terça-feira, dezembro 30, 2008

Por que Israel bombardeia uma universidade?



Dr. Akram Habeeb, da Faixa de Gaza ocupada, da Palestina, 29/12/2008
(em
http://electronicintifada.net/v2/article10069.shtml)

Sou bolsista da Fundação Fulbright e professor de literatura norte-americana na Universidade Islâmica de Gaza. Nessa condição, sempre preferi manter-me afastado do conflito Israel-Palestina. Sempre entendi que meu dever é ensinar os valores da paz e da convivência pacífica.

Mas o ataque massivo de Israel contra a Faixa de Gaza obriga-me a manifestar-me.  

Ontem à noite, durante a segunda noite de ataques de Israel a Gaza, os mais violentos de que há notícia por aqui, fui acordado pelo ruído ensurdecedor de bombardeio continuado, cerrado. Quando me dei conta de que Israel bombardeava a minha universidade, com F-16s fabricados nos EUA, vi que os "ataques seletivos" já nada tinham de seletivos.

Políticos e generais israelenses têm dito que a Universidade Islâmica de Gaza seria 'aparelho' do Hamás e que forma terroristas. É mentira.

Como professor independente, não filiado a partido político, afirmo que a Universidade Islâmica de Gaza – como as Universidades Católicas e as Universidades Pontifícias, que há no Brasil e em todo o mundo – é instituição acadêmica que abarca um larguíssimo espectro de tendências políticas. Conheço-a bem, como universidade de prestígio em todo o mundo, que estimula o liberalismo e a livre exposição e circulação de idéias.

Se meu depoimento parecer excessivamente pessoal e comprometido, convido todos a visitarem a página da UIG, na Internet (ing. Islamic University of Gaza website, em http://www.iugaza.edu.ps/eng/), e pesquisarem sua história, seus departamentos, os estudos que se desenvolvem ali.

Lá se informarão sobre a participação da Universidade Islâmica de Gaza em inúmeras instituições acadêmicas em todo o mundo, o trabalho de pesquisa de seus professores, prêmios e bolsas de estudo e pesquisa que recebem de instituições de todo o mundo.

Por que Israel bombardearia uma universidade? Não sei.

Mas Israel ontem não bombardeou apenas minha universidade: bombardeou mesquitas, farmácias e casas de família. No campo de refugiados em Jabaliya, o bombardeio matou quatro meninas pequenas, todas da família Balousha. Em Rafah, mataram três irmãos, de 6, 12 e 14 anos. Também mataram mãe e filho, um menino de um ano, da família Kishko, na cidade de Gaza.

São atos que nada justifica, em nenhum caso. Penso no que Deus ordenou ao Povo Eleito: Não matarás. Não invadirás a casa de teu vizinho. Deus não elegeria seu povo, nem povo algum, para matar os vizinhos e roubar a terra em que todos plantam o que todos comem. As escolhas que Israel está fazendo são escolhas do governo de Israel. O governo de Israel escolheu matar palestinenses. Pratica aqui genocídio semelhante ao que outros impérios invasores e ocupantes praticaram em outras partes do mundo, contra populações autóctones. Nenhum genocídio é admissível.

O Dr. Akram Habeeb é professor assistente de Literatura Norte-americana na Universidade Islâmica em Gaza.


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segunda-feira, dezembro 29, 2008

A noite mais longa da minha vida


Míssil israelense, no campo de refugiados em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, 28/12/2008. (Hatem Omar/MaanImages).
Safa Joudeh, escrevendo da Faixa de Gaza ocupada, no Blog Live from Palestine, 28/12/2008 (Eletronic Intifada, em http://electronicintifada.net/v2/article10065.shtml)

Continuo a informar o que está acontecendo aqui onde estou, na segunda noite dos ataques israelenses por ar (e também pelo mar) contra Gaza.

1h30 AM, noite escura, e meu único desejo é que o sol nasça logo. Há horas, só ouço bombas, em vários pontos da cidade, bombardeio pesado em Gaza, na cidade e no norte da Faixa. É a noite mais longa da minha vida. Na minha área, começaram bombardeando lojas (quase sempre no térreo de prédios privados/familiares residenciais), garagens e depósitos, numa das regiões mais densamente ocupadas da cidade de Gaza, "Askoola."

Há uma hora, bombardearam a Universidade Islâmica. Destruíram o prédio dos laboratórios. Minha casa fica perto da universidade. Ouvimos a primeira bomba, as janelas tremeram, as paredes balançaram e meu coração quase me saiu pela boca. Meus pais, meus irmãos, irmãs e primos e primas (vieram para nossa casa, pq a casa dos meus tios foi destruída no primeiro dia) estávamos tentando dormir um pouco. Todos corremos para o lado da casa que ficava mais longe de onde vinha o barulho das bombas. Hala, minha irmã de 11 anos, ficou paralisada, não conseguia andar. Tive de arrastá-la para a outra sala. Estou com marcas no ombro, de quando Aya, minha prima de 13 anos, agarrou-se em mim e enfiava as unhas no meu ombro, a cada nova explosão. Foram quatro, sempre cada vez mais fortes. Espiei por uma janela. O céu estava pardo, cinza-azulado, só fumaça.

Os navios israelenses estão atacando o único porto de Gaza; começaram há pouco. 15 mísseis explodiram, destruindo pedaços do porto e alguns barcos. Isso não vi: ouvi no rádio. Não se pode saber se é verdade. O que se sabe é que muitas famílias dependem do trabalho no porto e é claro que não representam qualquer ameaça à segurança de Israel. O repórter, pelo rádio, está contando as explosões que ouve. Acho que perdeu a conta quando chegou a seis. Agora mesmo todos ouvimos mais três explosões. "Tenho mais medo do zumbido", disse a minha irmã. Antes de explodir, os mísseis fazem um zumbido e é horrível, porque não se sabe onde vai cair. Quando se ouve a explosão, pelo menos, já se sabe que não caiu em casa. O repórter parou de contar as bombas e disse que o mercado de peixe (vazio, é claro) foi bombardeado.

