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O que os EUA sabiam sobre o Egito, desde 23/9/2008
Cable dated: 2008-09-23 T15:17:00http://www.guardian.co.uk/world/us-embassy-cables-documents/171176
O que os EUA sabiam sobre o Egito, desde 23/9/2008
Cable dated: 2008-09-23 T15:17:00http://www.guardian.co.uk/world/us-embassy-cables-documents/171176
S E C R E T CAIRO 002091
SIPDIS
[cabeçalho aqui omitido]
Excerto do item SECRETO do telegrama S E C R E T CAIRO 002091
A íntegra do telegrama não está disponível.
Tradução de trabalho, não oficial, para finalidades didáticas.
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Excerto do item SECRETO do telegrama S E C R E T CAIRO 002091
A íntegra do telegrama não está disponível.
Tradução de trabalho, não oficial, para finalidades didáticas.
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ASSUNTO: Especialistas veem os militares em declínio, mas ainda com forte poder de influência
1. (C) RESUMO: Recentemente, analistas acadêmicos e outros pintaram quadro dos militares egípcios em declínio intelectual e social, com oficiais que já não são egressos, na maioria, dos quadros da elite nacional. Descrevem corpo de oficiais de nível médio em deterioração, críticos de um ministro da Defesa que veem como incompetente e que valoriza mais a lealdade que a capacidade e competência nos subordinados. Mas os analistas observam que os militares ainda têm forte influência na função de assegurar a estabilidade do regime e porque operam vasta rede de empresas comerciais. Quanto à sucessão, os analistas destacam que as forças armadas dão sinais de incômodo crescente com a candidatura de Gamal Mubarak, mas concordam quase unanimemente que os militares apoiarão o presidente Mubarak se renunciar e instalar o filho na presidência, cenário que nos parece improvável. Um professor opinou que desde 2003, o regime tem tentado fortalecer a elite econômica próxima de Gamal à custa dos militares, num esforço para enfraquecer a potencial oposição militar no caminho de Gamal até a presidência. Outros analistas creem que o regime estaria tentando cooptar os militares mediante patrocínio, para que aceite Gamal e apesar das tensões entre os militares e os empresários, suas relações ainda são de cooperação. FIM DO RESUMO.
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Uma Instituição em Declínio
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2. (C) Uma série de conversas recentes com acadêmicos e outros analistas civis mostram a impressão de todos de que, embora o exército egípcio esteja em declínio, continua a ser, mesmo assim, instituição poderosa. (Nota: A expertise desses acadêmicos, especialistas em política egípcia, e a disposição para discutir o atual papel do exército, que é questão sensível, fazem deles interlocutores valiosos para os EUA. Fim da nota.) XXXXXXXXXXXX [omitido no original] contou-nos que os militares alcançaram o ponto máximo de influência no final dos anos 1980s, antes do afastamento do recentemente falecido ministro da Defesa Abu Ghazalah, que foi demitido por causa de uma então crescente popularidade política. Disse que desde 1989, a influência do Ministério da Defesa veio declinando gradualmente, e a posição privilegiada da elite de seus membros também declinou, ao ritmo em que vem desaparecendo o respeito, na sociedade, pelos militares. XXXXXXXXXXXX observou que os soldos dos militares caíram muito abaixo dos padrões do setor privado, e que a carreira militar já não é opção atraente para jovens ambiciosos que desejem aproximar-se da nova elite dos negócios.
3. (S) Na opinião de XXXXXXXXXXXX, antes da guerra de 1967 os oficiais militares eram “mimados” [orig. "spoiled"] e formavam uma elite social. Depois do fracassado desempenho dos militares na guerra de 1967, diz ele, os oficiais passaram cada vez menos a ter origem nos altos escalões da sociedade, processo que se acelerou depois da demissão de Abu Ghazalah, em 1989. Desde Abu Ghazalah, XXXXXXXXXXXX observou, o regime não mais permitiu que figuras carismáticas chegassem aos postos mais altos da hierarquia.
