segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Sobre VINICIUS TORRES FREIRE, “Bolsa-Família, o Real de Lula?”, 26/2/2006, na Folha de S.Paulo, p.2, na edição impressa, e na Internet, em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2702200604.htm
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Vinicius Torres Freire é jabuti no toco
Há quem diga que a imprensa é necessária à democracia, até mesmo quando não seja imprensa democrática. O argumento é forçado, sim, é praticamente um argumento de desespero, sim, mas, sim, pode haver aí alguma verdade.
Por exemplo: no Brasil do presidente Lula, a imprensa brasileira sempre foi antigovernista, desde o momento em que os votos foram dados por apurados e soube-se que o presidente Lula estava eleito.
É novidade, isso, no Brasil, porque nunca houve imprensa antigovernista, no Brasil, em 500 anos; não, com certeza, durante mais que alguns meses. Quando houve alguma imprensa antigovernista, no Brasil, imediatamente depois houve um golpe e, em seguida, outra vez, a imprensa, sossegadamente (mas, bastante, cô rabinho entre as pernas), voltou a ser governista. E assim ficou, por décadas. Até que o presidente Lula foi eleito, e pronto: toda a empresa-empresa, no Brasil, entrou em surto de antigovernismo obsessivo.
O jabuti tá no toco
É quando se vê que, sim, a imprensa brasileira, a partir de 2002, e, agora, totalmente antigovernista, tem dado a mó bandeira de que é jabuti e tá no toco; se jabuti não sobe em toco, mas está lá, empoleirado no toco... é sinal de que alguém o pôs lá.
E assim, exatamente por tantos estarem vendo que (1) a imprensa-empresa brasileira é, hoje, jabuti no toco; e (2) que o toco está balançando furiosamente, agitado por bem-vindos ventos democráticos, pode-se dizer que, sim, até a imprensa antidemocrática que está ativa no Brasil-2006 está sendo útil à democracia no Brasil. E, isso, apesar de, todos os dias, a Folha de S.Paulo espinafrar completamente o MEU VOTO DEMOCRÁTICO.
Bom... pode-se dizer que essa imprensa antidemocrática que se vê em ação no Brasil é ‘útil’ à democracia, mas, no máximo, como febre. A febre só é ‘útil’ se for decifrada e imediatamente depois, debelada. Se a deixarmos livre, leve e soltinha, entregue aos seus critérios de febre, a febre depaupera o corpo e pode até matar; e a imprensa antidemocrática depaupera muito mais rapidamente o corpo social e também mata qualquer democracia.
Decifrar o jornalismo de colunagem de propaganda antidemocrática
Por isso – porque é importante decifrar a imprensa totalmente antigovernista que está ativa, hoje, no Brasil –, a análise detida do que escrevem, por exemplo, os principais jornalistas-colunistas da Folha de S.Paulo, virou uma mina a ser explorada com pinça, atentamente, para desentocarmos os detalhes, literalmente, ‘substantivos’, do que pensam esses colunistas de jornalismo de colunagem antidemocrática que assinam, hoje, o jornalismo antidemocrático que se faz no Brasil.
Do jornalismo de colunagem
A colunagem jornalística existe para que se disseminem para toda a sociedade, opiniões que, à parte serem opiniões completamente pessoais, aparecem como ‘avalizadas’ pelo fato de a pessoa personalizadíssima que as assina ser dita ‘um jornalista’.
A colunagem nos é vendida como algum tipo jamais bem explicado de ‘opinião especializada’. Em quê essa colunistas de colunagem seriam ‘especialistas’, nunca se sabe nem ninguém explica.
Seja especializada seja totalmente idée-faite, não há dúvida que a opinião de colunistas de colunagem é sempre opinião suuuuuuuuuuuuuuper pessoal, de um sujeito que é gente como a gente (e muitas vezes é gente muito pior do que a gente!). Se não for avalizada por ‘jornalista’, a mesma opinião que é pura idéia pessoal e, portanto, é sempre idéia-feita, aparecerá ‘avalizada’, então, pelo fato de aparecer publicada em jornal. Nesse caso, virá ‘avalizada’ por zilhões de outras idéias-feitas sobre o que seja a tal imprensa.
O problema é que a tal imprensa, no mundo da imprensa-empresa, é um negócio tão complicado, mas tããããão complicado, que até já houve gente (‘jornalistas’, é claro! [risos]) que se viu obrigada a ‘explicar’ que até quando a imprensa é ruim... ela é boa.
Da ‘objetividade’ e da dita ‘fidelidade ao fato’
A objetividade não é traço típico do jornalismo de colunagem. De fato, bem examinadas as coisas, não se entende, sequer, de onde alguém poderia ter tirado a idéia fraquíssima de que alguma coisa construída na e pela linguagem poderia ser ‘objetiva’.
