terça-feira, novembro 08, 2005
Metade dos presos em Paris é menor de idade
Garotos de até 11 anos já foram detidos incendiando carros
Cerca da metade dos jovens detidos desde o início da onda de violência na periferia de Paris é menor de idade, fato que vem preocupando as autoridades. A idade média dos garotos presos, segundo a polícia francesa, é de apenas 16 anos.
Neste final de semana, dois garotos de apenas 11 anos foram presos no momento em que incendiavam carros na cidade de Orléans, a cerca de 130 km de Paris.
Todos os seis jovens detidos em um local que servia para a fabricação de coquetéis molotov em Evry, no subúrbio da capital, têm idade entre 13 e 16 anos. Eles haviam fabricado uma centena de explosivos.
"Nós estamos estupefatos com a pouca idade desses jovens", afirmou ao jornal Le Parisien o procurador da República em Evry, Jean-François Pascal.
Vandalismo
Os policiais também se dizem chocados ao descobrir, em vários casos, que os atos de vandalismo na periferia de Paris e em cidades de outras regiões francesas são cometidos por garotos tão jovens.
Até ontem, 500 pessoas haviam sido encarceradas nas delegacias do país, sendo a metade menores. O número de pessoas controladas pela polícia de forma geral (o que inclui, por exemplo, a apresentação de documentos de identidade) e que podem ou não ser levadas à delegacia é bem maior e já ultrapassa o número de mil.
De acordo com a direção de assuntos criminais do Ministério da Justiça francês, 15 menores tiveram prisão preventiva decretada. Eles comparecem diante de um juiz especial para crianças. Na França, eles podem ter sua prisão decretada a partir de 13 anos de idade.
Exclusão
Já na adolescência, esses garotos, muitos deles nascidos na França, mas de origem imigrante, já vivem o sentimento de exclusão social.
Eles ainda não passaram por discriminações no mercado de trabalho, como ocorre com pessoas originárias de países do Magreb (Argélia, Marrocos, Tunísia) e do restante da África que vivem nos subúrbios da capital francesa, onde a taxa de desemprego é de 21%, o dobro da média nacional. Entre os jovens desses subúrbios, o desemprego chega até a 40%.
Mas a escola dessas periferias também não funciona como um elemento de integração social, disse à BBC Brasil Imed Midouni, responsável do centro educativo Trampolim para a Inserção, em Val de Marne, na periferia de Paris.
O centro que ele dirige recebe jovens que foram enviados por um juiz da vara de infância e adolescência e tenta inserir socialmente e profissionalmente os delinqüentes juvenis. É uma espécie de última oportunidade antes da prisão.
"Nas escolas dessas zonas urbanas sensíveis não há nenhum mix social e cultural. As crianças e jovens só convivem com pessoas que também são de origem imigrante. Tudo é propício para a criação de guetos", diz ele.
"A infra-estrutura dessas periferias é bastante pobre, e eles vivem, normalmente, em prédios insalubres", diz o educador, que viveu durante 25 anos no distrito de Seine-Saint-Denis, na periferia de Paris, onde os atos de vandalismo começaram.
Midouni afirma que a onda de violência é motivada por um sentimento de injustiça e de pouca perspectiva diante do futuro. Além disso, esses garotos de pouca idade convivem no dia-a-dia com adultos desempregados, que sofrem discriminação e enfrentam inúmeras dificuldades.
Ele não acredita que os adolescentes tenham se juntado a jovens na faixa de 18-20 anos para destruir prédios e queimar carros simplesmente por diversão, como comentam alguns parisienses em relação ao assunto. Para ele, esses garotos sentem uma verdadeira revolta.
O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, chamou nesta segunda-feira os autores desses atos de vandalismo de "hooligans" e "criminosos".
Daniela Fernandesde Paris BBC BR
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