#Occupy Wall Street e os economistas-celebridades 24/10/2011, Michael Yates, Countercurrents
http://www.countercurrents.org/yates241011.htm
O movimento Occupy Wall Street tomou toda a nação. Em apenas poucas semanas, espalhou-se de Manhattan para centenas de cidades grandes e pequenas, e, agora, já chega a outros países. Focou-se na raiva que todos sentimos de um pequeno grupo de indivíduos extraordinariamente ricos (o 1%) que destruíram nossas comunidades, acabaram com nossos empregos, tomaram de assalto nosso governo e fazem o que podem para nos deixar (nós, os 99%) o mais inseguros possível. Querem tudo que temos. Negam todas as nossas aspirações.
Aplaudo os esforços dos muitos milhares que estão protestando e ocupando. Convoco todos a fazer o que puderem para apoiar OWS. Unam-se às ocupações. Visitem as páginas internet do movimento. Mandem dinheiro. Falem com os amigos sobre o movimento. Há muito tempo não acontece coisa semelhante, nos EUA e, depois, ninguém pode imaginar o que pode vir. Alguns analistas dizem que o movimento OWS é o nascimento de movimento político novo e mais radical. Desejo ardentemente que estejam certos.
Pessoalmente, me interessei por observar os famosos que gravitaram até o Zuccotti Park ou escreveram sobre o fenômeno. Normal. Vivemos numa cultura de celebridades, e a mídia só tem olhos para as celebridades, o que dissemina a noção de que o que as celebridades digam teria alguma importância e, pior, que só a opinião das pessoas “importantes” teria importância, que todos os eventos teriam de ser analisados pelos olhos dos ‘que sabem’.
Sou professor de economia e, assim, interessei-me especialmente pelo que diziam os famosos economistas liberais que foram até o Distrito Financeiro de Manhattan e abraçaram o movimento Occupy Wall Street ou falaram a favor do movimento: Paul Krugman, Jeffrey Sachs, Robert Reich, Joseph Stiglitz, Jeff Madrick, verdadeiro panteão das estrelas da economia liberal. Em geral, foram aplaudidos por apoiadores do movimento, mesmo por gente que conheço bem e sei que não são liberais, mas de esquerda. Krugman, Sachs e Stiglitz, especialmente, foram extraordinariamente elogiados. Todos esses já disseram ou fizeram coisas horríveis no passado (Sachs, por exemplo, prestou serviços de consultor à Rússia e à Polônia, depois do colapso do Bloco Soviético; receitou a “terapia de choque” que devastou a vida de muita gente naqueles países). Apesar disso, meus amigos da esquerda receberam calorosamente as recentes mudanças de opinião.
Aplaudo esses economistas por terem abandonado algumas de suas ideias passadas. Apoiarem OWS hoje também é bom. Mesmo assim, nada têm a nos dizer de muito iluminador, nem o que dizem alterará o desequilíbrio de poder que, hoje, pesa consistentemente, nos EUA, contra os 99%.
Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e ex-presidente do Banco Mundial resumiu o pensamento liberal, docemente, pode-se dizer, no que disse aos ocupantes do movimento OWS[1]:
http://www.countercurrents.org/yates241011.htm
O movimento Occupy Wall Street tomou toda a nação. Em apenas poucas semanas, espalhou-se de Manhattan para centenas de cidades grandes e pequenas, e, agora, já chega a outros países. Focou-se na raiva que todos sentimos de um pequeno grupo de indivíduos extraordinariamente ricos (o 1%) que destruíram nossas comunidades, acabaram com nossos empregos, tomaram de assalto nosso governo e fazem o que podem para nos deixar (nós, os 99%) o mais inseguros possível. Querem tudo que temos. Negam todas as nossas aspirações.
Aplaudo os esforços dos muitos milhares que estão protestando e ocupando. Convoco todos a fazer o que puderem para apoiar OWS. Unam-se às ocupações. Visitem as páginas internet do movimento. Mandem dinheiro. Falem com os amigos sobre o movimento. Há muito tempo não acontece coisa semelhante, nos EUA e, depois, ninguém pode imaginar o que pode vir. Alguns analistas dizem que o movimento OWS é o nascimento de movimento político novo e mais radical. Desejo ardentemente que estejam certos.
