sábado, maio 14, 2011

Muralhas no Mar


Do Blog do Mauro Santayana - 13/05/2011

Mauro Santayana
Desde a destruição de Cartago, a Europa e a África se confrontam. Esse conflito se tornou mais grave em nosso tempo, em conseqüência da crueldade do colonialismo iniciado com as grandes navegações portuguesas. De acordo com os paleoantropólogos, a civilização tem sido o resultado de continuo Weltwanderung, peregrinação global dos seres humanos, a partir da África. Em tempo sem estados nacionais, e, assim, sem fronteiras políticas, essa caminhada se fazia livremente em terra firme e em embarcações primitivas.

Foi caminhando que a espécie se disseminou pelo planeta. Como todos os seres vivos, os homens se adaptaram ao meio, e a cor da pele variou com a latitude, de acordo com a luz solar. Da mesma forma, mudaram de cor os olhos e os cabelos. As razões da sobrevivência se encarregaram de criar as comunidades políticas que, das tribos, evoluíram para os grandes estados nacionais.

Para a maldição do homem, o que era acidental – a aparência física e o desenvolvimento tecnológico exigido pelas condições climáticas – passou a ser visto como essencial. É assim que se explica a distorção da lógica e da ética que deu origem ao racismo. Os gregos e romanos, provavelmente mais lúcidos, não viam os negros e mestiços como inferiores. A escravidão, fenômeno político e econômico, seguia outros critérios. Da mesma forma em que atuavam os europeus, agiam os africanos. As tribos e reinos do continente negro praticavam a escravidão desde tempos imemoriais, e foram responsáveis pelo ato inicial do tráfico, ao capturar os inimigos e vende-los aos mercadores brancos.

Como a História é movimento dialético, a desapiedada exploração da África e a conseqüente prosperidade dos paises colonizadores trazem hoje a impetuosa migração do sul para o norte. Esse movimento, de resto irreprimível, assusta os europeus, que não querem dividir com ninguém o seu bem-estar. “Aqui no cabemos todos” – resumiu a senhora Alicia Sánchez-Camacho, da direita catalã, em fevereiro de 2009, a fim de exigir o endurecimento da política imigratória. Se há um país que não pode falar em raça e em pureza étnica é exatamente a Espanha, esquina dos três grandes continentes históricos, cujos povos (no plural, acentue-se) ali chegaram de todas as procedências – a começar pelos africanos cartagineses, que a colonizaram em tempos pré-romanos. Os únicos senhores imemoriais de sua geografia são os bascos, cuja nacionalidade é repelida pelo governo de Madri.

Em outra manifestação da dialética histórica, cresce a desesperada fuga de norte-africanos (sobretudo da Tunísia e da Líbia), pelo Mediterrâneo. Os mesmos europeus que incentivaram os conflitos políticos nos países muçulmanos, porque isso lhes interessava, buscam agora impedir a chegada dos que se refugiam da violência e da morte. É assim que se explicam os entendimentos entre a Itália e a França para conter o fluxo migratório e a decisão da Dinamarca, tomada ontem, de restabelecer os seus controles fronteiriços intra-europeus, rompendo oficialmente o Tratado de Schengen, que permite a qualquer estrangeiro, admitido em um dos paises signatários, possa transitar livremente pelos outros.

Depois de tantos muros erguidos em terra firme, como o que separa a América dos pobres da América dos ricos, ao longo da fronteira estabelecida depois do roubo do território mexicano pelos Estados Unidos, e da divisão da Palestina pelo maciço de concreto, tentam, agora, erguer inúteis muralhas no mar. Fingem não entender que a fronteira real não é entre continentes e países: é entre ricos e pobres. A miséria e a justa esperança de viver com dignidade continuarão a empurrar os pobres rumo ao norte. E os que são mais fortes hoje poderão ser os mais débeis amanhã. Uma das evidências históricas da dialética é a de que a quantidade, no momento certo, se transforma em qualidade.
http://contrapontopig.blogspot.com/2011/05/contraponto-5364-muralhas-no-mar.html

Enquanto isso em São Paulo...


