quinta-feira, maio 18, 2006
CHUTANDO O PAU DA BARRACA
"A burguesia é cínica e perversa",
diz Lembo
Quinta, 18 de maio de 2006, 07h32
Eliana Rodrigues/Divulgação
"Nossa burguesia devia é ficar quietinha e pensar muito no que ela fez para esse País"
O governador Claudio Lembo, de 71 anos, viveu desde a noite da sexta-feira, 12 de maio, sob brutal pressão. Nesses dias em que o crime organizado atacou o Estado, o governador de São Paulo viu-se abandonado. Não pelas suas polícias, amigos ou familiares. Viu-se abandonado exatamente por aqueles que seriam os mais interessados - e dependentes - do seu êxito político: o ex-governador e candidato do PSDB à presidência da república Geraldo Alckmin e o candidato a governador e ex-prefeito da cidade nestes dias atacada, José Serra.
Seis dias depois do início das ações do PCC, do ataque - e contra-ataque -de violência, fúria, ressentimentos profundos e mais de 145 mortos, o pensador de direito Cláudio Lembo, homem de extraordinário senso de humor e sagacidade política, teve tempo para refletir. Abriu seu coração, e a cabeça, numa entrevista contundente e histórica à colunista Mônica Bergamo da Folha de S. Paulo. A seguir, alguns dos principais trechos:
SOBRE A ELITE BRASILEIRA
"O Brasil é um país que só conheceu derrotas. Derrotas sociais... Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa"
"Em suas lindas casas dizem que vão sair às ruas fazendo protesto. Vão fazer protesto nada! Vão é para o melhor restaurante cinco estrelas com outras figuras da política nacional fazer o bom jantar".
"Nossa burguesia devia é ficar quietinha e pensar muito no que ela fez para esse País".
"A Casa-grande tinha tudo e a Senzala não tinha nada. Então é um drama. É um País que quando os escravos foram libertados, quem recebeu indenização foi o Senhor e não os libertos, como nos EUA. Então, é um País único. (...) O cinismo nacional mata o Brasil. Esse País tem que deixar de ser cínico. Vou falar a verdade, doa a a quem doer, destrua a quem destruir, por que acho que só a verdade vai construir este País".
SOBRE A REAÇÂO DA ELITE PAULISTANA
"O que eu vi em entrevistas da Folha de S. Paulo foram dondocas dizendo coisinhas lindas. Todos são bonzinhos publicamente. E depois exploram a sociedade, seus serviçais, exploram todos os serviços públicos. Querem estar sempre nos palácios dos governos porque querem ter benesses do governo. Isso não vai ter aqui nesses oito meses".
SOBRE A ELITE BRASILEIRA
"A bolsa da burguesia terá de ser aberta, para sustentar a miséria, no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações".
"Se nós não mudarmos a mentalidade brasileira, o cerne da minoria branca brasileira, não iremos a lugar algum".
SOBRE FHC TER CRITICADO SUPOSTO ACORDO DO GOVERNO COM O PCC
"Eu acho que o presidente Fernando Henrique poderia ficar silencioso. Ele deveria me conhecer e conhecer o governo de São Paulo. (...) Quanto ao presidente Fernando Henrique, pode ser que ele tenha precedentes sobre acordos. Eu não tenho".
SOBRE A SOLIDARIEDADE DE ALCKMIN
Cláudio Lembo:- Deu dois telefonemas...
Folha de S. Paulo:- O senhor achou pouco?
Lembo:- Eu acho normal. Os impulsos telefônicos são caros...
SOBRE JOSÉ SERRA
Lembo:- Não telefonou.
SOBRE TELEFONEMAS DE FHC
Lembo:- Não, não (telefonou). Ele estava em Nova Iorque.
SOBRE LULA
Lembo:- O presidente Lula telefonou, foi muito elegante comigo. Conversei muito com o presidente. Ele me deu muito apoio.
Terra Magazine
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