“(O ministro da Defesa) Tantawi parece um burocrata” – ele riu. XXXXXXXXXXXX descreveu os oficiais de nível intermediário da corporação como em geral desleixados, e disse que se ouvem vozes desses oficiais de nível intermediário, pelos clubes do Ministério da Defesa em toda a cidade do Cairo, que manifestam abertamente grande desprezo por Tantawi [VER NOTA DA TRADUÇÃO, adiante].
Esses oficiais referem-se a Tantawi como “o poodle de Mubarak”, disse ele; e reclamam que esse “ministro da Defesa incompetente” só chegou aonde chegou por ser cegamente fiel a Mubarak e está “jogando na lama todos os militares”. Sua opinião é que uma cultura de obediência cega contamina todo o Ministério da Defesa, onde o único critério considerado para promoções é a lealdade e que o Ministério da Defesa não hesita em expulsar oficiais se percebe que sejam “competentes demais” e, por isso, representam algum tipo de ameaça potencial ao regime.
4. (C) XXXXXXXXXXXX crê que a crescente oposição do governo a qualquer diálogo com a universidade é sintomático do declínio social e intelectual. Disse que até há seis anos, o ministério da Defesa indicava um representante que participava das discussões acadêmicas no Al-Ahram Center; depois, o ministério da Defesa mandou prender aquele representante, porque suas ideias estavam parecendo excessivamente independentes, e nunca mais enviaram qualquer representante. Disse que Tantawi foi-se tornando cada vez mais intolerante em relação à liberdade intelectual. Em sua opinião, Tantawi deixou claro que as questões militares “não devem ser objeto de pesquisa acadêmica” e que o ministério da Defesa não toleraria pensamento independente em suas fileiras.
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... Mas por enquanto, ainda mantém o controle sobre a economia
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5. (C) Embora alguns analistas vejam um número pequeno de pessoas egressas das elites do governo e do empresariado que exercem controle crescente no campo político e econômico em todo o país, reconhecem que os militares ainda têm forte influência na economia egípcia. Na opinião de XXXXXXXXXXXX, o governo dá aos seis empresários que formam o Gabinete carta branca para que continuem a trabalhar em suas empresas e negócios, mas o ministro da Defesa pode intervir em qualquer contrato comercial, “por razões de segurança”. Fontes nos informaram que as empresas cujos proprietários são militares, quase sempre dirigidas por generais aposentados, são particularmente ativas nas indústrias da água, azeite de oliva, cimento, construção civil, hotelaria e gasolina. XXXXXXXXXXXX destaca que empresas dirigidas por militares construíram a moderna estrada que leva ao “resort” Ain Souknah no Mar Vermelho, a 90 minutos de distância do Cairo; e o novo anexo da Universidade do Cairo.
Observou também que militares são proprietários de grandes extensões de terra no Delta do Nilo e na costa do Mar Vermelho, e especula se essas propriedades não seriam “fringe benefits” [aprox. “bônus especiais”], em troca de os militares assegurarem a estabilidade e a segurança do regime. (Comentário: Vemos o papel dos militares na economia como força que quase sempre paralisa reformas que interessem ao livre mercado, aumentando o envolvimento direto dos governos nos mercados. FIM DO COMENTÁRIO.)
6. (C) Muitos analistas concordam que os militares entendem que os esforços de privatização empreendidos pelo governo do Egito ameaçam diretamente a posição dos militares na vida econômica; por isso, os militares sempre se opõem a reformas econômicas. XXXXXXXXXXXX especula que as privatizações obrigaram as empresas que pertencem aos militares a melhorar a qualidade dos processos, sobretudo na indústria hoteleira, para competir com empresas privadas e atrair investimentos estrangeiros absolutamente necessários. XXXXXXXXXXXX prevê que o maior poder político de uma elite econômica empresarial, em detrimento das empresas dirigidas por militares, que parece ser tendência inevitável, levará o governo a perseverar nas reformas da política econômica, porque precisa atrair investimento estrangeiro direto. Disse também que esse investimento estrangeiro direto é indispensável para os planos do governo que precisa manter o crescimento econômico e a estabilidade política.
