A TERCEIRA QUEBRA
HENRIQUE FONTANA
Algumas pessoas acham que os brasileiros não têm memória. Por isso, partindo dessa premissa falsa, costumam abusar, revelando assim seu desprezo pelo povo e por sua memória. Refiro-me a artigo publicado neste espaço na última quinta-feira, de autoria do ex-líder do PSDB na Câmara dos Deputados Alberto Goldman, que omite o fato de que os tucanos governaram este país por oito longos anos. Foi quando bateram muitos recordes -um deles, a quebra da economia brasileira por duas vezes. Não bastasse isso, agora querem uma terceira chance para quebrar o país definitivamente.
Qualquer comparação baseada em números revela que a situação está melhor hoje do que ao final da era tucana.
Com efeito, sob FHC, a economia brasileira foi à lona na primeira quinzena de 1999. Para assegurar sua reeleição, o presidente bancara de forma irresponsável o populismo cambial queimando de forma leviana as reservas do país ao tentar manter entre o dólar e o real uma espécie de paridade totalmente artificial e insustentável.Foi depois das eleições e do esgotamento das reservas que promoveu uma desvalorização vazada do real e recorreu ao FMI, dívida esta que acabou de ser paga pelo governo Lula, em sua estratégia de superar o legado negativo do governo anterior. Vale lembrar que o então presidente do Banco Central, Chico Lopes, foi condenado em primeira instância a dez anos de prisão por suas estrepolias cambiais.O estranho é que o ex-líder do PSDB proclama ter o seu partido dois candidatos fortes para propor um novo modelo de país, mas omite até o nome de seu líder-mor, Fernando Henrique Cardoso. Quem sabe os tucanos o indiquem novamente para disputar a Presidência, acabando com suas brigas internas e dando a oportunidade ao povo brasileiro de fazer as comparações.Foi em 2002 que Fernando Henrique Cardoso quebrou de novo o Brasil. No segundo semestre daquele ano, a economia, que já vinha medíocre, desandou. A cotação do dólar se aproximou dos R$ 4, o risco-país chegou a assombrosos 2.400 pontos, a inflação ameaçou sair do controle e as linhas internacionais de crédito praticamente deixaram de existir. Tendo levado o país mais uma vez à falência, FHC precisou recorrer novamente ao FMI, do qual, felizmente, já não dependemos mais.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o país, portanto, em uma situação pré-falimentar. Ao longo de três anos, com apoio da sociedade brasileira, o governo atual reverteu o quadro e retomou o crescimento da economia com redistribuição de renda.As conquistas são inúmeras: ante um déficit da balança comercial de US$ 8 bilhões acumulado no governo anterior, em três anos, o atual governo acumulou superávit de mais de US$ 100 bilhões.E mais: a média mensal de novos empregos formais no governo Lula é de 104 mil, ante a pífia média de 8.000 no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso; a inflação, de 5,5%, é criticada pelos tucanos, mas a projetada ao final de 2002 era de cerca de 20%; o salário mínimo, com o novo aumento, é o maior dos últimos 25 anos; mais de 80% dos acordos salariais de 2005 superaram a inflação, aumentando a participação dos assalariados na renda nacional; o Bolsa-Família, o maior programa de distribuição de renda da história do país, beneficia hoje mais de 8,7 milhões de famílias, sem clientelismo e com contrapartida para assegurar a educação das novas gerações.O povo vai julgar esses e outros números positivos conquistados desde 2003.São no mínimo surpreendentes e hilárias as críticas à redução de preços, como o do cimento, que teria caído pela retração do consumo dos construtores "formiguinhas", expressão preconceituosa contra a gente humilde. Ora, o atual governo, em 2005, propiciou a construção de 625 mil casas populares, ante 300 mil em 2002.As críticas são sectárias, como as relativas à auto-suficiência do petróleo, a ser anunciada em março. Essa é uma vitória do país, graças à eficiência dos funcionários da Petrobras, que puderam contar com todo o apoio do atual governo, ao contrário do de FHC, que encomendava plataformas de petróleo ao exterior e agia para enfraquecer a estatal, retalhá-la e, quem sabe, privatizá-la.É um evidente exagero afirmar que o governo Lula nada tem a ver com auto-suficiência em petróleo. Sob seu governo, o valor da empresa no mercado de ações saltou de R$ 60 bilhões para R$ 204 bilhões. Problemas negociais com três grandes plataformas foram resolvidos, pavimentando o caminho para a auto-suficiência.No debate sobre a ética, cabe lembrar que o PT condena qualquer um de seus membros que cometeram ou venham a cometer falcatruas.Nem por isso o partido precisa se render a avaliações hipócritas feitas por muitos que navegaram no pântano da corrupção e que agora tentam se passar por vestais. Nem as camadas mais pobres nem as camadas médias da população parecem dispostas a se deixar enganar por quem, na ausência de projeto nacional, se dedica tão-somente ao jogo do poder pelo poder.É evidente que qualquer comparação baseada em números revela que a situação está melhor hoje do que em janeiro de 2003, quando terminou a era tucana. Decorrem daí certos destemperos, o recurso à mentira pura e simples ou o discurso moralista.Começamos a colher os frutos de uma política séria, voltada para os interesses nacionais, e caberá à população brasileira, nas eleições, decidir se prosseguimos nesse caminho de mudanças positivas ou se voltaremos a um passado sombrio.
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