terça-feira, maio 16, 2006

Tudo sob controle?



Diante da onda de violência que atingiu SP, o governador Cláudio Lembo (PFL), diz que está tudo sob controle e recusa ajuda federal. Segundo ele, o governo sabia da possibilidade dos ataques e tomou as providências necessárias. Quais providências? Policiais denunciam que não foram alertados.

Marco Aurélio Weissheimer

Entre as muitas questões que devem ser respondidas acerca das ações do Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo e em outros estados, há uma que vem intrigando profissionais da área de segurança. O governo do Estado diz que tinha informações sobre a possibilidade do ataque, dias antes dele acontecer. E garante que tomou as providências necessárias. Quais providências? Entidades de servidores da área de segurança pública denunciam que os policiais que atuam nas ruas não estavam preparados para o ataque. E tudo indica que não estavam a mesmo, a julgar pela quantidade de policiais pegos de surpresa pela ação dos criminosos. Como isso foi possível se já haviam sido tomadas as providências necessárias? Quer dizer então que a rede de comunicação do PCC, a partir do comando de algumas chamadas de celular no interior de presídios, foi mais eficaz do que o sistema de comunicação e informação do Estado que já saberia dos planos de ataque?

Nas primeiras horas que se seguiram ao impacto dos ataques do PCC, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), recusou ajuda do governo federal e garantiu que a situação estava sob controle no Estado. Como os fatos se encarregaram de mostrar, não há nada sob controle em São Paulo, desde a noite de sexta-feira quando iniciaram os ataques contra agentes da polícia e de outros órgãos de segurança pública, incluindo o Corpo de Bombeiros. De lá para cá, a situação só piorou. No início da noite de domingo, o PCC diversificou seus alvos de ataque, incendiando ônibus e atacando agências bancárias. Na manhã de segunda, várias empresas de ônibus tiraram seus carros de circulação, deixando milhões de pessoas sem transporte. Os habituais congestionamentos nas ruas da capital paulista se agravaram ainda mais. O governador de SP disse à Folha de São Paulo que já sabia dos ataques há 20 dias. Policiais que atuam nas ruas, porém, protestaram que não foram avisados.

“A SITUAÇÃO SE INVERTEU”

A presidente da Associação dos Funcionários da Polícia Civil do Estado de São Paulo, Lucy Lima Santos, disse exatamente o oposto do que falou o governador: “A polícia está sem o controle da situação. Estamos agora com medo dos bandidos. A situação se inverteu”. O presidente do Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de SP, Cícero Sarnei dos Santos, disse, por sua vez, que pedirá ao Ministério Público Estadual, uma investigação rigorosa dos conflitos e rebeliões, e avaliou que o governo tem responsabilidade pelo caos que se instalou no sistema prisional. Outra entidade da área da segurança, a Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar de SP, pediu a demissão dos secretários de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, e de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. Segundo a associação, os dois sabiam da possibilidade dos ataques do PCC e não alertaram a tropa.

Em entrevista coletiva concedida na tarde de sábado, Lembo afirmou que sabia desde a noite de quinta-feira que os criminosos ligados ao PCC planejavam ataques e várias medidas foram tomadas, o que teria evitado um número maior de mortos. A julgar pelo pronunciamento das entidades citadas acima, entre essas medidas não esteve o alerta à maioria dos agentes de segurança que atuam nas ruas. Em entrevista ao blog de Ricardo Noblat, Walter Fanganiello Maierovitch, ex-secretário nacional anti-drogas (do governo FHC), criticou a atuação da Secretaria de Segurança Pública de SP:

“Evidentemente que errou. E errou com uma responsabilidade muito grande. Se havia a previsão, muitos dos policiais que morreram não tinham o mínimo conhecimento disso. Foram apanhados desprevenidos. Os distritos policiais não foram reforçados. O Estado guardou a informação e expôs seus agentes ao risco. E muitos morreram pela imprevidência do Estado”.