Urbanistas criticam governo do PSDB por proximidade com a "classe alta"

do REDE BRASIL
No protesto em forma de "churrascão", especialistas atacam relação entre o poder econômico e os ocupantes de cargos públicos

Por: Jéssica Santos de Souza, Rede Brasil Atual

Urbanistas criticam governo do PSDB por proximidade com a "classe alta"
Por mais Metrô, ativistas protestam em Higienópolis, bairro nobre onde moradores resistem à instalação de estação por temer chegada de usuários do transporte público, qualificados como "gente diferenciada" (Foto: Paulo Donizetti)
São Paulo – O "churrascão da gente diferenciada", protesto bem humorado por transporte público e contra o preconceito na região central da capital paulista, contou também com a adesão de urbanistas. Eles criticaram o planejamento e a falta de atenção conferida à mobilidade em São Paulo.

A manifestação foi organizada como reação à informação, divulgada pela mídia, de que a Companhia do Metropolitano (Metrô) havia desistido de instalar uma estação da Linha 9-Laranja na avenida Angélica. O motivo seria a pressão de moradores, que temiam a descaracterização do bairro com a presença de usuários do transporte público, qualificados como "gente diferenciada" por uma moradora em uma das reportagens sobre a movimentação.

Para Nabil Bonduki, arquiteto e professor de Planejamento Urbano da Universidade de São Paulo, a possibilidade de se eliminar uma estação de uma linha ainda em fase de projeto – sem previsão para obras nem para início de operações – mostra a falta de planejamento.

"O governo do estado e o Metrô definem (o trajeto das linhas e a posição das estações), de maneira totalmente autoritária, de maneira desvinculada do planejamento da cidade e do processo participativo mais amplo", critica Bonduki, um dos mil manifestantes que participaram do "churrascão".

Para ele, o governo paulista, encabeçado por Geraldo Alckmin (PSDB), cede facilmente a pressões, principalmente de setores ricos. "Esses grupos de classe alta têm uma relação muito grande com o PSDB e que acabam tentando impor sua visão de cidade no conjunto dos municípios", ataca Bonduki, ex-vereador pelo PT.

A relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à moradia adequada, Raquel Rolnik, também participou do ato. A urbanista reforçou o coro das críticas à pressão do poder econômico.

"Há um capitalismo de laços no Brasil, em que há uma relação muito próxima entre quem pressiona (pela retirada da estação) com quem está tomando a decisão", analisa. "Há uma circulação muito grande dentro de um mesmo grupo social entre os interesses econômicos beneficiados pelas decisões – a valorização imobiliária pela promoção de serviços públicos, empreiteiras e quem ocupa postos do Estado capazes de mudar suas decisões em função dessa pressão", afirma.

Edição: Anselmo Massad

http://ronaldolivreiro.blogspot.com/2011/05/urbanistas-criticam-governo-do-psdb-por.html

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Dona Marivone, moradora de Higienópolis, aprovou e participou da manifestação pró metrô

May 14th, 2011 bymariafro

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Dona Marivone mora há 35 anos em Higienópolis e deu-me um depoimento sobre o que achou da manifestação, assim o que pensa sobre a construção de uma estação de metrô no bairro onde vive.
Higienópolis tem muitas Marivone, ainda bem.


http://mariafro.com.br/wordpress/2011/05/14/dona-marivone-moradora-de-higienopolis-aprovou-e-participou-da-manifestacao-pro-metro/

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Uma beleza, uma maravilha de alegria a mobilização do “churrasquinho” em favor do fim da discriminação aos pobres contida na recusa de grupos de moradores de Higienópolis em aceitar a instalação de uma estação de Metrô no bairro, sob a alegação – nas palavras de um deles – de que isso ia trazer para ali “uma gente diferenciada: mendigos, drogados”.
Assisti ao vivo no Terra, e o que vi foi simpatia, juventude, sentimento democrático de sermos um só povo e, acima de tudo, só alegria por defenderem algo justo e humano.
E ri muito com os  convites, em coro, para o ex-presidente FHC “descer, que a carne já chegou”.
Nada a ver com a exploração idiota da Folha de hoje de que a “resitência”, nome usado para os que querem que os trabalhadores e os moradores do bairro tenham transporte de massa, estaria sofrendo ameaça.
Só o queestá ameaçado, e seriamente, é o tempo da segregação.

