Janaina Vilella 27/04/2006O
ex-ministro chefe da Casa Civil, deputado cassado petista, José Dirceu, identifica no fracasso da aliança com o PMDB um dos principais erros do governo Lula. Segundo ele, o PT errou nas últimas eleições presidenciais ao se apoiar no PL, no PTB e no PP para compor sua base no governo. "Nós não resolvemos a questão PMDB. A governabilidade tem um centro, que é o PMDB. E tivemos que nos apoiar no PL, que já era aliado nosso, PTB e PP. Eu alertei o PT e o presidente Lula várias vezes sobre esse erro. Alertei que custaria caro", disse Dirceu, em palestra para estudantes no seminário "Mídia da crise ou crise da mídia?", promovido pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela rede Universidade Nômade. Nelson Perez/Valor
Dirceu: "Apesar de tudo o que aconteceu,
sou leal ao Lula e ao PT. E teria até
razões para não ser no caso do PT"
Na avaliação de Dirceu, qualquer partido que venha a governar o Brasil nos próximos quatro anos enfrentará um problema grave: a crise de governabilidade. "O modelo que construímos em 1988 se esgotou, talvez os partidos políticos se esgotem, alguns deles por causa da cláusula de barreira e da verticalização, que são realidades que não serão mudadas tão cedo", afirmou o ex-ministro. "Quem quer que ganhe as próximas eleições vai enfrentar um problema de governabilidade, que só será resolvido com uma ampla reforma político-administrativa." O ministro usou o painel "Como a Democracia se constitui em aliança, conflito e composição com os meios de comunicação. Democracia pela mídia e governo dos meios de comunicação", como palanque para se defender das denúncias que envolvem seu nome. Logo no início de sua exposição, afirmou que ainda não foi notificado pelo Ministério Público Paulista sobre o suposto esquema de corrupção na administração do prefeito Celso Daniel, em Santo André. Ele considera que o MP não tem poderes constitucionais para fazer as investigações que tem feito e classificou as denúncias contra ele de "vazias". Durante a palestra, o ministro também atacou a imprensa e se queixou da suposta "perseguição" que estaria sofrendo, por parte da mídia. "Só no período da Oban, do Doi-Codi (órgãos de repressão da ditadura militar) a imprensa brasileira desceu tanto como está descendo neste momento". "Todo dia que levanto, me pergunto: 'Primeiro me cassaram com S e agora querem me caçar com Ç. Eu fui banido do Brasil e agora querem fazer isso novamente comigo. Não querem me deixar trabalhar'", desabafou o ex-ministro, que monopolizou a atenção dos estudantes. "Qualquer atividade minha é suspeita. Eu não posso dar consultoria, não posso advogar. Um jornalista diz que agora eu dei para gostar de vinhos, mulheres e jatinhos. Só porque eu aluguei um avião para atender um cliente, porque era a única maneira de eu poder ir a Juiz de Fora rever meu amigo Itamar Franco e atender a um cliente." Disse ainda que a imprensa brasileira toma partido e acusou a mídia de tentar ajudar a derrubar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Serra não fez campanha para prefeito, a imprensa o elegeu". Dirceu afirmou que continua fiel ao governo Lula e ao PT e disse que só não lançou seu livro este ano porque julgou que ele teria impacto negativo na campanha: "Se eu publico um livro agora, o país vai ficar 30 dias em volta desse livro, me jogando contra o presidente, contra o governo, contra o PT. Eu não nasci para isso. Apesar de tudo o que aconteceu sou leal ao Lula e ao PT. E teria até razões para não ser no caso do PT".
In: Valor Econômico