“O CONTROLE É TOTAL”

Maierovitch também criticou a atitude do governador Lembo que recusou ajuda federal para enfrentar a onda de ataques: “Isso mostra como é o sistema de segurança. E como falta uma comunicação e uma coordenação. O Estado, diante da gravidade desta situação, evidentemente que não está capacitado. E qualquer ajuda é fundamental e deveria ser bem aceita. Estamos com 60 mortes, São Paulo virou uma Bagdá. Isso mostra um problema político: o governo federal é PT, o estadual é PFL. O do Rio é PMDB. O Estado acha uma diminuição aceitar qualquer ajuda do governo federal. Passa a ter um interesse eleitoreiro que contraria o interesse público”. Em Nova York, o ex-presidente FHC, disse a jornalistas que os ataques em São Paulo mostram o fracasso dos serviços de informação no Brasil. “Caímos na real. É um mundo com modificações de técnicas do crime, que criaram mobilidade no crime organizado, com meios modernos de comunicação”.

O governador Lembo discorda dessas avaliações vindas de aliados de seu governo. As declarações que deu desde o início do ataque deixam isso claro: “Não somos desvairados. Tínhamos informações (...) A polícia está muito bem preparada e equipada. O controle é total. Não temos a menor preocupação com o futuro”. Segundo o blog do jornalista Ricardo Noblat, a Secretaria de Segurança Pública desconfia que muitos presos que cumprem pena em regime semi-aberto participara dos ataques durante o fim de semana. Dez mil deles foram autorizados a dormir em suas casas para celebrar o Dia das Mães. Se o governo do Estado tinha conhecido da ação iminente do PCC, por que não minimizou esse risco? Considerando que “tinha informações”, quais foram mesmo as providências que tomou para colocar a tropa policial em estado de alerta? Baseado em que informação, o governador disse que a situação estava sob controle?

“O DIA MAIS TRANQÜILO”

No final da tarde desta segunda, o comandante da Polícia Militar de SP, coronel Eliseu Éclair, fez eco às palavras do governador, dizendo que a situação está sob controle e que hoje (segunda) foi “o dia mais tranqüilo” de todos os dias de tumulto em São Paulo. “Os ataques foram centralizados em imóveis e não nas pessoas”, justificou. O coronel Éclair também criticou o sensacionalismo de alguns veículos de comunicação que estariam criando pânico junto à população, garantindo não haver motivo para fechamento de lojas, shoppings, escolas e universidades. Além disso, rejeitou a ajuda oferecida pelo governo federal, argumentando que a polícia paulista é modelo para o Brasil e pode dar conta sozinha do problema. As declarações do governador e do comandante da PM estão na contra-mão tanto do que dizem as entidades de servidores da área da segurança, quanto de declarações de algumas lideranças tucanas que culparam o governo federal pela crise.

O senador Álvaro Dias (PSDB/PR), falando no plenário do Congresso, atribuiu à “incompetência e ao descaso do governo federal” os distúrbios e ataques em São Paulo. A deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) criticou a redução de recursos para a área de segurança pública (que teriam caído 11% em 2005%). No entanto, as principais autoridades da segurança pública e o governador garantem que a polícia do Estado está bem equipada, é modelo para o país, que a situação está sob controle, que não há motivo para pânico e tampouco para ajuda de forças de segurança do governo federal. Se é assim, não há motivos para queixas e a população de São Paulo pode ir dormir tranqüila. Como diz o governador Cláudio Lembo, “o controle é o total” e não há motivos para preocupações quanto ao futuro. Como disse Garrincha, certa vez, logo após ouvir a preleção de seu técnico: “e o adversário, já combinaram com ele isso?”

Marco Aurélio Weissheimer é jornalista da Agência Carta Maior

(correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)
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Governo negociou fim das rebeliões com Marcola
A Secretaria da Administração Penitenciária nega o acordo, confirmado ao Estado por duas fontes do governo

Rita Magalhães e Marcelo Godoy

SÃO PAULO - O Primeiro Comando da Capital (PCC) determinou o fim das rebeliões nos presídios do Estado e a suspensão dos atentados a quartéis, delegacias policiais, fóruns, agências bancárias e estações do metrô. A ordem foi dada após uma longa conversa entre o líder da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, três representantes do governo - um coronel da PM, um delegado e um corregedor - e uma advogada. A Secretaria da Administração Penitenciária nega o acordo, confirmado ao Estado por duas fontes do governo.
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Não tem jeito, quem não negocia com o povo, acaba negociando com bandido... am
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