Carta corporativista ao Doutor Roberto Wanderley Nogueira
-- 05/04/2006 - 02:02 (Tânia Cristina Barros de Aguiar)
Senhor Doutor,
É de todo estarrecedor que alguém que ostenta o título de Doutor ouse fazer uso do argumento do sagrado direito ao sigilo bancário para defender a privatização de um banco público. Ora, Doutor Roberto, quem privatiza setores estratégicos da economia não precisa de argumento tão tolo. Privatiza por opção política. Ou a Vale do Rio Doce foi privatizada por vazar minério? Por dar prejuízo ao país? E veja - eu não estou defendendo que se vaze qualquer coisa. Isso é outra discussão. Privatizar banco público só tem um objetivo - colocar na mão dos donos do capital - que agora é internacional em todas as esferas - mais poder e lucro. Ninguém faz isso para defender sigilo bancário de um trabalhador. Nem que seja um caseiro que depõe contra um ministro de Estado, sobre supostas visitas a uma casa "suspeita", numa Cpi que devia investigar os Bingos. Quando houve a abertura da economia, todos alardeavam que o " mercado" ia engolir os bancos públicos. Não engoliu. Caixa e Banco do Brasil detém credibilidade, competências únicas instaladas e uma boa fatia de um mercado que é ambicionado. Muito ambicionado. O que está em jogo no Brasil não é a moralidade das instituições públicas. Ou dos governantes. A disputa se dá em torno de um projeto político de nação. Numa sociedade democrática - na aparência, porque a democracia tem dono, ela é dada a quem tem informação, conhecimento, acesso a cidadania - os doutores podem se fazer de parvos para alardear suas teses. E encontrarão espaços poderosos de repercussão. E incomodarão gente como eu, que sou funcionária da CAIXA há 28 anos e que sei exatamente o projeto político que declarações como as do senhor defendem. Só acho que, como é uma democracia, eu vou usar meios de comunicação mais democráticos - a internet - para expor a minha opinião. E não venha dizer que eu sou corporativista, porque eu sou mesmo. Defendo a minha empresa com unhas e dentes, defendo minha categoria com toda a minha veemência, porque sei o tanto que trabalhamos, no cotidiano, para pagar as bolsas que garantem um mínimo de dignidade para milhões de brasileiros, administrando um cadastro enorme. Para retomar o financiamento da habitação para baixa renda com enormes volumes de subsídio. Para bancarizar milhões de brasileiros. E brasileiras, viu? No meio dessa massa maravilhosa, tem uma maioria de mulheres, como é o caso do Bolsa Família. Mães. Chefes de família. Duvido que o senhor saiba o percentual de mulheres, chefes de família, que são beneficiárias do Bolsa. Eu sei. Mas não vou lhe contar. Aliás, nós, na CAIXA, estamos acostumados a desafios. Quando os desmandos do setor bancário privado no FGTS chegaram a um ponto insustentável, foi na CAIXA que o Governo encontrou abrigo seguro para proteger o patrimônio do trabalhador. Hoje, os articulistas de direita ficam cantando como sereias medonhas a necessidade do Governo remunerar melhor essas contas, que geram recursos para saneamento e habitação. Mas o que querem é desviar o dinheiro para a especulação na Bolsa. Naquela época, após uma imensa mobilização das lideranças dos trabalhadores, sindicais e do legislativo, a CAIXA recebeu uma tarefa hercúlea - centralizar as contas do FGTS. Foi um feito heróico de empregados que trabalharam enlouquecidos e deram conta do recado. Não venha falar de privatizar a CAIXA. Respeite esse patrimônio. Na verdade, escrevo isso como protesto. Conheço as verdadeiras intenções desses discursos. Vem de gente que não respeita o povo brasileiro. Que não se comove com a miséria, com a desigualdade, com os adolescentes mortos todos os dias, vítimas da violência. Gente que quer incriminar os trabalhadores sem terra, que lutam pelo direito á vida digna. Gente que quer desonrar pessoas honestas, sem prova. Apenas pela repetição da acusação. Pois que venham. Venham os abutres, aqueles que desejam entregar esse país ao capital. Que venham os falsos moralistas, ou os moralistas sinceros. Mas a verdadeira moral, a verdadeira ética é da defesa da igualdade entre os seres humanos. A verdadeira ética é a ética da vida. Divina em sua essência, verdadeira, pulsante, que move pessoas por uma nova nação e por um novo mundo. Muitas dessas pessoas estão na CAIXA, todos os dias, dando seu suor, sua dedicação, para dar um resultado fantástico, para esse país. E, olhe, além de tudo isso, ainda dão lucro para o Tesouro. O que já seria absolutamente desnecessário. É um plus. Tentaram nos destruir. Por anos a fio nos colocaram numa situação de total dependência tecnológica. Todo o país conhece a luta da CAIXA contra a GTEHC. Outras lutas, não conhecem, mas são cotidianas. Aqueles que nos colocaram reféns, querem nos exigir uma competência absoluta. Abutres. Cínicos. Nos ameaçaram, demitiram os que adoeceram, sob forte pressão psicológica. E, agora, querem usar de um fato isolado para nos fazer duvidar do nosso rumo. Non passaran. Gente assim pode até ganhar essa batalha. Mas a guerra, não ganhará. Pode até ganhar as eleições - o que duvido - mas não ganhará a batalha eterna. Porque o universo tem suas leis. A continuarmos nessa guerra insana, onde o capital a tudo quer dominar, oferecendo migalhas, com o apoio da mídia por ele controlada, e de alguns ingênuos, não haverá futuro. E aí, todos os filhos e netos perecerão. Sejam da elite, sejam dos pobres. Não haverá futuro para um mundo insano.
Tânia Cristina Barros de Aguiar
Resposta da Tania (gerente nacional GEPAE) ao artigo "O vendaval Francenildo - O Estado precisa privatizar a Caixa Econômica Federal ", por Dr. Roberto Wanderley Nogueira
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