sábado, janeiro 23, 2010

UM APARELHO DE UNIFORMIZAÇÃO DE OPINIÕES E DE CONSTRUÇÃO DE MERCADOS HOMOGÊNEOS




Jornalismos-napoleões-de-boulevard. Até quando?

A 'mídia' NÃO SABE examinar o jornalismo, os jornalões e os jornalistas do jornalismo-que-desgraça o Brasil. O Alberto Dines, claro, tampouco sabe. Dentre outros traços pessoais, do Dines, que o desqualificam como crítico, ele é sionista-racista-anti-árabes e diz que não é; dissesse que é, claro, a coisa já melhorava. Mas não diz, e é. Então, não há como classificar como isenta, qquer opinião do Dines.

No geral, a 'crítica' da mídia pela mídia, ou da imprensa pela imprensa, é como a crítica da Febraban pela Febraban: é crítica que visa a CONSERVAR e não visa a transformar. Em termos metafóricos, essa crítica é como a crítica que faria um doido que chegue a um hospício e contate: "Puxa vida, essa casa está cheia de Napol eões!" Até aqui, há até alguma boa e bela objetividade, é claro. Mas a coisa NUNCA fica na constatação. Então...

... duas coisas podem acontecer: (1) o doido pensa: "Que maravilha! Aqui, nós, os Napoleões, podemos viver em paz e harmonia, sem que ninguém nos atrapalhe, e ter nossos direitos respeitados, e fazer o que bem entendamos! Isso é que é liberdade!" Ou (2) o doido pensa: "Que horror! Esses Napoleões aí, os doidos, NEM SABEM que são doidos e não são Napoleões, porque o ÚNICO Napoleão-de-verdade sou EU!" D. Eliane Cantanhede, D. Dora Kramer, o Bonner & Patroa, o William Waack e até a Juliana Gimenez, o Faustão, o Dines e a Ana Maria Braga, todos, são Napoleões desse tipo: que se acham os ÚNICOS Napoleões de verdade.

A crítica da imprensa pela imprensa (assim como a crítica da linguística pela linguística, da sociologia pela sociologia, da economia pela economia etc.) tem um pouco dessas duas coisas:

(1) há quem defenda a imprensa-como-a-imprensa-é e viva da ilusão de que o que há pode ser aperfeiçoado: é a crítica liberal conservadora, que vive da ilusão de que a imprensa como ela é NÃO É UM APARELHO DE UNIFORMIZAÇÃO DE OPINIÕES E DE CONSTRUÇÃO DE MERCADOS HOMOGÊNEOS, indispensáveis à produção em larga escala de tudo (de sabão em pó a fés religiosas e votos; do tamanho da bunda a opinião sobre 'ética', 'democracia' e tamanhos dos peitos e religião dos outros e tuuuuuuuuuuudo). E

(2) há quem defenda a imprensa-como-a-imprensa-é e viva da ilusão de que sabe (e 'é') mais ou melhor de que todos os jornais, jornalismos e jornalistas existentes: é a crítica liberal conservadora, que vive da ilusão de que a imprensa como ela é NÃO É UM APARELHO DE UNIFORMIZAÇÃO DE OPINIÕES E DE CONSTRUÇÃO DE MERCADOS HOMOGÊNEOS, indispensáveis à produção em larga escala de tudo (de sabão em pó a fés religiosas e votos; do tamanho da bunda a opinião sobre 'ética', 'democracia' e tamanhos dos peitos, e religião dos outros).

Tudo isso pra dizer que, de um lado ou de outro dessa crítica da imprensa pela imprensa, há sempre as mesmas ilusões -- de fato, são crenças totalmente ideológicas, de má consciência, ilusões, nesse sentido: (1) a ilusão de que a imprensa como a conhecemos (de fato: a imprensa-empresa-business) seria alguma coisa 'a mais', qualitativamente, além de empresa-business; e (2) a ilusão de que a empresa-imprensa seria a única empresa de toda a história do capitalismo e de todas as galáxias em todos os tempos que existiria para trabalhar contra o próprio patrimônio e interesses; alguma coisa como uma empresa capitalista dedicada a construir opiniões opostas aos seus interesses e, portanto, dedicada a construir o próprio prejuízo. Só rindo, né-não?!

A notícia mais revolucionária e avançada que surgiu por aí, nos últimos tempos, diz respeito à criação de controles sociais sobre a imprensa. É ideia totalmente ótima, que aparece no III PNDH. Quanto a isso, ao mesmo tempo em que eu acho ótima ideia, toooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooodos os jornais, jornalismos e jornalistas, patrões e empregados, estão de acordo: eles acham a idéa péssima.

