crise cortou um discurso de Lula em Luziania, o que nem a Globo fez.
 
Foi a fase em que manchetes da Agência Brasil rivalizavam com as da grande imprensa na espetacularização da crise e na disseminação de noticias infundadas. Entre essas manchetes está a acusação nunca comprovada do dia de renuncia de Zé Dirceu (16/06/05) : “Ex-agente do SNI diz que Casa Civil está envolvida nas provas dos correios”. E a noticia falsa de que “Miro Teixeira confirmou as acusações de Jeffersson”, dada no mesmo dia 21/06;05 em que até a grande imprensa admitia que Miro Teixeira não havia confirmado essas acusações. Mesmo sem atentar para a dimensão política desse tipo de noticiário, sua fragilidade era incompatível com o padrão que se espera de uma comunicação de Estado.
 
Outras manchetes meramente reproduziam falas de líderes da oposição: ”Nada poderá restringir nosso trabalho na CPI”, diz líder do PFL (17/056/05) ou “PFL e PSDB alegam que PT violou legislação (22/06/05). A Radiobrás, sem perceber, havia entrado no esquema orquestrado por Ali Kamel. Naquele momento nascia o processo de colonização da comunicação de governo e do Estado pelo ideário liberal-conservador , que acabou levando ao fechamento intempestivo da própria Radiobrás.
 
Fechar a Radiobrás foi o ato síntese de todos os grandes erros na política da comunicação do governo Lula. Ademais, ao fechar a Radiobrás o governo violou a Constituição que manda coexistirem os três sistemas; púbico, privado e estatal E não é à toa que a Constituinte cidadã assim decidiu. Como sabemos, diversas vezes a grande mídia latino-americana apoiou golpes de Estado, algo inimaginável nas democracias dos países centrais. Ter um sistema estatal de comunicação minimamente funcional , com credibilidade e legitimidade junto à população é uma espécie de apólice de seguro contra golpes de Estado.
 
O governo lidou com a comunicação como se a nossa democracia fosse igualzinha a democracia americana. Mas o que vale para os Estados Unidos da América, pode não valer para o Brasil. O Estado americano não tem uma Radiobrás ou uma Voz do Brasil, porque nunca sofreu um golpe midiático, mas tem a Voice of America, para defender seus interesses imperiais. O Estado brasileiro não contempla interesses imperiais, mas precisa se defender do golpismo e das pressões externas sobre a Amazônia. Por isso precisa de uma Radiobrás e de uma Voz do Brasil. 

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quarta-feira, junho 25, 2008

O BRASIL DECIFROU A GLOBO


Ibope da Globo em 2008 é o menor da história

Ricardo Feltrin
Colunista do UOL

Dados obtidos com exclusividade por Ooops! mostram que a Globo, maior emissora do país, está tendo o pior ano em ibope de sua história. Os dados foram apurados até anteontem, dia 23. A possibilidade (estatística) de os dias restantes de junho mudarem o quadro semestral é praticamente zero.

Nos últimos cinco anos, a queda de audiência da Globo entre 7h e 0h ficou em -20%, tanto na Grande SP como no país. Em São Paulo, dos 22,6 pontos de média registrados no primeiro semestre de 2004, a emissora caiu para 18 este ano. 

Cada ponto equivale a cerca de 55 mil domicílios sintonizados na Grande SP. No Brasil, as médias da Globo foram 24,2 em 2004, contra e 19,5 em 2008 (veja a tabela completa). 

É a primeira vez que a rede fica abaixo dos 20 pontos nessa faixa horária.



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Postado por Jussara Seixas no POR UM NOVO BRASIL em 6/25/2008 02:12:00 PM

PARA ENTENDER O JOGO BRUTO DA REDE GLOBO

Globo e MST, algo a ver?

Em Brasília, há um governo, atravessado por contradições, que nunca se furtou ao diálogo. No Rio, um jornal que sempre apreciou o extermínio dos filhos da terra. É tão difícil discernir quem é o interlocutor mais confiável? O canto da sereia ainda é tão irresistível? 

Gilson Caroni Filho

Reportagem de O Globo, no último domingo, 22 de junho, mostra o jogo errático da grande imprensa quando o assunto envolve o governo Lula e os movimentos sociais. Deveria servir de alerta para certa esquerda que não entendeu, ou finge não ter entendido, o jogo bruto da direita e suas corporações midiáticas.

Com destaque, em página ímpar, o jornal destaca uma suposta opção do presidente Lula pelo agronegócio em detrimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ( MST). O espaço concedido ao presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) é excessivamente generoso para não levantar suspeita. Lá, Plínio Arruda Sampaio não poupa certezas: "Os acampados abandonaram a estrada porque se convenceram da dura realidade: Lula não vai fazer reforma agrária. Sabendo disso, o MST decidiu engrossar a demanda e fala agora em combater o agronegócio".

O mais interessante é que o jornal parece dar razão a lideranças que sempre procurou criminalizar, e trabalha com números que aparentemente fundamentam seus argumentos. Mas a manipulação é tão evidente que, na mesma matéria temos montantes díspares, vindos da mesma fonte. Na dobra superior da página 15, a jornalista Soraya Aggege informa que "enquanto Fernando Henrique assentou, em oito anos, 400 mil famílias, Lula assentou 150 mil em cinco anos, segundo checagem de pesquisadores sobre os dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário".

Escondidos, numa coluna do final da matéria, surgem outros números fornecidos pelo mesmo Ministério. Agora, são 448.954 famílias assentadas no mesmo período de tempo, ou seja, mais que o triplo do governo anterior. Parece que a repórter não teve qualquer cuidado em checar os números do próprio texto. Incompetência? Desatenção? Ou tentativa deliberada de criar falsas polarizações? A resposta talvez esteja em uma perspectiva comparada com o tratamento dispensado à questão agrária ao longo dos últimos anos pelo jornalismo nativo. Para isso, voltaremos no tempo para centrar a análise em fato emblemático.

Em dezembro de 2004, a imersão conservadora da imprensa brasileira produziu, um subtexto digno de figurar como peça pobre do realismo mágico. Não pela magnitude estética, mas pelo mergulho no absurdo. Sem a grandiosidade estilística de um Gabriel García Márquez, a Macondo do jornalismo brasileiro foi uma ficção pobre, travestida de discurso objetivo. Não se propôs a contar a história de qualquer cidade mítica, mas a ocultar os interesses de Arcádios Buendía que impõem seus desmandos há mais de três séculos de solidão.

Enquanto 600 delegados de 70 países participavam, em Valencia (Espanha) entre 4 e 8 de dezembro, do Fórum Mundial de Reforma Agrária (FMRA), os jornais brasileiros preferiram ignorar o evento ou a ele dedicar apenas breves registros anódinos. Fingiram não ver o ato inaugural de uma nova articulação contra-hegemônica. Pela lógica editorial predominante, os debates em plenárias e as oficinas sobre mazelas e limites do modelo agrário hegemônico não eram dignos de figurar em folhas que só avalizam as chamadas "reformas agrárias de mercado".

Do ponto de vista jornalístico, o silêncio sobre o Fórum não encontrava qualquer justificativa que não esbarrasse nos surrados critérios classistas do que deve ser notícia. Afinal, lá estavam Miguel Rosseto, então ministro do Desenvolvimento Agrários, e representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) - duas entidades governamentais responsáveis pela promoção de uma nova ordem fundiária.

Relevância política doméstica era o que não faltava. A grande ausente, tanto nas editorias de política quanto nas de economia, era disposição para confrontar reflexões de matizes distintas daquilo que era reiterado dia após dia, na batida monocórdica do pensamento único.

