Haveria um outro Roger Agnelli sendo endeusado pela mídia pelos lucros fabulosos que obtivera, o pré-sal estaria na mão das grandes multinacionais, o brasileiro sangrando muito mais em cada posto de gasolina e, claro, o governo sendo culpado pela elevação dos preços.
Mas faltou falar de algo importantíssimo nesta crise de pressões pelo aumento dos combustíveis: o etanol, como chamam agora o nosso brasileiríssimo álcool hidratado.
A pressão sobre o preço da gasolina se acentuou com a elevação absurda dos preços do álcool, fazendo que a frota flex – que dobrou nos últimos anos e já corresponde à quase a metade dos veículos – passasse a abastecer-se de gasolina. De 70% das vendas em etanol e 30% em gasolina, passamos hoje a 80% em gasolina e 20% em etanol.
A razão, é claro, é que o etanol flutua a preços de mercado. E, portanto, sobe vertiginosamente, movido por dois motivos. Um deles, natural, é a variação entre os períodos de safra/entressafra da cana de açúcar. Outra, o preço internacional do açúcar, aternativa à produção de álcool para o qual se pode direcionar a moagem da cana, dependendo da lucratividade.
Sobre estes dois fatores, atua uma realidade terrível no setor. Muito enganado está quem pensa que esta área ainda pertence aos “coronéis” da cana-de-açucar. A concentração e a desnacionalização da produção sucroalcooleira no Brasil avança a passos largos. Mais da metade da produção nacional está concentrada em dez grupos e a paricipação estrangeira vem crescendo avassaladoramente. Agora mesmo, a British Petroleum anunciou a disposição de comprar as Usinas Cerradinho, em São Paulo e Goiás, que vai somar às que já possui, em sociedade, através da Tropical Bioenergia. Com iso, a BP passa a integrar o grupo dos grandes controladores da produção de etanol, ao lado da francesa Tereos, da suíça Louis Dreyfuss, da americana Bunge e da Cosan/Esso/Shell.
Essa concentração permite dois tipos de instabilidade de preços do etanol.
O primeiro, relativo ao período de safra, é o de jogar com a queda da oferta das usinas menores para maximizar os aumentos de preço naturais do período. Como a capacidade física e financeira de manter estoques é muito superior á dos menores, estes grupos têm uma vantagem competitiva difícil de superar.
A outra é a relação entre a produção de açúcar e etanol. Embora seja difícil impor que as usinas se dediquem à produção de um ou de outro sem considerar o preço internacional do açúcar – que subiu vertiginosamente e é o maior desde os anos 70 – o Governo não tem informações confiáveis sobre as opções de produção, estoques e comercialização.
Essa é a razão de a Presidente Dilma Roussef ter decidido deixar de tratar a produção sucroalcooleira como simples “agronegócio” e coloca-la dentro do setor estratégico de energia, que merece, no mínimo, regulamentação e controle público.Agora mesmo, início de safra, as grandes usinas nem pensam em aliviar a pressão nos preços.
Os investidores em usinas estão chiando, claro. Perderão a capacidade de manipular preços e estoques como fazem hoje, embora devessem, se contam em produzir mais, ficar contentes com a possibilidade de, sendo tratados como empresas de energia, poder contar com linhas de financiamento mais baratas no BNDES.
A médio prazo, porém, é preciso a presença da Petrobras. A Petrobras Biocombustível vem comprando participação acionária em diversas usinas de etanol, mas ainda é muito pouco. O primeiro passo, dado a sua posicão de líder em distribuição deste combustível é coloca-la como reguladora do mercado.
A missão da nossa grande empresa é difícil e espinhosa, porque está às voltas com os megainvestimentos no desenvolvimento dos campos do pré-sal. Mas ela tem capacidade operacional, negocial e tecnológica para isso. Vai ter de “assobiar petróleo, chupando cana”, e vai conseguir, se a opinião pública brasileira compreender que, se enfrentamos dificuldades assim, entregando todo o setor de energia teríamos mais ainda.
Deve aparecer, nos próximos dias, a MP do etanol. Aí a gente volta ao assunto.
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