Ouvimos notícias de que as quatro irmãs da família Balousha foram mortas num ataque à mesquita perto da casa delas, no norte da Faixa de Gaza.

O que mais me incomoda, mais que as bombas, a fumaça, as sirenes e os zumbidos dos mísseis? O eterno, constante, infernal barulho dos helicópteros Apache que sobrevoam a cidade dia e noite sem parar um segundo. Às vezes acho que comecei a 'ouvir vozes', tanto me enlouquece o barulho dos Apache. Acho que, sim, estou ouvindo vozes. [Safa Joudeh is an master's candidate in public policy at Stony Brook University in the US. She returned to Gaza in September 2007 where she currently works as a freelance journalist.

Latest articles on EI:

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domingo, dezembro 28, 2008

William Bonner & a patroa-lá, votam com os genocidas



Essa matéria explica o motivo (e a forma do golpe) pelo qual eu-euzinha fui surpreendida ontem, no "Jornal Nacional" (e onde mais seria, né-não?!), pela aparição da ministra de Israel, loura, com cara de anjo genocida & terrorista, de colar de pérolas, que pedia a MINHA compreensão, para o genocídio dos palestinos, que ali se iniciava.

William Bonner & a patroa-lá, votam com os genocidas. Tá provado.
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Israel monta campanha de mídia,
para culpar o Hamás pela destruição de Gaza

(In Guardian, UK, 28/12/2008, 15.45 GMT, em http://www.guardian.co.uk/world/2008/dec/28/israel-gaza-hamas) 

Israel montou ampla campanha de mídia [que ingleses e norte-americanos chamam de "public relations (PR) campaign"] para convencer corações & mentes em todo o planeta, de que o Hamás é culpado pela morte e destruição que o mundo está assistindo pelos noticiários de televisão.

Para evitar que se repetisse a onda de crítica, em todo o mundo, que atingiu Israel no início de 2008, quando Israel invadiu Gaza para prender militantes que lançavam foguetes de quintal – brincadeira de criança, comparada ao brutal ataque hoje em curso –, Israel decidiu precaver-se.

"No passado, nosso primeiro-ministro recebia telefonemas de funcionários e políticos. Quando dizíamos a eles "Vocês entendem nossa reação, não é? Não podemos admitir aqueles foguetes que..." eles respondiam "Que foguetes?!" Não tinham qualquer informação sobre nossos problemas", disse o porta-voz do governo israelense, Yigal Palmor.

Então, enquanto os chefes-da-guerra armavam seus aviões-bombardeiros, o ministério do Exterior preparava ampla campanha de divulgação, para conter as críticas contra o assalto à Palestina, que viria no sábado.

Todos os diplomatas israelenses tiveram o fim-de-semana suspenso e foram chamados às embaixadas. E foi montado em Sderot, junto à fronteira norte de Gaza, um centro de imprensa, multilíngue, para o qual foram convocados jornalistas do mundo inteiro.

Em Telavive, a ministra do Exterior, telefonou a David Miliband, secretário de Relações Exteriores da Inglaterra; a Condoleezza Rice, secretária-de-Estado dos EUA; a Ban-ki-Moon, secretário-geral da ONU; a Javier Solana, chefe de política internacional da União Européia, e aos ministros do Exterior da Rússia, da China, França e Alemanha.

Ontem, no centro de imprensa de Sderot, Tzipi Livni falou a 80 representantes de países e a altos funcionários de suas embaixadas.

"Concluímos que é essencial divulgar o contexto no qual estamos tomando as necessárias decisões em Israel, e que os acontecimentos seguem uma sequência lógica" – disse Palmor.

Para Israel, a "sequência lógica que levou ao brutal bombardeio da Faixa de Gaza não começa pela ocupação de território palestinense, em 1967 – única sequência lógica que os palestinenses bombardeados conhecem.

Para Israel, a "sequência lógica" começa há três anos, com a decisão de retirar os acampamentos militares e as colônias de civis da área da Faixa de Gaza.

"Poderíamos começar por 1948 [ano em que a Palestina foi dividida, para criar Israel] mas queremos concentrar-nos na situação atual. Comecemos, então, pela retirada, em 2005" – prosseguiu o porta-voz. – "Palestinos militantes chegaram a dizer que a evacuação seria vitória sua, resultado dos ataques de foguetes e fogo continuado, sobre cidades do sul de Israel."

Depois de cercar Gaza – o chamado "Muro da Vergonha", na Palestina – antes de retirar-se da Faixa, Israel passou a impor um bloqueio cada vez mais forte, que impedia, no final de 2005, que quem trabalhasse em Gaza entrasse em território israelense; em 2006, foi bloqueado todo o tráfego de caminhões e o abastecimento; finalmente, em meados de 2007, foram bloqueados até os caminhões de ajuda humanitária.

Perguntado sobre se a campanha de propaganda internacional estaria dando resultado, o porta-voz respondeu que ainda é cedo para avaliar.

Seja como for, os ataques começaram no sábado, no mesmo momento em que matérias que repetiam a fala ouvida no centro de imprensa de Sderot passavam a ser repetidas, sem alteração, em todo o mundo.

Condoleezza Rice culpou o Hamás "por quebrar o pacto de cessar-fogo e pelo reinício da violência". Máhmude Abbas, presidente da Autoridade Palestina, disse que os bombardeios poderiam ter sido evitados.