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A leitora Jaciara pediu que eu falasse do programa de erradicação da miséria do Governo Dilma. Vou falar muito dele, mas neste “sabadão”, começo reproduzindo o artigo do sociólogo marcos Coimbra, presidente do Vox Populi, em que ele fala da repercussão e até da “paternidade” dos programas de distribuição de renda.
“Uma das mais importantes decisões do governo Dilma Rousseff está prestes a se concretizar e poucas pessoas estão sabendo. Até o fim de maio, depois de meses de estudos e reuniões (que contaram com a participação ativa da presidenta), o Programa Brasil sem Miséria deverá ser lançado.
A meta é ambiciosa: de agora até 2014, acabar com a miséria absoluta no Brasil, mudando radicalmente a vida de 16,2 milhões de pessoas, sua população-alvo. Em nossa história, nenhum governo havia se colocado em um desafio desse porte.
Pena que algo tão relevante fique em segundo plano nas discussões políticas e nas atenções da mídia. Obcecados com o tema do “retorno da inflação”, ninguém se interessa por outra coisa. Ficamos presos à velha agenda: “Gastos públicos descontrolados”, “fatores de instabilidade” e “limites ao crescimento”.
Enquanto isso, um programa totalmente novo está em gestação. Se der certo, o Brasil sem Miséria vai ajudar a resolver um problema que sempre consideramos insolúvel e revolucionar a nossa sociedade.
É algo que Dilma anunciou na campanha como um de seus principais compromissos, mas que passou quase despercebido. No meio de tantas coisas sem pé nem cabeça que estavam sendo prometidas, é até compreensível que isso tivesse acontecido.
Depois da eleição, uma das tarefas nas quais ela mais se empenhou foi na finalização do programa. A versão que será em breve anunciada tem sua marca pessoal.
Aliás, na hora de escolher o slogan do governo, ela optou pela frase “País Rico É País sem Pobreza”, no lugar do que Lula preferia, “Brasil: um País de Todos”. Ou seja, o novo programa é bem mais que apenas outro na área social.
A ideia é simples de enunciar, mas a concretização é complicada. Como disseram suas responsáveis diretas, a ministra do Desenvolvimento Social e a secretária extraordinária para a Erradicação da Pobreza, em entrevista recente, a premissa do programa é que, para erradicar a miséria, é preciso dirigir aos segmentos mais vulneráveis da população ações que assegurem: 1. A complementação de renda. 2. A ampliação do acesso a serviços sociais básicos. 3. A melhora da “inclusão produtiva”.
Como se pode ver, é muito mais que o Bolsa Família, mas dele decorre. Sem a experiência adquirida nos últimos anos, seria impensável um programa como esse, que exige integração de vários órgãos do governo federal, articulação com estados e municípios e capacidade de administrar ações em grande escala. Além disso, é mais complexo, pois implica desenhar soluções específicas para cada segmento, comunidade ou até família, em vez de lhes destinar um benefício padronizado, por mais relevante que seja.
Com ele, tomara desapareçam duas coisas aborrecidas de nosso debate político. De um lado, a reivindicação de paternidade do Bolsa Família que Fernando Henrique e algumas lideranças tucanas repetem a toda hora. De outro, as opiniões preconceituosas contra programas do gênero, típicas de certas classes médias, para quem transferir renda é uma esperteza que subordina beneficiários e perpetua a pobreza. Daí a dizer que Lula é produto do Bolsa Família é um passo.
O curioso na pendência a respeito de quem inventou o Bolsa Família é que o Bolsa Escola, criado no governo FHC, tem sua origem em algo que nasceu dentro de uma administração petista, a do Distrito Federal, quando Cristovam Buarque foi governador. O que foi implantado em Campinas à época em que o tucano Magalhães Teixeira era prefeito tinha pouco a ver com desempenho ou frequência- -escolar, pré-requisitos do Bolsa Escola.
Discussões como essa perdem sentido ante o novo. Onde estaria seu DNA peessedebista se o Bolsa Escola era algo tão mais limitado e menor? Como insistir no discurso do “Fui eu que fiz?”
Aos críticos do maquiavelismo petista, o Brasil sem Miséria responde com sua concepção inovadora e disposição de fazer. Quem levou o Bolsa Família a ser o que é tem crédito para se propor um desafio dessa envergadura.
Mas o importante mesmo é a perspectiva que se abre de que a miséria seja enfrentada para valer. Essa é uma dívida que o País precisa pagar.”

http://www.tijolaco.com/