How does it feel to be on your own, like a complete unknown, like a rolling stone[1], cruzando as areias do deserto, uivando para a lua que o fim do fim da história é hoje?
As categorias ideológicas ocidentais jazem mumificadas na tumba. Nada de dicotomia, necas de “choque de civilizações”, entre a democracia parlamentar ocidental e o Islã.
O esloveno Slavoj Zizek, o Elvis Presley da filosofia, disse à al-Jazeera há algumas semanas que a verdadeira tragédia das nações árabes foi o sumiço de qualquer esquerda forte, secular. Não surpreende. Os ditadores apoiados pelos EUA no MENA (ing. Middle East/Northern Africa) mataram ou exilaram os melhores e os mais brilhantes dos intelectuais progressistas.
Agora se pode pelo menos sonhar que a ideia de combater governos incompetentes/corruptos em nome da justiça social no Médio Oriente/Norte da África [em português, talvez, MONA? (NTs)] venha a contaminar a Europa e os EUA (como, de fato, já contaminou: “do Cairo a Wisconsin”) – e que raia um novo dia para os movimentos dos trabalhadores que padecem sob a ‘austeridade’ e os ‘ajustes estruturais’ inventados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Novos proletários internacionalistas do mundo, classe de 2011, uni-vos.
E como não se maravilhar, agora que o neoliberalismo aplicado ao mundo árabe também fez emergir grupos islâmicos capazes de converter em ação política a profunda e vasta fúria coletiva provocada pela horrenda má distribuição da riqueza comum?
Qual é a sensação de rir, rolar de rir, desses neoliberais ridículos, depois dos anos e anos que consumiram para convencer o mundo de que os árabes poderiam ser livres se quisessem ser livres, mas que eles, de fato, nem sabem que querem ser livres e nunca aprenderiam sozinhos, motivo pelo qual precisariam do Pentágono para despertá-los para a realidade, “com choque e pavor”?
Enquanto isso, sionistas e sionistas-conservadores, aí, hoje, pedindo aos céus que surja no Egito qualquer governo, islâmico que seja, desde que seja pelo menos um pouco moderado, qualquer governo serve, desde que considere a possibilidade de preservar os acordos de 1979 em Camp David e aceite não discutir os anos, as décadas, da tragédia dos palestinos. Talvez consigam.
Como não festejar que as revoluções tunisiana e egípcia sejam revoluções seculares e nacionalistas – com o que, só por isso, já arrancaram a revolução iraniana do trono de única revolução possível, mas segundo a qual o Xá do Irã, apoiado pelos EUA, teria sido derrotado pelo Islã como ideologia?
Trata-se pois de “um, dois, três... Lutamos por o quê(s)?” Lutamos por um, dois, três, mil revoluções, não contra a velha tirania de ter de aceitar um ou outro velho tirano, mas contra toda a tirania de toda a arquitetura da ‘realidade’ inventada pelo Tesouro dos EUA/FMI/Banco Mundial.
Nacionalismo árabe, solidariedade árabe nacionalista, Al-Jazeera árabe nacionalista, a Internet como uma super al-Jazeera – tudo aí, para todos os árabes verem e fazerem, eles mesmos. E o ocidente não tem plano B – nem qualquer sinal de alguma “transição ordeira” à moda Barack Obama/Hillary Clinton, para o Bahrain, o Iêmen, a Líbia.
E, contudo, a revolução ainda nem começou.
A dinastia sunita no Bahrain continuará a representar um drama shakespeareano árabe. Como se lê em telegrama de 2009 publicado por WikiLeaks, o rei Hamad continuará a “transferir gradualmente o poder”, do poderoso primeiro-ministro Khalifa bin Sal Al-Khalifa, para o filho, príncipe coroado Salman. O primeiro-ministro é tio do rei e tio-avô do príncipe coroado. Enquanto isso, o Serviço de Segurança Nacional do Bahrain, comandado por Sheik Khalifa bin Abdullah al-Khalifa, continuará a receber ordens da CIA-EUA.
O Conselho de Cooperação do Golfo [ing. Gulf Cooperation Council (GCC)], chamado “forte aliança tribal”, usará tanques, jatos, mercenários, o que for preciso, para impedir qualquer mudança no regime do Bahrain-elo-mais-fraco. Afinal de contas, o Conselho de Cooperação do Golfo – Bahrain, Qatar, Kuwait, Omã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos – repousa sobre 45% das reservas mundiais de petróleo, e não se pode deixar escapar a coisa, em nome da “democracia”.
E mesmo quando a al-Qaeda jaz tão moribunda quanto Mubarak, absolutamente sem qualquer influência ideológica ou sociológica no norte da África, estridentes vozes imperiais continuam a alertar contra o perigo de a Líbia degradar-se até o status de Somália gigante. Como se, amanhã, o “Doutor Egípcio”, Ayman al-Zawahiri, subitamente se materializasse no leste libertado da Líbia, e se candidatasse ao emprego de novo emir. Aí, sim, haveria choque de civilizações!
[1] Aproximadamente, em tradução para simples leitura, o verso diz: “Qual é a sensação de estar por sua conta & risco, onde ninguém o conhece, como pedra que rola?”. How does it feel to be on your own, like a complete unknown, like a rolling stone é verso imortal de Bob Dylan, em “Like a Rolling Stone”. Vê-se o autor, super internético avant-la-lettre, em 1960, já apelando às redes-sem-rede, em http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&biw=1436&bih=645&rlz=1R2WZPC_pt-BRBR358&q=YouTube+Bob+Dylan+Like+a+Rolling+Stone&aq=f&aqi=g1&aql=&oq=YouTube+Bob+Dylan+Like+a+Rolling+Stone&emsg=NCSR&noj=1&ei=35lvTfzcKMjYgQf2iLVW; ouvem-se os versos, em
, cantados pelo autor, do vinil “Highway 61”; cantados-tocados por Jimmy Hendrix, na mesma época, em versão também imortal,
, cantados pelo autor, do vinil “Highway 61”; cantados-tocados por Jimmy Hendrix, na mesma época, em versão também imortal,
; pelos Rolling Stones, na mesma época, em http://www.youtube.com/watch?v=tuGjBNSRi1c. Que anos! [NTs]