Como destacou o semanário Brasil de Fato, reproduzindo avaliação do reitor da Universidade Politécnica de Valencia (UPV), Javier Sanz "pela primeira vez na história, representantes de movimentos sociais, organizações não-governamentais, governos e especialistas acadêmicos reúnem-se em um encontro dessa amplitude para debater os desafios que envolvem as lutas por reforma agrária em todo o mundo".

Do ponto de vista político, o camponês reafirmava sua existência como sujeito de direito e, ao denunciar o modelo de monocultura voltado à exportação, tocava em questão sensível para veículos que não cansam de incensar as virtudes do latifúndio redimido: o agronegócio, que estaria alavancando indicadores macroeconômicos, seria, na verdade, expressão do atraso imposto pelos centros hegemônicos aos países periféricos.

Reiteramos, tal como já fizemos em outros artigos publicados em Carta Maior, que O Globo, O Estado de S.Paulo, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, entre outros, existem como isolamento acústico para demandas que venham a contrariar interesses secularmente consolidados.

Como conseqüências da perda de soberania nacional face às imposições dos organismos multilaterais de crédito, teríamos a privatização de recursos naturais, a degradação ambiental, a concentração de propriedades e a extinção da agricultura camponesa e familiar que privilegia o mercado interno.

De acordo com as organizações presentes em Valencia, o resgate soberano exigiria, ainda, que a alimentação e agricultura saíssem das discussões travadas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e fossem tratadas como direitos de todos. O documento final não deixa dúvidas de que estamos em meio a um processo contra-hegemônico de grande vulto.

A inter-relação entre os interesses campesinos e os demais setores da sociedade demonstra a superação corporativa que marca as fases embrionárias dos movimentos sociais. Vejamos um trecho publicado na edição de 9 de dezembro de 2004, de Carta Maior:

"Reafirmar o acesso à terra como direito de toda a humanidade e retirar as questões relativas à alimentação e à agricultura das discussões travadas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e dos acordos comerciais bi e multilaterais. Esta foi a principal resolução política definida na declaração final do 1º Fórum Mundial sobre a Reforma Agrária, que terminou nesta quarta-feira (8) em Valencia. Após quatro dias de intensa discussão, com a participação de representantes de organizações de mais de 70 países, a mais importante contribuição desse FMRA foi apontar para a unificação de uma agenda de mobilizações que coloque a luta pela reforma agrária como parte integrante da luta estrutural contra as políticas neoliberais que contribuem para aumentar a miséria dos trabalhadores, seja no campo ou na cidade, em todo o mundo".

A observação do representante dos camponeses da Catalunha, Xávi Caetán, era importante demais para não ser registrada nesse artigo escrito com uma perigosa dose de indignação:

"Os governantes e a elite européia devem mudar sua postura. Não adianta ficarmos aqui discutindo a soberania alimentar nos países menos desenvolvidos enquanto nossas grandes empresas continuam adquirindo gigantescos pedaços de terra no Sul apenas para transformá-los em pastos."

Mas não era esta uma das denúncias mais graves feitas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST)? A de que o processo de desnacionalização no campo era crescente? Imaginem que pauta isso não daria se o compromisso da imprensa brasileira fosse com uma sociedade efetivamente republicana?

E como ignorar o impacto internacional das declarações do delegado palestino, Jadeh Jamal, quando afirmava que camponeses da Palestina, Iraque e Afeganistão estão morrendo de fome por conta da política de força exercida por Estados Unidos e Israel? Como deixar de refletir sobre mais essa constatação feita pela mesma liderança?

"Atualmente, por falta de alternativas de produção dignas, os camponeses do Afeganistão são responsáveis pela produção de 80% da heroína que é vendida na Europa. Não podemos ter medo de, ao lutar pela reforma agrária, denunciarmos nossos verdadeiros inimigos".

Como pudemos ver nessa pequena viagem no tempo, a questão agrária é de enorme centralidade se pensamos em democracia, justiça social e Estado de Direito. E é aí que reside o pecado capital da nossa grande imprensa: a falta de compromisso com qualquer um dos três itens. Assim, quando publicou estudo da Unicef apontando a existência de 27 milhões de crianças vivendo abaixo da linha de pobreza e não faz qualquer menção à concentração fundiária, produz uma falsa representação da realidade. Um ocultamento ideológico imperdoável.

Impossível pensar em atuação política no interior da estrutura midiática visando à exploração de contradições e ocupação de espaço. Esse erro antigo foi abandonado nas principais intervenções do Fórum da Mídia Livre, realizado no Rio de Janeiro.

A importância de contar com veículos próprios para a luta ideológica tem levado várias organizações a repensar a questão de estabelecer uma ordem informativa horizontalizada, capaz de transpor suas demandas específicas e atingir um público amplo. A mobilização social requer inventividade nas formas de comunicação política. E, por certo, no interior da própria luta a práxis encontrará os melhores caminhos.

Em um momento como esse, será que o Globo se tornou o porta-voz de movimentos anti-sistêmicos? Será que ainda não aprenderam que quando a esmola é demais, o santo desconfia? Um mínimo de sensatez é necessário.

Em Brasília, há um governo, atravessado por contradições, que nunca se furtou ao diálogo. No Rio, um jornal que sempre apreciou o extermínio dos filhos da terra. É tão difícil discernir quem é o interlocutor mais confiável? O canto da sereia ainda é tão irresistível? É essa a nossa esquerda conseqüente e combativa?

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domingo, junho 22, 2008

TUCANOS E O JORNALISMO DE ESGOTO


Yeda Crusius e a corrupção na mídia

Um lobista do PSDB acusado de integrar a máfia do Detran diz, numa carta escrita à governadora Yeda Crusius, que vários colunistas da mídia comercial foram pagos com dinheiro do esquema ilícito. Há muito que a mídia comercial mantém relações corrompidas com o poder, como prova Bernardo Kucinski no imperdível livro "O jornalismo na era virtual – ensaios sobre o colapso da razão ética". A análise é de Altamiro Borges.

Na página 56 do documento, o Ministério Público é taxativo: "O grupo investia não apenas na imagem de seus integrantes, mas também na própria formação de uma opinião pública favorável aos seus interesses, ou seja, aos projetos que objetivavam desenvolver. A busca de proximidade com jornais estaduais, os aportes financeiros destinados a controlar jornais de interesse regional, freqüentes contratações de agências de publicidade e mesmo a formação de empresas destinadas à publicidade são comportamentos periféricos adotados pela quadrilha para enuviar a opinião pública, dificultar o controle social e lhes conferir aparente imagem de lisura e idoneidade".

Colunistas ou mercenários?
O documento não revela quais os jornais ou colunistas que prestaram o serviço sujo à máfia do Detran. Diante da gravidade da denúncia, o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande Sul enviou pedido à CPI que apura o caso para que sejam nominados os profissionais e veículos, "pois não é justo que toda a categoria seja colocada sob suspeição". Já os jornais estaduais – a rigor, existem apenas dois, Zero Hora e Correio do Povo – fingiram-se de mortos diante da grave revelação do MPF. Até agora, a imprensa gaúcha simplesmente nem citou o trecho do documento.

Além das referências feitas pelo Ministério Público ao braço midiático da máfia, outro indício do envolvimento de jornalistas aparece numa carta do empresário Lair Ferst à governadora Crusius. Nela, o lobista tucano diz ser vítima de campanha difamatória por parte de integrantes da máfia e cita o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, João Luiz Vargas, e José Antonio Fernandes. Segundo confessa, a quadrilha "conta com uma série de colunistas de vários jornais que tem remuneração paga por José Fernandes para plantar notícias". As investigações da Polícia Federal indicam que Ferst se envolveu numa briga interna no grupo pelo controle da rapina do Detran.

