domingo, julho 04, 2010

Globo envergonha o Brasil

A brutal agressão da Globo ao Paraguai
Mauro Carrara
Se a América Latina é forte, resistente, mais ainda é o Paraguai.
Em inúmeras ocasiões, sofreu ataques pesados dos vizinhos cobiçosos.
Eliminaram suas linhas de comunicação com o mundo. E o país restou sem saída para o mar.
Como em outras partes do coração do cone sul, no entanto, desenvolveu comunidades sustentáveis e harmônicas nas reduções jesuíticas, espaço da colaboração fraterna entre o europeu esclarecido e o indígena do interior do continente.
Eram esses agrupamentos civilizados que sofriam ataques bárbaros dos "Bandeirantes", aventureiros que viviam de fazer escravos, mas que acabaram sacralizados como heróis na mitologia brasileira, especialmente a paulista.
No século 18, a grande obra da potências européias foi a destruição da república comunal cristã dos guaranis.
Como tolerar que aqueles povos da floresta, tão cândidos e belos, fossem também ótimos fundidores, sapateiros, alfaiates, ceramistas, tecelões, relojoeiros, calígrafos e fabricantes de instrumentos musicais?
Esta parte do paraguai guarani, que era também brasileiro e argentino, foi destruída cruelmente. E seus melhores cidadãos, homens e mulheres, foram convertidos em escravos, servidores ou soldados.
A saga do povo paraguaio continua depois, resistindo à tentativa de anexação por parte da argentina.
Entretanto, no século 19, expressivas partes do território acabam cedidas aos vizinhos insaciáveis.
Entre 1865 e 1870, Argentina, Brasil e Uruguai, com suporte do Reino Unido, cercam e atacam ferozmente o Paraguai.
Campos são incendiados. Rios são contaminados.
Ao fim do conflito, mais da metade dos 500 mil paraguaios perderam a vida. Dois terços da população masculina foi sepultada nesses anos de terror.
E boa parte dos território acabou surrupiado por argentinos e brasileiros.
Espetacularmente, o Paraguai resistiu, e manteve-se como nação independente, nação singular.
Ainda hoje, 95% da população fala o guarani. São resistentemente bilíngues, peculiarmente atados a suas raízes, singularmente adeptos da diversidade e da mestiçagem.
Este sofrido, mas valente e belo país, costuma ser alvo de chacotas e insultos, especialmente no Brasil.
Cassetas, planetas, CQCs e outras trupes midiáticas valem-se do preconceito e da discriminação para constituir o chamado humorismo de desqualificação, sempre rasteiro, agressivo e altamente viral.
Se existe nestes midiotas verdadeira adoração servil pelas potências do Norte, há também enorme gosto em escarnecer e provocar o país vizinho. Trata-se de uma espécie de bullying midiático transnacional tão insistente quanto venenoso.
Desta vez, no entanto, o ataque covarde não teve origem nos programas de piadas ruins, mas na emissora Sportv, da poderosa Rede Globo.
Em vez de esmiuçar a excelente campanha do selecionado paraguaio, eliminado da Copa da África do Sul num jogo em que teve um gol legítimo anulado, os globais preferiram o lugar-comum estupidificante para ofender mais uma vez o povo vizinho.
Combinando imagens pinçadas e um texto cheio de ironias rasas, o "jornalista" da Globo chama o Paraguai de "paraíso obscuro do mundo".
Sua poesia de desqualificação segue afiada. Ridiculariza a gastronomia, a economia e a música locais. E chega a zombar das fisionomias dos paraguaios e paraguaias, num indisfarçado exercício de racismo.
Segue, aliás, o discurso ofensivo contra os vizinhos latinoamericanos, potencializado com as recentes agressões do político José Serra ao povo boliviano.
Se o futebol vem sendo propagandeado como instrumento do processo civilizatório, a Rede Globo de televisão o utiliza exatamente com propósito contrário.
Nas mãos e bocas da imprensa brasileira, o esporte bretão torna-se um recurso de perpetuação do preconceito ignominioso e do desprezo pela diferença.
Como brasileiro, me envergonha. Se vale alguma coisa, rogo aos irmãos paraguaios que aceitem nossas desculpas.
É responsabilidade nossa, dos brasileiros de bem, mas tristemente omissos, que a emissora líder continue a cometer desvarios dessa natureza.

Para assistir ao vídeo com a reportagem, clique aqui:


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