Preste atenção: quando o assunto é petróleo – e energia – existe uma figura que é “arroz de festa” na mídia em geral: o senhor Adriano Pires, ex-diretor da ANP no Governo Fernando Henrique Cardoso, quando colocaram em leilão a área do poço de Tupi, o maior do pré-sal, pelo preço de um apartamento de quarto e sala na Zona Sul do Rio.
Hoje, o Sr. Pires volta à carga, e em dose dupla. É o homem da “eficiência privada”.
O problema é que o gato que nos vende como lebre tem o rabo de fora.
Vejam o que ele diz no Estadão:
“No petróleo, passou-se mais um ano sem que fosse realizado o leilão de áreas de exploração. Desta vez o argumento seria o impasse criado entre os entes da Federação em torno da distribuição dos royalties. O fato é que a ausência de leilões diminui a área de exploração, comprometendo o crescimento da produção futura de petróleo, diminui investimentos e geração de empregos e pode levar as empresas a procurarem outros países.”
Mas vejam só como o sr. Pires queima a língua: o site Upstream, especializado em petróleo, publica que o Brasil é o líder mundial em descobertas de petróleo nos nove primeiros meses de 2011 e não é preciso fazer muito esforço para saber que quem está descobrindo petróleo novo é, essencialmente, a Petrobras.
Pires apenas faz coro ao desejo das multinacionais de que entreguemos rápido novas áreas de concessão. O gargalo na produção de combustíveis não está em nossa capacidade de produção de petróleo, mas na capacidade de refiná-lo e é notório que o mercado financeiro pressiona a Petrobras para dirigir quase que exclusivamente seus investimentos para a extração, que dá mais lucro – e mais rápido – que o refino.
Ele fala que o etanol estagnou por “falta de políticas públicas”, mas não diz uma palavra sobre o fato de que o setor sucroalcooleiro – privado- reduziu a produção de etanol, mas deixou intocada a de açúcar, que está com altíssimos preços no mercado internacional.
Mas é quando analisa o setor elétrico que o professor Pires “entrega a rapadura”. Vejam o que ele diz:
“O leilão de energia elétrica A-5 – na verdade um leilão A-4 – realizado em dezembro retrata o atual equívoco do governo em não aproveitar o fato de o País possuir uma diversidade de fontes energéticas e estimulá-las. Se não, vejamos, a pouca presença das hidrelétricas no leilão se deve à não obtenção das licenças ambientais; as usinas termoelétricas se ausentam porque a Petrobrás alega não ter gás para comprometer seu fornecimento; e nas demais fontes, como as PCHs e a biomassa, o motivo da baixa presença são os preços pouco atraentes do leilão. Enquanto o carvão está sendo penalizado pelo preconceito de ser uma fonte altamente poluente. Às eólicas será imputada a responsabilidade de suprir a demanda mesmo sem linhas de transmissão para transportar a energia gerada no Nordeste para o centro de carga na Região Sudeste.”
Das novas hidrelétricas e termoelétricas, nem é preciso falar, para qualquer um que analise o impacto de Belo Monte, mesmo com o projeto tendo sido adequado (e encarecido) para minimizar os impactos ambientais. Carvão? Que coisa, professor Pires….
E as eólicas não dispõem de redes para “transportar a energia gerada no Nordeste para o centro de carga na Região Sudeste”? O senhor não passou nesta questão, professor Pires. É que o Nordeste é importador de energia elétrica e não “exportador para os centros de carga do Sudeste”. O sr. Pires? não deve ter lido o Anuário Estatístico de Energia Elétrica –está aqui, em PDF – e desconhece – será? – que o Nordeste tem é déficit de energia, uma vez que seu consumo é de 17,1% da energia do país e sua geração é de apenas 11,9%?
Ah, mas o rabo do gato que era vendido como lebre fica evidente quando se vai ler o que está escrito pelo mesmo professor Pires na edição de hoje do “Brasil Econômico”, em outro de seus magníficos artigos, este defendendo o aumento das tarifas de energia:
“As novas medidas deixam clara primazia pela modicidade tarifária em detrimento do equilíbrio financeiro das distribuidoras. Tal fato poderá reduzir a rentabilidade e comprometer o investimento que, por sua vez, acarretará punições que serão maiores caso a qualidade dos serviços fique abaixo do padrão estipulado.”.
Quer dizer assim: as elétricas tiveram lucros gigantescos, com os aumentos de tarifa sempre superiores à inflação e prestaram serviços abaixo do padrão estipulado. Agora, que o governo quer que repassem seus ganhos de produtividade ao consumidor residencial e industrial, isso vai comprometer os investimentos.
Certo, então devolvam as concessões.
Por: Fernando Brito