Colapso da ética no jornalismo
O lamentável, como afirma Marco Aurélio, é que a imprensa nada divulgue sobre essas relações promíscuas. "Apesar de todas essas informações, a mídia gaúcha decidiu silenciar sobre o tema. Acusados, de forma generalizada, de ter recebido verba publicitária de integrantes da quadrilha, os jornais do Estado não publicaram uma linha sequer sobre esse assunto espinhoso". O mesmo tem ocorrido na mídia nacional. Mas o ruidoso silêncio não é de se estranhar. Há muito que a mídia comercial mantém relações corrompidas com o poder, como prova Bernardo Kucinski no imperdível livro "O jornalismo na era virtual – ensaios sobre o colapso da razão ética".

Ele mostra que sempre existiu no Brasil uma imprensa "marrom", feita de matérias compradas e de deturpações grosseiras para favorecer grupos econômicos e políticos ou simplesmente para vender mais jornal. Cita Assis Chateaubriand, que ergueu seu império dos Diários Associados com base num jornalismo inescrupuloso. "A corrupção é uma prática sedutora na indústria de comunicação pelo fato de nela se combinar o poder de influenciar politicamente a opinião pública com o poder econômico. Nenhuma outra indústria tem essa característica. É uma prática também comum entre os jornalistas, por sua proximidade no jogo de influência dos poderosos".

A corrupção institucionalizada
Para ele, porém, a prática da corrupção adquiriu novos e sutis contornos na era do jornalismo on-line e do predomínio da ditadura financeira e da globalização neoliberal. Ela é mais patente no jornalismo econômico, "que estabeleceu relações promíscuas e venais com o capital financeiro. Analistas de bancos e corretores de valores conseguem ganhos extraordinários nas bolsas ou mesas de câmbio por intermédio da disseminação de notícias falsas ou falseadas... Com o colapso da Enron e de outras grandes empresas norte-americanas na primeira crise da economia virtual em 2002, descobriu-se que essas empresas faziam pagamentos volumosos a jornalistas de prestígio pela redação de discursos e relatórios, forma disfarçada de comprar seus favores".

A chaga da corrupção nos meios de comunicação e até entre os jornalistas, que nunca é abordada pela própria mídia, teria ganhado impulso com o neoliberalismo. "O projeto neoliberal implantou-se no país comprando votos no Congresso e vendendo grandes empresas públicas a consórcios formados por meio de acordos secretos que contaram com recursos dos bancos oficiais e de fundos de pensão, obtidos às vezes com apoio em suborno. O neoliberalismo consagrou a corrupção como padrão de negócios e da política. A própria ideologia neoliberal, fundada no individualismo exacerbado, em sua versão latino-americana, alimentou a corrupção".

Lembra que na campanha pela reeleição de FHC, "os barões da imprensa se reuniram com ele em Brasília e fecharam totalmente com sua candidatura. Assim, a corrupção nas empresas jornalísticas voltou à dimensão institucionalizada e compartilhada de um grande projeto de classe". Ele aponta ainda as práticas mais comuns de cooptação de jornalistas usadas por políticos e empresas. Uma delas é o merchandising – a propaganda camuflada em programas de entretenimento. "O exemplo mais notável e mais conhecido foi o da organização de uma falsa ONG, chamada Brasil-2000, pelo presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, para pagar jornalistas que pudessem fazer merchandising das privatizações e, por tabela, da candidatura de FHC". Como se observa, Yeda Crusius teve um renomado mestre de Sorbonne.

* Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e organizador do livro "Para entender e combater a Alca" (Editora Anita Garibaldi, 2002).

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15060&boletim_id=432&componente_id=7810

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quarta-feira, junho 18, 2008

Há uma avalanche de irregularidades em cerca de 150 contratos com estatais paulistas

Alstom
O governo tucano de São Paulo encomendou um trem da alegria às empresas Alstom, Bombardier (francesas) e CAF (espanhola). Elas integram o consórcio Cofesbra, encarregado pela estatal Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) de colocar em atividade no estado 12 novas composições, cada uma com quatro carros. O contrato com o consórcio, no valor total de 245 milhões, foi considerado irregular pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE) em outubro de 2007. Para fugir da necessidade de licitação, naquela época, a CPTM utilizou-se de um contrato antigo, de 1995, sobre o qual fez o aditivo no valor total da compra. 
O tribunal reprovou essa atitude, mas o governo paulista entrou com um recurso, continuou pagando o consórcio e entregou a primeira dessas composições em 3 de março deste ano. Embora Geraldo Alckmin tenha sido o responsável por grande parte de contratos polêmicos com a Alstom, nem pôde tirar proveito político desse evento. O atual governador, José Serra, levou no lançamento do primeiro trem o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, seu nome favorito para a reeleição na capital paulista. A festa não parou. Até o início deste mês, 85 milhões de reais foram enviados para engordar os cofres do consórcio, após o contrato ter sido considerado irregular. A CPTM disse não haver motivos para a suspensão. “Enquanto o recurso não for julgado pelo TCE, o contrato está em plena vigência e deve ser executado”, alegou a empresa, em nota. “E os pagamentos estão sendo feitos porque os trens estão sendo entregues”, acentuou. 
A decisão gera polêmica. “É uma afronta ao TCE”, entendeu o líder do PT na Assembléia Legislativa, deputado Roberto Felício. Em situações semelhantes a esta, o TCE normalmente dá um prazo de apenas 60 dias para o governo apurar as responsabilidades e eventuais prejuízos. Os contratos polêmicos da Alstom com estatais paulistas vieram à baila após o Wall Street Journal revelar que os ministérios públicos da França e da Suíça têm informações de que a empresa francesa pagou 6,8 milhões de dólares a políticos paulistas para favorecê-la. Segundo o Ministério Público Paulista, as irregularidades na compra dos 12 trens são bastante claras. O MP deve instaurar inquérito sobre o caso, o que pode gerar uma eventual ação de improbidade administrativa. 
O Tribunal de Contas informou que a CPTM terá de cortar na própria carne. Deverá instaurar um processo administrativo e apurar as responsabilidades e eventuais danos ao Erário público. “Será averiguado se o preço do trem era esse mesmo. Com a licitação, não seria possível conseguir um preço melhor?”, indaga Marcos Renato Bôttcher, chefe de gabinete da presidência do tribunal. 
O caso ainda pode ser apenas uma gota no oceano. Há uma avalanche de irregularidades em cerca de 150 contratos com estatais paulistas, entre elas a Companhia do Metropolitano (Metrô) e a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP). Vários contratos foram reeditados por mais de dez anos, quando a Lei de Licitações só permite cinco. O mesmo procedimento na compra dos 12 trens foi adotado em dois outros contratos com o Metrô, um deles vigorando por 16 anos (no valor aproximado de 500 milhões de reais) e outro por 13 anos (cerca de 450 milhões de reais). “Deixar um contrato estender-se por tanto tempo não é distração. É má-fé mesmo”, diz o deputado Felício. 
 

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segunda-feira, junho 16, 2008

Pinochet não matou sozinho


MANIPULAÇÃO DA MÍDIA

Os anos de chumbo na América Latina ainda guardam certos mistérios. É o caso, por exemplo, da chamada Operação Colombo, no Chile, que provocou a morte de 119 pessoas. Familiares destas vítimas da ditadura ingressaram na Justiça pedindo o enquadramento de meios de comunicação acusados de cumplicidade na referida operação.

