Mike Whitney: Brasileiros e chineses acreditam mais no capitalismo que norte-americanos
Os verdadeiros perdedores no jogo de esconder de Bernanke
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Vamos falar de quem toma na cabeça. O dólar tem sido martelado diariamente. E o dólar está sendo martelado por querer, já que o Banco Central quer uma moeda mais fraca para aumentar as exportações e diminuir o peso da dívida dos bancos. (Sim, Martha, os bancos ainda estão insolventes) Assim, para baixo vai o dólar, cada vez mais baixo, empurrando para cima os preços da gasolina e dos alimentos enquanto o poder de compra do trabalhador médio dos Estados Unidos some no buraco negro. E este processo vai continuar no futuro ao alcance da vista — como Obama prometeu no início do ano — já que Washington está comprometida com “dobrar as exportações nos próximos 5 anos”. Pense nisso: “Próximos 5 anos”. É o mesmo que dizer que o trabalhador norte-americano será reduzido à pobreza do Terceiro Mundo em meia década. É uma sentença de morte.
E nada disso tem qualquer coisa a ver com a redução do desemprego e o aumento do PIB. Na verdade, revisões do PIB do primeiro trimestre revelam as mentiras por baixo da política econômica. O primeiro anúncio do Departamento do Comércio colocou o PIB em 3,2%. Lembram-se? Agora estamos em 1,4% e alguns preveem que a revisão final poderia colocar o PIB do primeiro trimestre no campo negativo. Isso é do New York Times:
“Mais cedo nesta semana escrevemos que vários proeminentes analistas econômicos reduziram suas estimativas para o crescimento do PIB no primeiro trimestre deste ano. Hoje vemos declínio ainda maior. Macroeconomic Advisors, uma firma de avaliação econômica, reduziu sua estimativa anualizada para apenas 1,4%, quando apenas alguns meses atrás dizia que o PIB seria de 4,1%. A Capital Economics também reduziu sua estimativa para 1%, escrevendo numa nota para um cliente: Todos os dados divulgados na semana passada precisam ser revistos. Ao final da semana, quando a poeira tinha finalmente assentado, a estimativa era de apenas 1% de PIB anualizado. Na verdade, existe até mesmo a possibilidade de que a economia tenha contraído [no primeiro trimestre]“. (“G.D.P. Estimates Slide Further”, New York Times)
Assim, é papo-furado. A economia não está crescendo. Como poderia? Os salários estão na mesma, o crédito ainda está encolhendo (excluindo os empréstimos a estudantes) e a única razão para a queda dos números do desemprego é que mais e mais pessoas simplesmente desistiram de procurar vagas. Todos sabemos disso. Assim, embora possamos ter um pequeno aumento do consumo e das vendas no varejo, não se engane. É só porque custa mais para colocar comida na mesa e dirigir para o trabalho, não porque as pessoas estão comprando à beça no shopping ou vivendo luxuosamente.
E o povo dos Estados Unidos sabe o que está acontecendo; ele pode enxergar através da “charada verde”. É por isso que a última pesquisa do New York Times mostrou que “Nation’s Mood (is) at the Lowest Level in Two Years” e que “os norte-americanos estão mais pessimistas sobre a situação econômica e a direção do país do que estiveram desde quando o presidente Obama completou dois meses no poder, quando o país ainda estava preso à Grande Recessão”. (“Nation’s Mood at Lowest Level in Two Years, Poll Shows”, New York Times)
As pessoas perderam a fé em Obama, no Congresso e no processo político em si. Elas podem ver que o sistema está quebrado e não responde mais aos desejos do povo, o que explica porque as pessoas estão simplesmente desistindo. É óbvio. O Gallup descobriu a mesma coisa. Aqui um clip de uma pesquisa recente:
“O otimismo dos americanos em relação à direção futura da economia mergulhou em março pelo segundo mês consecutivo, quando a porcentagem dos que dizem que a economia ‘está melhorando’ caiu para 33% — quando era de 41% em janeiro… O otimismo sobre o futuro da economia declinou para simpatizantes de todos os partidos durante o primeiro trimestre… O índice de confiança econômica do Gallup, que inclui o otimismo sobre a economia, também mergulhou em março” (“U.S. Economic Optimism Plummets in March”, Gallup)
Assim, a conversa de “tempos felizes” da propaganda não faz efeito. O público não acredita. Sabemos que estamos em uma Depressão. Como as pessoas não saberiam? Estão mergulhadas nas prestações da casa própria, não conseguem empréstimos, os filhos e o tio Arnie não conseguem emprego e o cara no Salão Oval não faz nada para ajudar. Não é surpresa que as pessoas estejam simplesmente desprezando o capitalismo. Para um choque, leiam o resultado desta pesquisa da Globescan:
