BLOG DO WR
Amigos do Beatrice, estamos lincados também no Blog do WR, que vocês já conhecem da nossa lista. Mais uma conexão importante nessa nossa luta por um Brasil soberano, justo e democrático. O Blog do WR também está lincado no Blog do Beatrice, peço aos outros blogs amigos que façam o mesmo. Obrigado Walter. Obrigado Fernando Soares que enviou o texto para lista do Beatrice. am
----- Original Message -----
From: Walter Rodrigues
Sent: Saturday, February 04, 2006 1:32 PM
Subject: Blogue do WR às 12h de 4/3/06
Blogue do WR
04/02/2006
Um paraense na Daslu
Copiei o texto abaixo do saite Beatrice, que a partir de hoje entra no rol dos endereços lincados neste blogue (veja ao lado). Um paraense duro, mas sabendo o que é bom, no paraíso onde grãos-burgueses rasgam dinheiro confraternizando com ACM, Geraldo (Opus Dei) Alckmin e outros patriotas.
Como também sou paraense e provavelmente muito mais “durango” que o autor, senti aquela imensa solidariedade patonotucupiniquim que gente da selva nunca esquece. Parafraseando o dito famoso de Bertold Brecht, concluí que assaltar a Daslu seria um crime bem menor que tê-la fundado para atender ao consumismo imoral de uma elite insensível e rapace.
Não se diga que é radicalismo. Esse “modelo Daslu”, rejeitado até mesmo em muitos países ricos, tem tudo a ver com crise social, mortalidade infantil, fome, guerras, poluição planetária e esgotamento dos recursos naturais. Explica porque países pobres como Cuba e Costa Rica (para ficar apenas no Caribe) tem IDH bem melhor que o do Brasil. Leia.
Um durango na Daslu (Denis Cavalcante)
Sempre tive vontade de conhecer essa tal de Daslu. Já que estava em São Paulo, por que não ir? Ainda mais depois que me disseram que lá não existe nenhuma peça que custe menos de três dígitos, resolvi dar uma de São Tomé e ver para crer. A entrada já foi um problema. O segurança perguntou pelo meu carro – ou motorista. Quem já foi sabe muito bem: na Daslu - acreditem – não se entra a pé, somente motorizado. Fingi que não era comigo e entrei. Fui recepcionado por uma loira escultural com sorriso de anúncio de dentifrício, uma sósia escrita e escarrada da Anna Hickman – com direito a 1m30 de pernas, chapinha no cabelo, olho azul e muito mais.
"Where are you from?".
"Belém do Pará".
"I beg your pardon!"
Tava na cara que eu não era paulistano. Mas daí a me confundir com gringo, já é demais. Eu lá tenho cara de estrangeiro! Como um cão sabujo, onde eu ia, ela ia atrás. Dos milhares de itens que admirei boquiaberto, um em particular me encantou. Uma bolsa tiracolo Prada pra lá de maneira que imaginei que coubesse no meu orçamento. Ressabiado, indaguei o preço.
"Nove, apenas nove. E o senhor pode dividir em três vezes no cartão".
"Nove o quê?"
"Nove mil..."
"Égua!"
A pequena ficou tão assustada com minha reação que cheguei a pensar que fosse chamar os seguranças. Mas não. Acho que ela sacou que daquele mato não sairia cachorro, no máximo um carrapato. Fechou a cara, deu meia-volta e sumiu. Já que estava na chuva, resolvi me molhar. Entrei num salão onde só tinha Armani. Como já estava enturmado, perguntei o preço de um "vestidinho" de festa. Adivinhem? 100.000 pilas. Tu és doido! Uma estola de zibelina? 60.000. Fico imaginando quantos bichinhos foram sacrificados para esquentar o lombo de uma madame. Um blaser Ermenegildo Zegna (isso lá é nome de grife?), 13.000. Um óculos Gucci, 4.500. Uma cuequinha básica do Valentino, 260. Com direito a ouvir essa pérola do vendedor:
"Leve logo meia dúzia, tá na promoção!". Imaginem quanto ela custava antes. Na adega climatizada não foi diferente. Um Romaneé-Conti, safra 2000 – aquele do Lula – estava por módicos 8.000 reais. Uma garrafa de Johnnie Walker Blue, envelhecida 80 anos – uma das raras existentes no planeta, 55.000.
Fiz as contas e verifiquei que no final saí no lucro. "Charlei", vi gente famosa, coisas bonitas, tomei mineral Badoit, capuccino, Prosecco, champanhe Taittinger, fartei-me de canapés, fois gras, blinis com caviar (não era Beluga). Sou duro, mas sei o que é bom. Até confit de canard tracei. De quebra, profiteroles e apetitosos bombons trufados. As horas passaram voando. Minha acompanhante finalmente apareceu e perguntou:
"Vamos almoçar?"
"Almoço? Estou almoçado e jantado!"
Depois de conhecer quase tudo descobri que a Daslu é uma espécie de zoológico sem grades. Só que os bichos somos nós. Eu e você.
Acabado, me esparramei num confortável sofá. Enquanto esperava o resto da turma chegar, abri um livro e relaxei. Mal virei a segunda página, dois novos ricos falando alto, com mais sacolas do que mãos, sentaram ao meu lado esnobando:
"Amanhã vamos para o nosso haras em Catanduva. O réveillon será no Guarujá".
Me deu uma raiva...
Peguei meu celular e resolvi mentir um pouco:
"Fulano, não encontrei nenhum 'Summer' para o réveillon. Abastece o jatinho. Partimos amanhã cedo para Paris. Essa Daslu tá um lixo!"
A cara que os dois fizeram não tem preço.
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