Nada que dependa da linguagem é ‘objetivo’; tudo, na linguagem é subjetivo e muda conforme mude a ‘voz que fala’ ou, claro, conforme mude a ‘voz que escreva’. Tudo na linguagem depende do interesse de quem fala.
Contudo – e sabe-se lá por que tanta gente ainda crê nesse conversê fiado de haver alguma ‘objetividade’ em algum jornalismo –, o caso é que muita gente ainda engole esse conversê fiadíssimo, sem questioná-lo.
De minha parte, nem perderei tempo com questionar essa idéia-fraca e já digo logo (e assino): é total besteira alguém acreditar em alguma objetividade em alguma opinião publicada. Se não houver nenhum interesse em disputa, nenhum ser humano dá-se ao trabalho, sequer, de abrir a boca; imagine se alguém se dará ao trabalho de escrever colunagens assinadas, com os riscos brabíssimos que todas as falas sociais-públicas necessariamente implicam (e implicam sempre).
Se é verdade que há interesse e desejo até nos infográficos e nos quadrinhos, no horóscopo e na cotação do dólar búlgaro... muito mais verdade é, é claro, que há interesse e desejo no jornalismo de colunagem, em que a opinião pessoal de alguém é TÃO pessoal que aparece, até, assinada, com nome, endereço e CPF. Quer dizer: a opinião publicada no jornalismo de colunagem é opinião TOTALMENTE PESSOAL, na qual nem as maiúsculas ou as vírgulas são ‘objetivas’.
Pode-se dizer, com a máxima objetividade possível, que toda e qualquer opinião publicada é pura manifestação do desejo e do interesse de quem a escreva e publique. Isso continua a ser argumento perfeitamente válido, mesmo que alguém ainda creia na mentira segundo a qual algum jornal algum dia ouviu “os dois lados”.
Os eventos do mundo têm infinitos lados. Ouvir dois lados, num oceano de opiniões divergentes, pode ser exatamente ouvir dois lados... do mesmo lado, que diferem, por exemplo, apenas nos advérbios, mas concordam completamente nos verbos e nos substantivos+adjetivos – que são o que conta, mesmo, em matéria de objetividades.
Costumo dizer, didaticamente – e meus alunos logo entendem tudo –, que, para EU ter certeza de que alguma Folha de S.Paulo ouviu, mesmo, dois lados argumentalmente divergentes meeeeeeeeeeeesmo, eu teria de LER, na Folha de S.Paulo, pelo menos uma linha, que fosse, uma única, que fosse, da qual eu pudesse dizer: “Taí. Esse é o MEU lado.”
Dado que isso jamais aconteceu, nos últimos quase 4 anos, nos hectares de matéria publicada que eu leio na Folha de S.Paulo, todos os dias, tá provado: por mais que a Folha de S.Paulo minta que ouve ‘os dois lados’, não tenho dúvida alguma de que o MEU lado jamais foi ouvido.
O ponto fraco do meu argumento
Esse negócio de eu ensinar aos meus alunos que “a Folha de S.Paulo pratica jornalismo de desdemocratização do Brasil, ‘porque’ nunca ouve o MEU lado” é o ponto fraco do meu argumento. OK. Eu sei que é.
Afinal de contas, é perfeitamente racional e razoável pressupor que eu-euzinho, não tenha NENHUMA importância. É perfeitamente racional e razoável pressupor que eu-euzinho não valho nada, que sou um zero à esquerda, verdadeiro nada, absoluto nada, abaixo de nada, perfeito e acabado zé-ninguém ou maria-nada.
Isso é totalmente verdade e é facilmente demonstrável à moda da lógica de desdemocratização da Folha de S.Paulo: se eu-euzinho fosse alguma coisa-que-preste, é claro que a Folha de S.Paulo me consultaria, é claro, pra saber o que eu penso; se a Folha de S.Paulo não ME consulta... está ‘provado’: eu-euzinho sou na-da.
O ponto forte do meu argumento
Nada é assim ‘objetivo’, em nenhuma colunagem; nem na minha colunagem, aqui.
Porque a verdade verdadeira é que eu-euzinho sou, nada, sim, se eu for pessoalmente considerada, digamos, censitariamente. Mas eu-euzinha passarei imediatamente a ser muitos, zilhões, passarei a ser legião (“Lula é muitos!”), se eu-euzinha for considerada, não censitariamente, mas democraticamente; não como pessoa física, mas como ELEITOR.
Bom... modéstia à parte: a partir da eleição do presidente Lula, eu passei a ser o eleitor que elegeu o presidente da República do Brasil!
