quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Padarização




São Paulo: a população refém dos criminosos

Estado tem recorde em registros de roubo e explosão nos casos de estupro, latrocínio e sequestro

Mauro Carrara

Está lá, no Diário Oficial do Estado, no item reservado aos despachos do Gabinete do Secretário da Segurança Pública: elevação assustadora nos índices de criminalidade, com recorde no número de roubos.

Num Estado hoje dominado por facções criminosas e gangues, engravatadas ou não, armadas ou não, as estatísticas revelam uma situação alarmante.

Os roubos atingiram o mais alto índice da série histórica. Mais de 257 mil ocorrências em 2009. Um acréscimo de 18% em relação ao ano anterior.

Também cresceu em 3% o número de homicídios no Estado.

Os casos de latrocínio (roubo seguido de morte) cresceram 14% em relação a 2008. Nesses eventos, 304 cidadãos perderam a vida.

Pulou de 60 para 85 o número de casos de extorsão mediante sequestro.

O Estado registrou ainda mais de 528 mil casos de furto, 8% a mais que em 2008.

Os casos de estupro (mais atentado violento ao pudor) bateram recorde. Pularam de 3.338, em 2008, para 5.647, em 2009.

Para completar o quadro de horror e insegurança, a violência policial também aumentou.

Pelo menos 549 pessoas morreram em supostos confrontos com a polícia. Em 2008, tinham ocorrido 431 eventos do gênero.


Padarização

Cabe pouca filosofia acerca do acelerado processo de degradação da qualidade de vida no Estado de São Paulo.

A população que paga altíssimos impostos é vítima do desgoverno e das práticas predatórias do grupo que há anos se encontra encastelado no poder.

Depois de algumas encenações teatrais, o governo de Geraldo Alckmin retirou-se covardemente do combate ao crime organizado. Pediu água...

A gestão de José Serra aprofundou de forma escandalosa o sistema de submissão e sucateou o sistema de Segurança Pública.

O candidato do PSDB à Presidência da República paga mal os agentes da lei. Em termos de treinamento e equipamentos, priva-os do básico para uma ação preventiva inteligente e efetiva.

E, quando pode, Serra ainda fomenta a rivalidade entre policiais civis e militares. Em 2008, essa estratégia de geração de intrigas provocou confronto aberto entre os dois grupos às portas de sua casa, o Palácio dos Bandeirantes.

Mal remunerados, mal aparelhados e mal geridos, os policiais paulistas são hoje o retrato da degradação de São Paulo.

Esse padrão de negligência e incompetência resultou nas mortes da garota Eloá Cristina, raptada pelo ex-namorado no ABC, e do jovem Cleiton de Souza, num conflito entre torcidas de futebol, na Capital.

Mas são milhares e milhares os anônimos contribuintes que sofrem com a insegurança todos os dias. É o empresário que sai cedo para trabalhar. É a humilde estudante que volta tarde para casa. Ninguém está seguro.

A rigor, vigora hoje o sistema de “padarização” das patrulhas. Muitos dos agentes da lei se mantêm nas imediações de uma panificadora ou mercado, reduzindo drasticamente as rondas pelas áreas internas dos bairros.

Acabam se tornando guardas particulares dos comerciantes locais. Esse fenômeno já não atinge somente a periferia da Capital e de outras grandes cidades, mas também os bairros de classe média.

Na verdade, tudo parece sair de acordo com a encomenda. Ao destroçar o sistema de segurança pública, o tucano Serra tem incentivado indiretamente os negócios de segurança particular.

É seu jeito de ser e pensar, alinhado com os ultrapassados dogmas do neoliberalismo.

Cabe lembrar que, no âmbito da Capital, o prefeito Gilberto Kassab segue a mesma cartilha. Dessa forma, reduziu drasticamente os investimentos em capacitação técnica e humanização da Guarda Civil Metropolitana.

Por fim, é preciso que se faça justiça.

São Paulo ainda tem, sim, policiais militares e civis que arriscam a vida para proteger o cidadão. São honestos, dedicados e atentos ao interesse público.

Estes, no entanto, são cada vez mais raros. E, frequentemente, acabam admoestados e punidos justamente por suas virtudes. Que Deus os guarde.

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