A Justiça chilena agora está investigando a participação de editores e jornalistas que participaram da estratégia midiática destinada a dourar a pílula dos assassinatos dos opositores da ditadura do famigerado general Augusto Pinochet. Não será de se estranhar se a Justiça chegar a países como o Brasil e a Argentina. Na ocasião, lá pelo mês de julho de 1975, vários jornais chilenos aliados da ditadura - El Mercúrio, La Segunda e La Tercera - divulgavam a informação plantada pelos serviços secretos de Pinochet incriminando o Movimento de Esquerda Revolucionário (MIR) pelas mortes dos opositores.

Manchetes de primeira página diziam que "O MIR assassinou 60 de seus homens", "Executados por seus próprios companheiros" e assim sucessivamente. Para dar maior "credibilidade" à notícia, os jornais chilenos diziam que a revelação tinha sido divulgada em publicações brasileiros e argentinos. Ou seja, a inteligência pinochetista havia plantado a falsa notícia em publicações do exterior que, segundo informações, só tiveram um número. Não há dúvida que correu grana atrás do pano. Os familiares das vítimas da Operação Colombo consideram os meios de comunicação "encobridores dos assassinatos".

Mas quem imagina que em 2008 os tempos são outros, em alguns aspectos sim, mas em outros não, vale conhecer o que escreveu o jornalista estadunidense Jeremy Bigwood. Ele denunciou um escândalo na área jornalística: o de que o governo dos Estados Unidos financia secretamente meios informativos e jornalistas estrangeiros. Em mais de 70 países, a grana rola via Departamentos de Estado e de Defesa norte-americano, USAID (US Agency for International Development), Fundo Nacional para a Democracia, Conselho Superior de Radiodifusão etc.

A revista In These Times descobriu que os referidos programas mantêm centenas de organizações não governamentais estrangeiras, jornalistas, políticos, associações de jornalistas, meios de notícias, institutos de melhoramento de jornalistas e faculdades acadêmicas de jornalismo. E que a boca rica pode chegar a milhões de dólares.

Segundo ainda Jeremy Bigwood, o Centro para a Ajuda Internacional dos Meios de Comunicação (Center for International Media Asístanse, CIMA), uma repartição do Departamento de Estado financiada pelo Fundo Nacional para a Democracia distribuiu, via USAID, quase 53 milhões de dólares para os meios de comunicação estrangeiros.

Podem imaginar a USAID ensinando os jornalistas, como explicou o porta-voz do órgão, Paul Koscak, a contar uma história, como escrever balanceadamente e a mecânica do jornalismo, seja, impresso, televisivo ou radiofônico? Calculem, enfim, os órgãos do governo estadunidense ensinando jornalistas a serem "imparciais"?

Todas estas informações servem para se refletir sobre o tipo de jornalismo que vem sendo praticado atualmente em muitas publicações e meios eletrônicos da América Latina. Veja bem, sob a capa da imparcialidade, leitores, ouvintes e telespectadores estão sendo bombardeados midiaticamente com informações que não resistem a menor análise e objetivam apenas desestabilizar certos governos independentes e que não aceitam imposições do Departamento de Estado norte-americano.

Em suma, a manipulação informativa e o esquema de fabricação de notícias falsas, como aconteceu no Chile com a Operação Colombo, não terminaram com o fim das ditaduras. 

Mário Augusto Jakobskind

http://www.diretodaredacao.com/

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quinta-feira, junho 12, 2008

CPI DA GLOBO JÁ !!!


O Jornal Nacional enganou os seus telespectadores ontem dizendo que a repressão ocorreu para evitar a invasão de um supermercado pela Via Campesina.

O Jornal Nacional não falou nada sobre o esquema tucano no Detran e no Banrisul.
Temos que exigir uma CPI da Globo.
A Globo tem que explicar para o povo brasileiro porque ela abafa sistematicamente tudo que seja ruim para o PSDB/PFL.
O povo brasileiro precisa saber o que a Globo está levando desses partidos e desses governos... 



Como se fabrica a (des) informação


Como definir a linha editorial do jornal televisivo de maior audiência no país, o Jornal Nacional, da Rede Globo, que simplesmente sonega e deforma informações quase todos os dias? Na noite de 11 de junho, essa prática foi utilizada mais uma vez. Ao “noticiar” os conflitos de rua ocorridos em Porto Alegre, o JN “informou” que se tratou de uma invasão da Via Campesina a um supermercado para protestar contra a alta do preço dos alimentos. Isso e nada mais. Omitiu-se, entre outros, o pequeno detalhe de que se tratava de um protesto contra a corrupção no governo Yeda Crusius e que os policiais agiram para evitar que os manifestantes chegassem perto do Palácio Piratini.

Enquanto isso, ao cair da noite, no Palácio Piratini, uma imagem e uma frase ilustraram também qual é solo no qual trafega a “informação”. Soldados a cavalo da Brigada Militar vigiavam a entrada da sede do Executivo. Ao ver uma equipe de TV gravando um boletim ao vivo, um dos soldados aproximou-se e disse: “aproveitem, que a partir de amanhã não tem mais gravação ao vivo na frente do palácio”.

A foto nebulosa tirada de um celular no início da noite desta quarta, em frente ao Palácio Piratini reflete bem o clima político vivido hoje no Rio Grande do Sul. As fotos em frente ao palácio também estarão proibidas a partir de amanhã???





































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quarta-feira, junho 11, 2008

PRA INVENTAR UMA POLÍTICA DE REDEMOCRATIZAÇÃO PARA OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA


CONTRA TODOS OS DISCURSOS DE CHORORÔ: temos é de INVENTAR uma sociologia democrática da comunicação social democrática e uma POLÍTICA DE DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL, no Brasil.
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Concordo com quase tudo se lê abaixo, em "DEBATE ABERTO: "Brizola e a poética do desengano", do Prof. Gilson Caroni Filho

Concordo integralmente com "Enganam-se os que pensam que a UDN e as vivandeiras fazem parte do passado, como peças de um museu dos horrores. Atualmente, com novas vestes, cerram fileiras na grande imprensa, no PSDB e no DEM."
 
Dificilmente eu poderia concordar mais: tá perfeita, na minha opinião, esta avaliação. Acrescento que também são udenistas o PSOL e a parte do PT que não sabe ver que Lula é mais complexo do que o PT. As "vestais udenistas", suuuuuuuuuuper 'éticas', são hoje as vestais psolistas e petistas que, em matéria de discurso político progressista e libertário são... udenistas super 'éticas'!
 
O conversê dito 'ético' no Brasil-2008 (e que é só moralista, típico de classe média brasileira que teme, porque não as estuda nem as quer estudar, as disputas políticas; e que foge do poder -- quando deveria aprender a lutar democraticamente por um poder democrático de democratização) converte parte muito grande do PT em ONG.
 
Dado que organizações-não-governamentais e governos-governamentais são conceitos antípodas, mutuamente excludentes, o PT atrapalha-se quando tem de governar e, ao mesmo tempo, onguifica-se e dessossa-se, para a luta política. E tudo vira chororô e lamentação, ou vira auto-afirmação fundamentalista, à moda daquela Marina Silva, a Insuportável.
 
Assim como o PT enreda-se no DES-problema de não entender 'por que' o PT não é amado, assim também os udenistas sempre se enredaram no DES-problema de não entenderem 'por que' não são obedecidos. Ao "por que não nos amam?!" dos petistas-de-chororô, faz eco, à moda corvo, o "por que não nos obedecem?!" da tucanaria tucano-uspeano-pefelista.
 
Brizola sempre foi diferente destes dois extremos: jamais esperou ser amado por todos; e jamais aspirou a ser obedecido por todos. Nesta posição intermédia complexíssima, Brizola lutou todos os dias de sua vida. Brizola sempre soube que estava empenhado numa luta muito difícil. Brizola sempre soube que teria de lutar sem parar durante toda a vida e mais outra vida, se tivesse, lutaria.
 
