Na agenda de Serra, a destruição do MERCOSUL
Já sabíamos que José Serra não tem nervos de aço coisa nenhuma e que, destemperado, diz e faz as maiores asneiras. Mas ontem (quarta-26) ele passou dos limites e descredenciou-se como candidato à presidência, ao referir-se de forma grosseira e torpe ao povo boliviano e a seu presidente Evo Morales. Em declarações à Rádio Globo (só podia ser) ele responsabilizou o país vizinho por nossas mazelas em termos de violência e consumo de drogas. E fez isso usando argumentos falsos e palavras incompatíveis com os de um chefe de estado.
Este blog foi informado, ontem mesmo, que a UNASUL, União das Nações Sulamericanas, que reúne todos países do Continente, vai solicitar, formalmente, explicações do transtornado candidato tucano. Em verdade, nem mesmo o mais energúmeno dos direitistas norte-americanos refere-se de forma tão baixa a um país amigo e vizinho.
Eis as palavras textuais do candidato desastrado: “ Você acha que a Bolívia ia exportar 80% a 90% da cocaína consumida no Brasil se o governo de lá não fosse cúmplice”. Em seguida ironizou a amizade entre os presidentes Lula e Evo Morales: “essa coca vem da Bolívia onde há um governo amigo com quem se fala muito”.
Não é verdade que a cocaína que entra no Brasil seja proveniente da Bolívia nas proporções chutadas por Serra. O grande e tradicional fornecedor para o Brasil e para o Mundo é a Colômbia governada por Álvaro Uribe. Ali se localizam os grandes cartéis do crime organizado. Quanto a Uribe, um aliado dos Estados Unidos e ideologicamente afinado com os tucanos, há farta documentação comprovando as ligações de sua família (inclusive seu pai) com os chefões do narcotráfico. Sobre ele, Serra se cala.
Entretanto este é apenas o enredo policial da questão. O mais importante é registrar que o PSDB tem uma longa tradição de má vontade em relação ao MERCOSUL. No final dos anos 90 do século passado, Fernando Henrique quase detonou este mercado comum, no episódio da brusca desvalorização do real, o que colocou nossas relações com a Argentina em seu nível mais baixo.
Para ser ter uma idéia da importância do MERCOSUL diga-se que ele é hoje um dos nosso três principais parceiros comerciais (um terço do nosso comercio exterior), com a vantagem de que ao contrário do que acontece com a Europa e a China, vendemos para nossos vizinhos produtos industrializados, principalmente.
O mais importante, porém, é que o Brasil só alçou a condição de protagonista da cena mundial , plenamente aceito pelas grandes potências, graças ao fato de , antes, como primeiro degrau, ter alcançado a posição de líder natural da América do Sul, sendo, inclusive o idealizador da implantação da UNASUL que só existe, porque, com paciência , habilidade e generosidade, não permitimos que o MERCOSUL fosse fragilizado, um dos objetivos estratégicos dos Estados Unidos. Objetivo este notoriamente compartilhado pelos tucanos e pelas Organizações Globo.
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