segunda-feira, março 21, 2011

A Situação das Mulheres e das Crianças no Iraque Ocupado


Extractos do depoimento de Haifa Zangana
 Num passado recente as mulheres iraquianas eram das mais emancipadas da região, com um elevado nível de educação e presentes em todas as esferas da vida profissional, onde desempenharam um papel activo e contribuíram para o progresso da sociedade. Hoje, estão empurradas para um canto, apertadas entre o esforço de sobreviver à destruição provocada pela guerra e as políticas feudais e sectárias (em nome da religião) promovidas pela classe política instalada no poder desde 2003.
Um fenómeno novo no Iraque é o casamento temporário. Um homem casa com uma mulher na presença de uma figura religiosa e especifica por quanto tempo vai durar o casamento, podendo ir desde algumas horas até muitos anos. É um contrato a termo, onde um homem paga a uma mulher um pequeno dote. A maioria das mulheres que aceitam casamentos temporários fazem-no apenas por necessidades materiais. Esta prática é vista como uma forma de prostituição religiosa.
O deputado Mohamed al Dainy declarou, em 2007, que houve 190 queixas feitas por mulheres contra as forças de segurança e de defesa iraquianas por agressões sexuais. Nenhum procedimento adequado foi seguido para punir os agressores e evitar que tais crimes sejam repetidos. Este número é apenas a ponta de um iceberg.
Um relatório da UNICEF de Abril 2008 indicou que 1 500 crianças estavam sob custódia das forças oficiais iraquianas e dos EUA. Em alguns casos, são mantidas presas no mesmo espaço dos adultos, expondo-as a mais riscos de agressão e abuso. Relatórios dos meios de comunicação sobre a prisão para crianças de Al Karkh revelam uma longa lista de maus tratos, abusos e violações.
Testemunhos de tortura relatados pela AI ao longo de anos incluem violação e ameaça de violação, espancamentos com cordas e mangueiras, choques eléctricos, suspensão pelos membros, perfuração do corpo com berbequins, asfixia com sacos e plástico, e quebra de membros
Os ocupantes culpam os “insurgentes” da morte de civis, especialmente mulheres e crianças. Mas um estudo recente de investigadores britânicos e suíços, com dados fornecidos pelo grupo de direitos humanos Iraq Body Count, descobriu que, de Março 2003 a Março 2008, a maior parte das mortes de mulheres e de crianças, entre os civis mortos por certos tipos de armas, foi provocada pelas “forças da coligação”, em particular por ataques aéreos das forças de ocupação.
Em 2006/7 crianças de Bagdad e dos arredores tinham de passar sobre cadáveres no caminho para a escola. Viram corpos serem comidos por cães vadios. Recolheres obrigatórios repentinos e explosões de violência afectam as crianças, que têm de viver passando de um grande trauma para o seguinte. Muitas crianças têm de suportar o abandono da casa, a separação dos seus amigos e do meio que lhes é familiar para enfrentarem um futuro incerto como ‘refugiados’ sem rendimentos ou apoio adequado.
Calcula-se que 43% dos iraquianos vivem numa pobreza abjecta. As crianças são nestes casos postas a trabalhar em vez de irem à escola, outras tornam-se pedintes nos locais públicos e nos mercados. Estas crianças trabalham longas horas e não têm nenhuma protecção contra a exploração e os abusos. Nenhuma protecção contra a exposição a doenças sociais como a prostituição infantil e o uso de drogas. Este problema particular é especialmente agudo para as crianças ‘refugiadas’ nos países vizinhos do Iraque.