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Influência na burocracia e na sociedade civil
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7. (C) XXXXXXXXXXXX chama a atenção para um “esforço concertado”, que estaria acontecendo “na cúpula do regime”, para penetrar na burocracia civil, usando para isso militares aposentados de alto escalão. Observa que há altos oficiais aposentados em todos os principais cargos civis, como chefe ou chefe de serviços e em posições chave nos ministérios de Informação, Transporte e Educação. Outras fontes contaram histórias de suas experiências muitas vezes cômicas, com oficiais militares que dirigem instituições da sociedade civil, ONG e associações caritativas. XXXXXXXXXXXX observou que uma campanha [nome omitido no original] contratou um militar de alta patente aposentado para presidir suas operações. Que a associação caritativa XXXXXXXXXXXX também contratou general aposentado para o cargo de diretor, acreditando que a competência do general, a experiência nos contatos com a burocracia e sua rede de contatos e colegas seriam muito úteis às finalidades humanitárias daquela ONG.
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Os militares e a sucessão
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8. (C) Nossos contatos concordam que a base de poder do filho do presidente, Gamal Mubarak, está centrada na comunidade empresarial, não nos militares. XXXXXXXXXXXX disse que ouviu recentemente de oficiais do exército, que os militares não apóiam Gamal e que, se Mubarak morrer no cargo, os militares antes darão um golpe e assumirão o poder, e em nenhum caso admitirão que o filho suceda o pai na presidência.
Mas há analistas que entendem que os militares aceitarão o governo de Gamal, se for resultado de processo eleitoral abençoado por Mubarak e que realmente garanta poder efetivo a Gamal. XXXXXXXXXXXX entende que depois que Gamal tornou-se membro ativo do Partido de Mubarak (NDP) em 2002, o regime deu mais poder aos reformadores do gabinete de 2004 para iniciar os esforços de privatização que interessam aos ricos empresários que cercam Gamal. Por essa avaliação, o objetivo do regime é criar uma base de poder centrada no empresariado para Gamal no Partido, para compensar a falta de credenciais militares.
Corolário necessário nessa estratégia, diz ele, é que o regime tentará enfraquecer o poder econômico e político dos militares, de modo a que não consigam impedir a trilha de Gamal até a presidência.
9. (S) COMENTÁRIO: Os militares ainda são força política e econômica potente. As recentes intervenções, usando consideráveis recursos do ministério da Defesa, para produzir pão e enfrentar o desabastecimento em março, e para apagar o incêndio no Conselho Shoura em agosto (refs A e B) mostram que podem ser bem sucedidos em áreas em que outras agências do governo falham. Os militares ajudam a garantir estabilidade ao regime e operam uma tão vasta rede empresarial que já podem ser considerados como “empresa quase-comercial” eles próprios.
Embora haja tensão entre as elites empresariais e os militares, o relacionamento entre elas, em geral, ainda parece ser cooperativo, mais do que concorrencial. A perda de prestígio dos militares deve-se em parte ao desaparecimento de qualquer ameaça militar externa iminente, que já não há desde 1979, quando se assinaram os acordos de Camp David. O regime, que conhece o papel criticamente importante que o ministério da Defesa pode desempenhar na sucessão presidencial, pode bem estar tentando cooptar os militares, ou subornando-os para que aceitem que Gamal chegue à presidência.
