Ora essa! A 'imprensa' é uma abstração. 'Imprensa' é como 'educação', 'saúde', 'moradia' -- que também são generalizações, abstratas, portanto.
Pode-se discutir 'imprensa', 'educação', 'saúde', 'moradia' até o dia do Juízo Final e nada do que se discuta gerará necessariamente pessoas bem-informadas, bem-educadas, saudáveis e com casa prá morar.
Falar em 'imprensa' e apagar da discussão a evidência de que a imprensa só se faz mediante as empresas comerciais que produzem e vendem o produto 'jornal' e o produto 'informação' é discutir o sexo dos anjos. Como se qquer informação interessasse necessariamente, do mesmo modo e pelas mesmas razões, a todos.
Hoje, toooooooooooooooooooda a 'imprensa' se faz no exclusivo interesse dos proprietários e acionistas, anunciantes e empregados das empresas que produzem o produto 'jornal'. NADA pode mudar isso, enquanto tooooooooooooooooooooooooooooooooodos os jornais não forem democratizados.
Evidentemente, não se trata de aspirar a democratizar 'a imprensa' nem, é claro, a tal de 'comunicação'.
Trata-se de democratizar OS JORNAIS: a PRODUÇÃO dos jornais, é claro, em primeiro lugar.
Já pensaram que só se diz "imprensa", qdo. se fala em "liberdade de imprensa"? Por que ninguém diz "liberdade de comunicação"?
Acho que é porque em "liberdade de imprensa" REPETE-SE e REQUENTA-SE a ilusão do séc. 19, que ainda supunha que alguma imprensa seria algum dia livre.
Com "comunicação" a ilusão desaparece, o golpe fica visivel. Quem, algum dia, acreditaria que possa haver "liberdade de comunicação" se a liberdade não foi IGUALZINHA pros dois que se 'comuniquem'.
Em "liberdade de imprensa' fala-se só da liberdade para IMPRIMIR, quer dizer: são os donos das empresas de imprimir jornais que defendem liberdade só pra eles... E os otários 'éticos' ajudam a defender uma liberdade para IMPRIMIR que não é garantida a todos e, de fato, liberta os produtores de jornais e escraviza os consumidores-cidadãos (os quais, no Brasil, são necessariamente ELEITORES).
Claro que, em todos os casos, é indispensável democratizar as regras da PRODUÇÃO dos jornais.
Tanto quanto se trata de democratizar as regras da PROPRIEDADE dos jornais.
A 'imprensa' é, hoje (em todo o mundo, mas no Brasil, é ainda mais, até, do que em Bukina Faso - e uso esse exemplo pra deixar bem claro que 'riqueza da nação' e 'imprensa' nada têm a ver uma com a outra), praticamente um OUTRO escândalo igualzinho ao dos 'papéis podres' nos EUA -- outro caso em que, de tanto pensar em 'moradia' e NÃO INSISTIR EM NÃO VER que a 'moradia' já virara pura agiotagem & negociatas, tuuuuuuuuuuuuuuuudo já deu côs burros n'água.
O que existe são EMPRESAS COMERCIAIS que vendem um produto chamado 'jornal'. Esse produto é vendido a consumidores. Esses consumidores são diariamente tungados.
A imprensa brasileira é caso a ser discutido com o Instituto de Defesa do Consumidor, com o Ministério Público, essas coisas que, afinal, existem para ME DEFENDER, não para defender alguma 'imprensa'.
'Imprensa', sobretudo, NÃO É ASSUNTO que se possa discutir com donos de jornais e com jornalistas: seria como discutir a doença com o micróbio, sem dar palavra ao doente nem ao médico.
NENHUMA IMPRENSA-DE-JORNALÃO é melhor do que a imprensa-de-jornalão que desgraça o Brasil-2009.
A Folha de S.Paulo, fechada para sempre, preencherá uma lacuna.
Caia Fittipaldi
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