sábado, janeiro 14, 2006
MAYNNARDI, O XANTAJISTA (I)
De como um pylantra afacalha uma edittora
A.D.
Veja recebeu em 2005 mais 12.118 cartas do que no ano anterior. Isto está constatado na primeira edição do ano (nº 1938, pág. 27). Mas o aumento de 2004 sobre 2003 foi de 14.824 cartas. Curva descendente, isso é grave: Veja está começando a cansar os assinantes. Logo começará a cansar os anunciantes.
Significa que no ano mais intenso, mais agitado, mais dramático da vida política brasileira nas últimas décadas, o pujante semanário teve menos respostas do seu público. E isso com a economia em ascensão e a equipe econômica do governo executando fielmente tudo o que a direção de Veja recomenda.
Significa também que o extremo recurso de publicar palhaçadas e vilanias "padrão Diogo Mainardi" já não está surtindo o efeito desejado. O Prêmio Nacional de Jornalismo Marrom tem um preço. O rebotalho que sai em suas colunas acaba maculando o resto. Inevitável.
Desmascarado, sem conseguir responder ao que foi escrito neste Observatório sobre os verdadeiros motivos do seu mais recente delírio macartista, Mainardi agora pretende imputar a este Observador coisas que outros escreveram sobre ele.
O narcisismo enfermo produz estas alucinações e desvios. O leitor pode comparar o que aqui foi dito e a maneira calhorda como o escriba contratado para enxovalhar o jornalismo brasileiro o traduziu e respondeu. ["O macartismo mainardiano em ação"; "Acabou a lista negra da Veja!"; "Além de macartismo, chantagem"]
Um psiquiatra resolveria o problema de Mainardi com apenas uma consulta. O ídolo de Mainardi, o americano Gore Vidal, preferiu outra saída. Está mais calmo, feliz da vida. Conviria imitá-lo nisso também.
Valor de face
Quando recebeu a primeira resposta à sua coleção de infâmias, Mainardi tentou uma aproximação via e-mail. Na base do "meu caro" e outros salamaleques. Imaginava que com este tipo de civilidade poderia disfarçar sua abjeta postura pública.
O delator estava atacado, queria nomes de jornalistas a serviço da Opus Dei para denunciá-los. A resposta também foi bem educada. Esta é a íntegra:
"Caro Diogo, desculpe, não faço pixações [sic] pessoais nem delações. Tenho escrito extensamente sobre a penetração da Opus Dei &Universidade de Navarra na imprensa ibero-americana. De cima para baixo – começa nas instituições corporativas (tipo SIP), ANJ e vai até os quadros médios nas redações. No meu artigo não denunciei a presença de pessoas da Opus Dei na Veja e na Abril. Conheço algumas mas não faço este tipo de acusação. O meu approach é institucional, político. A Opus Dei é uma ordem religiosa e como tal não me preocupa. Mas enquanto projeto de poder – através da imprensa e das grandes empresas – me preocupa muitíssimo.
O imperador da língua portuguesa, êmulo do Padre Vieira, estilista ímpar & paradigma moral da literatura brasileira, serviu-se de um e-mail apressado para tentar enxovalhar aquele que revelou o que há por trás da sua patriótica campanha contra os jornalistas brasileiros. Com ch ou x, Diogo Mainardi é o Matt Drudge da mídia brasileira. Matt Drudge é a escória da mídia ianque.
Só lhe resta um caminho: pedir desculpas à diretoria da Editora Abril por desonrar semanalmente uma instituição jornalística que conseguiu sobreviver porque, no passado, apostou na dignidade e na decência.
Chantagistas e mafiosos caracterizam-se por invadir a vida privada e a correspondência pessoal para fins escusos. Não têm escrúpulos. Apenas fúrias. E para atendê-las enveredou pela baixaria. Mainardi, porém, não revelou na coluna a íntegra do seu último e-mail sobre o jornalista Pimenta Neves:
"Na minha opinião, se é que vale alguma coisa, o Pimenta deveria estar preso."
