terça-feira, janeiro 17, 2006
Lula: Buracos nas estradas são eleitoreiros para oposição
Lula visitou as obras realizadas pelo Exército em três estados
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não pretende parar de viajar em 2006 por ser um ano eleitoral. "Estamos viajando e vamos continuar viajando muito mais, porque esse é o papel do presidente da República. Ele não pode parar por causa de um ano eleitoral", disse hoje a jornalistas, depois da visita às obras de recuperação da BR-101 Nordeste no Rio Grande do Norte. Pela manhã, durante o programa semanal de rádio Café com o Presidente , Lula afirmou que "entre não fazer e ser criticado e fazer e ser criticado, eu prefiro fazer".
"Tenho que governar o Brasil até o dia 31 de dezembro de 2006. Eu não sei se os críticos gostariam que eu ficasse trancado dentro do Palácio do Planalto. Talvez eles queiram que eu fique trancado lá, para eles poderem andar sozinhos. Como eu tenho a responsabilidade de governar, eu sou obrigado a andar pelo Brasil para fiscalizar as coisas que estamos fazendo", disse Lula.
Ele repetiu as repostas que deu no rádio às críticas de que o programa de recuperação das estradas do governo federal tem caráter eleitoral. "Se você não faz, vira campanha do adversário. Se você faz, diz que é campanha sua. Entre não fazer e fazer, eu prefiro ser criticado fazendo, porque pelo menos o povo sofre menos".
O presidente visitou também obras de recuperação da rodovia BR-101 Nordeste, na Paraíba e em Pernambuco. Na primeira fase da obra na BR-101, os engenheiros do Exército vão recuperar 142,5 quilômetros, com investimento de R$ 521, 8 milhões. No total, o projeto prevê a recuperação de 336 quilômetros de Natal (RN) até Palmares (PE). O custo total estimado é de R$ 1,51 bilhão. As obras não fazem parte do programa emergencial do governo federal, iniciado na primeira semana de janeiro.
Reeleição
Para Lula, viajar faz parte do papel do presidente da República, que "não pode parar por causa de um ano eleitoral". Lula reafirmou que não tem pressa para definir se disputará ou não a reeleição. "Se alguém tem pressa de definir com antecedência, que defina (...) Não tenho essa preocupação agora. Isso não me faz perder um segundo de sono e deve ser preocupação dos adversários", disse o presidente. "No momento certo nós vamos decidir quem é candidato, se eu sou candidato ou não sou candidato, e aí todo mundo ficará sabendo porque eu tenho interesse em dizer".
Como já havia dito em seu programa de rádio semanal, Lula afirmou que se não for resolvida a disputa judicial em torno das obras de duplicação da BR 101, o Exército ficará com toda sua execução. Os trechos atuais da duplicação estão sendo tocados pelo batalhão de engenharia do Exército, depois que empresas derrotadas na licitação resolveram recorrer do resultado.
Engenharia militar
Depois de construir o trecho da BR-101 entre Natal e Recife, na década de 70, o Exército volta ao Nordeste para duplicar a rodovia numa extensão de 336 quilômetros. Esta pode ser uma das maiores obras já executadas pela engenharia do Exército, em função dos recursos repassados e do tempo de duração, segundo avaliação do general Tarcísio Alves da Rocha, engenheiro que coordena a ligação com ministérios que contratam o Exército para obras de infra-estrutura. Militares construíram 1,5 mil quilômetros da Cuiabá-Santarém na década de 70, mas a obra levou mais de 10 anos para ser concluída.
Serão três anos e meio de obras, sendo que na primeira fase, que vai até outubro, o Exército concluirá os trabalhos em cerca de 150 quilômetros. Nos trechos visitados ontem pelo presidente Lula, estavam prontas a restauração de 46 quilômetros da pista existente desde Natal, a construção do viaduto de Ponta Negra e de três passarelas metálicas no Rio Grande do Norte; a duplicação de 10 quilômetros a partir de João Pessoa e do viaduto de acesso à rodoviária, além da construção de três passarelas na Paraíba; e a duplicação de nove quilômetros a partir da divisa da Paraíba com Pernambuco, a construção de viadutos de acesso a duas rodovias estaduais, duas passarelas e das pontes sobre os rios Arataca, Botafogo e Tabatinga, em Pernambuco.
O Exército foi designado para fazer a duplicação da BR-101 Nordeste, em três lotes de obras de um total de oito que fazem parte do projeto de ampliação da rodovia, porque empresas que participaram do processo de licitação questionaram os editais na Justiça. Como o resultado dos processos judiciais não saiu até novembro, o governo usou de um dispositivo constitucional que permite entregar ao Exército obras de infra-estrutura. Assim, os recursos orçados em 2005 não foram perdidos.
Para o general, o Exército tem condições de assumir os outros cinco lotes ao final das obras em 2008. "De imediato, os batalhões não teriam como realizar toda a duplicação, porque estão trabalhando com toda sua capacidade operacional. Mas ao final das obras nos três trechos, aí sim eles terão como dar continuidade à duplicação, se assim ficar definido pelo governo", disse. O presidente Lula disse, na visita às obras da BR-101 Nordeste, que se as pendências judiciais persistirem, o governo pode entregar toda a duplicação da estrada litorânea para o Exército.
Investimento
Segundo o general Tarcísio da Rocha, no ano passado foram repassados cerca de R$ 120 milhões dos R$ 540 milhões que o Exército receberá pelo total da obra. Cerca de 15% desse valor foi investido em reequipamento e modernização dos quatro batalhões de engenharia do Nordeste, envolvidos na obra. "Esse investimento praticamente já foi feito com os recursos que o Exército recebeu. Como os batalhões do Nordeste ficaram um tempo sem trabalhar na sua capacidade máxima, os equipamentos ficaram gastos e, quando terminarem essa obra, terão inclusive condições de oferecer preços melhores", afirmou. Foram adquiridos 175 equipamentos pesados e mais de 300 veículos. A maior parte dos recursos serão repassados neste ano e em 2007, cerca de R$ 360 milhões, e o restante será liberado em 2008.
O Exército tem 11 batalhões e uma companhia de engenharia em todo o país. São cerca de seis mil homens, entre civis e militares, trabalhando em obras do governo federal e de governos estaduais. Atualmente, os batalhões com maior volume de obras são os do Nordeste (Caicó, Teresina, Picos e Barreiras, respectivamente no Rio Grande do Norte, Piauí e Bahia) e de Araguari (MG), de acordo com o general Tarcísio da Rocha. No caso da BR-101 Nordeste, há 950 homens trabalhando e cerca de dois mil empregos diretos serão gerados com a contratação de pequenas empresas que realizam trabalhos como a construção de banquetas, sarjetas, valetas de proteção, gramados e sinalização vertical e horizontal.
A engenharia militar é empregada em obras de infra-estrutura desde a chegada do imperador Dom João VI, no início do século 19. Foram engenheiros militares, por exemplo, que realizaram as obras de saneamento do Rio de Janeiro, na época. Mas há registros de trabalhos de engenharia, pelo Real Corpo de Bombeiros, em 1790. Em 1808, com a chegada da família real, é criada a escola que deu origem ao Instituto de Engenharia Militar (IME), responsável pela formação de profissionais da área e pela realização de pesquisas.
Com informações da Radiobrás.
VERMELHO
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