NÃO CONCORDO, portanto, absolutamente não, com a idéia nostálgico-suicidária, de que o Brasil estaria preso em alguma poética do desengano e  que alguma história ainda estivesse à espera de ser parida. A história está andando -- não a história narrada de algum brizolismo ou de algum getulismo ou de algum petismo, mas a história profundíssima dos pobres, no Brasil. Lula é mais um movimento-monstro desta mesma história, não de 'outra história'.
 
Por isto, exatamente -- porque há uma história-monstro em andamento, enquanto os petistas supõem que o Brasil tenha sido fundado em 1980, depois de alguma impossível 'tabula rasa' 'ética' que o petismo operaria na história do Brasil --, nem os petistas sabem defender Lula, nem a USP-tucanaria-pefelista também udenista, por outro lado, consegue destruí-lo. Quanto a isto, afinal, até que demos sorte! LULA É MUITOS!
 
É indispensável entender, por baixo das historiografias merrecas, superficiais, circunstanciais, quase só ficção, uma espécie de palpitar constante da multidão dos pobres, no Brasil. Lula (não o PT) é uma espécie de manifestação-monstro dos pobres, no Brasil.
 
Mas Lula não é um passo 'evolutivo' da história de algum getulismo ou de algum brizolismo (e de janguismos, então, nem se fala!). Lula (não o PT) é uma potência da multidão, que, hoje, afinal, depois de 500 anos, encontra manifestação-expressão histórica no Brasil que começa a ser pós-colonial. É disto, afinal, que se trata. De defender Lula. Não, é claro, de defender algum PT ou de inventar alguma "sociologia do desengano".
 
SOU TOTALMENTE CONTRA toda a sociologia do desengano. A qual, afinal, nem é sociologia do desengano: é sociologia do engano, só, tout-court. Sociologia ainda presa nas historicidades circunstanciais, superficiais, de classe, de USP, de 'mídia' ou de ghetto branco (e dá praticamente na mesma), que se manifestam no ONGo-chororô dos petistas paulistas (e cariocas, sim, também, muito).
 
Concordo também, integralmente, com incluir a tal de "mídia" na falange golpista.
 
A 'mídia' é outra instituição que, no Brasil, como a universidade, sempre foi elitista. E, a partir dos movimentos lacerdistas, de antes de 54, a mídia tornou-se TOTALMENTE golpista, até o golpe. Quando, então, a partir de 1964, tornou-se totalmente fascista e fascistizante. E assim permanece, intacta, até hoje.
 
Sim, a tal de 'mídia' foi construída, no Brasil, desde 62, com a constituição da Rede Globo como hoje a conhecemos, foi feita para ser golpista, sempre foi e ainda é. 
 
Não se entende, portanto, que, no movimento para buscar o poder pelas vias democráticas, que o PT iniciou em 1980, ninguém jamais tenha cuidado de dar especial atenção ao problema 'mídia', e o PT só tenha, a oferecer, esta sociologia do desengano, do desencantamento, da paixão-zero, em matéria de paixão democratizatória. Perseu Abramo escrevia sobre isto, desde muito antes de o PT ser fundado.
 
Em 1982, Roberto Schwarz escreveu UM PROGRAMA para a luta contra a mídia, para o PT. Neste programa, disse, com todas as letras, que seria preciso INVENTAR -- e chamou atenção para a palavra "inventar" -- uma política democrática para os meios de comunicação de massa:
“A verdade é que a conquista de uma cultura democrática hoje não depende só de lutas econômicas e políticas, mas também da invenção – e a palavra invenção está aqui de propósito, para sublinhar a novidade do problema – da invenção de uma política democrática em relação aos meios de comunicação de massa. É certo que eles são inimigos do trabalhador, na medida em que servem o interesse do capital (...). Mas serão também um elemento de vida e um aliado indispensável, pois sem eles é impensável a democracia na escala presente. Portanto, é preciso lutar pelo acesso a eles, conhecê-los e estudá-los”. (SCHWARZ, Roberto. 1987. Política e Cultura (subsídios para uma plataforma do PT em 1982). Que horas são?. São Paulo: Companhia das Letras, pp. 83-85. ) 
Preso na pautação pelos DES-jornalões e na doença infantil da fiscalização obcecada de planilhas de gastos e despesas (em enorme medida PAUTADO, também o PT, pelos DES-jornalões e por seus vícios estruturais constituintes genéticos, pode-se dizer, de partido de classe média e paulista), tudo isto chamado de 'ética'... e preso, também, o PT em alguma espécie de "sociologia do chororô"... o PT esqueceu que teria de CONHECER E ESTUDAR A MIDIA BRASILEIRA, PRA INVENTAR UMA POLÍTICA DE REDEMOCRATIZAÇÃO PARA OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA. 
 
Isto, verdade seja dita, NINGUÉM fez, no Brasil, até hoje: nem os petistas, nem os comunistas. Todos, provavelmente, embalados por sociologias uspeanas pressupostas muuuuuuuuuuuuuuuuuito sociológicas, e por estudos 'de comunicação' uspeanos pressupostos 'sociologíssimos' e, de fato, embalados, só, sempre, pela arrogância pretensiosa e fátua (embora muito 'ética') das elites letradas brasileiras, comunistas e petistas supuseram que 'já sabiam' tudo o que seria preciso saber, sobre MCM, mídia, jornalismo, disputas sociais, luta política em tempos de comunicação de massa. Besteira. Autismo. Arrogância de elite metida a besta. Ninguém sabe fazer isto no Brasil-2008.
 
Não há qquer impasse "de desengano", no Brasil. Vivemos, só, ainda, presos na arapuca que tooooooooooooooooooooooooooda a elite letrada propôs a toooooooooooooooooooooooooooooooooda a elite letrada que, hoje, está organizada seja no PSDB, seja no PT, seja também, em boa parte, também no PCdoB. De diferente, que o PCdoB sabe que não sabe (e agarra-se ao passado) e o PT pensa que sabe... e entrega-se à nostalgia e ao chororô, com saudade de uma democracia que, no Brasil, jamais existiu. E que ainda terá de ser inventada.
 
Assim, eu acho, se homenageia Brizola: denunciando a Rede Globo, denunciando os DES-jornalões e, muito, denunciando o chororô e os "desenganos" dos 'inteligentes'. Brizola DETESTAVA os professô-dotô.
 
Só a luta ensina. No pasarán! LULA É MUITOS!

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DEBATE ABERTO

Brizola e a poética do desengano

Há quatro anos, nesse mesmo mês de junho, a política brasileira perdia uma de suas maiores figuras. A maior homenagem que se pode prestar à memória de Brizola é lutar com todas as forças contra os que só têm como objetivo impor o eterno retorno como sina da história brasileira.

Gilson Caroni Filho

Há quatro anos, nesse mesmo mês de junho, a política brasileira perdia uma de suas maiores figuras. O presidente nacional do PDT e ex-governador do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro morria, aos 82 anos, de complicações cardíacas decorrentes de uma infecção pulmonar. O corpo foi velado no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, e de lá transportado para São Borja, interior do Estado,onde foi sepultado. Terminava uma história de luta, mas reconhecer sua importância é obrigação de todos os que atuam no campo democrático-popular.

O cemitério Jardim da Paz, em São Borja, deve ser visitado com a reverência que se dedica a solos sagrados que abrigam combatentes. Nele, entre tantos de saudável memória, estão três lideranças e um verso. Três figuras emblemáticas de uma inflexão abortada. Uma história que, sempre que ousou ser promissora, foi assassinada pelas elites.

