Esta semana, mais de um milhão e meio de pessoas marcharam,
no centro de Barcelona, na Espanha, para exigir a divisão do país e a
independência total da Catalunha, a mais importante das Regiões Autônomas da
Espanha.
Foi o “Dia da Catalunha”. Mas a verdade é que poucas são as
grandes províncias espanholas que querem continuar unidas a uma nação que
enfrenta o desemprego de 25%, o maior da Europa. Um em cada quatro de seus
jovens, segundo informou ontem a OCDE – Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico - não estavam estudando nem trabalhando em 2008, o
primeiro ano da crise.
No Brasil boa parte da população, ajudada pela programação
majoritariamente estrangeira de grande parte das emissoras de televisão,
incluídas as de assinatura, e outros meios de comunicação, acostumou a ver tudo
que vem do chamado “Primeiro Mundo” com um misto de subserviência e admiração.
Quando aqui aportaram bancos e empresas espanholas e
portuguesas, nos anos 90, pouca gente percebeu que esses países - que nos
mandaram milhões de emigrantes durante os séculos XIX e XX, porque não tinham
condições de lhes assegurar pão e futuro - estavam apenas vivendo momentos
artificiais de prosperidade.
Ninguém se lembrou de que, para entrar na Comunidade
Econômica Européia, eles haviam recebido, durante anos, bilhões de euros de
ajuda dos países mais ricos.
Ninguém percebeu que eles só tinham capital para comprar
nossas empresas – privatizadas, em muitos casos, apesar de serem estratégicas –
porque tomavam empréstimos para participar da farra da desnacionalização da
nossa economia, a pouco mais de um ou 2% ao ano. Enquanto isso, os juros, aqui,
para investimento em atividades produtivas, estavam nas alturas.
Enquanto poucos enriqueciam com o euro, muitos cidadãos
espanhóis, enganados pelos meios de comunicação que alimentavam essa ilusão com
entusiasmo, acreditavam que a Espanha seria a oitava potência do mundo durante
o século XXI, e que seu país iria entrar para o G-7, quando hoje ele sequer faz
parte do G-20, e o G-7 está se transformando, paulatinamente, em uma pantomima
diplomática.
A Espanha hoje tem uma dívida total de mais de três trilhões
de euros (entre governo central, províncias autônomas, empresas financeiras e
não financeiras), mais de 165% de dívida externa (frente a cerca de 13% do
Brasil). Sua dívida interna líquida é mais do dobro da nossa. Suas reservas
internacionais são 30 bilhões de dólares, quando as nossas são de 375 bilhões
de dólares. Somos o terceiro maior credor individual do Tesouro dos Estados
Unidos, depois da China e do Japão. Com muito esforço estamos resistindo à
globalização.
Não podemos fazer como a Espanha e Portugal, que expulsavam
nossos cidadãos de seus aeroportos, e cair na tentação da soberba. Mas
precisamos aprender a dar mais valor ao que somos e ao que fazemos, e parar de
nos iludir com tudo o que vem do estrangeiro.
Postado por Mauro Santayana