sábado, abril 08, 2006
PRIVATIZAÇÕES: A VERDADE COMEÇA A APARECER
Privatização no Brasil é exemplo a não ser seguido
A privatização da eletricidade é uma grande fraude montada sobre mentiras e os governos latino-americanos deveriam analisar exemplos como o do Brasil antes de decidir privatizar o setor, afirmou a pesquisadora australiana Sharon Beder. Beder, que está no México para apresentar seu livro Energia e Poder: A luta pelo controle da eletricidade no mundo.
Beder considera uma mentira que a privatização do setor elétrico permita reduzir os preços e atrair maiores investimentos de capital. Quando a energia é privatizada, "as tarifas, em vez de diminuir, aumentam. Raras vezes o capital privado investe na infra-estrutura", disse. Ela afirmou que, normalmente, as empresas adquirem infra-estrutura já existente. Só investem em benefícios se houver um "acordo de compra em que o governo garanta que assumirá todos os riscos e que haverá sempre grandes lucros". Além disso, a eletricidade produzida pelas companhias privadas "é mais cara e o custo para o governo sai maior do que se tivesse pedido um empréstimo para construir a infra-estrutura", afirmou. “O governo assume todos os riscos, e os empresários, todos os lucros", disse ela.
A australiana, professora da Universidade de Wollongong, lembrou o caso do Brasil, que até 2001 "tinha um sistema confiável de energia hidroelétrica mas privatizou seu setor por pressão do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário Internacional (FMI)". Por isso, "os preços aumentaram até 400% em cidades como o Rio de Janeiro. Quando Brasil sofreu uma temporada sem chuvas, em 2001, as usinas hidroelétricas não puderam enfrentar a demanda porque as empresas privatizadas exigiam uma série de garantias que o governo não concedeu para investir em novas instalações", explicou.
O povo está acordando
O presidente do México, Vicente Fox, defende que o setor privado possa investir em eletricidade, na prospecção e em produção petrolífera. Já o candidato Andrés Manuel López Obrador, que lidera as pesquisas para as eleições presidenciais de julho, é contra. Beder lembrou que "o México pode aprender lições com os outros países". A Coréia do Sul "estava em caminho de privatizar o setor mas, depois de consultar especialistas, acadêmicos e a comunidade, o governo decidiu que os riscos eram muito altos e os benefícios duvidosos", afirmou.
A australiana, que em maio vai publicar um livro sobre a influência das grandes corporações nas negociações comerciais internacionais, disse que "permitir que as empresas disputem o mercado com o setor público é só um passo rumo à privatização total". As companhias privadas não vão competir a não ser "que o governo garanta o lucro", porque "em condições de concorrência real, elas não investem", criticou. Para Beder, a tendência política de esquerda em vários países da América Latina nos últimos meses demonstra "que o povo está acordando, vendo o problema do neoliberalismo e da privatização, percebendo que isso não interessa". A pesquisadora acha possível voltar atrás. Ela acredita que os países podem nacionalizar setores da economia.