Dec 1st, 2010
O site Wikileaks divulgou novos documentos nesta quarta-feira (1°), expondo críticas feitas pelo ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Cliford Sobel (foto), ao Plano Nacional de Defesa anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2008. Em telegrama enviado a Washington, em janeiro de 2009, Sobel critica a ênfase dada pelo governo brasileiro “à independência no controle de armamentos” e a busca de alianças e acordos militares com nações dispostas a transferir tecnologia. A correspondência manifesta desagrado com essas orientações da política de Defesa anunciada pelo presidente Lula. O ex-embaixador chega a atribuir tais problemas à “formação socialista” de Lula:
“A formação socialista do PT do presidente Lula é evidente nos esforços de engenharia social através de serviço militar obrigatório, em prejuízo de uma defesa mais eficaz.”
A defesa mais eficaz, no caso, é aquela que atenda aos interesses dos EUA, conforme manifesta explicitamente o diplomata ao falar sobre a necessidade de modernização das forças armadas brasileiras. Sobel chama o projeto de construção de um submarino nuclear de “elefante branco” e resume assim a vontade dos EUA para o Brasil:
“Uma força militar mais capaz e com maior empregabilidade pode apoiar os interesses dos EUA ao exportar estabilidade à América Latina e estar disponível para operações de manutenção de paz em outros lugares.”
O jornal “El País”, da Espanha, destacou outro documento publicado pelo WikiLeaks que reforça a preocupação dos EUA com os rumos da política externa brasileira. Segundo o El País, no final de 2009, a embaixada dos EUA em Paris “alertou” Washington para a frequência dos encontros entre os presidentes da França, Nicolas Sarkozy, e Lula, do Brasil (nove vezes em dois anos). O incremento das relações diplomáticas, políticas, econômicas e militares entre Brasil e França é motivo de “preocupação” para a diplomacia norte-americana. Essas preocupações são expostas em uma mensagem intitulada “França e Brasil: o começo de uma história de amor”.
França e Estados Unidos disputam, cabe lembrar, a venda de aviões caças ao Brasil. A tendência brasileira no momento aponta para o francês Rafale, em um negócio estimado em aproximadamente R$ 10 bilhões para a compra de 36 aviões. Uma das vantagens da proposta francesa, segundo a avaliação do governo brasileiro, é a possibilidade de transferência de tecnologia sem restrições, o que não ocorre no caso dos aviões dos EUA, os F/A 18 Super Nornet, fabricados pela Boeing.
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Vexame dos EUA no Wikileaks: relatório de embaixada parece fofoca da revista "Caras"
Uma mensagem do embaixador dos Estados Unidos em Paris divulgada pelo site Wikileaks expõe a diplomacia estadunidense a mais um vexame, e mostra uma diplomacia tratando assuntos de Estado com simplorismo pouco profissional.
Um relatório confidencial que comenta as relação Brasil-França, trata o assunto como uma coluna de fofocas da revista Caras, em vez de aprofundar nas questões geopolíticas e estratégicas.
Escrita em 17 de novembro de 2009, a mensagem do embaixador dos Estados Unidos na França, Charles Rivkin, trata a parceria estratégica Brasil-França reduzindo à uma análise bonachona, chamando de “história de amor” entre Sarkozy e Lula e, para piorar, diz que a primeira-dama Carla Bruni é uma espécie de "arma poderosa" usada por Sarkozy para seduzir outros países a aliarem-se à França:
"Achamos que Sarkozy tira total vantagem da popularidade individual de Carla Bruni e da popularidade do casal para aumentar o alcance dos interesses da França no Brasil".
A pergunta que não quer calar é: Será que Hillary Clinton realmente lê, leva a sério e toma decisões com base nestes relatórios? E por que não manda refazê-los?
Por mais que deveria ser confidencial, a correspondência revela linguagem e conteúdo completamente impróprios para documentos oficiais.
A carta diz que o anúncio do Ministério das Relações Exteriores (sic) indicando preferência pelos jatos franceses Rafale, em detrimento dos jatos Super Hornet "preferidos pela Força Aérea" (segundo o mal informado embaixador), deriva da relação próxima de Lula com Sarkozy, ignorando que a própria FAB não abre mão de transferência de tecnologia em tópicos como o código fonte do software de controle dos aviões, que os EUA não entregam, e do péssimo histórico dos EUA com o Brasil em cooperação tecnológica na área militar. (Com informações da BBC Brasil)