O Dines, aí, só faz uma pequenina parte do diagnóstico. Para ele, os xchiliques da mídia explicar-se-iam por "Diagnóstico 1: modéstia. Diagnóstico 2: narcisismo. Diagnóstico 3: onipotência. Diagnóstico 4: hipocrisia."

Napoleão-da-vez, aí, o Dines esqueceu uma hipótese diagnóstica muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito importante e muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito útil: os vícios da mídia (que provocariam xchiliques à Miro, o xchilicoso 'libertário' e 'ético') explicam-se também por TOTAL IGNORÂNCIA, nos jornalões, no jornalismo e nos jornalistas (inclusive, é claro, também nos críticos da mídia), do que seja a m� �dia.

A mídia como a conhecemos NÃO É agente libertário: é agente de uniformização de opiniões, à moda que os fascistas sempre apreciaram. E a mídia como a conhecemos NÃO É agente progressista: é agente conservador, de defesa e preservação das opiniões, crenças, fés (=da ideologia) do grupo-da-grana.

Imagino que uma sociedade igualitária e liberta NÃO TERÁ jornais de enormíssima circulação; no máximo terá jornais pequenos, comunitários, de um tipo que o Dines, com certeza ABSOLUTA, não sabe fazer (e, porque não sabe fazer, acha que não seja importante ou necessário).

Quero dizer: é Dines-Napoleão, repetido por Kotscho-Napoleão, pra jornalistas petistas napoleões, e assim, ao infinito, pela CONSERVAÇÃO do jornalismo, jornalões e jornalistas como os conhecemos, não pela DETONAÇÃO do jornalismo, jornalões e jornalistas como os conhecemos, para INVENTAR-SE coisa nova.

Quero dizer também: ac ho que até o fato de III PNDH ser esse amontoado de reivindicações reunidas e uniformizadas sob um conceito MUITO FROUXO do que sejam "direitos humanos" é resultado (também), de NINGUÉM ter ideia clara sobre o que seria o jornalismo, os jornais e os jornalistas que ainda terão de ser inventados PARA AJUDAR A CONSTRUIR A DEMOCRACIA.

É PERFEITA falta de consistência teórica reunir-se, num mesmo sistema de conceitos e regras, por exemplo, aborto e imprensa. Essa geleca-conceitual, que permite aproximar aborto e imprensa é resultado perverso, também, do trabalho a imprensa como a conhecemos: só a estrutura "jornal" ou a estrutura "noticiário de televisão" permite por lado a lado, aborto e imprensa. NENHUMA discussão de melhor qualidade conseguiria discutir, num mesmo parágrafo, aborto e imprensa. Taí: mais um sintagma-loucura, dos muitos criados pelos napoleões do hospício que são os jornais, os jornalismos e os jornalistas como os conhecemos.


OK. Ainda falta pensar muito e escrever muito e, sim, essa luta é longa. Mas É GARANTIDO que, para avançar, NINGUÉM precisa conhecer opiniões de Dines sobre o jornalismo à Dines.  



Caia Fittipaldi

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Alem do texto do Alberto Dines, segue link do Balaio do Kotcho repercutindo o assunto.

Edição 573 de 19/1/2010
www.observatoriodaimprensa.com.br
URL do artigo: www.observatoriodaimprensa.com.br