Tem razão, sua opinião não vale coisa alguma. Mas por que não a assume publicamente? Essas coisas vendem revista, podem reverter o cansaço dos assinantes. Por que não faz jus ao seu fabuloso salário para retomar um assunto de real interesse público e, aliás, já tratado em outras páginas por outro colunista? (Segue)
MAYNNARDI, O XANTAJISTA (II) O flagrante da extorsão
Alberto Dines
"Contaram-me um monte de calúnias a seu respeito. Não as publiquei. Porque meus desacordos são puramente intelectuais, e não pessoais..."
Isto está num e-mail remetido pela vedete de Veja no dia 21/12/2005. Diogo Mainardi confessa com todas as letras e assina embaixo que publica calúnias. Neste caso, preferiu deixá-las de lado.
Por quê? Qual era a sua intenção – intimidar? Ou estava querendo saber quantas moedinhas este Observador poderia lhe oferecer para calar-se? Alguém que confessa em livro que só dá opinião quando lhe pagam está admitindo igualmente que também é capaz de calar-se quando lhe pagam. Moeda, para ele, é mais do que instrumento de troca, é oxigênio.
"Paguem, logo existo" é a versão mainardiana da máxima de Descartes.
Mainardi e as moedinhas hoje fazem parte de um mesmo pacote, essa é a verdade. E este pacote é um dos mais imundos que já apareceu na chamada grande imprensa brasileira.
Veja pode fingir que não tem nada com isso e que os seus colaboradores – mesmo em meio a surtos psicóticos – escrevem o que lhes dá na veneta. Está certa. Mas os editores e jornalistas de Veja sabem que o nome do semanário e os seus próprios nomes estão associados a um dos episódios mais degradantes da nossa imprensa desde a redemocratização.
Diogo Mainardi está fazendo nas páginas de Veja o mesmo que Cláudio Marques fez no extinto jornal Shopping News, de São Paulo, em outubro de 1975, quando iniciou a sucessão de calúnias, injúrias e canalhices irônicas contra Vladimir Herzog, os jornalistas da TV Cultura e o então secretário de Cultura, José Mindlin.
Mainardi não sabe quem foi Vlado Herzog (tanto que escreve Wladimir), mas Veja sabe. Veja pagou um preço muito alto quando se instalou no país o regime da delação e da alcagüetagem.
Ave rara
Longa vida a Mainardi! O guri precisa ser preservado para lembrar semanalmente que o ódio contra a imprensa responsável não é apenas um modismo brasiliense, cacoete chavista ou produto de exportação da direita americana. O ódio contra os jornalistas independentes é o mais novo progresso instalado nesta Botocúndia. Isso não deve ser esquecido, para isso Mainardi é fundamental.
No mesmo e-mail ele escreveu que não faz política ("Lacerda era um político. Eu não..."). Mas alguém que escreve sobre política precisa conhecer história política, mesmo a mais recente. Todo jornalista é um ser político. O que ele não pode ser, é engajado. E cuidar-se para não ficar enfezado – isso é enfermidade.
Mainardi não é político mas devia ao menos acompanhar a minissérie JK, da Globo (à qual serve em silêncio), para assegurar-se de que Café Filho não era nome de botequim no Leblon.
O néscio que escreveu Contra o Brasil (Companhia das Letras, 1998, 214 pp.) e inspirou a capa com aquele bando de escoteiros idiotas a serviço do ufanismo, evidentemente não entende de Brasil, nem da história do Brasil, nem da política do Brasil.
Entende de terrorismo. Entende de intimidação e extorsão. Mainardi entende de calúnias. Sabe quando deve usá-las ou quando pode mascará-las em querelas pseudo-intelectuais.
Estamos diante de um ave rara: um Goering esquálido que puxa da pistola cada vez que ouve falar em cultura. Ou quando lembram que jornalismo é cultura. (Segue)
Observatório da Imprensa
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