segunda-feira, maio 15, 2006

A opção pelo espetáculo



Acabei de ver o noticiário em vários canais de televisão, é possível afirmar com toda a segurança que a imprensa brasileira está entre os maiores responsáveis por essa situação. Observem que todo o peso das matérias é dado no sentido da espetacularização dos acontecimentos, até a música escolhida para as matérias tem esse componente. Nenhuma análise, nenhuma reflexão. O governador e o ex-governador são completamente blindados, ninguém entrevista os caras, ninguém cobra que eles reconheçam a falência da política de segurança pública do estado.





A própria imprensa não discute o seu papel na gestação de toda essa situação. Faz anos que muita gente chama a atenção para essa fervura, para a condição de impossibilidade da policia, do judiciário e do sistema penal brasileiro. A opção da imprensa sempre foi a de transformar a coisa em espetáculo, talvez quando os repórteres, os apresentadores de TV e os donos da imprensa começarem a aparecer como personagens do espetáculo, talvez a coisa mude...

Adauto Melo


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Guerra em São Paulo

Esta notícia é de 2002, mas dá para vislumbrar como deve estar em São Paulo atualmente. Como enfrentar essa guerra civil a não ser com uma polícia com mais respeito pela população? Leiam e reflitam.

Polícia de SP mata 68 civis por mês em 2002

Por que, então, a polícia está matando mais?


Três especialistas ouvidos pela Folha apontam causas similares: o discurso em defesa de uma polícia mais dura, feito pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e por seu secretário da Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, funciona, direta ou indiretamente, como um estímulo à letalidade.

"Quando se aproximam as eleições e há uma explosão da criminalidade, os políticos adotam a idéia de que bandido bom é bandido morto. É o que está ocorrendo em São Paulo", diz o sociólogo Luís Antônio de Souza, 39, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP.

Dois mecanismos operam simultaneamente nessa política, segundo Souza: o governo relaxa o controle sobre a polícia e envia sinais indiretos de que zelar pela vida dos que se envolvem em confrontos com policiais não é mais a sua prioridade. "O Saulo representa essa mudança", afirma o pesquisador, referindo-se ao secretário empossado em fevereiro. Um dos indícios de que o governo relaxou o controle sobre a polícia é a inoperância neste ano de uma comissão criada para reduzir a letalidade de civis e de policiais.

Criada em dezembro de 2000 pelo então secretário Marco Vinicio Petreluzzi, a comissão tinha como objetivo estabelecer uma política a ser seguida em casos de confronto. O plano era minimizar o risco para o policial também. Sob a gestão de Saulo, a comissão nunca mais se reuniu.

O coronel reformado José Vicente da Silva, 56, um dos formuladores da política de segurança de Mário Covas, então candidato ao governo em 1994, diz que o aumento de mortalidade é decorrência direta do discurso do governador e do novo secretário. Para Vicente da Silva, persiste na polícia brasileira um sistema de comando que guarda traços da época do regime militar (1964-1985), quando não era preciso uma ordem expressa para o confronto armado, mas simples sinais cifrados: "Essa memória está viva na tropa.


Quando se fala que a polícia tem de ser mais dura, que ela não teme enfrentamento com os bandidos, isso é interpretado como uma tolerância para matar. Sei como funciona. Comandei batalhão por cinco anos". O sociólogo Ignacio Cano, 39, professor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), diz que os índices de São Paulo não surpreendem depois do que a polícia fez com o ônibus de supostos integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital), que resultou em 12 mortes em abril.

"Não é com mortes que se combate o crime organizado. Tem de infiltrar, prender, fazer escuta. Vivo, ele poderia dar pistas, mas bandido morto não fala. Na semana seguinte, os chefões colocam outros no lugar do morto. Há um exército de reserva enorme nas favelas", afirma Cano.

O recurso à violência pela polícia serve para o marketing eleitoral, mas não melhora em nada a eficiência da corporação, segundo Cano. O Rio de Janeiro é, para ele, o melhor exemplo.


Lá, o então governador Anthony Garotinho (PSB) estipulou prêmios que mais do que dobravam o salário de policiais envolvidos em "atos de bravura". "Era uma forma disfarçada de estimular os policiais a matar e deu no que deu", acredita Cano. A resultante dessa política, segundo ele, são bandidos cada vez mais violentos porque sabem que a possibilidade de sair com vida de um confronto com a polícia é próxima de zero.

From: alexandre@pontoflash.com.br
AlydaO Informante