Entre lápides e jazigos, crepita estridente a desde sempre protelada alforria de um povo. Ali, onde estão enterrados Getúlio, Jango e Maria Tereza, Brizola e Neusa, não há finitude. No aparente silêncio dos mortos, uma história grita para ser parida. Onde se imagina ponto final, o devir se insinua como lembrança e proposta de ação. Não pede preces, exige práxis. Talvez, em poucos lugares, a morte se mostre tão provisória. Definitiva é a vida e permanentes os projetos que ela sempre conterá. Epifania libertária que vez por outra muda a geografia das ruas com um mar de gente e bandeiras.

Uma institucionalidade contida nos marcos de uma formação patrimonialista, que por muitos anos, fez do conceito de cidadania uma peça exótica a ser mencionada em situações solenes. Mas, no dia-a-dia da recorrente exclusão de direitos elementares, a inserção do elemento popular sempre foi algo a ser contido por conspiratas, golpes e transições por alto. Estado de direito, nesse cenário, era licença ficcional.

Getúlio foi deposto pelas velhas oligarquias que, em seu segundo mandato, o levariam ao suicídio. As mesmas que hoje se insurgem contra o governo Lula e as possibilidades de um país menos desigual, mais justo.

O velho caudilho, com seu projeto de inclusão do elemento popular no jogo político, aterrorizou as forças do atraso. A afirmação da soberania nacional ameaçou a constelação de interesses que ia do latifúndio à burguesia associada ao capital externo. Um estampido seco adiou por dez anos o golpe tramado por uma classe dominante desprovida de projeto nacional.

Jango e as propaladas reformas de base voltariam a mobilizar os setores mais progressistas do país. Nunca o sentimento republicano havia se mostrado tão visceral. A resposta foi imediata. O golpe militar declarou vago o cargo com o presidente ainda em solo brasileiro. Exilado no Uruguai, sua morte até hoje provoca controvérsias. Sobreveio um regime que, por vinte anos, matou e torturou em nome dos interesses do grande capital.

Vivíamos o momento mais grave da história brasileira. O aprofundamento das desigualdades e a demonização dos movimentos sociais mais organizados tornaram a democracia um sonho distante entre nós. O pacto intra-elites represava demandas seculares e consolidava , no imaginário popular, a política como vocação exclusiva de um bloco de poder predador de riquezas e direitos.

Brizola teve trajetória pródiga. Divergências ideológicas à parte, não há como negar que a história política brasileira se confunde com a de um homem que escreveu a história dos dois Estados mais politizados do país: Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Da Cadeia da Legalidade ao retorno do exílio, culminando com frustradas tentativas de chegar à presidência, nunca calou divergências para evitar confrontos. Um dos poucos político a enfrentar de fato o jogo pesado da grande imprensa, o maragato foi um exemplo ilustre de pragmatismo apaixonado. Morreu no ocaso do seu brilho político com uma legenda esvaziada.

Hoje, a 640 quilômetros de Porto Alegre, o cemitério Jardim da Paz guarda três túmulos de uma mesma história. Que pode ser contada tal como no verso de Manuel Bandeira: como sendo "a vida inteira que podia ter sido e que não foi". Triste república que pode ser resumida a uma poética do desengano. Até quando?

Será preciso lembrar três tragédias para não esquecer como ela são tecidas. Os atores do atraso são os mesmos. Enganam-se os que pensam que a UDN e as vivandeiras fazem parte do passado, como peças de um museu dos horrores. Atualmente, com novas vestes, cerram fileiras na grande imprensa, no PSDB e no DEM.

A maior homenagem que se pode prestar à memória de Brizola é lutar com todas as forças contra os que só têm como objetivo impor o eterno retorno como sina da história brasileira. Até quando?


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.

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sábado, junho 07, 2008

DISCURSO DO PRESIDENTE LULA NA FAO... Roma, 3/6/2008

"Para entender plenamente as verdadeiras razões da atual crise alimentar, é indispensável, portanto,  afastar a cortina de fumaça lançada por lobbies poderosos, que pretendem atribuir à produção de etanol a responsabilidade pela recente inflação do preço dos alimentos. Mais do que uma simplificação, trata-se de uma burla, que não resiste a uma discussão séria." (Presidente Lula, Discurso de Roma, 3/6/2008) 

Pronunciamento do Excelentíssimo senhor presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na reunião de Alto Nível da FAO sobre Segurança Alimentar, Mudanças Climáticas e Bioenergia. - Roma, Itália. 03 de junho de 2008

 

Minhas amigas e meus amigos,

Estamos aqui reunidos para debater soluções para o problema da segurança alimentar mundial.

A segurança alimentar sempre foi uma preocupação central do meu Governo. Em 2003, lancei um programa pioneiro, o Fome Zero, que permitiu que milhões de brasileiros, antes submetidos à condição de miseráveis, tenham passado a comer três refeições por dia.

Fiz do combate à fome e à pobreza uma prioridade da ação internacional do Brasil. Juntei-me a outros líderes de países ricos e pobres com o objetivo de encontrar fontes de recursos capazes de liberar uma grande parcela da humanidade dos flagelos da fome e da desnutrição.

Desenvolvi, com eles, formas criativas de fazer que recursos hoje utilizados na produção de armamentos ou na busca de lucros exorbitantes por meio da especulação financeira pudessem ser canalizados para o mais humanitário dos objetivos: dar de comer a quem tem fome.

Fizemos progressos. Conseguimos, por exemplo, criar um mecanismo para atender as necessidades de tratamento contra doenças endêmicas nos países mais pobres.

Mas o que fizemos é muito pouco em relação à enormidade da tarefa. Quero lembrar aos senhores que, todas as noites, mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo vão dormir com fome, o que é uma indignidade e um insulto à humanidade.

Apesar do amplo trabalho técnico e da vontade política de alguns líderes, resistências de todo tipo continuam a antepor-se a soluções inovadoras.

Reunimos na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, sessenta Chefes de Estado e altos representantes de mais de cem países, que aprovaram um documento que propunha medidas ao mesmo tempo viáveis e audaciosas.

Mas, findas as reuniões e apagadas as luzes, parece que as pessoas voltam-se para seus afazeres do dia-a-dia. E aí a fome é esquecida, para ser lembrada apenas quando ocorre uma explosão como a das últimas semanas.

 Não nos enganemos: não haverá solução estrutural para a questão da fome no mundo enquanto não formos capazes de direcionar recursos para a produção de alimentos nos países pobres. E, simultaneamente, eliminar as práticas comerciais desleais que caracterizam o comércio agrícola.

O problema da fome agravou-se nos últimos tempos com a forte elevação dos preços dos alimentos. Em alguns países, multidões, desesperadas com a falta de comida, saíram às ruas, para protestar e exigir providências das autoridades.

Estamos diante de um problema grave e delicado. E, para enfrentá-lo, temos de compreender suas verdadeiras causas.

Tomemos um exemplo especialmente dramático, o do Haiti. Este país – o mais pobre do continente americano – chegou a ser um dos maiores produtores de arroz da região caribenha. Entretanto, políticas macro-econômicas impostas de fora que privilegiavam exclusivamente o aspecto monetário, somadas à disponibilidade de alimentos altamente subsidiados em outros países, levaram ao abandono do plantio do arroz no Haiti, com as trágicas conseqüências que conhecemos.

Para entender plenamente as verdadeiras razões da atual crise alimentar, é indispensável, portanto,  afastar a cortina de fumaça lançada por lobbies poderosos, que pretendem atribuir à produção de etanol a responsabilidade pela recente inflação do preço dos alimentos.