"Sabíamos que havia esse perigo e que teríamos de evitar qualquer pretexto que Israel pudesse usar", disse Abbas ontem, enquanto posseguia o bombardeio sobre Gaza.

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sábado, dezembro 27, 2008

Brasil está preparado e tem comando para enfrentar a crise, diz Lula à nação



Em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, na noite desta segunda-feira (22), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a crise internacional não assusta o Brasil. 

Ele reafirmou que o país está preparado para enfrentar as turbulências e vai continuar crescendo no próximo ano.  "Quero dizer, com toda a serenidade, que a crise não nos assusta. 

O país está preparado e tem comando. Seguiremos acompanhando com lupa a situação da economia, 24 horas por dia. O que tiver que ser feito será feito. No tempo certo e na dose adequada. E sempre dialogando com o país", disse na mensagem de Natal, que durou oito minutos.

Clique aqui para ler a íntegra do pronunciamento e aqui para ouvir

Lula afirmou que o conjunto de políticas públicas adotadas por seu governo nos últimos seis anos foram fundamentais para preparar o Brasil – como o controle da inflação, a redução da dívida pública, a diversificação dos produtos de exportação, o crescimento das reservas internacionais para US$ 201 bilhões, o aumento no número de empregos com carteira assinada, a criação de um mercado interno de consumo e a quitação das dívidas com FMI e Clube de Paris.

O presidente também lembrou as medidas adotadas nas últimas semanas, como a redução de impostos para estimular o consumo, o reforço no caixa dos bancos estatais e os estímulos ao setor produtivo.
"Esses avanços estão permitindo ao Brasil enfrentar com firmeza e serenidade o atual momento", garantiu Lula.

O presidente voltou a responsabilizar os países ricos pelo crise financeira mundial. "Esta crise, que afeta todo o mundo, foi provocada pela falta de controle do sistema financeiro nos países mais ricos. Em vez de cumprirem seu papel na economia, financiando o setor produtivo, os bancos viraram um grande cassino. 

A jogatina foi longe, mas, um dia, a conta chegou. Bancos quebraram, um grande número de empresas entrou em dificuldades, e milhões de trabalhadores perderam suas casas ou seus empregos", disse o presidente da República. "Aqui no Brasil não tivemos este tipo de crise. Nosso sistema bancário estava e está saudável. Nossa economia, arrumada e organizada vem crescendo a taxas robustas, as maiores dos últimos 30 anos", garantiu Lula em seu pronunciamento à Nação. 

Consumo
O presidente voltou a pedir que o brasileiro compre para que a "roda da economia" continue girando. Ele afirmou que, ao consumir, o cidadão garante a produção da indústria, as vendas no comércio e a manutenção de empregos. "Não tenha medo de consumir com responsabilidade. Se você está com dívidas, procure antes equilibrar seu orçamento. Mas, se tem um dinheirinho no bolso ou recebeu o 13º e está querendo comprar uma geladeira, um fogão ou trocar de carro, não frustre seu sonho, com medo do futuro", disse Lula. "Quando você e sua família compram um bem, não estão só realizando um sonho. Estão também contribuindo para manter a roda da economia girando. E isso é bom para todos", acrescentou. Lula fez ainda apelo para os empresários seguirem investindo, os trabalhadores defenderem os postos de trabalho e ao setor financeiro que reduza os juros, "que estão muito altos".

Investimento
O presidente garantiu serão mantidos os investimentos do governo. Segundo Lula, não haverá cortes."O governo manterá todos os investimentos previstos no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] e nos programas sociais. Em hipótese alguma haverá cortes nos investimentos governamentais. Porque eles são decisivos para o Brasil enfrentar a crise e sair dela mais reforçado", afirmou. 

Pré-Sal
Lula anunciou ainda está confirmado o início da exploração da reservas de petróleo do pré-sal em 2009, mesmo com a crise financeira mundial. Lula pediu que a população acredite na capacidade do país de enfrentar as turbulências. "Posso assegurar que o Brasil não só vencerá a crise, como sairá dela mais forte. Temos todas as condições para isso. Em 2009, vamos começar a explorar as imensas reservas do pré-sal. Com isso, o Brasil passará a ser um dos grandes produtores de petróleo do mundo. Estamos todos no mesmo barco. E, se remarmos juntos na mesma direção, venceremos as turbulências e prosseguiremos na rota do crescimento. Só depende de nós", afirmou Lula.

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domingo, dezembro 21, 2008

Que muitos jornalistas percam o emprego em 2009


O medo broxa, o medo alimenta o individualismo mais mesquinho, o medo derrota o coletivo, o medo torna mais forte o dominador.
Espalhar o medo é a grande tarefa da mídia, que muitos jornalistas percam o emprego em 2009.
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"Nunca o medo teve tantas formas de se infiltrar"

Recebi do amigo José Jardelino da Costa Júnior, e divido com vocês, artigo publicado no New York Times, no qual o colunista David Carr mostra, de forma objetiva e lúcida, o papel desempenhado pela mídia diante de uma crise internacional como a que vivemos.

"Nunca o medo teve tantas formas de se infiltrar", diz o colunista para quem a mídia realmente cumpre seu papel quando prepara a opinião pública ante cada turbulência ou recessão, "mesmo quando mostra que as coisas estão terríveis e como ainda vão piorar".

Ele considera que a mídia cumpre seu papel, mesmo quando  motiva - como eu observo agora - um pessimismo sem precedentes. Ou, ainda, quando age com muita antecedência em relação ao problema, como fez em seu país.