Pessoalmente, me interessei por observar os famosos que gravitaram até o Zuccotti Park ou escreveram sobre o fenômeno. Normal. Vivemos numa cultura de celebridades, e a mídia só tem olhos para as celebridades, o que dissemina a noção de que o que as celebridades digam teria alguma importância e, pior, que só a opinião das pessoas “importantes” teria importância, que todos os eventos teriam de ser analisados pelos olhos dos ‘que sabem’.
Sou professor de economia e, assim, interessei-me especialmente pelo que diziam os famosos economistas liberais que foram até o Distrito Financeiro de Manhattan e abraçaram o movimento Occupy Wall Street ou falaram a favor do movimento: Paul Krugman, Jeffrey Sachs, Robert Reich, Joseph Stiglitz, Jeff Madrick, verdadeiro panteão das estrelas da economia liberal. Em geral, foram aplaudidos por apoiadores do movimento, mesmo por gente que conheço bem e sei que não são liberais, mas de esquerda. Krugman, Sachs e Stiglitz, especialmente, foram extraordinariamente elogiados. Todos esses já disseram ou fizeram coisas horríveis no passado (Sachs, por exemplo, prestou serviços de consultor à Rússia e à Polônia, depois do colapso do Bloco Soviético; receitou a “terapia de choque” que devastou a vida de muita gente naqueles países). Apesar disso, meus amigos da esquerda receberam calorosamente as recentes mudanças de opinião.
Aplaudo esses economistas por terem abandonado algumas de suas ideias passadas. Apoiarem OWS hoje também é bom. Mesmo assim, nada têm a nos dizer de muito iluminador, nem o que dizem alterará o desequilíbrio de poder que, hoje, pesa consistentemente, nos EUA, contra os 99%.
Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e ex-presidente do Banco Mundial resumiu o pensamento liberal, docemente, pode-se dizer, no que disse aos ocupantes do movimento OWS[1]:
“Vocês estão certos de estarem indignados. O fato é que o sistema não está trabalhando a favor de vocês. Não está certo que tenhamos tantos desempregados, quando há tantas necessidades que temos de satisfazer. Não está certo que estejamos despejando pessoas das casas em que vivem, quando temos tantas pessoas sem teto. Nossos mercados financeiros têm importante papel a cumprir. Cabe a eles alocar capital, gerenciar riscos. Estamos suportando os custos de seus desmandos. Esse é um sistema em que socializamos as perdas e privatizamos os ganhos. Isso não é capitalismo; isso não é economia de mercado. Essa é uma economia distorcida e, se continuarmos com isso, não conseguiremos crescer e não conseguiremos criar uma sociedade justa.”
Praticamente tudo, depois do primeiro ponto final, está errado. As frases sobre os desempregados e os sem teto até estariam bem, mas, infelizmente, vêm depois da frase que diz que “o sistema não está funcionando direito”. Como não?! Está funcionando exatamente como funcionam os sistemas capitalistas! Esses sistemas sempre foram marcados por polos de riqueza e de pobreza, com períodos de bolhas especulativas seguidos de recessões e depressões, empregados sobrecarregados e exércitos industriais de reserva, uns poucos vencedores e legiões de vencidos, locais de trabalho que alienam, roubo de terras de camponeses e pequenos proprietários, meio ambiente destruído, numa palavra: o capital manda. As perdas sempre são socializadas e os ganhos sempre são privatizados. Uma sociedade que seja, simultaneamente justa e capitalista é impossível.
Os outros economistas-celebridades liberais acima citados disseram praticamente o mesmo que Stiglitz. Todos creem que o capitalismo pode ser posto a operar a favor do interesse da maioria, a favor dos 99%. Bastaria termos governo que regulasse apropriadamente o capitalismo. E todos creem que, não fosse o período de fundamentalismo neoliberal iniciado por Margaret Thatcher e Ronald Reagan, ainda estaríamos – nas palavras de J. Bradford Delong, economista amigo e discípulo de Stiglitz e Krugman – “engatinhando rumo a uma utopia”. O que não entra na cabeça dessa gente é que os problemas que enfrentamos hoje nascem, todos, da natureza do capitalismo e das leis do movimento do capital.
