domingo, dezembro 11, 2005
Comprovado o caixa dois de Azeredo com dinheiro público
Tesoureiro da campanha tucana de 98 documentou em cartório que empresas de Valério movimentaram pelo menos R$ 53 milhões
HORA DO POVO
Depois de ter sido levado ao suicídio por membros do seu próprio partido, que o forçaram a renunciar à presidência do PSDB por sua genética ligação com o ex-publicitário Marcos Valério de Souza, o senador Eduardo Azeredo sonhou com o esquecimento e com o abafamento do caso na CPMI dos Correios. Ora, afinal, Azeredo apenas tinha recebido um cheque de R$ 700 mil da conta pessoal do publicitário para quitar uma dívida com o seu tesoureiro, Cláudio Mourão, e admitido a prática de caixa 2 em sua campanha.
TUCANODUTO
No entanto, as provas anteriores agora ganham novos elementos. Trazem o relato minucioso de seu tesoureiro de campanha, Cláudio Mourão, de que parte dos recursos que alimentaram a campanha milionária de 1998 saiu dos cofres públicos.
Em seu depoimento à CPMI dos Correios, o tesoureiro de campanha de Azeredo e seu ex-secretário de Administração, Cláudio Mourão, assumiu toda a responsabilidade pela prática de caixa 2, contrariando, inclusive, declaração dada anteriormente à Justiça. Porém, em 7 de julho de 2005, esse mesmo Mourão detalhou, em documento registrado em cartório, a carreira oculta de seu ex-chefe.
Segundo o documento, numerado em três páginas, rubricadas e assinadas por Cláudio Mourão, foram arrecadados pela campanha à reeleição de Eduardo Azeredo, em 1998, “mais de R$ 100 milhões (valores não atualizados), sendo que destes recursos, R$ 53.879.396,86 foram movimentados via as empresas DNA e SMP&B de Marcos Valério”.
“Parte do recurso foi de empréstimos com o aval do governo, vindo das privatizações, de empreiteiras, Queiroz Galvão, Erkal, CBN, Engesa, ARG, Tercam, entre outras, de fornecedores do Estado, de prestadores de serviços diversos, construtoras, indústrias, bancos, corretoras de valores, da Cemig, da Prodemg, da Telemig, Secretarias de Governo, inclusive da Fazenda, Banco BDMG, de doleiros e de outros colaboradores individuais, no valor superior a cifra de R$ 80 milhões. Mesmo assim, ficou pendente uma dívida superior a R$ 20 milhões”, relata Cláudio Mourão.
AÇÃO
Eduardo Azeredo declarou ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE) que sua campanha havia arrecadado R$ 8,5 milhões. Posteriormente, admitiu que o valor verdadeiro seria de R$ 20 milhões, mas negou que tinha conhecimento do fato.
O documento de Mourão cita ainda que, do total arrecadado, foram destinados “recursos ao ex-governador e hoje senador da República, sr Eduardo Brandão de Azeredo, no valor de R$ 4,5 milhões para pagamentos de despesas diversas. OBS: repassado por mim com autorização das agências SMP&B e DNA Propaganda, conforme recibo anexo”, diz Mourão.
É claro que, depois dos fatos saltarem à luz, Azeredo e Mourão negam a autenticidade do documento. Mourão diz que é mais uma falsificação do “falsificador” Nilton Monteiro. Repete palavras que disse na CPMI dos Correios. Ao ser questionado pelos parlamentares se, em alguma oportunidade, havia assinado uma procuração para Nilton Monteiro lhe representar, Mourão foi enfático em dizer que não. Ao ser confrontado com o suposto documento, disse que a sua assinatura era verdadeira, mas o documento era montado.
Posteriormente, o jornalista Amaury Ribeiro Jr brindou-nos com a reportagem sobre o cheque repassado por Marcos Valério para Azeredo quitar uma de suas dívidas com seu tesoureiro Mourão. Na mesma reportagem, publica a procuração original repassada por Mourão para Nilton, acompanhada de um laudo do perito Adalberto Novaes Dantas que confirma a autenticidade do documento e da assinatura. Ou seja, a primeira mentira de Mourão ruía.
Em 2002 ele já havia recebido R$ 700 mil de Azeredo por meio de Valério. Mas queria mais dinheiro. Se achava injustiçado por ter movimentado milhões durante a campanha e ter ficado quase sem nada. No início de 2004, conheceu Nilton Monteiro, com quem tentou receber mais dinheiro do ex-chefe. Mas, como cobrar Azeredo? Por que o ex-governador lhe daria dinheiro? Afinal, a campanha acabou e cada um se vira como pode.