Essa embaixada concorda com as análises segundo as quais os altos oficiais do Exército apoiariam Gamal se Mubarak renunciasse e o pusesse na presidência, porque é difícil imaginar que esses oficiais venham a fazer qualquer tipo de oposição ao presidente ou ao ministro da Defesa, dos quais dependem seus empregos. Em cenário de sucessão mais confuso, porém, torna-se mais difícil prever o que farão os militares. Embora os oficiais de nível intermediário nem sempre partilhem as opiniões e a fidelidade dos oficiais , há barreiras de controle e censura nas comunicações que tornam praticamente impossível que esses oficiais desgostosos cheguem a por no comando algum novo líder. SCOBEY
NOTAS DA TRADUÇÃO
1. (C) RESUMO: Recentemente, analistas acadêmicos e outros pintaram quadro dos militares egípcios em declínio intelectual e social, com oficiais que já não são egressos, na maioria, dos quadros da elite nacional. Descrevem corpo de oficiais de nível médio em deterioração, críticos de um ministro da Defesa que veem como incompetente e que valoriza mais a lealdade que a capacidade e competência nos subordinados. Mas os analistas observam que os militares ainda têm forte influência na função de assegurar a estabilidade do regime e porque operam vasta rede de empresas comerciais. Quanto à sucessão, os analistas destacam que as forças armadas dão sinais de incômodo crescente com a candidatura de Gamal Mubarak, mas concordam quase unanimemente que os militares apoiarão o presidente Mubarak se renunciar e instalar o filho na presidência, cenário que nos parece improvável. Um professor opinou que desde 2003, o regime tem tentado fortalecer a elite econômica próxima de Gamal à custa dos militares, num esforço para enfraquecer a potencial oposição militar no caminho de Gamal até a presidência. Outros analistas creem que o regime estaria tentando cooptar os militares mediante patrocínio, para que aceite Gamal e apesar das tensões entre os militares e os empresários, suas relações ainda são de cooperação. FIM DO RESUMO.
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Uma Instituição em Declínio
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2. (C) Uma série de conversas recentes com acadêmicos e outros analistas civis mostram a impressão de todos de que, embora o exército egípcio esteja em declínio, continua a ser, mesmo assim, instituição poderosa. (Nota: A expertise desses acadêmicos, especialistas em política egípcia, e a disposição para discutir o atual papel do exército, que é questão sensível, fazem deles interlocutores valiosos para os EUA. Fim da nota.) XXXXXXXXXXXX [omitido no original] contou-nos que os militares alcançaram o ponto máximo de influência no final dos anos 1980s, antes do afastamento do recentemente falecido ministro da Defesa Abu Ghazalah, que foi demitido por causa de uma então crescente popularidade política. Disse que desde 1989, a influência do Ministério da Defesa veio declinando gradualmente, e a posição privilegiada da elite de seus membros também declinou, ao ritmo em que vem desaparecendo o respeito, na sociedade, pelos militares. XXXXXXXXXXXX observou que os soldos dos militares caíram muito abaixo dos padrões do setor privado, e que a carreira militar já não é opção atraente para jovens ambiciosos que desejem aproximar-se da nova elite dos negócios.
3. (S) Na opinião de XXXXXXXXXXXX, antes da guerra de 1967 os oficiais militares eram “mimados” [orig. "spoiled"] e formavam uma elite social. Depois do fracassado desempenho dos militares na guerra de 1967, diz ele, os oficiais passaram cada vez menos a ter origem nos altos escalões da sociedade, processo que se acelerou depois da demissão de Abu Ghazalah, em 1989. Desde Abu Ghazalah, XXXXXXXXXXXX observou, o regime não mais permitiu que figuras carismáticas chegassem aos postos mais altos da hierarquia.
“(O ministro da Defesa) Tantawi parece um burocrata” – ele riu. XXXXXXXXXXXX descreveu os oficiais de nível intermediário da corporação como em geral desleixados, e disse que se ouvem vozes desses oficiais de nível intermediário, pelos clubes do Ministério da Defesa em toda a cidade do Cairo, que manifestam abertamente grande desprezo por Tantawi [VER NOTA DA TRADUÇÃO, adiante].
Esses oficiais referem-se a Tantawi como “o poodle de Mubarak”, disse ele; e reclamam que esse “ministro da Defesa incompetente” só chegou aonde chegou por ser cegamente fiel a Mubarak e está “jogando na lama todos os militares”. Sua opinião é que uma cultura de obediência cega contamina todo o Ministério da Defesa, onde o único critério considerado para promoções é a lealdade e que o Ministério da Defesa não hesita em expulsar oficiais se percebe que sejam “competentes demais” e, por isso, representam algum tipo de ameaça potencial ao regime.