"A recessão nos EUA, de fato, só foi declarada oficialmente no começo de dezembro, mas a psicologia que a alimenta já havia passado meses sendo transmitida por e-mails, blogs e TVs", assinala Carr.

O articulista se fundamenta muito na realidade e personagens norte-americanos, mas em muitos trechos parece estar falando sobre nós e sobre o Brasil como, por esxemplo, quando escreve: "as demissões defensivas – não tanto com base na realidade atual, e sim nos horrores futuros – se tornaram regra."

Leia abaixo...
 
Estímulo ao medo está por toda a parte
Por David Carr

(Ensaio publicado no The New York Times, em 15 de dezembro de 2008)

David Carr

Na TV do banco traseiro do táxi, uma reportagem comenta o desemprego em Nova York. Num elevador em Manhattan, o texto em uma tela sugere que vamos todos na mesma direção – para baixo. Na Times Square, letreiros anunciam  o desabamento da confiança do consumidor.

Qualquer recessão moderna inclui uma preleção da mídia sobre como as coisas estão terríveis e como ainda vão piorar, mas nunca o medo teve tantas formas de se infiltrar. A mesma dinâmica digital que provocou a exuberância irracional agora está motivando um pessimismo sem precedentes. A recessão nos EUA, de fato, só foi declarada oficialmente no começo de dezembro, mas a psicologia que a alimenta já havia passado meses sendo transmitida por e-mails, blogs e TVs.

“Quando só se fala em recessão, todos sentimos que alguma coisa tem de mudar, mesmo que nada tenha mudado para nós”, disse Dan Ariely, autor do livro “Predictably Irrational” (“Previsivelmente Irracional”), que ensina por que as pessoas fazem coisas inexplicáveis. “As repetidas mensagens apocalípticas da mídia afetam a todos – não só quem realmente tem problemas e precisa de mudanças, mas também quem está bem. Isso tem um efeito devastador na economia.”

Se o desemprego, as vendas de automóveis, as ações de despejo e a confiança do consumidor estão atingindo níveis históricos de angústia, os veículos de comunicação tampouco estão contribuindo. A economia congelou rápido porque, em comparação a antigamente, há dados assustadores demais, circulando com muito mais velocidade.

“Nossa mentalidade coletiva, de colméia, se perturba com coisas que de repente saltam aos olhos”, desse Xeni Jardim, um dos editores do blog Boing Boing. “’É um furacão!’, ‘Meu Deus, salmonela no hambúrguer!’, ‘Espera, estamos todos gordos!’. Há uma escalada de atenção que se auto-alimenta, porque esta recessão está aparecendo em todas as formas de expressão digital.”

Ninguém tem mais medo de ser surpreendido por uma retração do que os gestores de empresas de capital aberto, e as demissões defensivas – não tanto com base na realidade atual, e sim nos horrores futuros – se tornaram regra.

Num seminário recente, Barry Diller, executivo-chefe da empresa de serviços de internet IAC/Interactive, repreendeu os dirigentes do setor de entretenimento pelos (des)ajustes motivados pelo pânico e pela cobiça. “A idéia de que uma empresa que não está ‘industrialmente ameaçada’ tenha de fazer cortes para ganhar mais US$ 40 milhões é realmente um gesto horrível”, disse. “Acima de tudo, é fazer isso na pior hora. É jogar as pessoas em uma pilha maior de desemprego, sem que haja uma boa razão.”

Os meios de comunicação foram imediatamente afetados pela recessão porque dependem de publicidade, sempre um dos primeiros gastos a serem cortados. A Viacom teve lucros superiores a US$ 400 milhões no terceiro trimestre de 2008 – sofreu uma queda de 37% em relação ao mesmo período do ano anterior, mas continuou altamente lucrativa. Mesmo assim, demitiu 850 funcionários.

Michelle Rabinowitz, 28, produtora da MTV News, foi uma delas. Jornalista especializada em internet e cultura pop, já cobriu de Britney Spears ao massacre da universidade Virginia Tech. É o tipo de profissional que os meios de comunicação disputavam nos últimos anos e que voltarão a disputar no futuro.

“Muitos jovens tiveram de arrumar emprego depois do 11 de Setembro, então conhecemos tempos difíceis, mas pelo menos sabemos o que foi aquilo”, disse ela. “[Agora] eu saio, e o céu não está caindo, mas meu emprego não está lá, o valor do apartamento que eu comprei não está lá, meu fundo de Previdência não está lá. É esquisito, como se em algum momento alguém tivesse tomado a decisão errada – o Fed (Banco Central americano), uma empresa da mídia, um executivo, sei lá. Tudo de certa forma parece igual, mas mudou.”

É uma espécie de contágio emocional. James Fowler, professor da Universidade da Califórnia em San Diego, recentemente fez um estudo sobre como a felicidade se dissemina entre amigos – e o contrário também é verdade.

“Pessoas que conhecem outras que tiraram seu dinheiro do banco são muito mais propensas a fazê-lo também”, afirmou. “Sempre exageramos no lado positivo e, por causa dos mesmos efeitos contagiosos, exageramos no lado positivo e, por causa dos mesmos efeitos contagiosos, exageramos no lado negativo. Tudo está bem, e aí de repente estamos procurando água e mantimentos para resistir à tempestade.

http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4896&Itemid=75

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quarta-feira, dezembro 17, 2008

LEITURA PARA OS INCAUTOS



Jackson Lago e a origem das espécies
O governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), contratou e assinou artigo no qual declara que sua provável cassação pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) equivaleria a um "golpe contra a democracia" e à redução do estado a uma espécie de "Galápagos", o arquipélago equatoriano onde Charles Darwin achou a tartaruga gigante, o iguana marinho e outras espécies extintas no resto do mundo. Pois sem ele no governo do estado estaria "revogada a alternância no poder". 

