sábado, março 04, 2006
O maior eleitor de Lula
Eduardo Guimarães
Aumenta, em progressão geométrica, minha certeza de que Lula irá se reeleger em outubro devido a um eleitor involuntário que tem. Trata-se, sem dúvida alguma, do maior eleitor do presidente. Inadvertidamente, esse super-eleitor lulista está transformando racionalidade em passionalidade. Lula será reeleito graças ao voto emocional de uma população que majoritariamente não tem ideologia e que se percebe sendo subestimada. O maior eleitor de Lula, neste momento, é a malandragem arrogante da mídia.
Se eu tivesse que enumerar a quantidade de engodos anti-Lula e PT e pró-tucanos que os meios de comunicação vêm tentando pregar na testa dos brasileiros desde 1º de janeiro de 2003 - e, sobretudo, no decorrer dos últimos oito, nove meses -, teria que escrever um livro. Mas isso não impede que eu dê um ou dois exemplos recentíssimos.
De quinta para sexta-feira da semana passada, o jornal Folha de São Paulo noticiou que os irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, estavam "fugindo" do Brasil com suas famílias porque estariam sendo ameaçados de morte. Editorial, colunistas e leitores do jornal puseram-se a acusar o PT de ter feito as tais ameaças a dois sujeitos que desde 2002 vêm repetindo as mesmas acusações e até hoje não conseguiram prová-las. Os textos não explicaram por que "o PT" ameaçaria quem não tem mais o que dizer para acusá-lo.
Dois dos blogs políticos mais lidos do país, os blogs dos jornalistas Josias de Souza e Ricardo Noblat, reproduziram a notícia sobre as hipotéticas ameaças aos irmãos Daniel classificando-lhes a denúncia contra o PT como incontestavelmente verdadeira. Nos comentários dos leitores desses blogs, porém, ficou clara uma divisão absoluta de opiniões. Pode-se dizer que metade endossava a denúncia e a outra metade apontava-lhe as contradições gritantes.
Querem saber o que fez a Folha no terceiro dia posterior à publicação da notícia? Simplesmente ignorou as dezenas de cartas indignadas que recebeu protestando contra a inverossimilidade das acusações dos irmãos Daniel e publicou apenas uma que endossava a denúncia deles e chamava de corruptos centenas de milhares de petistas de todo o país. O jornal, pois, tentou falsificar a repercussão da notícia fazendo parecer que foi comprada como verdadeira pela sociedade.
No mesmo dia (sábado, 4/3), a Folha publicou, em sua primeira página, manchete sobre denúncia de um "executivo" da empresa Toshiba de que a empresa Furnas tinha mesmo um "clube da propina". Ora, todos sabem que esse caso de Furnas envolve uma dezena e meia de tucanos, pefelistas e aliados deles, sobretudo os dois pré-candidatos tucanos à Presidência da República, José Serra e Geraldo Alckmin. Mas a manchete foi dada sem mencionar nomes e partidos. Num momento em que o PT tem sido o alvo de denúncias incessantes, portanto, a pretensão da Folha pareceu-me claramente ser a de tentar deixar a opinião pública pensar que aquela era mais uma denúncia contra o PT.
Depois a mídia, os tucanos e os pefelistas não entendem por que também entre os formadores de opinião (que lêem jornal) a popularidade de Lula vem disparando. Para formadores de opinião que não têm preferências políticas arraigadas obviamente ficou clara a manipulação tanto da repercussão sobre a "fuga" dos irmãos Daniel do país quanto da notícia sobre o fortalecimento da Lista de Furnas, que a mídia tentou desqualificar previamente apesar de laudos periciais atestarem não ser possível fazê-lo.
Tenho prestado atenção a debates políticos que cada vez mais vão se espalhando pela sociedade. Afirmo que está se disseminando com grande velocidade a percepção de que a mídia vem tentando manipular a opinião política dessa sociedade exponenciando acusações contra Lula e o PT e acobertando Serra, Alckmin e o PSDB. A "sacanagem da imprensa contra Lula" já virou conversa de bar. Claro que os anti-Lula e anti-PT, sobretudo em São Paulo, ainda são um contingente enorme. Mas já deixaram de ser maioria esmagadora há muito tempo.
Para a maioria da população, os motivos que julgo que existem, sim, para reelegermos Lula, ainda não ficaram claros. Se o presidente está desfrutando desse apoio crescente e já majoritário revelado pelas pesquisas, penso que se deve à malandragem da mídia. O brasileiro não gosta de linchamentos e campanhas difamatórias. Até porque, Lula vem sendo vítima desse tipo de estratégia há nada mais, nada menos do que 16 anos. Além disso, no imaginário popular solidificou-se a crença (acertada) de que campanhas políticas são freqüentemente travadas com base em campanhas difamatórias.
O maior eleitor de Lula atualmente, portanto, por paradoxal que pareça é a mesma mídia que o ataca impiedosa, incessante, maliciosa, desonesta e estupidamente todos os dias, deixando claro o que está fazendo para quem tiver olhos de ver. Será, então, que um bom nome para o resultado oposto ao pretendido que os meios de comunicação estão colhendo dessa conduta pretensamente malandra não poderia ser... justiça poética?
Eduardo Guimarães, 46, é comerciante de São Paulo (SP) - Blog : http://edu.guim.blog.uol.com.br/
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