Fiquei, portanto, suuuuuuuuuuuuuuuper importante, importantíssima, a mais importante pessoa da República, rainha-musa de todas as baterias, mais necessária, na discussão social, hoje, no Brasil, do que alguma entidade que tivesse a boca da Luciana Piovani, os olhos da Irene Papas, a voz da Vanessa Redgrave e os miolos e a paixão de Darcy Ribeiro e por aí vai, só itens importantes recolhidos de gente importantíssima (embora nem todos por razões igualmente importantes, do ponto de vista da democracia).
Tudo que eu escreva aqui será sempre pouco para criar uma figura que equivalha à importância do ELEITOR que tenha eleito o presidente da República em eleições democráticas, legais e perfeitas, cuja opinião a Folha de S.Paulo teria de ouvir, se fizesse jornalismo democrático. Mas a Folha de S.Paulo jamais ME ouviu.
Só hoje, na p. 2 da Folha de S.Paulo
(1) Vinícius Torres Freire chama de “caraminguás sociais” os programas socias do governo Lula (em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2702200604.htm).
Se se consideram os caraminguás que Vinícius Torres Freire recebe pra escrever isso, considerados os riscos a que se expõe, o coitado, bem se pode dizer que problema maior, no Brasil, hoje, são, isso sim, os “caraminguás privados” que ele receba para desdemocratizar tão ativamente a discussão social, no Brasil.
À parte o substantivo “caraminguás” ter sido safadamente escolhido (e muito subjetivamente escolhido, é claro! [risos])... que imprensa-empresa, afinal, pagaria muito pela vergonha histórica à qual se expõe todo o jornalismo que acolhe, sem espinafrá-lo, esse tipo de colunagem barata?! (Pensem nisso!)
(2) Por falar em “barato”, no sentido de “reles”, de “vagabundésimo”, Fernando Rodrigues – e na mesma Folha de S.Paulo, denuncia “só populismo barato para garantir a reeleição”, nos mesmos programas sociais que, 10cm acima, noutro capítulo da mesma colunagem safada, foram chamados de “caraminguás sociais” (em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2702200605.htm).
É mais um jabuti no toco!
É mais um jabuti no toco, porque Fernando Rodrigues não está criticando os populismos dos Serras-Alckmins-Bornhausen-ACM-Agripinos-FHC... esses, sim, populismos EXTRA baratos (no plano OBJETIVO e no sentido de “reles”, “muito reles”) mas suuuuuuuuuuuuuuuuuper carésimos (no plano bem OBJETIVO do caixa-2 da tucanaria, OBJETIVAMENTE omitido na colunagem de Fernando Rodrigues). E, pra piorar os mesmos populismos tucanos safadíssimos não garantem NENHUMA eleição [risos, muitos].
Objetividade-zero, no que tenha a ver com democracia e com o MEU VOTO DEMOCRÁTICO, portanto, nas duas colunas de colunagem dessa 2ª feira de carnaval, no Brasil, em 2006.
A luta por buscar objetividade cada dia maior e democracia cada dia melhor: só isso faz imprensa realmente necessária
É onde se vê que, no Brasil, as coisas vão aos poucos ficando claras para muuuuuuuuuuuuuuuuuitos brasileiros.
Até quem nunca viu nada – como eu-euzinha-nós-aqui, que vivo dos programas sociais do governo Lula – já posso ver facilmente, muita coisa.
E, brincando, brincando, estamos já fazemos cá a nossa colunagenzinha de democratização [risos muitos]. Viva a Internet! Lula é muitos!
A hora, portanto, é de sacudir o toco
Nenhum jornalista dessa suja colunagem que a Folha de S.Paulo insiste em oferecer aos seus leitores passará incólume por esses anos de suas vidas profissionais, durante os quais malharam todos os dias, incansavelmente, a democracia brasileira, os votos democráticos de 62 milhões de brasileiros e o MEU VOTO DEMOCRÁTICO.
Que malharam, malharam e continuam a malhar. Pouca diferença faz que o tenham feito sabendo o que fizeram e fazem, ou que o façam sem nada ver, sem nada saber, sem entender nada, como jabuti zonzo que é posto em cima do toco e, lá posto, fica condenado a ter de equilibrar-se, pra não cair, por exemplo, no desemprego... É hora, portanto, tá na cara, de sacudir o toco.
[assina] Caia Fittipaldi (dos Lingüistas Brasileiros para a Democracia/ Universidade Nômade / Campanha “Nenhum Brasileiro sem Resposta-na-ponta-da-língua, pra Responder à Folha de S.Paulo / Tricoteiras Unidas / Mães do Planalto / Gaviões da Fiel / Vai-Vai / Mangueira) [para vários destinatários, campanhistas e outros]____________________________________________

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