Publicado originalmente no Consultor Jurídico de 9/12/08 e republicado como matéria paga ou graciosa em vários outros sítios, a alegoria publicitária contrasta com o parecer objetivo e denso do vice-procurador geral eleitoral, Francisco Xavier Pinheiro, favorável ao provimento do recurso interposto pela coligação de Roseana Sarney (PMDB) contra a diplomação de Jackson. Parecer que o governador não enfrenta. 

Leia o texto integral no:

http://www.walter-rodrigues.jor.br/detalhe.php?ART_ID=1597

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terça-feira, dezembro 16, 2008

Como nunca antes na história desse país


Faltou um divã para FHC?

Deve ter sido muito doloroso para o “príncipe uspiano” descobrir que a sociedade nova não só estava com Lula como, após seis anos de governo, continua a apoiá-lo. Como nunca antes na história desse país.

Data: 15/12/2008

No dia em que saem mais duas pesquisas dando conta da aprovação recorde do governo e do aumento da popularidade do presidente, o que deve calar mais fundo na oposição é a lembrança do passado recente. E o quanto os seis anos de governo petista representaram de ruptura com ele. Das prioridades internas, com ênfase no mercado interno e nas políticas redestributivas, à inserção externa soberana e bem orientada, as mudanças foram por demais substantivas para serem ignoradas. Assim, é hora de, no final de 2008, relembrarmos o ocaso de um governo que levou o país à bancarrota.

Vivíamos o ano de 1999. Num quadro de crise de ideologias, de fim de utopias, de aumento de desemprego, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deitava falação sobre as mudanças ocorridas no Brasil. Detectava o surgimento de uma nova sociedade e acreditava que a parte moderna dela iria aderir ao projeto neoliberal. Aquele em que a arquitetura política era vista como defeituosa e as virtudes deveriam ser creditadas aos agentes do mercado, os empreendedores, “heróis” do capitalismo de massa, que deixariam perplexos tanto a esquerda quanto a direita conservadora. Seriam eles "os heróis de nossa gente", filhos do "silêncio" e do "medo da noite".

Correto ao diagnosticar as transformações em curso no país, FHC se equivocava em acreditar que os novos e emergentes setores da sociedade, quando se organizassem efetivamente, apoiariam seu projeto de reformas. Como bem destacou, na época, a cientista política Maria Vitória Benevides, as afirmações de que a crise de representação era algo novo no país e a de que os movimentos sociais, em especial o MST, estavam enfraquecidos eram falácias tão gritantes que deixavam no ar uma impressão de bonapartismo sugerido. O que o ex-presidente insinuava era que o velho não estava com ele, mas o novo só não o apoiava por falta de organicidade. A incapacidade de pensar o país foi a marca do governo tucano.

O cenário era desolador. O ambiente pós-desvalorização ficou confuso. Sem crescimento, não se recuperava o nível de emprego. O desemprego que explodiu em janeiro de 1998 por causa da crise asiática, não dava sinais de reversão. A combinação de queda na renda e desemprego atingia o setor produtivo. O comércio registrava perdas expressivas durante 18 meses. Com vendas fracas, indústria e comércio tendiam a segurar os preços, deixando claro que só com ambiente recessivo o governo tucano conseguia reduzir a taxa de inflação. Diante disso, é possível falar em continuidade de modelo?

Nesse quadro, os partidos de apoio ao Governo-PSDB, PFL (DEM) e parte expressiva do PMDB - atribuíam à falta de comando do então presidente as disputas e brigas na base aliada. O distanciamento de Fernando Henrique do dia-a-dia da política e a crise econômica minaram sua autoridade, e resultado foi um verdadeiro tiroteio entre os principais políticos desses partidos. Aécio Neves, lembram disso?, se dizia inconformado com o processo de privatização de Furnas. No PFL, a comoção se dava por conta da não nomeação do ex-ministro Luiz Carlos Santos para nenhum cargo, depois de lhe terem prometido a presidência da BR Distribuidora. No PMDB, o desconforto foi causado por uma promessa não cumprida de FHC a Michel Temer de nomear um amigo do ex-presidente da Câmara para a direção da Petrobrás. O acúmulo de ressentimentos sinalizava para uma conclusão melancólica de governo.

As digressões de Fernando Henrique soavam a alheamento da realidade. Pior, uma fuga dela pelo discurso diletante. A situação se apresentava como nunca antes navegada: a impopularidade do presidente era maior que a do seu Governo, o real se contaminava com tudo isso e a bloco de poder contemplava a rota de afastamento. E nenhum jornal pensou em chamar um psicanalista para analisar um presidente em seu ocaso. Ou ouvir a população que, ao reprová-lo, mostrava não fugir da realidade. Um Jacob Pinheiro Goldberg para falar em “mecanismos de negação freqüente quando se enfrenta uma situação de impotência".

Afinal, deve ter sido muito doloroso para o “príncipe uspiano” descobrir que a sociedade nova não só estava com Lula como, após seis anos de governo, continua a apoiá-lo. Como nunca antes na história desse país.

Aos leitores de Carta Maior, um Feliz Natal e um próspero 2009.

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4054&boletim_id=508&componente_id=8844

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domingo, dezembro 14, 2008

"É o beijo de despedida, seu cachorro!"



Em Bagdá (Iraque)

Um jornalista iraquiano jogou os sapatos contra o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, sem conseguir atingi-lo, e o insultou no momento em que ele apertava a mão do primeiro-ministro do Iraque, durante uma visita surpresa neste domingo a Bagdá.