OS ESPELHOS, O HORROR
Mídia à beira de um ataque de nervos

Alberto Dines
A mídia brasileira está sendo vítima de um surto da síndrome do pânico: está com horror ao espelho. Berra e esperneia quando alguém menciona a organização de conferências ou debates públicos sobre meios de comunicação, imprensa, jornalismo. Apavora-se ao menor sinal de controvérsias a seu respeito, por mais úteis ou inócuas que sejam. Parece ter esquecido que o direito de ser informado é um dos direitos inalienáveis do cidadão contemporâneo. O Estado Democrático de Direito garante a liberdade de expressão e o acesso universal à informação.
A instituição criada para impedir unanimidades, o poder instituído para promover o pluralismo, o bastião do Estado Democrático de Direito, agora se sobressalta e entra em transe quando pressente outros holofotes tentando focalizá-lo.
Diagnóstico 1: modéstia. Diagnóstico 2: narcisismo. Diagnóstico 3: onipotência. Diagnóstico 4: hipocrisia.
Nada impositivo
O primeiro episódio ocorreu no início de dezembro, antes da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom): o grosso das corporações empresariais de mídia desistiu de participar dos debates, compareceram apenas duas. As únicas que ficaram bem na fita. A Confecom chegou ao fim, produziu um calhamaço de propostas, a maioria inócuas, e os ausentes nem puderam cantar vitória porque se escafederam antes das luzes se apagarem (ver, neste OI, "Lições de manipulação" e "O misterioso e suspeito desaparecimento do Conselho de Comunicação Social").
Menos de um mês depois, final de dezembro, novo faniquito: o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH). A mídia inicialmente parecia sensível aos apelos das vítimas, parentes ou entidades em defesa dos direitos humanos para reabrir as investigações sobre a repressão política durante o regime militar. Então aparece a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e começa a urrar como aquelas senhoras que pressentem uma barata no quarto escuro.
A mídia individualmente e a ANJ como corporação tiveram meses para estudar o 3º PNDH, esta é a sua função em nome da sociedade. Só se lembraram de examinar o documento quando o debate sobre tortura já estava aceso e alguém sugeriu abrandar o confronto e mudar o enfoque: que tal discutir a mídia? Então a mídia deu marcha a ré e entrou numa briga que não era sua porque no programa figurava a sugestão para a criação de um ranking das empresas de mídia (sobretudo mídia eletrônica) que respeitam os direitos do seu público e não lhes impinge baixarias. Convém lembrar que o PNDH é um programa, coleção de propostas, nada tem de mandatório ou impositivo.
O ombudsman da Folha de S.Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, revoltou-se, caiu de pau no seu jornal (ver "Ombudsman critica omissão do jornal"). Acontece que a Folha, por rodízio, tornou-se a mais estridente defensora das posições da ANJ porque a sua presidente é uma das superintendentes do jornal.
Símbolos religiosos
É antiga a idéia de incluir a cruzada contra a baixaria televisiva nas iniciativas em defesa dos direitos humanos. Já em 1999, no primeiro mandato de FHC, o então Secretário Nacional de Direitos Humanos, José Gregori, tentou enquadrar os canais de TV que recusavam a classificação da programação por faixa etária (ver, neste Observatório, "Os fanáticos ensandecidos"). Então, por que tanto chilique?
O Estado de S.Paulo chegou a publicar uma entrevista com o professor Paulo Sérgio Pinheiro, consultor das Nações Unidas para questões de direitos humanos, na qual ele afirmava categoricamente que o 3º PNDH era herdeiro dos dois anteriores (produzidos nos mandatos de FHC) e que sua abrangência enquadrava-se nas recomendações e paradigmas internacionais.
A CNBB, campeã da luta contra a tortura ainda nos anos de chumbo, esqueceu o seu glorioso passado e pôs-se a berrar contra outras sugestões do 3º PNDH: liberar as restrições contra o aborto, permitir a união civil de pessoas do mesmo sexo e proibir a utilização de símbolos religiosos em instalações públicas. Mesmo sabendo que nada disso poderia ser implementado sem os devidos trâmites legislativos, a CNBB e a ANJ insistiram na histeria.
E ficaram todos muito felizes quando o salomônico presidente Lula mandou copidescar o texto do PNDH por ele assinado. Não se fala mais em direitos humanos nos próximos doze meses. Engano: a luta pelos direitos humanos não tem dono, está definitivamente incluída na pauta dos debates nacionais. Tortura não é coisa do passado, é do presente.
É melhor liberar o aborto do que encontrar diariamente nos lixões recém-nascidos abandonados por mães solteiras. A exibição de símbolos religiosos em repartições do Estado afronta aqueles que acreditam que o Estado é garantidor da isonomia cidadã, da democracia e da tolerância.
Causas e terapias
A síndrome do pânico voltou a manifestar-se intensamente no último fim de semana – e não por causa da catástrofe do Haiti –, quando o Estadão descobriu que em março começará uma nova conferência nacional, desta vez para discutir cultura. Deus nos acuda, horror. Cultura? Chamem o Goering! Na pauta menciona-se a necessidade de promover a regionalização da produção televisiva e aparece a expressão maldita "monopólio de comunicação".
Tremendo de medo, lívida, cheirando seus sais, Madame Mídia convocou o seu zorro preferido: o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ, ex-ministro das Comunicações do atual governo, o mesmo que pediu a impugnação integral da Lei de Imprensa, esquecido de que algumas de suas cláusulas eram indispensáveis para evitar o vácuo legal). O herdeiro de Chagas Freitas, ex-colunista especializado em pedir votos aos funcionários públicos, desinteressado como sempre, investiu imediatamente em defesa da aterrorizada mídia negando a existência de qualquer monopólio nos meios de comunicação.
Qualé
, seu Miro – já esteve em Santos? Sabe o que se passa na maioria das capitais do Norte-Nordeste? Já examinou a situação das nossas cidades médias onde a principal emissora de TV é também a principal acionista do maior diário? Conhece os regulamentos da Federal Communications Commission (FCC) americana que impedem a propriedade cruzada de veículos na mesma região?
A síndrome do medo tem várias causas e várias terapias. Fármacos resolvem. O divã, porém, é mais eficaz.


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