Um amigo meu diz que Occupy Wall Street já mudou a paisagem política nos EUA. Que abriu novas possibilidades de discutir e debater o que acontece no mundo e o que temos de fazer sobre o que acontece no mundo. Diz que não devemos lastimar que os ocupantes ainda não tenham apresentado agenda de demandas específicas nem desenvolvido uma completa teoria da mudança social. Que devemos nos sentir muito felizes por, afinal, existir quantidade visível de homens e mulheres, jovens e velhos, que se apresentam como provas vivas de que as condições econômicas, sociais e políticas em que vivemos não são mais admissíveis. “Agora é conosco”, diz o meu amigo. Cabe a nós acrescentar nossas novas ideias à mistura, organizar demandas específicas em nossos grupos e comunidades, formar nossas próprias organizações políticas e de pensamento.
Concordo integralmente com o meu amigo. Assim sendo, tenho duas coisas a dizer à minha turma dos economistas radicais.
Primeira: Tratemos de desenvolver nossas próprias análises da economia e esqueçamos, simultaneamente, as críticas da economia dominante e a ‘tarefa’ de idolatrar uns poucos economistas-celebridades da corrente dominante que, agora, se puseram a chorar pelos pobres, os sem teto e os desempregados.
Economistas liberais como Krugman, Sachs e Stiglitz jamais, em toda a sua vida, entenderam o modo como funcionam as economias capitalistas, com a clareza ofuscante com que Karl Marx entendeu e explicou esse processo, praticamente em todas as páginas de O Capital, volume 1º. Nem entenderam, nem jamais entenderão. Isso, precisamente, foi o que entenderam perfeitamente bem dois de meus mentores: Harry Magdoff e Paul Sweezy. Harry chamava Krugman de “boxeador a serviço do capitalismo”. Foi antes de Krugman descobrir John Maynard Keynes, mas ainda é perfeito. Uma vez, num almoço, perguntei a Paul sua opinião sobre as ideias econômicas de William Vickrey, economista liberal que acabava de receber o Prêmio Nobel [em 1996, dividido com James A. Mirrlees] e que trabalhou para o governo Roosevelt durante o New Deal, como o próprio Paul. Sweezy concedeu que Vickrey era bom sujeito; mas disse que nada acrescentara à economia, além de ideias “triviais” – que lhe valeram o Nobel. Pode-se dizer o mesmo, de Krugman e Stiglitz.
Sou professor de economia também de sindicalistas e descobri que o pensamento de Keynes e a economia liberal fazem perfeito sentido para meus alunos, sem novidades. Mas Marx os faz acordar, prestar atenção e interessar-se por ideias. Assim sendo, fiquemos com Marx e construamos o mais que nos seja possível a partir do modo como Marx entendia e descreveu o capitalismo. Só esse tipo de economia resiste à cooptação pelo 1%: é a única economia que eles temem. Podemos parar de esperar que os economistas liberais convertam-se ao marxismo.
Em todos os EUA, só conheço um ser humano que passou, de respeitado economista neoclássico a economista radical – John Gurley. John cometeu a temeridade de elogiar a economia de Mao Tse Tung e rejeitou na totalidade, a economia que lhe dera fama e prestígio.
Segunda: Economistas radicais devem aliar-se firmemente aos trabalhadores. Isso, os economistas liberais jamais farão. Karl Marx foi educador de trabalhadores e fundador do primeiro partido político do trabalho que o mundo conheceu. Engels usou a fortuna da família para combater capitalistas. Esses e seus herdeiros radicais tornaram-se unha e carne com o trabalho, não no sentido de jamais criticar o racismo, o sexismo ou o nacionalismo chauvinista que muitos trabalhadores propunham ou as práticas que se viam em muitos sindicatos, mas no sentido de identificar-se com o trabalho e abraçar apaixonadamente a luta de classes, sem reservas. Marx, Engels e seus herdeiros intelectuais estariam, esses sim, como nós temos hoje de estar, ao lado dos 99% – se não sempre corporalmente, pelas praças, em protestos como o Movimento Occupy Wall Street, com certeza sempre em espírito.
Os economistas liberais que apareceram lá na Praça Liberty, por seu lado, nunca abraçaram ou abraçarão as posições do trabalho. De fato, esses que aqui mencionei são, em termos de renda, riqueza pessoal, amigos e ideias sobre o mundo, membros perfeitos e acabados do 1%. Não há o que me convença que, no final, todos esses cometerão suicídio de classe.
Acredito, sim, que, ano que vem, todos votarão em Obama. E se, então, dez milhões de desempregados já estiverem ocupando fábricas, canteiros de obras, escolas, hospitais e escritórios, todos esses economistas liberais e Obama, todos eles, juntos, darão algum jeito de inventar razões para decidir que “Agora, chega! Essa coisa já foi longe demais!”