sexta-feira, fevereiro 10, 2006

10/02/2006 - no blog do WR

Crime na ‘Isto É’

José Dirceu passeou em Ipanema na motocicleta do escritor Fernando Moraes e, deliciado com o vento na cara, no dia seguinte encomendou em São Paulo uma supermáquina Harley-Davidson, modelo V-Road, lançado em 2005, semelhante ao cavalo de aço montado por Peter Fonda em Sem Destino, no final dos anos 60. Uma jóia de R$ 90 mil. Fechado o negócio, embarcou para aplaudir o companheiro Chávez em Caracas, não sem antes parar em Brasília e pedir a Lula a cabeça de Henrique Meirelles.
Tudo isso saiu na Isto É desta semana, ilustrado com dezenas de detalhes e — sensacional, convenhamos — uma foto do ex-ministro de Lula, recém-cassado sob suspeita de corrupção, arrasando à beira-mar na motoca do amigo.
O sentido é claro. Dirceu está cheio da grana porque de fato chefiava o esquema do mensalão e, como é natural, tirou o dele. De mais a mais é um bon vivant desmiolado, um adolescente mal resolvido, daí seu encantamento com Chávez e sua ojeriza à racionalidade do doutor Meirelles.
E, no entanto, era tudo mentira... Mentira completa, da primeira à última novidade.
Dirceu não encomendou a Harley-Davidson, nem outra marca qualquer. Não esteve na concessionária contemplando modelos e consultando preços. Não tomou emprestada a de Moraes. Nem sabe andar de moto. A foto, a “prova”, era apenas uma farsa, um engodo, uma fotomontagem. A cabeça de Dirceu no corpo de outrem, aliás bem mais magro do que ele.


Há desonestidades mais sutis na matéria, mais “profissionais”, digamos assim. Como a desta passagem: “Quando levado ao Conselho de Ética da Câmara, jurou que não tinha dinheiro sequer para pagar pensão à ex-mulher Ângela Saragosa – por isso Marcos Valério lhe arrumou um empréstimo de R$ 42 mil no Rural.”
Puxe pela memória: o ex-ministro nunca disse que não tinha dinheiro para pagar a pensão da ex-mulher. Disse que não teve condições de ajudá-la a comprar um novo apartamento. Puxe pela atenção: Marcos Valério “lhe” arrumou um empréstimo no Rural a quem? Possivelmente você sabe que foi a Sagaroza —certamente porque lhe pediram ou porque achou que era um bom investimento ajudar a ex-mulher do ministrão. Mas o interessante aí é a ambigüidade da frase. Quem chegou agora fica pensando que o Rural emprestou a Dirceu. Terá sido sem querer?
Impossível debitar tanta mentira somente à “irresponsabilidade” do repórter que assina a matéria, Hugo Studart, como fez Bárbara Gancia, da Folha, que acolheu a patranha como verdade (de boa fé, admitamos), mas em seguida saiu de fininho, com um magro “pedido de desculpas”.
Se acaso ela tivesse engolido a lorota de que herr Bornhausen fora visto dançando rumba na embaixada da Venezuela, com “aquela raça” de revolucionários, teria ficado no nenhenhém escusatório? Ou teria descido o cacete nos tratantes?
Isto É tem editores que lêem e frequentemente reescrevem as matérias. Tem “controles”. Ninguém perguntou ao repórter como soube da história toda? Ou quem fez a foto (publicada sem assinatura!)? Na melhor das hipóteses, confeitada pela mais generosidade, está claro que Isto É estava tão ansiosa para faturar com a demolição definitiva de Dirceu que violou seus próprios limites já muito flexíveis, muito negociáveis, muito pouco éticos. E quebrou a cara.
Isto É cometeu um crime contra a lei, contra a ética do jornalismo (que não é o eu-te-coço-e-tu-me-coças que muitos praticam em todas as profissões), contra a decência na política, contra a comunidade dos leitores e — o que é mais espantoso — contra si mesma. Pois essa de fotomontagem... só vendo para crer. Veja, que é mais esperta, deve estar adorando.

http://walter.rodrigues.zip.net/

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BARBARA GANCIA PEDE DESCULPAS AO EX DEPUTADO DIRCEU

Bom exemplo a ser seguido por muitos outros jornalistas.

ErreiDevo desculpas a José Dirceu. Na semana passada, reproduzi neste espaço uma informação -assinada por um colega com quem já trabalhei e que julgava ser um jornalista responsável-, dizendo que o ex-deputado teria comprado uma moto Harley-Davidson V-Rod, no valor de R$ 90 mil. Dirceu não comprou a Harley e não sabe dirigir motos.

E-mail - barbara@uol.com.brwww.uol.com.br/barbaragancia/

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Não é o caso de desculpa, e sim de denunciar um crime.

A Isto É não se "enganou", a revista, se é que aquilo pode ser chamado de revista, produziu e publicou uma matéria falsa, utilizando uma fotomontagem de Dirceu em cima de uma moto. Deve ter sido alugada mais uma vez para fazer a sabotagem da democracia brasileira. Não é caso de desculpas. Foi um crime premeditado, de aluguel, coisa de pistoleiro.
A "revista" tem que ser denunciada e punida, liberdade de imprensa, não é liberdade para cometer crimes e fazer a sabotagem da democracia brasileira, o futuro do Brasil como nação civilizada, democrática e soberana, não é possível com esse tipo de gente controlando os meios de comunicação.

Adauto

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