4. (C) XXXXXXXXXXXX crê que a crescente oposição do governo a qualquer diálogo com a universidade é sintomático do declínio social e intelectual. Disse que até há seis anos, o ministério da Defesa indicava um representante que participava das discussões acadêmicas no Al-Ahram Center; depois, o ministério da Defesa mandou prender aquele representante, porque suas ideias estavam parecendo excessivamente independentes, e nunca mais enviaram qualquer representante. Disse que Tantawi foi-se tornando cada vez mais intolerante em relação à liberdade intelectual. Em sua opinião, Tantawi deixou claro que as questões militares “não devem ser objeto de pesquisa acadêmica” e que o ministério da Defesa não toleraria pensamento independente em suas fileiras.
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... Mas por enquanto, ainda mantém o controle sobre a economia
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5. (C) Embora alguns analistas vejam um número pequeno de pessoas egressas das elites do governo e do empresariado que exercem controle crescente no campo político e econômico em todo o país, reconhecem que os militares ainda têm forte influência na economia egípcia. Na opinião de XXXXXXXXXXXX, o governo dá aos seis empresários que formam o Gabinete carta branca para que continuem a trabalhar em suas empresas e negócios, mas o ministro da Defesa pode intervir em qualquer contrato comercial, “por razões de segurança”. Fontes nos informaram que as empresas cujos proprietários são militares, quase sempre dirigidas por generais aposentados, são particularmente ativas nas indústrias da água, azeite de oliva, cimento, construção civil, hotelaria e gasolina. XXXXXXXXXXXX destaca que empresas dirigidas por militares construíram a moderna estrada que leva ao “resort” Ain Souknah no Mar Vermelho, a 90 minutos de distância do Cairo; e o novo anexo da Universidade do Cairo.
Observou também que militares são proprietários de grandes extensões de terra no Delta do Nilo e na costa do Mar Vermelho, e especula se essas propriedades não seriam “fringe benefits” [aprox. “bônus especiais”], em troca de os militares assegurarem a estabilidade e a segurança do regime. (Comentário: Vemos o papel dos militares na economia como força que quase sempre paralisa reformas que interessem ao livre mercado, aumentando o envolvimento direto dos governos nos mercados. FIM DO COMENTÁRIO.)
6. (C) Muitos analistas concordam que os militares entendem que os esforços de privatização empreendidos pelo governo do Egito ameaçam diretamente a posição dos militares na vida econômica; por isso, os militares sempre se opõem a reformas econômicas. XXXXXXXXXXXX especula que as privatizações obrigaram as empresas que pertencem aos militares a melhorar a qualidade dos processos, sobretudo na indústria hoteleira, para competir com empresas privadas e atrair investimentos estrangeiros absolutamente necessários. XXXXXXXXXXXX prevê que o maior poder político de uma elite econômica empresarial, em detrimento das empresas dirigidas por militares, que parece ser tendência inevitável, levará o governo a perseverar nas reformas da política econômica, porque precisa atrair investimento estrangeiro direto. Disse também que esse investimento estrangeiro direto é indispensável para os planos do governo que precisa manter o crescimento econômico e a estabilidade política.
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Influência na burocracia e na sociedade civil
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7. (C) XXXXXXXXXXXX chama a atenção para um “esforço concertado”, que estaria acontecendo “na cúpula do regime”, para penetrar na burocracia civil, usando para isso militares aposentados de alto escalão. Observa que há altos oficiais aposentados em todos os principais cargos civis, como chefe ou chefe de serviços e em posições chave nos ministérios de Informação, Transporte e Educação. Outras fontes contaram histórias de suas experiências muitas vezes cômicas, com oficiais militares que dirigem instituições da sociedade civil, ONG e associações caritativas. XXXXXXXXXXXX observou que uma campanha [nome omitido no original] contratou um militar de alta patente aposentado para presidir suas operações. Que a associação caritativa XXXXXXXXXXXX também contratou general aposentado para o cargo de diretor, acreditando que a competência do general, a experiência nos contatos com a burocracia e sua rede de contatos e colegas seriam muito úteis às finalidades humanitárias daquela ONG.
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Os militares e a sucessão
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8. (C) Nossos contatos concordam que a base de poder do filho do presidente, Gamal Mubarak, está centrada na comunidade empresarial, não nos militares. XXXXXXXXXXXX disse que ouviu recentemente de oficiais do exército, que os militares não apóiam Gamal e que, se Mubarak morrer no cargo, os militares antes darão um golpe e assumirão o poder, e em nenhum caso admitirão que o filho suceda o pai na presidência.