Eis que Mourão resolveu colocar no papel todas as suas anotações contábeis sobre a campanha de 1998: caixa 2, origem ilícita do dinheiro, negociatas no Estado e a lista dos beneficiários. Registrou este documento em cartório juntamente com a procuração para Monteiro lhe representar diante de Azeredo. Anexa a esse resumo há uma série de provas, já publicadas na Hora do Povo, como uma cópia da contabilidade de Marcos Valério, assinado por seu contador, onde está registrada uma receita de R$ 53 milhões que seriam destinados ao caixa 2 da campanha, o processo que Mourão moveu contra Azeredo no STF, afirmando que este desviou dinheiro do Enduro da Independência para a campanha eleitoral, uma série de anotações do caixa 2, recibos bancários com a distribuição de recursos para parlamentares, entre outras tantas.
Com essa munição, Nilton procurou Azeredo. “O Azeredo falou que não devia nada ao Cláudio Mourão. Foi onde eu descobri que tinha uma ação que o Cláudio Mourão entrou cobrando cerca de R$ 1,5 milhão do Azeredo. Aí eles chegaram num acordo e o Azeredo pagou R$ 700 mil para o Mourão com o cheque do Valério. O Azeredo falou: “Nilton, ele fez um recibo para mim, que ele não pode me cobrar. Eu não devo mais nada para esse cidadão”, relatou Nilton ao HP.
Ou seja, Mourão já havia ingressado na Justiça Mineira com uma ação contra Azeredo que, em plena campanha eleitoral, em 2002, pagou R$ 700 mil ao ex-tesoureiro. Porém, Mourão tinha mais a cobrar.
Em julho deste ano (2005), o tesoureiro teria recebido mais R$ 300 mil em cheques da SMP&B. Para Nilton, que estava ao lado no dia do pagamento, esse era um adiantamento para o ex-tesoureiro se calar e assumir a culpa. O restante teria vindo mais tarde, pouco antes do depoimento na CPMI. No entanto, Mourão resolveu não respeitar o que tinha acertado com Monteiro, mas nessa altura este último já tinha em mãos um verdadeiro arsenal.
O documento de Mourão relata ainda que “a SMP&B transferiu como doação do Sr. Clésio Andrade, o valor de R$ 8.250,000,00 para vários políticos, através de doc’s bancários. ‘Relação anexa de alguns doc’s e de todos os beneficiários com os respectivos valores”. Mourão relata que além desses repasses acima, houve mais outros R$ 10,8 milhões, distribuídos a candidatos a deputados de diversos partidos que formavam a coligação de Azeredo.
Entre esses nomes, encontram-se o atual governador de Minas Gerais, Aécio Neves (R$ 110 mil), Custódio de Mattos (R$ 250mil) e uma série de outros políticos como se pode ver no fac-símile ao lado.
A lista de incoerências e contradições em que se meteu o ex-tesoureiro de Azeredo ganhou mais um capítulo neste final de semana. Mourão afirma, aos quatro ventos, que Nilton é um falsificador e que não tinha dinheiro para comer, só se alimentava quando ficava em sua casa. Para a revista “Época”, repetiu: “O Nilton almoçava e jantava lá em casa porque não tinha o que comer”.
Mais adiante, ao ser questionado sobre as suas revelações colocadas no processo em que moveu no STF, cobrando R$ 6 milhões de Azeredo por dívidas de campanha e indenização por danos morais, e onde afirma que deve R$ 600 mil a Nilton, Mourão lança mão de outra declaração que contradiz a primeira: “Ele (Nilton) subornou meu advogado e mexeu na ação sem que eu soubesse”. Ora, como um cidadão que não tem dinheiro para comer pode ter dinheiro para subornar o advogado? Essa história é tão absurda quanto a de que ele não havia lido o processo que ingressou no STF.
SIGILOS
O fato é que já existem documentos robustos que provam que a campanha de Azeredo arrecadou, pelo menos, R$ 53 milhões e que esse montante circulou pelas contas de Marcos Valério. Se a CPMI não quebrar os sigilos de Cláudio Mourão e Eduardo Azeredo, estará fadada a se quebrar diante da incoerência que tem marcado a sua atuação, onde qualquer coisa contra o governo é válida e todas as provas contra Azeredo são desconsideradas.
ALESSANDRO RODRIGUES
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