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quinta-feira, dezembro 11, 2008

Lula: mídia realiza “propaganda sistematizada em favor da crise”

“Tem gente torcendo para a gente quebrar”, afirmou o presidente da República em Tocantins

Durante inauguração do trecho Araguaína-Colinas (TO) e do Pátio Multimodal da Ferrovia Norte-Sul, na terça-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a ação da mídia monopolista de semear o pânico sobre os efeitos da crise econômica. “É só vocês lerem, leiam e vejam televisão, escutem rádio, ou seja, é quase uma propaganda sistematizada em favor da crise, é quase uma propaganda”, afirmou.

O presidente advertiu que “tem gente torcendo para a gente quebrar, tem gente que vai se deitar rezando: ‘Tomara que a crise pegue o Brasil para esse Lula se lascar’”.

“Eu acho que a gente tem que falar da crise porque ela é séria, ela é profunda, mas a crise não foi causada por nós. Eu posso dizer, como presidente da República, olhando para vocês: não tem nenhum país do mundo mais preparado do que o Brasil para enfrentar esta crise. Não tem nenhum país do mundo mais preparado do que o Brasil, com mais estabilidade. Nós temos reservas, nós temos mercado interno, e nós temos uma economia crescente”, frisou o presidente.

Lula reprovou a economia baseada na especulação e defendeu o crescimento baseado na produção. “Nunca houve nenhuma razão para o petróleo custar US$ 150 o barril. Era pura especulação no mercado futuro. Diziam que era a China, e era mentira, era especulação. Vocês viram o alimento subir em julho do ano passado, estourou o preço da soja, por quê? Exploração. Porque nada explica que aquelas coisas tenham subido como subiram”, disse. E enfatizou: “Quando alguém quer ganhar dinheiro sem produzir um bem, ou é ladrão ou é especulador, porque o dinheiro de uma nação tem que ser produzido à custa da produção: é produzir um capacete, é produzir um sapato, é produzir um óculos, é produzir uma máquina, é produzir uma caneta, é produzir uma máquina fotográfica”.

Inversamente, expressou Lula, sustentar o crescimento fora da economia real, lastreado apenas em papéis, resulta em bancarrota: “Se for da especulação, acontece o que aconteceu nos Estados Unidos, cria uma bolha, é como se fosse um ovo sem gema: você quebra e não tem nada dentro. Então, quebrou a economia americana, eles já colocaram lá mais de US$ 1 trilhão e 300 bilhões”. Registremos que dos chamados países desenvolvidos (G-7), quatro já se encontram em recessão: EUA, Japão, Alemanha e Itália. E a Inglaterra está bem próxima.

“A minha vinda aqui para inaugurar esta obra, e o que eu vou fazer no ano que vem, visitando nossas obras, é a resposta que eu dou à crise. Eu disse aos governadores: não parem de investir um centavo. Se a gente parar de investir, a crise vem”, sublinhou. “O meu orgulho é este, é saber que esta ferrovia vai transportar soja que vai gerar emprego, vai transportar álcool que vai gerar emprego, vai transformar produtos industriais que serão feitos aqui e que vão gerar empregos. Não tem nada mais importante para um presidente da República, que durante 27 anos trabalhou dentro de uma fábrica, do que saber que em seis anos nós criamos mais de 10,5 milhões de empregos com carteira nacional assinada”, acrescentou.

Lula avaliou que o momento não é para gasto em custeio, mas com investimentos em obras de infra-estrutura, “investimento em coisas que possam gerar empregos”. Segundo o presidente, para viabilizar o investimento é preciso “consertar” o crédito – isto é, os juros - que está muito alto. “Eu sei que tem um problema chamado crédito que nós vamos consertar, porque o crédito está muito alto neste país e o dinheiro desapareceu. Nós vamos consertar isso. Agora, o momento de investir é este, para a gente se preparar”, destacou Lula.

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quarta-feira, dezembro 10, 2008

Decadência da Imprensa Brasileira











 


O esporte como referência do ocaso
 
Mauro Carrara
 
Anciã de dentes podres, a grande imprensa brasileira sorri agora em agonia de morte. Mas quanto lhe resta de energia e credibilidade? Quanto?
 
É cada vez maior o número de leitores, ouvintes e telespectadores que despertam do transe midiático.
 
Percebem que muitos dos fabricantes de notícias estão pautados somente pelo oportunismo, pelo rancor e pela arrogância.
 
Nas tais redações, agora enxutas, quase nada se apura. Muitos dos profissionais têm como fontes os próprios editores generais ou os lobos lobistas.
 
A informação deriva da fofoca ou da boataria plantada. A moldagem do bolo jornalístico obedece, quase sempre, aos interesses de grandes corporações ou de grupos políticos conservadores ou golpistas.
 
É o que se vê nas mais diversas editorias. No caso do esporte, tudo que tem relação com o popular e com os outsiders sociais é alvo de hostilidades e ações de desconstrução da imagem.
 
Clube do coração do presidente Lula, a agremiação dos operários e carroceiros do Bom Retiro tem sofrido perseguição implacável da mídia monopolista, especialmente dos veículos da Editora Abril.
 
O que vem de lá, segundo os escribas e arautos de aluguel, é sempre ruim e condenável. A peça jornalística é sempre peça de desqualificação.
 
Afinal, trata-se de metralhar um ethos. O Timão é o clube dos excluídos, dos anarquistas da antiga Light, dos braçais insurgentes, dos negros e pardos, dos imigrantes libaneses, gregos e japoneses, e de todos aqueles que buscavam protagonismo na terra dos aristocratas do café e dos industriais emergentes.
 
E seu ethos continua este, quase 100 anos depois.
 
O Corinthians virou para a imprensa esportiva paulista o que é o PT para os imprensaleiros da área política. Destaca-se e exagera-se o que é negativo. Não sempre, mas quase sempre.
 
