PT repudia tentativa do DEM de culpar os negros pela escravidão
O deputado Carlos Santana (PT-RJ), presidente da Frente Parlamentar da Promoção da Igualdade Racial, e a deputada Janete Rocha Pietá (PT-SP), coordenadora do Núcleo de Igualdade Racial do PT, repudiaram na semana passada a tentativa do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) de co-responsabilizar os negros pela escravidão.
Em audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir a questão das cotas para negros nas universidades públicas do país, o senador do ex-PFL, relator do Estatuto da Igualdade Racial no Senado, disse que os escravos eram o principal item de exportação da pauta econômica africana no século 20.
“Isso é ridículo, repudiamos as declarações do senador”, disse Janete Pietá. “Se ele acha que tudo foram flores e amores, está renegando a história da escravidão no Brasil e no mundo. Agora entendo porque o senador do DEM queria tirar a palavra escravidão do texto do Estatuto. Isso justifica a sua posição contrária às cotas, exatamente porque ele acha que não houve escravidão. Um homem com uma posição como a do senador do DEM não pode ser relator do Estatuto da Igualdade Racial”, disse. A petista adiantou que vai procurar os senadores do PT para discutir o assunto na próxima semana.
O deputado Carlos Santana também lamentou as declarações e disse que a Frente Parlamentar da Promoção da Igualdade Racial fará uma reunião para discutir o caso. “Isso mostra que, em pleno século 21, as pessoas ainda tentam esconder os 350 anos de escravidão no Brasil. Temos que repudiar manifestações como essa”, afirmou.
O parlamentar reclamou da demora na votação do Estatuto no Senado e disse que o relator tem trabalhado para atrasar a tramitação da matéria. “O mais importante é colocar o Estatuto em votação. Temos maioria para votar, mas o relator, não submete seu parecer à apreciação.”
Durante a audiência no STF, Demóstenes se esforçou para demonstrar a responsabilidade de negros no sistema escravista vigente no Brasil durante quatro séculos. “Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram”, declarou o racista. “Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da pauta econômica africana.”
Ao falar sobre a miscigenação, Demóstenes provocou ainda mais os negros: “[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. [Fala-se que] foi algo forçado. Gilberto Freyre, que é hoje renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual.”
O senador pelo ex-PFL usou as referências à história “tão bonita” da miscigenação brasileira e ao negro traficante de mão de obra negra para argumentar contra as cotas raciais, já adotadas em 68 instituições de ensino superior em todo o país, estaduais e federais. Desde 2003, cerca de 52 mil alunos já se formaram tendo ingressado na faculdade como cotistas.
O partido de Demóstenes, o DEM (ex-PFL), considera que as cotas raciais são inconstitucionais porque, ao se reservar vagas para negros e afrodescendentes, contraria-se o princípio da igualdade dos candidatos no vestibular.
Fonte: Informes
“Isso é ridículo, repudiamos as declarações do senador”, disse Janete Pietá. “Se ele acha que tudo foram flores e amores, está renegando a história da escravidão no Brasil e no mundo. Agora entendo porque o senador do DEM queria tirar a palavra escravidão do texto do Estatuto. Isso justifica a sua posição contrária às cotas, exatamente porque ele acha que não houve escravidão. Um homem com uma posição como a do senador do DEM não pode ser relator do Estatuto da Igualdade Racial”, disse. A petista adiantou que vai procurar os senadores do PT para discutir o assunto na próxima semana.
O deputado Carlos Santana também lamentou as declarações e disse que a Frente Parlamentar da Promoção da Igualdade Racial fará uma reunião para discutir o caso. “Isso mostra que, em pleno século 21, as pessoas ainda tentam esconder os 350 anos de escravidão no Brasil. Temos que repudiar manifestações como essa”, afirmou.
O parlamentar reclamou da demora na votação do Estatuto no Senado e disse que o relator tem trabalhado para atrasar a tramitação da matéria. “O mais importante é colocar o Estatuto em votação. Temos maioria para votar, mas o relator, não submete seu parecer à apreciação.”
Durante a audiência no STF, Demóstenes se esforçou para demonstrar a responsabilidade de negros no sistema escravista vigente no Brasil durante quatro séculos. “Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram”, declarou o racista. “Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da pauta econômica africana.”
Ao falar sobre a miscigenação, Demóstenes provocou ainda mais os negros: “[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. [Fala-se que] foi algo forçado. Gilberto Freyre, que é hoje renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual.”