Mas há analistas que entendem que os militares aceitarão o governo de Gamal, se for resultado de processo eleitoral abençoado por Mubarak e que realmente garanta poder efetivo a Gamal. XXXXXXXXXXXX entende que depois que Gamal tornou-se membro ativo do Partido de Mubarak (NDP) em 2002, o regime deu mais poder aos reformadores do gabinete de 2004 para iniciar os esforços de privatização que interessam aos ricos empresários que cercam Gamal. Por essa avaliação, o objetivo do regime é criar uma base de poder centrada no empresariado para Gamal no Partido, para compensar a falta de credenciais militares.
Corolário necessário nessa estratégia, diz ele, é que o regime tentará enfraquecer o poder econômico e político dos militares, de modo a que não consigam impedir a trilha de Gamal até a presidência.
9. (S) COMENTÁRIO: Os militares ainda são força política e econômica potente. As recentes intervenções, usando consideráveis recursos do ministério da Defesa, para produzir pão e enfrentar o desabastecimento em março, e para apagar o incêndio no Conselho Shoura em agosto (refs A e B) mostram que podem ser bem sucedidos em áreas em que outras agências do governo falham. Os militares ajudam a garantir estabilidade ao regime e operam uma tão vasta rede empresarial que já podem ser considerados como “empresa quase-comercial” eles próprios.
Embora haja tensão entre as elites empresariais e os militares, o relacionamento entre elas, em geral, ainda parece ser cooperativo, mais do que concorrencial. A perda de prestígio dos militares deve-se em parte ao desaparecimento de qualquer ameaça militar externa iminente, que já não há desde 1979, quando se assinaram os acordos de Camp David. O regime, que conhece o papel criticamente importante que o ministério da Defesa pode desempenhar na sucessão presidencial, pode bem estar tentando cooptar os militares, ou subornando-os para que aceitem que Gamal chegue à presidência.
Essa embaixada concorda com as análises segundo as quais os altos oficiais do Exército apoiariam Gamal se Mubarak renunciasse e o pusesse na presidência, porque é difícil imaginar que esses oficiais venham a fazer qualquer tipo de oposição ao presidente ou ao ministro da Defesa, dos quais dependem seus empregos. Em cenário de sucessão mais confuso, porém, torna-se mais difícil prever o que farão os militares. Embora os oficiais de nível intermediário nem sempre partilhem as opiniões e a fidelidade dos oficiais , há barreiras de controle e censura nas comunicações que tornam praticamente impossível que esses oficiais desgostosos cheguem a por no comando algum novo líder. SCOBEY
NOTAS DA TRADUÇÃO
[1] Sobre a participação do Ministro da Defesa aí citado, nos eventos da Praça Tahrir ontem, 5/2/2011, ver:
– Robert Fisk, 5/2/2011, The Independent, UK, em português no Blog “Outras Palavras” em http://www.outraspalavras.net/2011/02/06/egito-transicao-segue-incognita/ (orig. em
http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/fisk/robert-fisk-exhausted-scared-and-trapped-protesters-put-forward-plan-for-future-2205079.html; e
– WIKILEAKS: “US embassy cables: Tantawi resistant to change in Egypt”, SECRET SECTION 01 OF 02 CAIRO 000524, 3/2/2011, Guardian, UK, em http://www.guardian.co.uk/world/us-embassy-cables-documents/146040 (em tradução)].
– Robert Fisk, 5/2/2011, The Independent, UK, em português no Blog “Outras Palavras” em http://www.outraspalavras.net/2011/02/06/egito-transicao-segue-incognita/ (orig. em
http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/fisk/robert-fisk-exhausted-scared-and-trapped-protesters-put-forward-plan-for-future-2205079.html; e
– WIKILEAKS: “US embassy cables: Tantawi resistant to change in Egypt”, SECRET SECTION 01 OF 02 CAIRO 000524, 3/2/2011, Guardian, UK, em http://www.guardian.co.uk/world/us-embassy-cables-documents/146040 (em tradução)].