Poucos dias atrás, a revista Placar, braço esportivo da editora Abril, a mesma que publica Veja, publicou o texto abaixo, ilustrado por uma descuidada montagem fotográfica.
 
Nada há de jornalismo. Vê-se somente o desejo de produzir algum humor de maledicência, ao estilo rasteiro e pobre de Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo.
 
Vale dizer que, no dia 9, o craque Ronaldo anunciou sua contratação pelo Alvinegro. Mais uma barriga fenomenal de uma imprensa que agoniza desmoralizada.
 
No dia 10, o site da revista já apresentava quase 1 mil protestos de leitores, muitos deles anunciando boicote aos péssimos produtos da Abril.
 
Bateu! Tomou!
 
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27/11/2008 - 11:13

Corinthians: Piada fenomenal
Do Jornal Placar

Sâo Paulo (SP) - A fotomontagem é tão verdadeira quanto as manchetes que levam a sério a possibilidade de o Fenômeno aparecer com a camisa 9 do Timão ano que vem.

Parte da imprensa paulista caiu no oba-oba da contratação de Ronaldo pelo Corinthians. A ilusão vem sendo alimentada pelo departamento de marketing do clube, que diz estar empenhado em buscar parceiros para o projeto mirabolante - com isso, espertamente, garante espaço para o clube na mídia.

O que há de verdade: o Corinthians abre suas portas para o jogador. Mas Ronaldo não se empolga nem um pouco com a idéia. Responde que agradece, mas que, se voltar a jogar, e se isso acontecer no Brasil, ele quer defender seu clube do coração, o Flamengo.

Ronaldo não vem, corintianos. Mas nem por isso a gente vai deixar de se divertir e fazer piada com isso...

Por enquanto, conforme o Jornal Placar publicou na sexta-feira, o único jogador realmente engatilhado para 2009 é Túlio. Calma, trata-se do volante do Botafogo...

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terça-feira, dezembro 09, 2008

segunda-feira, dezembro 08, 2008

LULA - 70%




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A CRISE QUE SAIU PELA CULATRA 
gravação telefônica de um diálogo sobre marketing e publicidade.
 
- Alô!
 
- Boa tarde! Eu gostaria de estar falando com o Sr. Raul Longo.
 
- É ele mesmo.
 
- Sr. Raul, meu nome é Taís e sou da revista Veja. Nos temos aqui em nossos registros que o senhor é o proprietário do Pouso da Poesia em Florianópolis. Confere?
 
- Exatamente!
 
- Bem senhor Raul, a revista Veja estará lançando um suplemento turístico, onde o senhor poderá estar anunciando com mui...
 
- Excelente Taís! Estou mesmo bastante interessado em anunciar para esses 80% de brasileiros satisfeitos com a situação do país, apesar da crise internacional que aí está.
 
- Sim, Sr. Raul... Muito bom, não é mesmo? Pois agora vamos estar oportunizando que...
 
- Desculpe interromper, Taís, mas é que apesar de afastado há algum tempo, fui publicitário muitos anos e ando revisando conceitos básicos da  atividade para bolar um bom anúncio de minha pousada no veículo mais indicado, evitando dispersões de verba. Afinal a crise vem aí, não é certo?
 
- Sim, senhor Raul. Mas o senhor sabe que a revista Ve...
 
- Um momentinho Taís, deixa terminar meu raciocínio, pois é bem possível que você possa me ajudar, já que têm acompanhado as evoluções do mercado. Em meus tempos aprendi que a propaganda sempre tem algo de subliminar. Esses fundamentos certamente continuam valendo...
 
- Eu poderia estar transferindo o senhor pro nosso Diretor de Marketing e...
 
- Não, não é necessário! Veja por você mesma: no guarda-roupa da maioria das pessoas há peças de todas as cores, não é isso? Mas ninguém usa sabão em pó apenas porque lava melhor, e sim porque lava mais branco, não é?
 
- O nosso Diretor de Criação, senhor Raul...
 
- Não há nada de divino ou religioso nisso Taís, é mera lógica por associação. Se lava mais branco, é porque também lava mais vermelho, azul, amarelo, lilás e assim por diante. É nessas associações subliminares que funciona a publicidade, concorda?
 
- Provavelmente poderia estar...
 
- Então, para atingir os 70% da população que as pesquisas apontam como satisfeito com o atual governo, e os demais 20 e tantos % que o qualifica entre bom a regular, preciso associar o nome de minha empresa, seja qual for sua atividade, ao que oferece credibilidade a essa enorme porcentagem, pois do contrário estarei desperdiçando verba com o pouco mais de 10% que acredita na crise da mídia, não é?
 
- Bem, Sr. Raul... Confesso que não consegui acompanhar seu raciocínio, mas posso estar lhe garantindo que a Revista Veja abrange um segmento muito maior que...
 
- Sem dúvida Taís. Não só a Veja, como a Globo, a Folha, etc., são acompanhadas mesmo por aqueles que não acreditam no que esses veículos divulgam.
 
- Sr. Raul, eu...
 
- Isso ocorre provavelmente por falta de um veículo de comunicação de qualidade e conteúdo no país. Mas de toda forma, por lógica podemos concluir que seria uma temeridade, ou melhor, uma irresponsabilidade empresarial de minha parte, vincular a imagem de minha pequena pousada a um veículo desacreditado por mais de 70% do mercado consumidor, ou dos turistas em potencial, segmento com o qual trabalho. Concorda?
 
- Toin... toin... toin...
 
- Alô! Alô! Taís! Taís?
 