Mais do que uma simplificação, trata-se de uma burla, que não resiste a uma discussão séria.

A verdade é que a inflação do preço dos alimentos não tem uma única explicação. Resulta de uma combinação de fatores: a alta do petróleo, que afeta os custos dos fertilizantes e dos fretes; as mudanças cambiais e a especulação nos mercados financeiros; as quedas nos estoques mundiais; o aumento do consumo de alimentos em países em desenvolvimento, como China, Índia, Brasil e tantos outros; e, sobretudo, a manutenção das absurdas políticas protecionistas na agricultura dos países ricos.

Talvez a maior novidade – muito bem-vinda, diga-se de passagem – seja o fato de que mais pessoas estão comendo. Os pobres na China, na Índia, na África, na América Latina e no Caribe, inclusive no Brasil, estão comendo mais. E isso é muito bom.

O fato é que multidões de novos consumidores estão se incorporando aos mercados. Grandes países antes considerados pobres estão se desenvolvendo a taxas vigorosas e, com isso, melhorando a vida de seus povos. Esse fenômeno, de enorme importância, veio para ficar.

Outro fator essencial na alta do preço dos alimentos é a disparada dos preços do petróleo. É curioso: muitas pessoas falam da alta dos preços dos alimentos, mas ficam mudas na hora de analisar o impacto da alta do preço do petróleo nos custos de produção dos alimentos. É como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra. E qualquer pessoa bem-informada sabe que não é bem assim.

Vamos aos números. No Brasil, em cada grão de feijão, de arroz, de milho, de soja, ou em cada litro de leite, o petróleo é responsável por 30% do custo final.

E olhem que estou falando do Brasil, onde o petróleo representa apenas 37% da nossa matriz energética. No meu país, mais de 46% da energia vem de fontes renováveis, como a cana de açúcar e as usinas hidrelétricas.

Mas, mesmo assim, o petróleo pesa muito no custo das lavouras brasileiras. Aí, eu me pergunto: e quanto não pesa o petróleo no custo de produção de alimentos de outros países que dele dependem muito mais do que nós? Ainda mais quando se sabe que, nos últimos anos, o preço do barril saltou de 30 para mais de 130 dólares.

É necessário tomar providências. Por isso mesmo, na semana passada,  os chefes de governo da América Central, em reunião com o Brasil, decidiram pedir às Nações Unidas a convocação urgente de uma Conferência Internacional para discutir o assunto.

 

Minhas amigas e meus amigos,

Outro fator decisivo para a alta dos alimentos é o intolerável protecionismo com que os países ricos cercam a sua agricultura, atrofiando e desorganizando a produção em outros países, especialmente os mais pobres. A chamada crise mundial de alimentos é, acima de tudo, uma crise de distribuição.

 

É preciso produzir mais e distribuir melhor. O Brasil, como potência agrícola, está empenhado em aumentar sua produção.

Mas de que adiantará produzir, se os subsídios e o protecionismo tolhem o acesso aos mercados, mutilam a renda e inviabilizam a atividade agrícola sustentável?

Alguns países especialmente bem dotados de recursos e que desenvolveram tecnologias avançadas até podem, por meios de ganhos extraordinários de produtividade, vencer as injustificadas barreiras e distorções criadas pelas economias mais ricas do mundo.

Mas que dizer das economias mais pobres, que lutam para manter uma agricultura de subsistência em meio a dificuldades de financiamento, irrigação, insumos, como é o caso de muitas economias africanas?

Os subsídios criam dependência, desmantelam estruturas produtivas inteiras, geram fome e pobreza onde poderia haver prosperidade. Já passou da hora de eliminá-los.

A superação dos entraves atuais requer uma conclusão bem-sucedida, o quanto antes, da Rodada de Doha da OMC. Um acordo que deixe de tratar o comércio agrícola como uma exceção às regras. Que permita aos países mais pobres gerar renda com sua produção e exportação.

A verdadeira segurança alimentar tem que ser global e baseada na cooperação.

É o que o Brasil tem procurado fazer com seus parceiros do mundo em desenvolvimento, sobretudo com a África, a América Central e o Caribe. A expansão desse tipo de iniciativa pode se beneficiar enormemente com a elaboração de novas parcerias, que permitam a cooperação triangular.

 

Minhas amigas e meus amigos,

O Brasil tem insistido no enorme potencial dos biocombustíveis. Eles são decisivos no combate ao aquecimento global. E podem jogar um papel importantíssimo no desenvolvimento econômico e social dos países mais pobres. Os biocombustíveis geram renda e empregos, sobretudo no campo, ao mesmo tempo que produzem energia limpa e renovável.

É, portanto, com espanto que vejo tentativas de criar uma relação de causa e efeito entre os biocombustíveis e o aumento dos preços dos alimentos.

É curioso: são poucos os que mencionam o impacto negativo do aumento dos preços do petróleo sobre os custos de produção e transporte dos alimentos.

Esse comportamento não é neutro nem desinteressado. Vejo com indignação que muitos dos dedos apontados contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e de carvão. Vejo com desolação que muitos dos que responsabilizam o etanol – inclusive o etanol da cana-de-açúcar – pelo alto preço dos alimentos são os mesmos que há décadas mantêm políticas protecionistas, em prejuízo dos agricultores dos países mais pobres e dos consumidores de todo o mundo.

Os biocombustíveis não são o vilão que ameaça a segurança alimentar das nações mais pobres. Ao contrário, desde que desenvolvidos de forma criteriosa, de acordo com a realidade de cada país, podem ser um instrumento importante para gerar renda e retirar países da insegurança alimentar e energética. O Brasil é um exemplo disso.

A produção brasileira de etanol à base de cana-de-açúcar ocupa uma parte muito pequena de terras agricultáveis e não reduz a área de produção de alimentos.

E para que não se alegue que estou usando estatísticas apenas brasileiras, cito aqui alguns dados do relatório de 2007 do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos sobre a produção de etanol no Brasil. O Brasil tem 340 milhões de hectares de terras agrícolas: 200 milhões são de pastagens e 63 milhões de lavouras, dos quais apenas 7 milhões de hectares de cana.  Metade é usada na produção de açúcar. A outra metade, em torno de 3,6 milhões de hectares, é destinada à produção de etanol. 

Ou seja, toda a cana do Brasil está em 2% da sua área agrícola, e todo o seu etanol é produzido em apenas 1% dessa mesma área.

Alguns críticos dizem que a produção de etanol está levando a cana a invadir áreas de lavouras. Essas críticas não têm qualquer fundamento. 

Desde 1970, quando lançamos nosso programa de etanol, a produção do etanol de cana por hectare mais do que dobrou.

 Por outro lado, de 1990 para cá, nossa produção de grãos cresceu 142%. Já a área plantada expandiu-se no mesmo período apenas 24%. Ou seja, no fundamental, nossa produção de grãos cresceu graças a um espetacular aumento de produtividade.

Assim, não se sustenta a afirmação de que o crescimento da produção de etanol no Brasil se faz às expensas da produção de alimentos.

A produção de etanol e a produção de alimentos são filhas da mesma revolução, que, nas últimas décadas, vem transformando o campo brasileiro, graças ao engenho de nossos pesquisadores e ao espírito empreendedor dos agricultores brasileiros. Revolução que fez do Brasil uma referência mundial em tecnologia de agricultura tropical.

Há críticos ainda que apelam para um argumento sem pé nem cabeça: os canaviais no Brasil estariam invadindo a Amazônia. Quem fala uma bobagem dessas não conhece o Brasil.