“O apoio público dos americanos à economia de livre mercado caiu fortemente no ano passado e é menor agora que na China, de acordo com uma pesquisa da GlobeScan divulgada hoje… Quando a GlobeScan começou a fazer a avaliação, em 2002, quatro de cinco norte-americanos (80%) viam o livre mercado como o melhor sistema econômico para o futuro — o mais alto apoio nos países pesquisados. Este número começou a cair nos anos seguintes à crise financeira de 2007/2008, teve uma breve recuperação e caiu de novo em 2009, um total de 15 pontos naquele ano, e agora só três em cinco norte-americanos (59%) dizem que a economia de livre mercado é o melhor sistema econômico para o futuro. O presidente da GlobeScan comentou: ‘Os Estados Unidos eram o último lugar do mundo onde esperávamos ver uma queda de confiança tão grande no sistema da livre iniciativa. Isso não é boa notícia para os negócios’. Os resultados significam que várias economias emergentes superaram os Estados Unidos no entusiasmo em relação ao livre mercado. Chineses e brasileiros, 67% dos quais dizem que o sistema de livre mercado é a melhor oferta existente, tem opinião mais positiva sobre o capitalismo que os norte-americanos” (“Sharp Drop in American Enthusiasm for Free Market, Poll Shows”, GlobeScan)
Podemos acreditar? Os chineses gostam mais do capitalismo que os norte-americanos. Que tal isso como ironia? E não se enganem, o trabalhador comum não está gastando suas noites com o Manifesto Comunista, enquanto ensaia a Internacional [Socialista]. Bobagem. Os norte-americanos são práticos. Eles sabem que estão se ferrando com os dois partidos e é por isso que o apoio deles ao sistema erodiu ainda mais sob Obama. Caiu “15 pontos em um ano” desde 2009. É isso aí, Barry.
E as coisas vão apenas piorar quando o Congresso começar a atirar no orçamento, eliminando programas e serviços populares. Vai apenas acrescentar combustível ao fogo e convencer as pessoas de que o sistema não tem conserto. Resultado: as condições de vida vão se deteriorar, a atividade econômica vai diminuir e a economia vai entrar em um longo período de estagflação.
Mas isso não significa que Wall Street vai sofrer. Que diabos, não. Os mercados vão continuar a borbulhar alimentados pelas injeções de estímulo monetário do Banco Central como tem acontecido nos últimos três anos. Como a Bloomberg noticiou esta semana, Bernanke [Ben, presidente do Banco Central, o Fed] não planeja acabar com o QE2 [quantitative easing], como previsto, no final de junho, mas vai continuar a reclicar os dividendos dos papéis lastreados em hipotecas [mortgage-backed securities (MBS)] comprando bônus que vão assegurar que as ações continuem a bater recordes, enquanto 42 milhões de norte-americanos se viram com os cupons de alimentação [o Bolsa-Família dos Estados Unidos] e alguns milhões esperam para serem chutados para fora de casa. Parece justo, não?
Assim, se parece que os grandes bancos estão definindo a política… é porque estão. Pense assim: o governo dos Estados Unidos mantém dois livros contábeis.
Um registra as dívidas e as receitas públicas.
O outro é o livro das operações do Banco Central. Quando o Congresso gasta dinheiro, precisa ser aprovado pelo processo democrático normal. Quando o Banco Central gasta dinheiro, simplesmente escreve um cheque lastreado na “fé completa e crédito do Tesouro dos Estados Unidos, sem acompanhamento ou supervisão. E as dívidas que ele cria não são acrescentadas ao déficit do orçamento ou forçam os políticos a colocar freios nos bancos. Nada disso. Os 2 trilhões de dólares em lixo [mortgage-backed securities (MBS)] e outras doações que o Banco Central fez a Wall Street desde o colapso da Lehman deveriam ter colocado o déficit na estratosfera e forçado a falência dos maiores bancos do país. Mas isso não aconteceu, já que o Banco Central mantém isso “fora do orçamento”, onde não existe escrutínio do Congresso. Assim, vale qualquer coisa.
O único problema é que o Projeto de Bem-Estar dos Bancos do Fed, de um trilhão de dólares, levou à diminuição do poder de compra e ao mergulho do dólar. Assim, seria apropriado chamar as ações do Banco Central [QE2] de um imposto disfarçado sobre os trabalhadores, em vez de “estímulo monetário” (o que não é). A verdade é que Bernanke está deliberadamente detonando o dólar para ajudar a manter os amigões falidos dos bancos flutuando e para manter as ações “no ponto” para os compradores. Mas o resultado disso é uma grande perda de riqueza pessoal para todos os demais. Eles são os verdadeiros perdedores no jogo de esconder de Bernanke.
Olhando para o futuro, veremos mais do mesmo. As ações vão continuar a subir, a tinta vermelha no balanço do Banco Central vai continuar a acumular e o dólar vai continuar seu agonizante mergulho. O Banco Central está organizando o tiroteio agora e o resto de nós apenas assiste, sem direito a palavra.
Bem-vindos à Banktopia.
Mike Whitney lives in Washington state. He can be reached at fergiewhitney@msn.com
PS do Viomundo: Adivinhem para onde vem os dólares do Fed americano?