Lembrei de um muito antigo comercial dos tempos do rádio: "-... Aqui quem fala é o xarope São João!" Alô! Alô! Fugiu hein?". Mas desliguei logo.
 
Não sou besta de ficar atrás dessas armas da mídia. Há muito tempo que só atiram pela culatra e vai que a bomba da crise explode no meu colo! 
 
Raul Longo

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domingo, dezembro 07, 2008

Costa-quente, arapongas, tucanos & Cia...



Judiciário agredido

Dalmo Dallari - professor e jurista
 
No desempenho regular de sua competência, apreciando denúncia apresentada pelo Ministério Público e tomando por base elementos probatórios legalmente obtidos e juntados aos autos do processo e, além disso, explicitando minuciosamente os fundamentos jurídicos de sua decisão, o juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, proferiu sentença condenando o réu Daniel Dantas. E pelo noticiário da imprensa não se tem dúvida de que foi assegurada ao acusado a plenitude do direito de defesa. Esse é um fato normal na vida jurídica de um estado democrático de direito e o juiz, que procedeu com absoluta regularidade, deve merecer o máximo respeito. Numa visão mais ampla, a consideração respeitosa da decisão do magistrado faz parte do respeito devido ao Poder Judiciário, que é essencial para a preservação da normalidade democrática. Eventuais manifestações de discordância devem ser toleradas e respeitadas, desde que externadas em linguagem serena e com argumentos pertinentes e lógicos, pois isso também faz parte da ordem democrática.
 
Um fato inesperado e que deve merecer repúdio veemente é a agressão, já externada, ao referido juiz prolator da decisão, com a ameaça de puni-lo pelo exercício absolutamente regular de sua competência constitucional. Essa violência contra o juiz configura também agressão ao Poder Judiciário, por intolerância incontida, deixando evidente que qualquer juiz ou tribunal que decidir contra as convicções ou a vontade do agressor ficará sujeito a investidas semelhantes. O mais chocante nessa reação agressiva é o fato de que a crítica destemperada e a ameaça partiram, por incrível que pareça, do presidente do Supremo Tribunal Federal, que deveria dar o exemplo do respeito ao Judiciário no seu todo e a cada magistrado em particular, pois a atitude contrária contribuirá para que aqueles que não têm simpatia pelo Judiciário ou não compreendem o seu papel concluam que o sistema jud
iciário é uma baderna e que o respeito aos juízes e tribunais é uma tolice, uma vez que os próprios membros do sistema agridem-se mutuamente quando sua vontade ou seus interesses não são respeitados.
 
O caso presente só agrava o julgamento negativo que muitos têm feito do ministro Gilmar Mendes, tanto no tocante à grande flexibilidade de sua ética, quanto relativamente ao seu equilíbrio emocional e à sua falta de autenticidade como jurista. De fato, ele agora já enviou representação ao procurador geral da República para que promova a punição do magistrado, alegando que se sentiu pessoalmente atingido por um trecho da fundamentação da decisão que, na realidade, não faz qualquer referência, direta ou indireta, a ele, mas apenas menciona comunicações de um defensor de Daniel Dantas com um servidor do setor de segurança do Supremo Tribunal Federal. Nesse quadro, é difícil saber qual o verdadeiro motivo da reação indignada do ministro Gilmar Mendes, mas, obviamente, muitas hipóteses estão sendo formuladas e, pelo exagero da reação, a conclusão inevitável é que existe alguma razão que não está nos autos.
 

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É hora de Gilmar prestar contas
Luis Nassif

Há indícios fortes de que o presidente do Supremo Tribunal Federal STF) Gilmar Mendes foi o responsável pelo vazamento de informações sigilosas à revista Veja.
 
Há indícios fortes de que o suposto grampo da conversa de Gilmar Mendes e do Senador Demóstenes Torres foi uma farsa. Provavelmente não haverá como identificar quem foi o autor da provável farsa, já que não existe sequer a prova do crime – o áudio – mas um mero papel com a transcrição da conversa.
 
Se comprovada a farsa ou se nada for apurado, mesmo Gilmar Mendes não tendo participação direta na sua montagem coube a ele – na condição de presidente do STF – emprestar credibilidade ao fato, fazer pré-julgamentos, desrespeitar o chefe de um outro poder e quase provocar uma crise institucional. No mínimo Gilmar Mendes terá sido o responsável por transformar uma farsa em episódio político grave.
 
Pergunto: o elefante está no meio da sala, escondido debaixo do tapete. Será possível ignorar esses episódios, evitar sua apuração, sem que isso configure uma humilhação à Nação, às tradições jurídicas, ao estágio atual de desenvolvimento do país?
 
Acho que não.
 
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Revelações da Carta Capital:

“O militar (Sergio de Souza Cirillo, que trabalhava na Segurança de Mendes) pode confirmar que foi no gabinete da presidência do tribunal que um repórter da revista Veja teve acesso a um relatório sigiloso do setor de inteligência sobre a possibilidade de ter havido escuta ambiental na Alta Corte. Apesar de inconclusivo, o tal relatório motivou uma reportagem de capa da revista, virou tema de debate nacional e serviu como elemento da tese do “Estado policial”, mais tarde reforçada pelo vazamento de um diálogo entre Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Sabe-se, até o momento, que a Polícia Federal não encontrou nenhum vestígio da existência do tal grampo.”

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“Mendes pretendia formar um núcleo de inteligência nos moldes daquele montado por José Serra, em 1999, no Ministério da Saúde, sob os auspícios do atual deputado Marcelo Itagiba (PMDBRJ), presidente da CPI dos Grampos. Para tal, seguiu os conselhos de um velho amigo e companheiro do governo Fernando Henrique Cardoso: o general Alberto Cardoso.”

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