Os boatos sobre o apagão de energia
Enviado por luisnassif, ter, 08/01/2013 - 08:00
Autor:
Luis
Nassif
Coluna Econômica
Na Folha de ontem, a jornalista Eliane
Cantanhêde forneceu a manchete, ao anunciar uma reunião de emergência do setor
elétrico. Segundo a matéria, “a reunião foi acertada entre Dilma, durante suas
férias no Nordeste, e o Ministro das Minas e Energia Edison
Lobão”.
“Dirigentes de órgãos do setor tiveram que
cancelar compromissos para comparecer”, dizia a matéria. Mais: “Dez dias depois
de dizer que é "ridículo" falar em racionamento de energia, a presidente Dilma
Rousseff convocou reunião de emergência sobre os baixos níveis dos
reservatórios, para depois de amanhã, em Brasília.
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Segundo a jornalista, “oficialmente,
estarão presentes ao encontro de quarta-feira os integrantes do CMSE (Comitê de
Monitoramento do Setor Elétrico), que é presidido pelo ministro das Minas e
Energia e é convocado, por exemplo, quando há apagões de grandes proporções,
como ocorreu mais de uma vez em 2012”.
Existe um órgão denominado de Comitê de
Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) que reúne-se mensalmente para analisar o
setor. Participam da reunião o Ministro, o Operador Nacional do Setor Elétrico
(ONS), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Agência Nacional de
Petróleo (ANP), a Agência Nacional de Águas (ANA), entre
outras.
As reuniões são mensais e agenda do ano é
definida sempre no mês de dezembro do ano anterior. Portanto, desde o mês
passado a tal reunião “extraordinária” estava marcada.
***
O mercado de energia elétrica é dividido em
dois segmentos. Há os contratos de longo prazo, firmados entre grandes
consumidores (entre os quais as distribuidoras) e fornecedores; e o chamado
mercado spot, com compras de curto prazo.
Uma informação incorreta, como esta,
poderia provocar oscilações de monta nas cotações do mercado spot. Poderia fazer
empresas suspenderem planos de investimento, montarem planos de
contingência.
Não afetou o mercado porque as grandes
empresas, os grandes investidores dispõem de canais de informação específicos. E
a própria Internet permitiu a propagação do desmentido do MME acerca do caráter
“extraordinário” da reunião.
Mas a falsa notícia levantou até o
argumento de que os problemas eram decorrentes da redução da conta de luz – que
sequer ocorreu ainda.
***
De concreto, existe a enorme seca que
assola o nordeste, que reduziu as reservas do sistema. Atualmente os
reservatórios da Região Nordeste operam com 31,6% da sua capacidade, e os da
Região Norte com 41,24%.
Limitações ambientais, além disso,
obrigaram a uma mudança na arquitetura das novas usinas hidrelétricas,
substituindo os grandes lagos pela chamada tecnologia de “fio
d’água”.
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Mas o modelo prevê um conjunto de usinas
termoelétricas de reserva. Sempre que há problemas no fornecimento, elas são
autorizadas a operar até que o sistema convencional volte a dar conta do
recado.
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O episódio mostra, em todo caso, a
dificuldade, hoje em dia, de se dispor de informações objetivas. Na Internet, há
um caos informacional; nos jornais, uma sobreposição diária das intenções
políticas sobre a objetividade das matérias.
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LEIA MAIS AQUI:
A cobertura da febre amarela pela Folha
Enviado por luisnassif, qui, 08/12/2011 - 20:00
Por Evanildo da
Silveira
Lembra da campanha da Folha, Eliane
Cantanhêde, "a favor" de uma epidemia de febre amarela em 2007 e 2008?
Quer a Folha insistia que haveria uma epidemia da doença. Agora, uma
pesquisadora da USP desmacara aquele absurdo:
Pesquisadora da USP desconstrói discurso
epidêmico
da cobertura jornalística sobre febre
amarela
Analisar o discurso veiculado pelo jornal Folha de S. Paulo durante a epizootia de febre amarela
silvestre, que atingiu também seres humanos, foi o objetivo da dissertação de
mestrado “Epidemia
midiática: um estudo sobre a construção de sentidos na cobertura da Folha de
S.Paulo sobre a febre amarela, no verão 2007- 2008” , defendida pela jornalista e pesquisadora
Cláudia Malinverni, na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da
USP.
Foram analisadas 118 matérias veiculadas pelo jornal, entre 21 de
dezembro de 2007 e 29 de fevereiro de 2008, recorte temporal que permitiu
localizar a notícia que deu início ao fenômeno de agendamento midiático, a
evolução do grau de noticiabilidade do tema e o seu desgaste como pauta de
relevância. Para apoio à análise, foram selecionados 40 documentos
institucionais sobre a doença, emitidos pela Secretaria de Vigilância Sanitária
do Ministério da Saúde, no mesmo período.
Os achados indicam que as estratégias discursivas da cobertura
jornalística relativizaram o discurso da autoridade de saúde pública;
enfatizaram o “aumento progressivo” do número de casos; colocaram a vacinação
como o limite entre a vida e a morte, omitindo riscos do uso indiscriminado da
vacina antiamarílica; e propagaram a tese de uma iminente epidemia de febre
amarela de grandes proporções. Essas estratégias deram novos sentidos à doença,
deslocando o evento de sua forma silvestre, espacialmente restrita e de
gravidade limitada, para a urbana, de caráter epidêmico e potencialmente mais
grave.
Secundariamente, a análise permitiu identificar os riscos a que a
população foi exposta em função dos sentidos produzidos pelo discurso midiático,
com a ocorrência de óbitos diretamente relacionados ao noticiário veiculado pela
imprensa, de modo geral, e seus impactos sobre o sistema público de saúde
brasileiro. Como resultado da “epidemia midiática”, houve uma explosão da
demanda pela vacina, que obrigou o Ministério da Saúde a distribuir, entre
dezembro de 2007 e 22/02/2008, 13,6 milhões de doses da vacina antiamarílica,
mais de 10 milhões de doses acima da distribuição média de rotina, para o
período. Em menos de dois meses, mais de 7,6 milhões de doses foram aplicadas na
população, 6,8 milhões só em janeiro de 2008, ápice do agendamento midiático. Em
razão do aumento exponencial do consumo de vacina, o Brasil, um dos três
fabricantes mundiais do antiamarílico, suspendeu a exportação do imunobiológico
e pediu à Organização Mundial da Saúde (OMS) mais 4 milhões de doses do estoque
de emergência global.
Além disso, a omissão da cobertura jornalística quanto aos riscos
inerentes ao uso indiscriminado da vacina expôs a população brasileira a riscos
letais. Em 2008, a vigilância de eventos adversos pós-vacinal do Ministério da
Saúde registrou 8 casos de reação grave à vacina, dos quais 6 foram a óbito, 2
deles por doença viscerotrópica (DV), a forma mais rara e grave de reação ao
vírus vacinal. Ressalte-se que, no Brasil, em nove anos (1999-2007) foram
registrados 8 casos de DV, com 7 óbitos.
As matérias produzidas pelo jornal deram intensa visibilidade
(saliência) às informações que visavam relativizar a instância discursiva
oficial, que, por sua vez, não conseguiu impor-se ao fluxo discursivo midiático.
Os sentidos produzidos pela cobertura jornalística tiraram de perspectiva as
complexidades dos processos do adoecimento humano e os limites do conhecimento
no tratamento das doenças. Nesta luta simbólica, perdeu o sistema público de
saúde, mas, sobretudo, perdeu a população brasileira: mortes
ocorreram.