A Região Norte, onde fica quase toda a Floresta Amazônica, tem apenas 21 mil hectares de cana, o equivalente a 0,3% da área total dos canaviais do Brasil.

Ou seja, 99,7% da cana está a pelo menos 2 mil quilômetros da Floresta Amazônica. Isto é, a distância entre nossos canaviais e a Amazônia é a mesma que existe entre o Vaticano e o Kremlin.

Além disso, ainda há no Brasil 77 milhões de hectares de terras agrícolas – fora da Amazônia, bem entendido –, que ainda não estão sendo utilizados. Isso equivale a pouco menos que os territórios da França e da Alemanha, juntos. E ainda temos 40 milhões de hectares de pastagens subutilizadas e degradadas, que podem ser recuperadas e destinadas à produção de alimentos e cana. 

Em suma, o etanol de cana no Brasil não agride a Amazônia, não tira terra da produção de alimentos, nem diminui a oferta de comida na mesa dos brasileiros e dos povos do mundo.

 

Minhas amigas e meus amigos,

Não sou favorável a que se produza etanol a partir de alimentos, como no caso do milho e outros. Não acredito que alguém vá querer encher o tanque do seu carro com combustível, se para isso tiver de ficar de estômago vazio.

Por outro lado, é evidente que o etanol do milho só consegue competir com o etanol de cana quando é anabolizado por subsídios e protegido por barreiras tarifárias.

O etanol da cana gera 8,3 vezes mais energia renovável do que a energia fóssil empregada na sua produção. Já o etanol do milho gera apenas uma vez e meia a energia que consome.

É por isso que há quem diga que o etanol é como o colesterol. Há o bom etanol e o mau etanol. O bom etanol ajuda a despoluir o planeta e é competitivo. O mau etanol depende das gorduras dos subsídios.

O etanol brasileiro é competitivo porque temos tecnologia, temos terras férteis, temos sol em abundância, temos água, e temos agricultores competentes. E isso não é privilégio nosso. Boa parte dos países da África, da América Latina e do Caribe, além de alguns países asiáticos, reúne condições semelhantes. E, com cooperação, transferência de tecnologia e mercados abertos, pode também produzir etanol de cana ou biodiesel com sucesso, gerando emprego, renda e progresso para suas populações.

Ou seja, a “revolução dourada”, que combina terra, sol, trabalho e tecnologia de ponta, pode ocorrer também em outros países em desenvolvimento. As savanas africanas, por exemplo, são muito parecidas com o Cerrado brasileiro, onde se registram altíssimos índices de produtividade.

 

Minhas amigas e meus amigos,

Está na hora de os analistas políticos e econômicos avaliarem corretamente a capacidade de contribuição dos países em desenvolvimento na questão de alimentos, energia e mudanças climáticas.

Cerca de 100 países têm vocação natural para produzir biocombustíveis de forma sustentável. Esses países terão de fazer seus estudos e decidir se podem ou não  produzir biocombustíveis, e em que extensão. Precisarão definir as plantas mais adequadas e escolher projetos em função de critérios econômicos, sociais e ambientais.

São decisões importantes. Que devem ser tomadas por eles próprios. E não por outros países ou por entidades que muitas vezes ecoam – até mesmo de boa-fé – os interesses da indústria petroleira ou dos setores agrícolas habituados aos subsídios e ao protecionismo.

O mundo precisa decidir também como lidar com a gravíssima ameaça que representa o aquecimento global. Uma ameaça que requer uma resposta firme e coesa de toda a humanidade. Em Quioto, o mundo reagiu de forma madura e responsável. Infelizmente, alguns países recusaram-se a assumir compromissos e metas de redução de emissão de dióxido de carbono.

Apesar de tudo, Quioto foi um marco. A humanidade tomou consciência de que era necessária uma ação forte e organizada para salvar o planeta. Infelizmente, é mais fácil emitir alertas do que mudar hábitos de consumo e acabar com desperdícios.  É mais fácil pôr a culpa nos outros do que fazer as mudanças necessárias, que ferem interesses estabelecidos.

Assim, parece que, nos últimos tempos, as vozes dos que clamam por uma redução nas emissões de dióxido de carbono estão ficando mais fracas.

É lamentável. Não podemos ser irresponsáveis com o futuro dos nossos filhos e netos, com o futuro do planeta. O mundo não pode continuar queimando combustíveis fósseis ao ritmo atual. 

No Brasil, fizemos uma pesquisa comparando as emissões de CO2 de um carro movido a etanol com outro movido a gasolina – usamos o mesmo modelo, o mesmo motor, a mesma estrada, a mesma velocidade. O carro movido a gasolina emite 250 gramas de CO2 por quilômetro, uma emissão oito vezes e meia superior à do veículo a etanol. Na comparação do diesel com o biodiesel, constatamos que o caminhão movido com combustível fóssil emitiu 5,3 vezes mais dióxido de carbono do que aquele movido a biodiesel.

Além disso, as plantas utilizadas na produção de biocombustíveis, durante a sua fase de crescimento, são também responsáveis pelo seqüestro de grande quantidade de dióxido de carbono. O etanol não é apenas um combustível limpo. É também um combustível que limpa o planeta enquanto está sendo produzido.

Por tudo isso, é necessário um debate sério e equilibrado sobre os biocombustíveis e o aquecimento global. Nesse sentido, estou convidando autoridades, cientistas e representantes da sociedade civil de todos os países para a Conferência Internacional de Biocombustíveis, no próximo mês de novembro, em São Paulo.

 

Meus amigos e minhas amigas,

Baratear a energia e os fertilizantes e acabar com os subsídios intoleráveis da agricultura nos países ricos – estes são nossos maiores desafios hoje.

Nesses últimos 30 anos, houve uma verdadeira revolução silenciosa na agricultura de muitos países, sobretudo nos trópicos. Esta revolução pode beneficiar a todos, ricos e pobres, sem distinção. Pode também trazer ferramentas, soluções e alternativas para atender à demanda crescente de centenas de milhões de pessoas.

A expansão da agricultura de países em desenvolvimento, como o Brasil, muda a dimensão dos problemas. Mudam as rotas e as estratégias para solucioná-los.

A visão de segurança que prevalece no mundo de hoje está centrada no controle e na garantia do território, da oferta de alimentos e da oferta de energia.

Os subsídios à produção agrícola e as barreiras comerciais, que tanto têm retardado o crescimento da agricultura dos países mais pobres, são também conseqüências dessa visão.

É preciso reconhecer que, se a agricultura dos países em desenvolvimento tivesse sido estimulada por um mercado livre, talvez não estivéssemos vivendo essa crise de alimentos.

Precisamos reformular visões, reciclar idéias. Devemos trabalhar com noções de interdependência e colaboração. Estou convencido de que podemos criar um conceito novo de segurança para um mundo em que não só a energia, mas também as ideologias sejam renováveis.

A globalização, que se instalou de maneira tão ampla na indústria, precisa chegar à agricultura. 

Devemos, como sugeriu o nosso Diretor-Geral Jacques Diouf, encarar este momento, não como uma crise, mas como uma oportunidade. Uma oportunidade para estimular a agricultura em todos os países, em particular na África.

Sempre me considerei um otimista. Confio na capacidade da humanidade de aprender com novos desafios e  criar novas soluções. Foi assim no passado. E estou convencido de que será assim agora.  Basta que não façamos um diagnóstico equivocado do problema. Basta que não enveredemos por caminhos errados.

A solução não está em se proteger ou em tentar frear a demanda. A solução está em aumentar a oferta de alimentos, abrir mercados e eliminar subsídios de modo a atender à demanda crescente. E para isso é necessário uma mudança radical nas formas de pensar e atuar.

 

Muito obrigado.