O senador pelo ex-PFL usou as referências à história “tão bonita” da miscigenação brasileira e ao negro traficante de mão de obra negra para argumentar contra as cotas raciais, já adotadas em 68 instituições de ensino superior em todo o país, estaduais e federais. Desde 2003, cerca de 52 mil alunos já se formaram tendo ingressado na faculdade como cotistas.
O partido de Demóstenes, o DEM (ex-PFL), considera que as cotas raciais são inconstitucionais porque, ao se reservar vagas para negros e afrodescendentes, contraria-se o princípio da igualdade dos candidatos no vestibular.
Fonte: Informes
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ELIO GASPARI |
A TEORIA NEGREIRA DO DEM SAIU DO ARMÁRIO
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é uma espécie de líder parlamentar da oposição às cotas para estimular a entrada de negros nas universidades públicas. O principal argumento contra essa iniciativa contesta sua legalidade, e o caso está no Supremo Tribunal Federal, onde realizaram-se audiências públicas destinadas a enriquecer o debate.
Na quarta-feira o senador Demóstenes foi ao STF, argumentou contra as cotas e disse o seguinte:
"[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual".
O senador precisa definir o que vem a ser "forma muito mais consensual" numa relação sexual entre um homem e uma mulher que, pela lei, podia ser açoitada, vendida e até mesmo separada dos filhos.
Gilberto Freyre escreveu o seguinte:
"Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesma do regime".
"O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava: abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem."
"Não eram as negras que iam esfregar-se pelas pernas dos adolescentes louros: estes é que no sul dos Estados Unidos, como nos engenhos de cana do Brasil, os filhos dos senhores, criavam-se desde pequenos para garanhões. (...) Imagine-se um país com os meninos armados de faca de ponta! Pois foi assim o Brasil do tempo da escravidão."
Demóstenes Torres disse mais:
"Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (...) Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da economia africana".
Nós, quem, cara-pálida? Ao longo de três séculos, algo entre 9 milhões e 12 milhões de africanos foram tirados de suas terras e trazidos para a América. O tráfico negreiro foi um empreendimento das metrópoles europeias e de suas colônias americanas. Se a instituição fosse africana, os filhos brasileiros dos escravos seriam trabalhadores livres.
No início do século 20 os escravos não eram o principal "item de exportação da economia africana". Àquela altura o tráfico tornara-se economicamente irrelevante. Ademais, não existia "economia africana", pois o continente fora partilhado pelas potências europeias. Demóstenes Torres estudou história com o professor de contabilidade de seu ex-correligionário José Roberto Arruda.
O senador exibiu um pedaço do nível intelectual mobilizado no combate às cotas.
Na quarta-feira o senador Demóstenes foi ao STF, argumentou contra as cotas e disse o seguinte:
"[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual".
O senador precisa definir o que vem a ser "forma muito mais consensual" numa relação sexual entre um homem e uma mulher que, pela lei, podia ser açoitada, vendida e até mesmo separada dos filhos.
Gilberto Freyre escreveu o seguinte:
"Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesma do regime".
"O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava: abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem."
"Não eram as negras que iam esfregar-se pelas pernas dos adolescentes louros: estes é que no sul dos Estados Unidos, como nos engenhos de cana do Brasil, os filhos dos senhores, criavam-se desde pequenos para garanhões. (...) Imagine-se um país com os meninos armados de faca de ponta! Pois foi assim o Brasil do tempo da escravidão."
Demóstenes Torres disse mais:
"Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (...) Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da economia africana".
Nós, quem, cara-pálida? Ao longo de três séculos, algo entre 9 milhões e 12 milhões de africanos foram tirados de suas terras e trazidos para a América. O tráfico negreiro foi um empreendimento das metrópoles europeias e de suas colônias americanas. Se a instituição fosse africana, os filhos brasileiros dos escravos seriam trabalhadores livres.
No início do século 20 os escravos não eram o principal "item de exportação da economia africana". Àquela altura o tráfico tornara-se economicamente irrelevante. Ademais, não existia "economia africana", pois o continente fora partilhado pelas potências europeias. Demóstenes Torres estudou história com o professor de contabilidade de seu ex-correligionário José Roberto Arruda.
O senador exibiu um pedaço do nível intelectual mobilizado no combate às cotas.
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