sábado, março 17, 2012

Guerra à moda do Óleo-gasodutostão

16/3/2012, Pepe Escobar, Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/South_Asia/NC16Df01.html

A mensagem da secretária de Estado dos EUA Hillary (Viemos, vimos, ele morreu”) Clinton ao Paquistão foi curta e grossa: tentem dar tocar adiante o gasoduto Irã-Paquistão (IP), e acabamos financeiramente com vocês.

Islamabad, com a economia em cacos, vivendo em terra de apagão elétrico e desesperada para conseguir energia, tentou argumentar. O mais alto funcionário do Ministério de Petróleo e Recursos Naturais Muhammad Ejaz Chaudhry repetiu que o gasoduto IP, de 2.775km e $1,5 bilhão, era absolutamente crucial para a segurança energética do Paquistão.

Caiu em ouvidos surdos. Clinton evocou as sanções “especialmente danosas” – associadas ao movimento de Washington para isolar o Irã por todos os meios existentes e a campanha sem limites para obrigar especialmente a Índia, a China e a Turquia a cortar suas importações de petróleo e gás iranianos.

Dado que Washington continua fracassando nos esforços para interromper os avanços do Óleo-gasodutostão na Ásia Central – isolando o Irã e contornando a Rússia –, tornou-se agora caso balístico de vida ou morte impedir, custe o que custar, a integração entre o sudoeste e o sul da Ásia, do campo-gigante de gás iraniano de South Pars até as províncias paquistanesas do Baloquistão e de Sindh.

O óleo-gasoduto Irã-Paquistão, IP, vale relembrar, é o original IPI (Irã-Paquistão-Índia) de $7 bilhões, também conhecido como “o óleo-gasoduto da paz”. A Índia caiu fora em 2009, sob pressão furiosa e incessante que sofreu dos governos George W Bush e, depois, Barack Obama. A Índia ganhou acesso a tecnologia nuclear para objetivos civis.

A China, por sua vez, ainda está de olho na possibilidade de estender o IP do porto de Gwadar, cruzando até o norte do Paquistão ao longo da rodovia Karakoram, até Xinjiang. A China já está ajudando Islamabad a construir reatores nucleares civis – como parte da política de segurança energética do Paquistão.

O Industrial and Commercial Bank of China Ltd. (ICBC), maior banco da China e primeiro do mundo em empréstimos, já estava posicionado como assessor e conselheiro financeiro do IP. Mas então, considerando o que se via escrito nas estrelas (sanções), passou a “mostrar menos interesse”, como Islamabad decidiu divulgar. O ICBC está completamente fora do negócio? Não exatamente. Pelo menos segundo o porta-voz do ministro paquistanês do Petróleo, Irfan Ashraf Qazid: “O banco ICBC continua engajado no projeto do óleo-gasoduto IP e as negociações prosseguem”.

Um megabanco como o ICBC, com zilhões de interesses globais, tem de ser cauteloso, se se trata de desafiar a máquina de sanções de Washington; mas há outras opções de financiamento a encontrar, outros bancos ou acordos em nível de governo com China e Rússia. A ministra de Relações Exteriores do Paquistão Hina Rabbani Khar acaba de deixar isso muito claro. O Paquistão precisa muito do gás que começará a fluir em dezembro de 2014.

Islamabad e Teerã já acertaram o preço. O trecho iraniano de 900km já está construído; o do Paquistão está começando a ser construído, pela empresa ILF Engineering, da Alemanha. A agência IRNA do Irã disse que o Paquistão anunciou que o projeto IP prossegue. Deve-se prever que a imprensa ocidental passe a dizer que os chineses assustaram-se e desistiram.

E o IPC? Quem se interessa?
Para Washington, a única via que resta é outro gambito no Óleo-gasodutostão – o perenemente tumultuado óleo-gasoduto TAPI (Turcomenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia). Ainda que se pressuponha que encontre financiamento; ainda que se pressuponha que os Talibãs recebam sua parte (aspecto que já fez desmoronar negociações entre os Talibã e o governo Clinton e, depois, o governo Bush); e mesmo que se assuma, até, que o óleo-gasoduto TAPI não seja bombardeado de hora em hora pelos mujahideen desde a pedra inaugural, o TAPI só estará pronto, otimistamente, em 2018. E Islamabad não pode simplesmente esperar até lá.
Como seria de esperar, a campanha de Washington contra o IP foi incansável – incluindo, é claro, guerra clandestina. Islamabad está convencida de que a CIA, a agência indiana de inteligência RAW, o Mossad israelense e o MI-6 britânico conspiram ativamente para conseguir, seja como for, que uma espécie de Baloquistão Ampliado decida levantar-se em armas para separar-se do governo central. Todas essas agências têm andado, mais ou menos à moda líbia, financiando e armando grupos de dissidentes baloques. Não por amor à independência – mas como via para balcanizar o Paquistão.

Para arrematar a fúria de Washington, o Irã dito “isolado”, vai começar a exportar mais 80 mil barris/dia de petróleo para o Paquistão; e já alocou $250 milhões para financiar o trecho paquistanês do óleo-gasoduto Irã-Paquistão, IP.

Tudo isso tem potencial para virar coisa muito, muito mais feia. Nada conseguirá conter a fúria que Washington aplicará na operação para esmagar o IP. Do ponto de vista do Irã pressionado e de uma economia estrangulada no Paquistão – e também do ponto de vista da China – trata-se aqui da Grade Asiática de Segurança Energética [orig. Asian Energy Security Grid].

O chinês ICBC talvez esteja (mais ou menos) fora. Mas a coisa toda pode ficar ainda mais suculenta, se Pequim decidir entrar na roda e converter o óleo-gasoduto Irã-Paquistão, IP, em óleo-gasodutostão IPC, Irã-Paquistão-China. Washington terá coragem para desafiar Pequim cara a cara?

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