quinta-feira, dezembro 08, 2005
Imprensa tira frases de Dirceu de contexto, dizem revista e assessoria
O ex-deputado José Dirceu concedeu há cerca 20 dias uma entrevista exclusiva à revista Fórum, em que fala sobre sua então possível cassação e os motivos que levariam a ela e sobre os rumos do governo, entre outros assuntos.
Frases e trechos pinçados da entrevista foram divulgados fora de contexto por alguns órgãos de imprensa. Após a divulgação descontextualizada em matéria do jornal O Estado de S.Paulo — que repercutiu em rádios, TVs e agências de notícias — , a própria revista Fórum condenou sua repercussão “enviesada” e disponibilizou alguns trechos que mostram o verdadeiro teor da entrevista.
A assessoria de imprensa de Dirceu ressaltou que, ao contrário do que alguns veículos publicaram, em nenhum momento o ex-deputado afirma que "o governo acabou". De acordo com a assessoria, "quem ler a entrevista para compreender, e não para promover intrigas, verá que o sentido da frase "não sobrou nada no governo" é que todas as pessoas do círculo mais próximo ao presidente Lula foram atingidas. Portanto, a cassação de José Dirceu não era um fato isolado". Confira o trecho utilizado de forma descontextualizada:
Fórum - O senhor acha que no momento em que for cassado vai haver um próximo?
Dirceu - Eu sou só um símbolo. Na verdade, não sobrou nada no governo. Luiz Gushiken, Gilberto Carvalho, Antonio Palocci, José Dirceu; no PT, o presidente da Câmara, o líder do governo, José Genoino... Eles querem criminalizar o PT, a esquerda não pode governar, como disse o Thales Alvarenga, que falou que isso era mais uma prova de que a esquerda não sabe governar, são ignorantes, corruptos. Outro lado é caracterizar o governo Lula como corrupto, eles não querem o debate, por que perdem. Por mais que esse governo tenha problemas, que não tenha avançado em questões importantes, é o melhor governo que o Brasil teve desde 1985. Comparado com FHC, ganhamos de longe a disputa
política.
Além disso, em nenhum momento a imprensa destaca a frase de Dirceu “O país está vivendo um estado de sítio às avessas”, título da entrevista na revista Fórum. Confira o contexto desta frase:
Fórum - O senador Azeredo não enfrentou uma CPI, deu o depoimento porque quis.
Dirceu — Mas isso também é a hegemonia do PSDB na Câmara e no Senado, eles têm maioria. O governo compõe maiorias na votação de projetos. Tanto a prorrogação da CPI quanto a dos Correios mostra isso, e a do Mensalão quase que prorroga. Se uma CPI se prorroga, o que é ilegal, inconstitucional, anti-regimental, mostra o que nós estamos vivendo no Brasil. Quando uma CPI faz o que ela quer, significa que amanhã, um governo com maioria no Parlamento manda instalar uma CPI pra investigar A, começa a investigar B e
o Brasil entra no autoritarismo, entra no estado de exceção. A imprensa, que está apoiando isso, tem que ficar atenta. É o que está acontecendo hoje, o país está vivendo um estado de sítio às avessas. Ao invés da oposição não ter direitos constitucionais de se manifestar perante a sociedade, o governo não tem direitos constitucionais para governar. As CPIs estão fazendo isso, com a anuência da mídia.
Confira outras respostas de Dirceu:
Desestabilização"Quando fazem todo o processo com o Henrique Meirelles - e todo mundo esqueceu o que eles fizeram com ele -, gente, o Meirelles foi eleito deputado pelo PSDB, é um homem da banca internacional, não é qualquer um. Foi presidente do Bank Boston internacional. O que fizeram com ele? Publicaram o contrato de casamento dele. Ninguém deu importância pra isso, mas eu dei. Falei pro presidente, três vezes no primeiro e no segundo semestre de 2004, pedi conversa com ele com o testemunho do Gilberto Carvalho. "Se o senhor continuar com minoria no Senado e na Câmara, vão fazer uma CPI, qualquer CPI com o objetivo de desestabilizar o governo, desmoralizar e o tema geralmente é corrupção." Eu já estava fora da articulação política, não era responsabilidade minha, saí em janeiro daquele ano, antes do caso Waldomiro Diniz, embora toda a mídia tenha dito que saí por conta do caso. Saí porque pedi pra sair, me dei conta de que o presidente queria que eu saísse".Esquerda"A vitória do Lula cria uma nova situação para a esquerda. Pessoas tanto no PT como fora não souberam compreender isso. Isso não significa não fazer luta, não pressionar, não fazer greve, não fazer ocupação, não combater as políticas de que se discorda, não estou falando isso. Mas depois da experiência do Allende, do Jango, dos sandinistas, inclusive na Europa, já temos experiência suficiente pra saber o que significa a frase que um manifestante chileno exibia em um cartaz: "é um governo de merda, mas é o meu governo"".Discordância"Quando se decide reduzir a banda de inflação, não diminuir a TJLP e não abaixar os juros e aumentar o superávit, isso significa uma inflexão definitiva para outra política. Com a MP 232, há um aprofundamento disso. Ela é feita depois que nós conseguimos, com a decisão do presidente de aumentar o salário mínimo, atualizar a tabela do imposto de renda, aumentar os recursos para saneamento e educação, para a agricultura familiar e infra-estrutura em geral, essas medidas já apontavam para a retomada da transição e de um projeto de desenvolvimento. Criaram-se ali dois caminhos. Quando a opção do presidente é clara em relação ao caminho que o ministro Palocci sempre defendeu, eu devia ter saído. Perto do final de 2004 eu devia ter saído. Não só por isso, mas também pela questão da reforma política, reforma ministerial, o papel do partido..."Lula e o PT"O país sabe que minha relação com o Lula é de lealdade, mas de total autonomia e independência. Aliás, o Lula, e isso é uma qualidade dele, me delegou autoridade na presidência do PT e nunca interferiu na minha presidência - até em demasia. E repeti isso com o Genoino. Considero que foi um acerto no sentido de fortalecê-lo, mas foi um erro ter saído do partido."
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